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História My Heartbeat II KiriBaku - O Acalento


Escrita por: gabizera123 e KatsukiProject

Notas do Autor


Hey hey hey!

Olha só quem tá aqui com a boiolagem prometida hehehe

Músicas citadas:

- Justin Timberlake - What Goes Around...Comes Around
- Usher - OMG
- Fergie - Milf

Boa leitura <3

Capítulo 14 - O Acalento


Fanfic / Fanfiction My Heartbeat II KiriBaku - O Acalento

Narrado por Bakugou Katsuki

Caminho pelo extenso carpete vermelho da entrada, pousando os saltos altos, meticulosamente, um a frente do outro, em um passado lento, para que os fotógrafos consigam boas imagens da minha composição magnífica.

Os flashes disparados em minha direção fazem a camiseta dourada brilhar ainda mais, por conta do tecido acetinado, que já é suficientemente chamativo sem qualquer luz forte sobre o mesmo; as calças de couro, coladas em minhas pernas — que se desenham ainda mais pelas botas meia pata com salto fino —, também reluzem com os clarões ao meu redor, tornando minha presença quase semelhante a uma estrela cadente, que traz os olhares de todos à minha ilustre magnitude.

Quando chego em frente ao painel enorme, envolto da lona branca onde o nome da revista Famous Form Magazine, junto com o logo que une as letras ‘F’ em arabescos extravagantes, aparece destacado em prata e dourado, paro diante os inúmeros fotógrafos da imprensa e pouso minhas mãos na cintura, erguendo o queixo com altivez e olhando para as lentes uma por uma, ostentando um semblante convencido primeiro, para, depois, sorrir ladino abaixando o rosto e encarando-os por cima dos óculos ovais de estilo retrô, que compõem o meu look.

Não demora muito para que eu volte a caminhar para dentro do grande salão, onde garçons permeiam o local, com taças de bebida cara em suas bandejas, e diversos famosos se reúnem em bandos para acometerem a fofocas da vida de celebridade, ou se separam sentados nas mesas, comendo e conversando sobre suas novidades banais. Tratando-se de uma festa de gala, para comemorar a milésima edição da revista mais bombada do Japão, não é surpresa alguma que minha presença fora solicitada com muito afinco. Assim como, os outros extras que, talvez, se igualem a mim em questão de fama.

Suspiro, buscando com o olhar uma bebida que me interesse dentre as diversas que surgem como opções, logo vejo taças de vinho branco vindo, justamente, em minha direção e sorrio faceiro para o garçom alto e despojado quando ergo minha mão, indicando que irei pegar uma destas para usufruir do álcool de grande valia. 

— Oh, quem é vivo sempre aparece, não é? — a voz de Yaoyorozu se faz presente ao meu lado, levando-me a lançar um olhar de cima à baixo na mulher, medindo suas roupas para a ocasião por breves momentos, enquanto levo à taça aos lábios brilhantes pela leve camada de gloss. Seu vestido de alças simples não tem nada de mesquinho, somente pelas pequenas camadas de pedras prateadas ao longo da fenda em sua perna, reconheço o trabalho de um dos estilistas mais egocêntricos e minimalistas, cotado como o melhor entre os melhores.

— Quem é vivo e maravilhoso, aparece e transcende quem tem o prazer de ver, Yaoyorozu — declaro com desdém, sorrindo minimamente assim como a morena, que ostenta aquela típica curva suave e gentil nos lábios finos e bem pintados de escarlate. A doçura desse sorriso, nem de longe, conseguiria determinar a cobra que essa mulher consegue ser quando quer. Decido que algumas alfinetadas, portanto, não fazem mal a mim. — Não achei que fosse possível conseguir um modelito exclusivo do Shoji em tão pouco tempo de anúncio da festa. ‘Tava sabendo da ocasião ou pagou no xerecard, mocreia?

Termino minha pergunta com um semblante falsamente cortês, segurando a taça para o lado ao cruzar os saltos no piso, recebendo de volta uma risadinha fofa e a mão de unhas pintadas pousando em meu ombro.

— Não me rebaixo ao nível de um viado grosseiro como você, vadia — Momo fala com tanta calma e polidez, que qualquer um ao lado, que não prestasse atenção no diálogo, deve pensar que ela acaba de me fazer um comentário encorajador ou muito agradável, ao menos.

Dessa vez, minha risada é de verdade e Yaoyorozu tem que colocar a mão na frente da boca, tentando impedir que a imprensa tire fotos dela com vinho tinto saindo pelo nariz de tanto rir.

— Se for jorrar vinho que nem o chafariz, nem ouse estragar minha roupa, “Mongona” — reclamo, fingindo irritação, e a mulher respira fundo olhando para cima, abanando o rosto em seguida para garantir que a maquiagem fique no lugar.

— Ai, Katsuki, você é péssimo! Senti sua falta nessas coisas chatas. Já viu a Ocha por aí? Ela ‘tá arrasando com um look de terno e calça justa, super diferente da coisa fofa de sempre — A cantora desata a falar sobre o novo estilo de Uraraka e eu até ouço o começo, mas quando uma certa comoção chama minha atenção para os burburinhos ao meu redor, viro um pouco o rosto até encontrar a possibilidade que eu preferia não ter pensado diversas vezes.

É óbvio que eles viriam.

Todoroki e Deku, maldito do caralho, ambos chegando de mãos dadas e parando na frente do painel com sorrisos apaixonados um para o outro. Tenha santa paciência! Nem parece que, há pouco tempo atrás, Shouto estava me comendo no banheiro da última festa de celebridades. Agora, se encontra em um relacionamento recheado de açúcar.

Não fique se doendo por macho, Katsuki!

Fecho os olhos, por breves momentos, ao tentar me reestabelecer. Eu não preciso deles. O que importa se sou parte importante da trajetória que fazem isso ser possível hoje? Talarico morre cedo, com certeza.

— Eu sabia que a Ochako ia arrasar! É a bochechuda mais maleável dessa indústria de merda, que favorece e romantiza anorexia — meu comentário acaba sendo um pouco mais ácido do que deveria, levando Momo a me encarar, realmente, surpresa desta vez.

— Bom, você tem razão, né... Eu vou ver se encontro a Ura ‘pra gente julgar as roupas bizarras de uma socialites doidas, juntas. — A mulher sai, quase correndo, do meu campo de visão, mudando drasticamente de assunto para conseguir uma fuga quando notou algo atrás de mim. Suspiro, pisando forte com um dos saltos, enquanto bebo de uma vez o vinho que ainda restava na taça.

Esses putos estão vindo falar comigo! Como se a minha cara já não dissesse que eu, possivelmente, os morderia no melhor estilo selvagem e polêmico.

— Extravagante, como sempre, Katsuki. Está lindo — a voz de Shouto ainda tem o poder de me deixar levemente abalado, mas não levo muito tempo nessa adversidade. Logo retomo a dose de amor próprio que me falta ao pensar nele desse jeito.

— ‘Pra você é Bakugou, e pode guardar os elogios para esse projeto de arbusto do seu lado, ele precisa bem mais do que eu. — Viro-me com o sorriso sádico que costumo ter quando quero severamente matar alguém, usando uma faquinha de rocambole, talvez.

— Nossa, Kacchan. Não fique tão bravo, poxa. Estamos vindo conversar, apenas. É legal para a reputação as pessoas perceberem que você não é imaturo, certo? — As palavras de Deku conseguem fazer meu sangue ferver cada vez mais e, por sorte, a taça na minha mão não tem líquido que eu possa jogar nele. — Que isso, somos amigos, não somos? Eu sei que as coisas foram meio controversas, mas...

— Espera um segundinho, eu já vou ouvir sua ladainha. Só preciso de mais álcool — sibilo com os dentes cerrados e o esverdeado apenas sorri simpático, enquanto Shouto decide que ainda tem alguma moral para me ditar coisas sobre a vida que — para a surpresa de ninguém — pertence só a mim.

— Você não deveria se deixar levar pelo álcool, lembro até hoje de alguns vexames que- — Sua frase, felizmente, não chega ao fim, pois as duas taças que consegui, sem nem ver qual bebida cara eu ia desperdiçar, logo se esvaziam, no instante em que eu jogo todo o líquido em cima do casalzinho de merda.

O Hanta vai me comer vivo pela polêmica, mas não é minha primeira, e nem será a última.

— Kacchan! — a voz irritante de Midoriya agride os meus tímpanos, e eu jogo as taças de cristal, que poderiam pagar um rim, no chão, estraçalhando-as sem pestanejar.

— NÃO ME CHAMA DE KACCHAN, SEU FILHO DA PUTA! — digo descontrolado, e nem dou bola para a quantidade de gente famosa olhando e sacando os celulares para comentar do fuxico; muito menos cedo atenção aos abutres da própria revista, que colam em mim até chegar ao carro, ansiosos por detalhes da confusão.

Expulso todos do meu caminho, e quase atropelo uns distraídos ao sair voando dali, tão antes quanto tirei os saltos dos pés para pisar no acelerador, mas não tão rápido quanto a notícia do meu surto se espalhando. Não leva mais do que minutos para ter meu celular tocando incessantemente, além das notificações que surgem na tela a cada segundo. Só paro quando me vejo na frente de uma loja qualquer de conveniência, os postes adiante iluminando a rua com poucos fodidos caminhando tranquilamente.

— Merda, caralho, porra! Que inferno, cacete! — esbravejo irritado, lançando meus punhos no volante ao ponto de até buzinar por longos segundos, chamando atenção novamente — e não do jeito que gosto.

Eu estava fabuloso naquela merda! Por que não dei as costas e saí andando para longe dali? Poderia até ter conseguido alguma diversão depois de tanto estresse nas gravações... Agora, encontro-me duplamente puto da vida, o coração batendo acelerado de um jeito que me preocupa com a possibilidade de um colapso.

Que seja, eu vou para casa depois de comprar bebidas nessa loja ao lado, assim tenho a privacidade da minha residência para surtar sozinho com meu egocentrismo.

Faço o caminho para dentro da loja, sem me importar em estar de pantufas por deixar os saltos no carro. Escolho, pelo menos, uma dúzia de cervejas diferentes e um vinho que não parece ser tão rançoso. Esse lugar não tem como me prover muita coisa.

Quando me aproximo do caixa, vejo uma geladeira daqueles sorvetes gourmet que eu nunca parei para tentar experimentar, notando um sabor que acaba chamando minha atenção.

“Gelato de baunilha com pedaços de brownie e calda de caramelo”

Específico para um caralho, mas isso nem sequer chega ser o fato que me faz lembrar de algo relacionado. Eu fiquei devendo um desses para o ruivinho, será que uma sexta à noite seria estranho demais para levar o que prometi? Ele não deve ir dormir tão cedo, posso largar logo essa pendência com ele e ainda levar alguns para mim.

Separo, pelo menos, dois potes desse sabor e mais alguns diferenciados que me interessaram, levando tudo ao caixa junto com as bebidas e logo voltando para o carro. Pego o celular, ignorando todas as trocentas ligações, mensagens e notificações das redes sociais, indo buscar o número de alguém que pode me ajudar.

— Ei, garota, boa noite. O Kirishima está em casa? Quero levar uma coisa para ele. — Quando a chamada é atendida, nem perco tempo esperando por saudações, sabendo que ela tem conhecimento de quem está ligando.

Epa, epa, Bakugou! Que história é essa? Eu já te falei que o Eiji não é qualquer um. O que ‘tá planejando agora? Roubar o meu amigo? Tem vergonha, não? — Ashido soa desconfiada e irritada, o que até pode ser sensato, porém está me deixando estressado pelo atraso na minha programação.

— Eu vou levar o maldito sorvete, sua louca! Pode me falar onde ele mora, por gentileza? — Apelo para a educação, ouvindo o suspiro do outro lado, seguido de explicações para chegar, não à casa do ruivo, mas ao ginásio onde ele treina.

— Ele deve estar terminando o treino, então acho que você acha ele por lá ainda — a rosada fala com certo cansaço, e sigo para lá assim que desligo, visando otimizar logo a porra do meu tempo para encher a cara.

[...]

Ao passar pela porta semiaberta do enorme ginásio, eu preferia ver de tudo, menos o que se faz presente à minha frente.

Lo siento, mama... — a voz do baixinho soando em outro idioma me deixa curioso sobre tal fato, mas o embargo que acompanha a fala me deixa preocupado. Acabo até esquecendo a minha própria frustração quando noto que Kirishima parece estar em um dia pior ainda.

Quando ele termina a ligação eu me aproximo, porém creio que isso acaba o assustando pela chegada repentina, levando-o a virar-se muito rápido, com o tornozelo indo de encontro ao banco.

— Eu sei que foi meio errado chegar assim, mas também não precisa se quebrar todo, não, “Coração” — declaro, usando aquele apelido tosco que eu sei deixar ele meio bravo, conseguindo trazer um rubor envergonhado às bochechas do ruivo, que, na verdade, já estava um pouco avermelhado, provavelmente, por estar chorando.

— Vo-Você me assustou, poxa! Não era para ter mais ninguém aqui... — Kirishima diz com a voz ainda meio sofrida enquanto esfrega o local atingido, deixando o olhar baixo para evitar me encarar de verdade.

— Ainda bem que “ninguém” é uma palavra que, certamente, não me define, neném — digo, com um sorriso convencido ao passar a mão pelo cabelo, recebendo um sorriso desanimado do baixinho que me deixa ainda mais na merda. — O que aconteceu? Em quem a gente vai descer a porrada?

— Nã-Não! Calma, não é nada de mais... Eu só tive um dia meio ruim — Eijirou fala, coçando a nuca, finalmente olhando de verdade nos meus olhos, ainda que seu rosto baixe lentamente processando a minha vestimenta. — Uau, você ‘tá lindo! Parece uma estrela, bem... dourada — o comentário fofo e inocente de Kirishima, ao contrário do de Todoroki na festa, me deixa com um sorriso largo de orelha a orelha, levando-me a rir um pouco e dar uma voltinha para mostrar o look, que se quebra com as pantufas felpudas.

— Deve ser porque eu sou mesmo — falo confiante, notando que isso faz o semblante admirado de Kirishima murchar novamente, trazendo-me ao fato que realmente me trouxe aqui. — Mas, olha, eu não vim falar meias verdades, trouxe o sorvete que te prometi.

O brilho no olhar de orbes vermelhas retorna, e eu me sinto o tal por ser quem trouxe isso à superfície uma vez mais.

— Sério?! Ah, eu não acredito! Obrigado! Você pode vir comigo para... — O convite, que eu já estava considerando antes mesmo de acontecer, é interrompido de repente, no mesmo momento em que a expressão de Eijirou cai, como se ele tivesse algum tipo de bipolaridade. As sobrancelhas franzidas denotam que algo veio em seus pensamentos, bloqueando-o de fazer o que realmente tem vontade. — Você deve estar indo para algum lugar, me desculpe por fazer você vir aqui só para me dar isso.

— Ah, não! Rebobina aí, meu filho. Eu quero um convite, e estou fazendo o seu sorvete de refém. — Quem diria, Bakugou Katsuki, mendigando companhia numa sexta à noite. Isso porque nem tem sexo na jogada.

Eijirou parece em sério conflito, como se discutisse internamente consigo mesmo enquanto aperta as alças da mochila sob os dedos. Dou uma olhada rápida na roupa dele, arqueando as sobrancelhas com o quanto ele fica atraente nesse neoprene colado nos músculos firmes.

Foco, Bakugou, você quer chorar as pitangas e colher as do filhotinho que caiu do caminhão.

— Sabe, eu comprei um sabor interessante de Macadâmia e... — Nem preciso continuar com a lista meio extensa demais, pois, sento as mãos de Kirishima tocando as minhas, com uma delicadeza adorável, mas não tanto quanto sua expressão empolgada e ansiosa.

— A gente pode dividir na minha casa, esse é muito bom! Eu não consigo escolher só um.

[...]

A distância do ginásio para a casa do ruivo nem era tão considerável, porém, saber que ele faz o caminho correndo para se aquecer, quando as noites são mais frias, me deixa com certas imagens deliciosas daquele corpinho se movendo em prol de uma velocidade acima da média.

Tento não ficar deixando na cara a minha babação, contudo, a forma como Kirishima não vê qualquer mal nas minhas frases sugestivas, talvez, de propósito ou desconhecimento, me leva a começar a ignorar tal desejo. Acho que apenas aproveitar de uma companhia diferente para pensar nas merdas da vida seja bom. Não é comum para mim usar de outros artifícios para isso que não se resumem a profanidades.

— Essa porra é dura como pedra! Como, diabos, um potezinho desse custa 40 conto?! — reclamo, ao tentar afundar a colher naquela massa sólida de sorvete, logo depois de arrancar um plástico de proteção que tinha alguma informação bosta que não me agrega em nada. Sentado no chão da sala, num tapete confortável que não combina em nada com o resto da decoração aleatória. Abri todos os botões pretos da camiseta apertada, e me deleitei com a olhadinha do ruivo para as tatuagens, ainda que tenha sido bem ligeira.

— Não machuca o sorvete, meu Deus! Tenha calma, bro, poxa vida! — O ruivo, agora trocado em roupas largas que parecem mais confortáveis, ajoelha no tapete, deixando outro dos potes sobre a mesinha de centro enquanto arranca a colher da minha mão num desespero latente.

— Que machucar o quê, caralho?! Me diz, então, como que a gente come esse sorvete, bro? Ele grita muito no processo? Olha que eu gosto, hein — digo, irritado de verdade, mas a risada de Eijirou quebra qualquer resquício da minha raiva tosca, tornando o comentário espontâneo uma dádiva que eu nem planejei.

— Esperamos, pelo menos, uns 5 minutos depois de abrir, como ficou um pouco fora da geladeira, logo vai estar perfeito — ele explica com uma tranquilidade sem igual, levando-me a suspirar e deixar o meu pote perto do seu. Cruzo os braços e encaro o sorvete, como se, talvez, uma visão de raio laser me ajudasse, de repente.

— Até para comer sorvete agora tem um porém, que merda! Assim, a vida me fode mais do que eu consigo levar — deixo escapar, tomado pela liberdade que o ruivo me traz ao estar tão na merda quanto eu, ainda que sua expressão surpresa ao lado me traga certo arrependimento. Era bom se ele sempre me visse como o foda que eu digo ser o tempo todo.

— Dia ruim também? — seu questionamento não possui um pingo de dó, como posso presumir ao olhar em seus olhos, o sorriso terno e as írises escarlates me fitando compreensivamente, quase me fazem falar tudo detalhadamente — como se ele, ao menos, soubesse o que já passei no contexto inteiro.

— É... Digamos que hoje eu me sinto um pouco menos incrível — falo sem revelar demais, tendo como resposta um leve menear de cabeça. Kirishima pega o sorvete nas mãos e eu faço o mesmo, esperando ele fazer o ritual doido de conferir a massa gelada antes de comer.

— Eu entendo, um pouco só, na verdade. Raramente me sinto incrível, hoje isso não chegou nem a ser uma opção. — Saber disso não me surpreende, mas ainda não sei ao certo de onde Eijirou tira algo tão grotesco sobre si. Ele realmente não se enxerga?

— Não consigo entender o que você vê de tão ruim em si mesmo. Eu só vejo um único defeito, e é claramente essa sua insegurança inútil. — Me revolto um pouco, pegando uma colherada cheia da massa de chocolate belga para experimentar esse sorvete que tanto consegue a apreciação do ruivo. Arregalo os olhos ao ter aquele sabor encorpado, e levemente amargo, sobre a língua, gemendo em apreciação.

— Eu disse que você iria gostar! — o ruivo fala, convencido, e depois ri um pouco com minha careta na sua direção. — Sorvete sempre me deixa mais feliz, muito obrigado. De verdade! — Os olhos dele se enrugam um pouco quando o sorriso é maior ao agradecer, mostrando que nada pode ser visto como mentira em suas palavras. Dou de ombros tentando não transparecer o quanto gostei desse sorriso, que me trouxe uma sensação gratificante totalmente inédita.

— Eu fico feliz com meu cu lotado de álcool ou rola — declaro, roubando um pouco do sorvete alheio, rindo ao ver a reação engraçada do ruivo com o meu comentário. Ele engasga com a sobremesa por alguns instantes, e tosse tentando recuperar o ar, completamente vermelho — como a cor de seu cabelo.

— O-Olha, eu não julgo, não! Minha mãe já disse que tem pessoas que usam sexo como válvula de escape, para ter o estresse reduzido pelas endorfinas e tudo mais. Mesmo que eu não seja como os demais, entendo que o contato sexual, para eles, pode ser bem diferente do que é para mim — o ruivo fala, até um tanto distraído, mas eu sorvo cada uma das suas palavras sem ao menos piscar enquanto como mais do sorvete de chocolate. Entender o que ele sente é intrigante, portanto, desperta muito minha curiosidade.

— Você não é diferente dos demais, os demais que são diferentes de você — declaro, um tanto sem nexo, e o baixinho me olha com a cabeça inclinada, tão confuso com minhas palavras quanto eu. Balanço a colher no ar e faço o mesmo com a cabeça, negando antes de me corrigir com algo mais concreto. — Assim, todo mundo é diferente de todo mundo. Se a sua natureza é essa, você não deveria se envergonhar disso. Muitos também são como você, e muitos também são como eu, mas ninguém consegue ser igual a nenhum de nós. É isso aí, porra. Agora, falei bonito!

A risada de Kirishima surge mais uma vez na mesma noite, e eu não deixo de sorrir junto. Nem me importo com a merda que eu expliquei com tantas voltas, só digo o que penso, o vislumbre dos dentes afiados à mostra, pela expressão divertida do outro, é uma consequência muito bem-vinda.

— Eu acho maravilhoso a forma como você mesmo concorda com o que disse — o comentário me faz rir mais, porém, deixo isso de lado para poder roubar mais daquele sabor de baunilha com brownie. Realmente, é gostoso demais! — Ei, ei! Vai ter que pagar um pedágio antes. — O ruivo afasta o pote de mim, erguendo o queixo com um biquinho formidável ao exigir algo em troca do sorvete.

Sorrio largo já pensando em besteiras, mas deixo a curva se tornar meio abalada quando me lembro de que isso não é fácil de acontecer; só se for por um milagre divino. Duvido que as divindades queiram papo comigo hoje.

— Qual é a exigência, “Coração”? Só fala, cacete. — Incentivo-o, com um tom desafiador, notando um semblante perverso se formando na face alheia.

— Eu vou falar o artista e você vai cantar uma música dele, consecutivamente. Vamos lá! — ele fala numa empolgação tremenda, me deixando tão ansioso que nem me lembro de retrucar esse aproveitamento sem cachê. — Justin Timberlake!

“What goes around, goes around, goes around... Comes all the way back around” — entoo o refrão da música do cantor escolhido, suavemente, repetindo mais uma vez antes de já ter outra opção para escolher a melodia.

Usher! — Eijirou está cada vez mais empolgado, notando que entrei no seu joguinho e estou seguindo suas ordens como um maldito cãozinho adestrado. Não posso negar que também estou me divertindo.

“Got me like, ooh my gosh I'm so in love. I found you finally, you make me wanna say” — Dessa vez, o ruivo prossegue com a repetição da vogal no refrão da música que escolhi, entoando junto comigo a última frase.

“Oh my gosh...” Ah, eu amo essas! Agora... Fergie! — A escolha me surpreende, mas uma faixa específica surge na minha mente, levando-me a cantar alto por conta da animação que essa música me traz:

Been working at your service to give it to ya. Didn't mean to make you nervous, you motherfucker” — canto, movendo minha cabeça no ritmo dentro da mente, sorrindo orgulhoso ao pousar a mão no peito estufado, fazendo graça com o refrão sugestivo. — “You got that, you got that, you got that milk Money.”

— Ai, meu Deus! Você é muito bom nisso, eu não me canso de escutar! — Ter essa declaração me deixa mais aceso que bunda de vagalume. Agora, eu realmente sinto que nada pode me abalar, só porque o ruivo me apontou o óbvio.

— É claro! Agora, vai pagando o ingresso aí, idiota! — Estendo a mão, fingindo estar falando sério, e Eijirou dá risada, coletando um pouco de sorvete na colher para trazer à minha boca, ao invés de me dar o pote, como eu pensava que faria. Aceito de bom grado, ainda que isso me renda um aquecimento desnecessário na face. Acho que meu coração deu uma balançada pela milésima vez com essa cara de mongol que ele faz, botando a linguinha para fora, quando tenta não derrubar o sorvete do utensílio.

— Obrigado por ficar um pouco aqui comigo, Bakugou. Eu... costumo ficar bastante sozinho. — O clima muda rápido demais para o meu gosto e, no impulso, acabo fazendo algo que nunca faria normalmente — ou em sã consciência. Creio que meu instinto desesperado para não deixar que o ruivo deixe de sorrir tão lindamente, faz as palavras saírem da minha boca sem tempo para pensar melhor:

— Então, reserva na sua agenda às sextas-feiras ‘pra mim. Quero conhecer todos os sabores dessa merda cara, e você vai me mostrar.


Notas Finais


Ai meu deus, a gente tá só começando cara, que emoção do caraio.

Atrasei porque tava lendo a fic da @calist0_ , falo mesmo u.u

Até mais!


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