Rafael Lange
Eu definitivamente odeio essas musiquinhas de elevador. É a coisa mais irritante, sem falar que me deixa mais nervoso ainda.
Até hoje de manhã a ideia do Alan me parecia ser boa, mas, agora que está prestes a acontecer, parece ter tudo pra dar errado. O que eu tenho na cabeça pra confiar nesse lixo?
Arrumei meu topete, pela terceira vez, em frente ao espelho do elevador e limpei o pouco do suor formado em minha testa. Péssima ideia ter vindo com essa camisa xadrez de tecido grosso. Assim que o elevador parou no quarto andar e abriu as portas, deparei-me com um longo corredor, no qual eu poderia ir tanto pra direita quanto pra esquerda. O quarto de Sophia é o 412, só precisava saber em qual direção seguir. Como diz o Alan, "direita é sucesso", e é o sucesso que eu quero.
Observei que, conforme eu andava pelo corredor, o número do quarto diminuía, ou seja, eu deveria ter ido pra esquerda. Droga. Segunda vez que confio nele e deu errado, por que a primeira daria certo? Agora não importa, o recepcionista do hotel já ligou avisando que eu estava subindo, não tenho escapatória.
Enfim cheguei ao 412, respirei fundo e bati na porta, a qual demorou alguns minutos para ser aberta.
– Olá, Rafael! – disse Sophia, dando-me um abraço e um beijo na bochecha. – Pode entrar. Onde está o casal maravilha? Não vieram?
Ela estava simplesmente linda. Vestia um shorts jeans, blusa cinza de mangas longas e chinelos. Percebi que ela havia retocado a tintura do cabelo, coisa que eu não perceberia se não estivesse hipnotizado e analisando cada detalhe seu.
– Não vai entrar não? – ela estalou os dedos na frente do meu rosto, tirando-me do transe.
– Ah, oi. – falei, caminhando ao interior do quarto. – Alan e Maethe tiveram um imprevisto, não poderão sair com a gente.
"Um imprevisto". Melhor desculpa. Só que não.
– Ok. Preciso me arrumar ainda, espero que não se incomode.
– De boa.
– Senta aí na cama, fico pronta rapidinho. – falou entrando no banheiro e eu obedeci.
Havia passado mais de vinte minutos quando ela finalmente terminou de se arrumar. Isso não é o que eu chamo de "rápido", mas tudo bem, porque ela ficou tão linda quanto antes. Usava vestido preto e sandálias, olhos bem marcados. O cabelo, agora, caía em ondas pelos ombros.
– Esqueci de perguntar, aonde vamos? – disse Sophia, já ao meu lado. Seu perfume invadiu minhas narinas, embriagando-me.
– Parque Ibirapuera. – respondi simples e passei meu braço pelos ombros dela e a guiei para fora do quarto.
[...]
Por ser quinta-feira, o parque estava bem tranquilo, diferente das outras duas vezes que visitei o lugar. Fomos ao museu, mas a exposição não era muito interessante, então decidimos ir ao lago.
–Hey stars! – a loira exclamou para a câmera focada em seu rosto.
– Não grava agora não. – pedi. – Aproveite o tempo aqui para descansar.
– Ok, posso pelo menos tirar fotos? – debochou.
– Pode. – ri pelo nariz.
Ela afastou-se de repente e eu franzi a testa, sem entender nada. Em seguida, apontou a câmera para mim, pedindo para que eu fizesse pose. Imaginei que ela fosse tirar foto de si própria. Fiz minha melhor cara de "alguém me mata", o que rendeu uma reclamação para eu sorrir, mas mesmo assim ela fotografou. Só para irritá-la, forcei um sorriso enorme, mais um clique da câmera e mais uma reclamação. Por fim, abri meu sorriso charmoso de galã e ela ficou satisfeita.
– Por que está guardando a máquina? – questionei. – Deixe-me tirar uma foto sua.
Sophia protestou, mas fez algumas poses e caretas. Aproveitei para tirar algumas fotos de nós dois juntos também.
Chegando em frente ao lago, ficamos um tempo o olhando, mas não tinha muito o que fazer, afinal, é apenas um lago. Inesperadamente, ela correu para baixo da árvore mais próxima e ali se jogou, na grama mesmo. Fui até ela e fiquei a encarando, ainda em pé.
– Deita. – bateu no espaço ao lado dela, indicando onde eu deveria me deitar. Assim eu fiz, usando meu braço direito como apoio para a cabeça.
Ficamos em silêncio. As folhas da árvore impediam que os raios solares atrapalhassem nossa visão, mas nos espaços entre uma folha e outra era possível ver o céu azul claro, com poucas nuvens.
Olhei para o lado e "esbarrei" com seus olhos, mais verdes do que o normal, fixados nos meus. Só então reparei o quão próximo nós estamos, tanto que meu braço esquerdo estava praticamente colado com o dela. A garota pegou minha mão e começou a massageá-la na região entre o dedo indicador e o dedão. Estava tão bom quanto receber cafuné na cabeça. Um desejo enorme de beijá-la tomou conta de mim, parecia impossível segurar a vontade, já que seus lábios rosados estavam a poucos centímetros de distância dos meus. Eu teria feito isso, se Sophia não tivesse tornado a olhar para cima. Corei imediata e violentamente, por sorte ela não percebeu, ou pelo menos não se importou.
– É como se você tivesse um pedaço do céu nos seus olhos. – disse ela. – A mesma cor, o mesmo brilho.
Fiquei quieto, não sabia o que dizer.
– Uma pena que em Belleville quase sempre está nublado. – prosseguiu. – Quando não faz muito frio lá, eu e meus amigos costumamos deitar no gramado de casa, conversar e cantar. Sinto falta disso.
– Podemos fazer isso aqui.
– Você por acaso trouxe um violão? – perguntou irônica.
– Claro, tá aqui no bolso da minha calça. – entrei na brincadeira.
– Você me lembra o Josh. Não fisicamente, não sei explicar. Talvez seja o jeito retardado. – riu.
Ela acabou de me comparar com o melhor amigo e ainda me chamou de retardado. Que morte horrível.
O silêncio voltou a predominar, trazendo um ar de tranquilidade e ao mesmo tempo inquietação, se é que isso é possível.
– Podemos voltar? Se eu ficar mais tempo aqui deitada vou acabar dormindo.
– Sim. – respondi, levantando-me e estendendo a mão para ajudá-la a levantar. – Mas vamos passar em uma sorveteria antes.
– Seu cabelo está cheio de grama. – gargalhou, bagunçando meu topete que passei horas arrumando. Se fosse outra pessoa eu teria xingado, mas é ela.
[...]
Já fazia uns cinco minutos que terminei de contar sobre o que aconteceu no meu "encontro" com Sophia e desde então Alan e Felps estavam me zoando.
Eu: Dá pra parar? – pedi novamente.
Alan: Caralho, não sei quem é mais lerdo, você ou ela.
Eu: Eu lerdo?! Você mesmo disse que eu tô indo rápido demais, porque acabei de conhecê-la.
A: Eu falei isso na questão de você já gostar dela, mas na questão de beijar, você tá lerdo sim, otário.
Eu: A culpa não é minha, pelo menos eu tentei.
Felps: Cara, você tentou uma vez e já desistiu.
Eu: Você vai apoiar o lixo agora, Felps? Pensei que fossemos amigos.
F: Para de drama, e não estou apoiando ele, só estou falando a verdade.
Eu: Tá, tá. Já entendi. Podemos gravar agora?
A: Sim, mas antes anota aí: de segunda-feira não passa, ou eu não me chamo Alanzoka. Quero ter o prazer de irritar o casal antes de voltar pra São Paulo.
Até tinha me esquecido que amanhã iremos para Porto Alegre e de lá eu voltarei pra Carazinho. Eu só espero que Sophia volte comigo.
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