Rafael Lange
Assim que a garota terminou de se despedir e o vídeo acabou, cliquei no botão de replay. Procurava algum indício do motivo para Sophia ter gravado de máscara, escondendo seu rosto, mas não conseguia encontrar. Pausei o vídeo e abri o Twitter para ver se havia algum comentário sobre isso. (1)
Nada.
Ao invés disso, encontrei vários tweets de resposta aos inscritos e de agradecimento, acompanhados da tag #7MStars, a qual ocupava o terceiro lugar dos assuntos do momento Mundial; até os meus amigos já sabiam e a parabenizavam.
Pensei em mandar algo também, mas desisti depois da possibilidade de não ser respondido vir à minha mente.
Algum tempo depois, Sophia anunciou que faria sua primeira live no canal. Fui para a cozinha procurar pelos restos da pizza de ontem, não por estar com fome, porque não estava, era só culpa das crises de ansiedade que tinham se tornado frequentes há algumas semanas e a comida me acalmava. Esquentei um pedaço no microondas e voltei ao meu quarto, bem a tempo.
A imagem – um tanto quanto desfocada – da loira apareceu na tela do meu computador. Ela falava em inglês de forma tão rápida que dificultava a minha compreensão. Em seguida, levantou os braços para o alto, fechou levemente seus olhos e gritou "amo vocês" animada; voltou a falar, mas dessa vez em português e ritmo mais calmo.
– Peço desculpas aos brasileiros e portugueses que me assistem e não entendem o meu inglês, como é ao vivo não tem como eu colocar legendas. Quer dizer, mesmo se isso for possível, eu não tenho ideia de como faz. – sorriu sem graça. – Mas eu dou meu jeito. Se precisar, falo a mesma coisa duas vezes, uma em cada língua pra todo mundo entender e ficar feliz! Só pretendo manter o padrão de: perguntas em inglês, respostas em inglês; perguntas em português, respostas em português... Bom, o que eu estava dizendo antes é que eu não sou boa com as palavras e não consigo me expressar direito, mas eu amo imensamente todos vocês. Vocês são responsáveis por tudo de bom que tem acontecido comigo desde a criação do canal e eu só tenho a agradecer.
Era engraçado ver como ela se enrolava nas próprias palavras para demonstrar sua gratidão, eu me identificava com isso.
– Agora, vamos começar com as perguntas e a cantoria.
[...]
– Perguntaram se é verdade que eu estou escrevendo uma música. – fez uma breve pausa. – Sim gente. Na verdade eu até já terminei. Desde que eu comentei sobre isso em um daily vlog (2), recebo pedidos diariamente para que eu cante. Antes eu achava que seria melhor guardar só para mim, por ser muito pessoal, além de eu ter um pouquinho de vergonha e insegurança... Porém, agora, não vejo mais tanto problema e eu devo algo a vocês.
A garota pegou o violão e se preparou. (3)
I don't know where I belong in this city
(Eu não sei onde eu pertenço nesta cidade)
Everyone's around everyone's a-crowding me
(Todo mundo está ao meu redor, todo mundo está se aglomerando em mim)
And I've lost the space where I breathe
(E eu perdi o espaço onde eu respiro)
Stuck to the ground is a lonely place to be
(Presa ao chão é um lugar solitário para ficar)
Stuck to the ground is a lonely place to be
(Presa ao chão é um lugar solitário para ficar)
Sophia começou a cantar com a voz baixa e fraca, mostrando-se tímida e insegura, um lado dela o qual eu não conhecia.
And all I can do is miss you
(E tudo que eu posso fazer é sentir sua falta)
See your face on a photograph but I can't kiss you
(Ver o seu rosto em uma fotografia, mas não poder te beijar)
And a text or a call just won't do
(E uma mensagem ou uma ligação não irão funcionar)
Won't you heal my heart of blue?
(Você não vai curar o meu coração triste?)
Seus olhos se fecharam, a cabeça balançava lentamente de acordo com a melodia. Ajeitei-me na cadeira em uma posição mais confortável e comecei a prestar mais atenção na letra, que agora fazia mais sentido para mim.
I'll walk each pace on my own in this city
(Eu caminho no meu próprio ritmo nesta cidade)
Searching through the maze that won't lead me home
(Buscando através do labirinto que não me levará para casa)
Eyes on the floor, head full of self-pity
(Olhos no chão, cabeça cheia de “auto-piedade”)
Such a crazy day, such a funny way to go
(Um dia muito louco, um lugar muito engraçado para ir)
Such a crazy day, such a funny way to go
(Um dia muito louco, um lugar muito engraçado para ir)
Sophia parou de dedilhar o violão e fez uma pausa para inspirar ar profundamente, como se buscasse forças para prosseguir.
I still remember your promises, you always said
(Eu ainda me lembro das suas promessas, você sempre disse...)
You would be better off a part of this, so why do I feel
(Você estaria melhor sem parte disso, então por que eu sinto...)
Like I'm winning a loser's game, it's such a shame
(Como se eu estivesse ganhando um jogo de perdedores? Isso é uma vergonha)
Should I erase every thought of you?
(Eu deveria apagar todos os meus pensamentos sobre você?)
Sua voz começou a ficar trêmula e ela vacilou, terminando de soprar a última palavra com dificuldade, notoriamente. Foi então que ela abriu minimamente os olhos e eu pude perceber as lágrimas acumuladas serem liberadas, seguindo o contorno de suas bochechas. Os soluços se tornavam constantes. Com uma de suas mãos formando uma concha, Sophia cobriu seu rosto, enquanto com a outra mão mexia em alguma coisa do computador.
A tela ficou totalmente preta logo em seguida, a não ser pela palavra em branco: off-line.
@starris: eu sinto muito por isso, não se preocupem comigo, amo vocês <3
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