1. Spirit Fanfics >
  2. My Sweet Prostitute >
  3. Capítulo 12

História My Sweet Prostitute - Capítulo 12


Escrita por: LadyWicked

Notas do Autor


Boa leitura!
🥺🥺♥️♥️

Capítulo 12 - Capítulo 12


Pov Nayeon

Eu era só uma puta.

Eu era só uma puta e sabia disso.

Eu sabia disso porque os clientes, muitos clientes não me deixavam esquecer desse detalhe. E conforme o tempo passava, mas eu sabia que não poderia simplesmente deixar de ser só uma puta.

Eu não poderia viver uma vida normal porque meu passado sempre me condenaria.

Sempre seria o meu fantasma particular, e seria sempre motivo de vergonha.

Eu sabia disso. Eu sabia que era só uma puta, e nunca pensei que pudesse ser um pouco mais do que isso.

Nunca tentei ser mais do que eu era para cliente nenhum.

Infelizmente, era só o que eu era.

Uma puta, como tantas outras.

Então por que ela achou que eu quisesse ser mais do que isso? Por que achou que eu estava tentando seduzi-la ou ter algum tipo de controle sobre ela? Por que achou que eu iria pensar que tinha esse direito?

Eu não queria, nunca quis ter controle de nada.

De sentimento algum.

Se me fosse possível considerar qualquer utopia, seria simplesmente uma Dahyun retribuindo os sentimentos que eu nutria por ela, mas eu já tinha descartado esse possibilidade, então estava satisfeita com a nossa amizade.

Com a nossa proximidade, com o pouco da companhia dela, com o pouco dela que eu tinha. 

Quando tinha.

Por que ela havia dito aquelas palavras?

Eu sabia que era só uma puta, mas ouvir essa afirmação da boca dela, com tanta raiva, tanta mágoa, doeu mais do que eu podia imaginar.

Doeu demais.

O fato de vê-la como uma cliente diferente das outras pessoas pesava.

O fato de admirá-la e pensar nela como uma proteção, uma '' mesmo que estranha '' amizade, também pesava.

Mas era o fato de estar completamente apaixonada por ela que fez com que suas palavras me dilacerassem. 

Me reduzissem a quase pó, quase nada.

Fez com que eu me sentisse tão imunda e insignificante, tão descartável.

Não devia doer tanto. Não devia porque eu sabia que aquela era exatamente a verdade, mas doía porque, de alguma forma - milagre talvez- eu esperava que ela visse em mim algo além de uma prostituta.

Alguém que valesse a pena, que pudesse ser legal e fazê-la rir de piadas bobas. Alguém que ela pudesse ver não como um objeto, mas como uma pessoa.

Uma pessoa que pudesse fazer parte da vida dela, de qualquer forma, e que deixasse a sua marca.

Mas eu não havia conseguido.

Não havia deixado marca alguma nela.

Ela me via só como uma puta, e doía saber disso.

Doía porque eu gostava dela pra caralho.

Agora, a última lembrança que eu tinha dela eram aquelas palavras gritadas, como se eu tivesse desafiado ela. Aquelas palavras, que ainda repetiam na minha cabeça como um pisca-pisca. Aquelas palavras que talvez ninguém mais naquele salão tivesse levado tão a sério, principalmente por serem verdades, mas que me queimaram como fogo.

Aquela era a última lembrança que eu tinha dela.

De uma Dahyun tanto protetora como vingativa.

E eu queria poder responder a todas as suas palavras, queria poder xingá-la de nomes esdrúxulos, queria poder tentar provar a ela que ela estava errada e que eu valia alguma coisa.

Mas ela havia se tornado mais uma cliente que surgia, e depois de alcançado o objetivo, ia embora sem sequer olhar para trás.

Boa empurrou a porta com cuidado, me dando tempo para fingir que estava fazendo algo normal ou me recompor caso estivesse chorando.

Não respondi nem movi um músculo sequer, ainda deitada em minha cama, olhando para frente como quem assiste com atenção a um filme. A diferença era que não havia nada ali além de uma parede branca.

- Ah... Ainda não está arrumada.

Que horas deviam ser?

- Você abe como a Irene é. Ela me mandou vir aqui ver se você já estava pronta para essa noite. Ela já te deu folga ontem, depois... do que aconteceu.

Era verdade.

Irene havia me permitido voltar para o quarto e não receber mais clientes por aquela noite. Mas aquilo foi o suficiente, então eu imaginava que hoje ela não seria tão generosa assim.

- E já são 19:30. Você sabe que daqui a pouco o lugar começa a encher...

Boa falava como quem pede a um asmático para fazer polichinelos.

Eu podia ver pelo timbre de sua voz que ela sentia muito por estar me lembrando daquelas coisas. Não era ela quem estava me cobrando, era Irene, mas era ela quem vinha trazer a má notícia.

A notícia de que eu deveria voltar a realidade e desempenhar minha função, esquecendo do que quer que tenha acontecido.

Continuei encarando a parede por mais algum tempo, considerando minhas opções. Percebi que não tinha nenhuma.

- Nay... Eu sinto muito...

- Eu sei. - Sorri tristemente para ela, enquanto tentava aceitar os fatos.

Eu teria que voltar à realidade hoje. Eu teria que parar de pensar no que havia acontecido. Eu teria que fingir que não estava morrendo por dentro.

Boa me olhou como quem queria falar muitas coisas, mas não sabia por onde começar, nem se deveria começar. Falar no que aconteceu ontem resultaria em ter que mencioná-la, tocar no nome dela, e isso era uma coisa que eu sabia que todas as meninas tinham jurado não fazer mais.

Pelo menos não enquanto eu estivesse por perto.

- Vou me arrumar. Te encontro lá embaixo.

Dizendo isso, consegui me levantar da cama e sem vida, rumei para o banheiro.

Quinze minutos depois, desci para o andar onde agora alguns clientes já procuravam suas companhias. Alguns já estavam acompanhados, e outros bebiam enquanto aproveitavam o início da noite.

Eu não sabia o que fazer ali.

Aquilo parecia patético, porque eu deveria estar fazendo a mesma coisa que sempre fiz: ficar na vitrine esperando enquanto alguém se decidia em me alugar por trinta minutos.

Ainda assim, por algum motivo eu me sentia agora completamente fora de lugar, tão deslocada quanto um peixe fora d' água.

Se tinha algo no mundo que eu não queria fazer, era aquilo: Esperar pelo meu próximo cliente.

Olhei em volta e vi rostos diferentes de homens e mulheres diferentes. Eu já estava acostumada com a grande rotatividade do lugar, mas foi observando esse detalhe que comecei a pensar.

Na semana que havia passado, a semana do meu aniversário, cada vez que eu voltava de um programa do meu quarto para o salão principal, me sentia cheia de uma esperança em vê-la.

Durante toda a semana, todas as noites eu esperava encontrá-la encostada no bar, enquanto bebia sua dose de Whisky e emanava sua aura de poder.

Todos os dias eu esperei vê-la, e todos os dias eu me decepcionei.

Minha mãe costumava a dizer que a esperança poderia matar uma pessoa lentamente, porque esse era o sentimento que nos tornava vulnerável a falhas.

Quando tínhamos esperança, corríamos o risco de nos desapontar, e haviam situações em que a decepção era quase tão dolorosa quanto a morte.

Ela tinha razão.

Eu havia sentido a força de uma decepção recentemente, e poderia dizer que poucas coisas na vida conseguiriam ser tão dolorosas quanto aquilo.

Mas a esperança era também o sentimento que nos fazia acreditar, que fazia com que tivéssemos fé, e agora eu sentia a gravidade de não ter mais esperança.

Ela não voltaria.

Eu sabia, ela não voltaria nunca mais. Era uma certeza tão grande e tão esmagadora que não havia como contestá-la.

Eu não poderia sequer me decepcionar, porque não havia a menor esperança em vê-la outra vez.

Eu não a veria outra vez. Noite após noite, ela não estaria ali. Das dezenas de pessoas que entrariam naquele lugar, não havia a menor possibilidade de uma dessas pessoas ser ela.

Não havia esperanças.

Fui tomada por um desespero crescente e sufocante. Tentei não perder o controle, indo direto ao bar e pedindo qualquer coisa alcoólica, enquanto fazia força para parar de pensar naquilo.

Ela não voltaria. Por que ela foi embora? Ela disse que estaria por perto.

Por que ela disse aquilo? Por que fez aquilo?

- Nayeon!

Me virei mais rápido do que deveria, o que quase resultou em um tombo.

Me apoiei no bar e procurei a voz que me chamava.

Era Irene, trazendo consigo uma mulher com a postura dura e indiferente.

- Alessia quer conhecê-la. Tenho certeza de que vocês se darão bem.

- Boa noite, Nayeon. Gostei do seu nome.

Eu ainda estava com um pouco de falta de ar e um aperto na garganta doloroso, mas me obriguei a falar de volta.

- Obrigada.

- Você está bem? Sua cara não está muito boa.

Eu não estava bem. Estava longe de estar bem.

Estava começando a suar frio, tremia levemente e fazia uma força incrível para não deixar o pânico que surgia nas minha veias não se apoderar de mim.

Era uma péssima hora para ter uma crise, ainda mais porque Irene me encarava como se eu estivesse estragando sua ceia de Natal.

Mas eu não podia fazer aquilo. Simplesmente não podia.

Engasguei com a vontade súbita de chorar. Tentei controlar o aperto que precedia o choro, mas não consegui.

- Eu... não posso...

A torrente de lágrimas veio de uma vez, e eu agora estava aos prantos na frente de uma cliente.

Não podia ser pior.

- Querida... - Começou Irene enquanto tentava soar calma - Nayeon não parece estar se sentindo bem. Acho melhor apresentá-la a outra pessoa. Você não vai se arrepender.

Dizendo isso, saiu de braços dados com ela.

Vi as duas se afastarem de mim aos poucos, enquanto tentava limpar à nuvem de lágrimas que atrapalhava minha visão, mas notei que Irene olhou algumas vezes em minha direção, com uma cara péssima.

Eu sabia que ouviria um sermão por aquilo, mas aquela não era a hora de me preocupar com isso.

A tristeza que agora tomava conta de mim era tão intensa, tão dominante, que eu não consegui me acalmar sequer com o fato de ter acabado de perder uma cliente.

Tão rápido quanto a ideia surgiu, corri para as escadas outra vez, e chegando ao meu quarto, me deixei cair pesadamente na cama, enquanto tentava respirar direito.

Eu não conseguia. Não conseguia fazer aquilo.

Não seja idiota. Você sempre fez isso, por que não conseguiria agora? Não mudou nada.

Eu tinha que conseguir, porque era simplesmente a única coisa que eu fazia.

E se eu não pudesse mais fazer a única coisa para que servia, então eu me tornava imediatamente ainda mais descartável do que já era.

Por que você fez isso comigo, sua idiota? Por que me abandonou?

Ela mentiu para mim.

Disse que estaria por perto, disse que gostava de mim.

Ela mentiu para mim. Me humilhou, me abandonou, me esqueceu.

- Nós vamos conversar sobre isso depois.

Virei surpresa para porta e vi Irene parada, me encarando com uma expressão furiosa, de braços cruzados.

- M-me desculpe...

- Eu sabia que isso iria acontecer... Devia ter sido mais firme quanto a vocês duas.

Ela sabia. Sabia o motivo do meu desespero. Ela sabia que eu estava apaixonada por Lauren.

- Nós vamos ter uma conversa definitiva sobre isso, Nayeon. Você trabalha aqui, e o seus problemas pessoais não me interessam. Você vai ter que fazer o seu trabalho se quiser continuar aqui.

Dizendo isso, virou-se e saiu, fechando a porta com força atrás de si.

Eu sabia que ela tinha razão, mas eu não conseguia.

                           (...)

Acordei no dia seguinte com batidas na porta do quarto. Pelas forças das batidas, eu sabia quem era.

- Já vou... - Falei, tentando me recompor rapidamente, enquanto corria para o banheiro e jogava um pouco de água no rosto.

Arrumei um pouco a cama, dobrando os lençóis amassados da noite que passou, e finalmente abri a porta para que Chloe pudesse entrar.

- Bom dia. - Ela disse, muito séria.

- Bom dia. - Respondi, fazendo sinal para que ela entrasse e se sentasse.

Irene imediatamente arrastou uma das cadeiras da escrivaninha e se sentou em frente a cama.

- Vou direto ao assunto, até porque você sabe o motivo pelo qual estou aqui.

- Sim... - Comecei, de cabeça baixa.

- Ótimo. Você é uma garota esperta, e sabe o que a mantém aqui, certo?

Afirmei com a cabeça, sem dizer nada. Era claro que eu sabia.

- Então você sabe que se começar a recusar clientes, você não vai poder continuar aqui, já que o que a faz ficar nesse lugar é o dinheiro dos seus programas.

- Eu sei...

- Além do mais, isso traria uma má fama para o estabelecimento, concorda? Eu não gostaria que o The Lux ficasse com fama por ter garotas que recusam clientes, se é que me entende.

Assenti com a cabeça outra vez.

- Então, Nay, acho que você sabe o que eu quero dizer. Sei que você não está passando por um dos melhores momentos da sua vida, depois do que a Dahyun fez.

Dor. Senti uma dor forte no peito ao ouvir seu nome outra vez. Ninguém mais falou sobre ela, e eu mesma estava me policiando para não pensar no seu nome.

Ouvi-lo assim, com tanta naturalidade, trouxe de volta a dor que eu tentava esconder de mim mesma.

- Mesmo assim - continuou Irene - todos nós temos nossas responsabilidades. Eu tenho problemas também, mas não é por isso que vou faltar com as minhas obrigações. Você é uma garota responsável, então acho justo esperar que você também não falte com as suas.

Ela estava certa, é claro. Mas como explicar a ela que eu não conseguia mais fazer aquilo? Que motivo eu daria a ela, já que nem eu mesmo sabia?

Eu poderia dizer como eu me sentia.

Poderia dizer que depois do que aconteceu, eu me sentia muito mais deslocada e baixa do que antes. Poderia explicar a ela o pânico, a náusea que sentia ao pensar que deveria ficar com um cliente agora. Poderia dizer a ela que tudo isso piorava porque a Dahyun simplesmente não saía da minha cabeça, que a imagem dela me perseguia, que a saudade que eu sentia dela pesava em meu peito como chumbo, que a dor de vê-la partir tinha me deixado em um estado deplorável.

Mas ela não aceitaria, porque ela estava certa.

- Irene.. Eu só te peço um pouco de tempo...

- Você sabe que isso eu não posso te dar. Eu não posso mantê-la empregada se você não consegue trabalhar.

- Eu pago minhas horas.

Irene me olhou com um pouco de dúvida.

- O que quer dizer?

- Eu pago meus programas. Pago as oito horas, dezesseis programas por dia. Eu só preciso de um pouco de tempo...

Tempo para esquecê-la.

- E o que eu ganharia com isso?

- Você sabe que eu nunca consigo dezesseis programas em uma noite. Eu pago por todos eles, contanto que você me deixe ficar aqui. Se você me der um tempo... Eu vou voltar a fazer o que eu tenho que fazer.

Ela ponderou por algum tempo. Por tempo demais.

Fiquei receosa com a possibilidade de Irene simplesmente negar e me colocar contra a parede.

Se ela fizesse isso, eu sabia que iria acabar indo parar na rua.

- Eu sei que foge dos padrões... Mas por favor... Eu preciso da sua ajuda.

Eu estava sendo absolutamente sincera, e pude ver que ela entendeu isso.

Irene me olhou por algum tempo, como se estivesse analisando a situação, e por um segundo pude notar em seus olhos um pouco de compaixão comigo.

- Eu sabia que isso não ia dar certo...

Por favor, não toque no nome dela outra vez. Por favor.

- Você não podia ter se deixado levar.

- Eu sei... Me desculpe... - Senti meus olhos subitamente serem invadidos por lágrimas antes que pudesse evitar.

Outra vez, ela estava certa.

Eu não poderia ter feito isso, não poderia ter simplesmente aceitado o fato de me apaixonar.

Em que diabos eu estava pensando, afinal? Será que eu realmente imaginava que essa história poderia ter um final feliz? Que terminasse minimamente bem?

Eu era uma prostituta, e ela era interessante, inteligente, engraçada, rica e linda. Ela simplesmente poderia ter a mulher que quisesse, a hora que quisesse, então por que infernos eu realmente achava que não ia sofrer no final das contas?

Chloe suspirou.

- Eu espero que você fique bem, Nay. Espero que você consiga esquecê-la. Ela sempre foi só uma cliente.

Não era o que eu costumava pensar. Ela era diferente dos outros em todos os aspectos possíveis.

Tinha sido exatamente por isso que eu havia me apaixonado tão fodidamente rápido por ela, quando pensei que jamais poderia me apaixonar por alguém que me visse daquele forma.

Mas no fundo, era verdade. Ela sempre foi uma cliente.

Uma cliente que pagava pelos meus serviços, e que me via como devia ver, como eu era. Não era culpa dela ser tão encantadora, não era culpa dela eu ter me permitido ceder aos encantos dela.

A culpa de tudo aquilo era minha..

Irene se levantou, indo em direção à porta.

- Eu vou te dar um tempo. Você paga suas horas, e eu te deixo livre. Mas comece a pensar no que você vai fazer daqui pra frente.

Sem dizer mais nada, saiu do quarto fechando a porta atrás de si, me deixando completamente sozinha e desolada outra vez.

Fiquei no mesmo lugar por algum tempo, pensando no que eu faria. Onde aquela decisão iria me levar. Finalmente quebrei o silêncio do quarto, falando comigo mesma.

- Tudo bem. Você ganhou um tempo para esquecê-la. Agora, trate de esquecê-la. Trate de esquecê-la. Para o seu próprio bem.

                          (...)

Eu devia imaginar que se uma cliente era tão importante a ponto de fazer com que eu me apaixonasse, ela deveria ser igualmente difícil de esquecer.

Eu não conseguia esquecê-la.

Não importava o que eu fizesse, o quanto me odiasse ou tentasse odiá-la, o quanto tentasse não pensar nela.

Conforme os dias passavam, eu me forçava sempre mais a aceitar que precisava parar de pensar nela, mas a cada dia a saudade também aumentava, fazendo com que a tarefa de esquecê-la se tornasse impossível.

Impossível porque eu nunca havia sentido aquilo por ninguém.

Nunca havia pensado em uma mulher daquela forma, mesmo ela sendo diferente, ela foi a primeira. A primeira a me mostrar que aquilo poderia ser tão bom, mas também doloroso.

Era simples. Eu não conseguia parar de pensar nela.

Nem com a ameaça de ter que, a qualquer momento, voltar a exercer minha profissão, ou seria expulsa daqui. Nem com a raiva que eu sentia dela, por ter me humilhado e gritado comigo na frente de tantas pessoas. Nem com as minhas amigas me dando apoio ou com Irene me ajudando.

A lembrança dela trazia mais desespero e dor do que eu podia aguentar, e sua presença fantasmagórica na minha rotina estava me deixando tão exausta que eu não tinha mais forças para tentar esquecê-la. Porque quanto mais eu lutava contra isso, menos eu conseguia.

Eu simplesmente não conseguia deixar de pensar nela, e sempre me pegava lembrando de qualquer momento que tenhamos passados juntas.

Quando isso acontecia, minha mente se deixava levar e eu mergulhava profundamente em lembranças que me traziam de volta o cheiro dela, o toque dela, o olhar dela.

Todo dia.

Todo maldito dia.

Eu não conseguia parar de pensar nela, e isso poderia ser até aceitável se eu estivesse nesse dilema por alguns dias. Mas, agora, dois meses haviam se passado, e eu estava exausta de lutar contra mim mesma.

Eu estava exausta de sonhar com ela e sentir uma decepção tão grande quando acordava.

Exausta de me perguntar onde ela deveria estar a todo momento.

Exausta de querê-la tanto, com tanto força, com tanto desespero.

Eu estava exausta, dilacerada e completamente sozinha.

Tinha que agradecer a Irene por suas atitudes. Ela me permitiu pagar apenas dez programas por dia, já que era raro qualquer garota daqui conseguir mais do que isso por noite. Além disso, se manteve retirando somente a percentagem dos lucros que cabia a ela, o que me fez não ir à falência imediatamente.

Eu devia tudo isso a ela, mas nada poderia me tirar do estado em que eu me encontrava agora.

Um estado deplorável de depressão profunda, onde poucas coisas além de sede, fome e uma bexiga cheia me faziam levantar da cama.

Eu certamente estaria muitos mais quilos mais magras se Aisha, Jennie, Boa e até Shuhuna não insistissem tanto para que eu comesse mais do que meu estômago podia aceitar.

Era óbvio que quase todas as garotas estavam começando a ficar realmente preocupadas comigo.

Todas me diziam que eu deveria tentar melhorar, mas elas deviam saber que quando se está em depressão, a última coisa que se consegue é ter força de vontade para sair dela.

Estava sendo muito mais difícil do que eu imaginava fosse ser.

Agora, depois de tanto tempo longe do meu trabalho, eu simplesmente não via possibilidade em voltar a fazê-lo. As coisas haviam ficado muito piores, e eu não sabia como consertá-las.

Eu estava perdida, e a única coisa com qual eu poderia contar era a paciência de Irene.

Mas eu devia imaginar que, como tudo de bom na minha vida, isso também não duraria para sempre.

ACHAMOS QUE VOCÊ VAI ADORAR ESTAS HISTÓRIAS TAMBÉM

- Sim.

Era sábado, início de tarde. Eu estava deitada na cama, tentando dormir por causa das últimas noites em claro que tinha passado. Irene agora entrava em meu quarto, com uma expressão séria e ligeiramente triste.

- Como você está?

Essa era uma pergunta que me faziam constantemente, e coma mesma frequência, eu não sabia como responder.

- Melhorando- Menti.

- Eu sei...

- Você acha que consegue voltar?

Eu não conseguia. Só a imagem de mim mesma com outras pessoas, qualquer cliente que não fosse ela, já causava toda aquela mistura de sensações horríveis dentro de mim: Nojo, tristeza, desespero, pavor.

Eu não conseguia. Eu não queria.

Não podia fazer aquilo.

- Não.

Minha voz saiu firme, de uma forma que eu não esperava que saísse, me pegando completamente de surpresa e ao que tudo indicava, surpreendendo Irene também.

- Não?

- Não. Eu não posso, Irene.... Me desculpe...

Ela me olhava sem expressão, enquanto via agora lágrimas descerem pelo meu rosto.

As mesmas lágrimas que desceram todos aqueles dias, sempre pelo mesmo motivo. As lágrimas com as quais eu já havia me acostumado, e que agora eram a marca do meu estado de espírito.

Aquelas lágrimas simbolizavam o pouco de tudo o que eu vinha sentindo por todo aquele tempo, mas agora, carregavam também a dor pelo que eu sabia que viria a seguir.

Era uma questão de tempo.

- Eu também peço desculpas, Nay. Mas não posso mais aceitar você aqui. 

                         (...)

Aquela era a última mala de roupas que eu colocava no banco traseiro do táxi.

Não sabia sequer de onde tinha tirado a força de vontade para conseguir colocar tudo que me pertencia dentro das sacolas e mochilas de viagem, antecipando a hora da partida.

Eu não tinha muitas coisas. As roupas de cama, móveis e obter decoração que ficavam no meu quarto não me pertenciam, então só restavam algumas roupas, sapatos, livros e outros pertences menores para levar comigo.

No total, eu tinha quatro sacolas grandes onde tudo se misturava.

Muito daquilo eu nem lembrava que tinha.

Na verdade, eu não precisava de muitas daquelas coisas. A grande maioria das peças de roupa eram próprias para o que eu fazia, e em raras ocasiões as havia usado.

Lingeries, vestidos apertados e saias justas, todas peças esquecidas no fundo de algumas gavetas, quando, em um ato de rebeldia, resolvi me vestir de uma maneira casual e confortável para receber clientes no The Lux.

Aquele lugar, que agora não era mais meu lar.

Minha estadia ali havia sido rápida, mas foi o suficiente para que eu pudesse fazer amizades.

Eu sentiria saudades de Jennie e Boa, principalmente. Elas estiveram do meu lado em momentos importantes, e agora eu não sabia como seria sem elas.

Mas não me restava muito mais coisas a fazer, por isso optei por uma despedida rápida e objetiva.

No estado em que me encontrava, mais sensível que o normal, não consegui conter as lágrimas ao falar com cada uma das meninas que me fizeram companhia por esse curto período de tempo, mas consegui fazer com o que o drama durasse pouco.

- Vou sentir saudades suas. - Disse Scarlet aos prantos, enquanto me abraçava na cozinha.

Optei por não responder, temendo que a tentativa de emitir som acabasse com o pouco do controle que eu tinha e me fizesse, também, me debulhar em lágrimas.

- Sabe o que eu acho? - Começou Jennie, sorrindo esperançosa enquanto fazia mais força para não chorar do que queria admitir - Acho que você vai ficar bem. Você é forte, sabe se cuidar.

Eu poderia responder que não, eu não sabia.

Estava perdida demais, triste demais e sozinha demais para saber o que fazer da minha vida, como iria me virar dali para frente, quais seriam os planos e qual era o momento para começar a traçá-los.

Isso traria preocupação desnecessária da parte delas, e embora eu precisasse de alguém, não poderia dar esse peso a pessoas que não eram responsáveis por mim.

- Quando souber onde vai ficar, nos avisa?

Apenas assenti com a cabeça, ainda evitando falar para que o choro, agora dolorido na garganta, continuasse preso.

Eu havia mentido quando disse que não sabia para onde ir.

Iria para o lugar onde Irene havia me achado.

Era possível que eu arranjasse algum lugar para ficar por ali, enquanto tentava dar um jeito na minha vida. A vizinhança não era agradável, mas os aluguéis não eram caros, o que era bom porque eu não procurava nada luxuoso e estava em contenção de gastos, já que havia perdido uma boa quantidade de dinheiro ao pagar meus próprios programas para Chloe.

Mas ninguém precisava saber disso.

Querendo apressar as coisas, dei um último abraço em Jennie e saí pelas portas do fundo, onde o táxi já me esperava.

Era mais uma despedida. Mais uma triste despedida, como tantas outras na minha vida. Mas que despedida não é triste?

Sem olhar para trás, entrei no carro e parti.

Paguei o valor que o taxímetro indicava e saltei, arrumando as bolsas e mochilas nos ombros.

Caminhei para dentro com um pouco de dificuldade, notando que aquele lugar não havia mudado em praticamente nada.

As paredes ainda eram encardidas, a pintura de um amarelo escuro desagradável.

A mulher que me olhava do último degrau, na porta do prédio, mantinha uma expressão desagradável no rosto, quase indiferente a mim.

Chegando no último degrau, repousei as bolsas pesadas no chão e encarei-a.

- Sabe onde posso encontrar o responsável...

- Sou eu. Só tenho dois apartamentos vagos.

Dois minutos depois, já estava arrumando minhas malas enfileiradas de uma forma que desse um pouco mais de espaço ao apartamento, que consistia em um cômodo grande sala-quarto-cozinha com bancada e um banheiro menor.

Tudo que decorava o ambiente era um sofá-cama marrom, um móvel pequeno e gasto comportando uma TV que eu duvidava funcionar e uma geladeira velha.

Eu lembrava que não havia burocracia naquele lugar, então todo o acordo entre as partes consistia no hóspede pagando o aluguel em dia para o proprietário, do contrário seria automaticamente expulso.

Naquele momento, era o que eu podia ter.

Me lembrei que eu tinha que começar a procurar alguma coisa para fazer, antes que minha vida terminasse de desmoronar.

Deitei no sofá e encarei o teto por algum tempo.

Eu tinha que começar a tomar atitudes e sabia disso, mas minha força de vontade era quase tão grande quanto a de um toco de madeira. Eu não queria fazer nada, não sentia vontade de nada, e desejei profundamente que pudesse viver como uma planta, me alimentando apenas de luz.

Mas a vida não era perfeita, então eu precisava fazer alguma coisa, e rápido. Tinha que começar a procurar um emprego o mais rápido possível, e rezar para que conseguisse alguma coisa, qualquer coisa que pudesse me manter naquele lugar.

Eu não tinha planos para longo prazo.

Não tinha planos de nada, e isso me fez notar como vinha vida estava na merda profunda.

Simplesmente não havia o que esperar, não havia um objetivo. Meu único objetivo, dia após dia a partir de agora, seria continuar viva.

Eu sempre acreditei que todas as pessoas vêm ao mundo com um propósito. Eu encontraria o meu, cedo ou tarde. Até lá, a única coisa que eu tinha que fazer era continuar vivendo.

Continuar sobrevivendo.

Eu lembrava da última vez que havia saído para procurar um emprego.

Com a educação profissional interrompida pelas tragédias da minha vida, não havia muitas opções.

As chances de uma mulher sem ensino médio concluído eram menores que as dos homens, porque homens quase sempre tinham o curinga de um emprego braçal.

Mas eu era uma mulher. Uma mulher que nunca na vida havia trabalhado em algo que não exigisse meu corpo como parte do acordo, então as coisas eram mais difíceis.

Ou isso, ou meu estado de espírito insistia em me dizer que absolutamente tudo o que eu tentava era impossível de conseguir

                          (...)

Durante algum tempo, procurei em lanchonetes e bares vagas para garçonete.

Procurei vagas de atendente em lojas, balconistas ou vendedores. 

Os empregadores normalmente exigiam currículo ou carta de recomendação para profissões como secretárias até de consultórios de pequeno porte ou ajudante de veterinário.

Enquanto isso, eu tentava conciliar o dinheiro que mantinha na conta bancária, em constante decadência, com meu dia a dia.

Optei por não pagar conduções em excesso e gastar somente com o necessário.

Como minhas condições exigiam, não era viável procurar emprego em lugares muitos distantes, já que isso me traria gastos além dos que eu poderia ter, então minha área de procura estava restrita àquela parte da cidade, onde ironicamente não havia quase nada.

Continuei procurando por pequenas tarefas que poderiam me dar algum retorno financeiro, mesmo que fossem instáveis ou temporárias, mas isso também parecia der difícil de encontrar.

Somado isso, veio a cobrança do primeiro aluguel, coisa que eu teria facilmente esquecido caso não tivesse sido rudemente lembrada. 

Como resumo dos meus dias, eu tinha manhãs e tardes ocupadas por tentativas fracassadas de emprego, enquanto a noite me servia um prato cheio de nada a ser feito, o que me dava tempo demais para pensar em coisas demais.

Pensar em coisas ruins, me lamentar por coisas passadas, não acreditar em melhorias futuras.

De fato, minha depressão estava tomando proporções maiores a cada dia, e era visível minha completa apatia pela vida. Eu não tinha motivos para me empenhar em fazer absolutamente nada, não tinha pessoas as quais pudesse contar, não tinha sequer inimigos para odiar.

Nada era realmente importante, e eu temia estar entrando em um estado vegetativo irreversível.

Isso era notório especialmente pelos empregadores que me recusavam qualquer proposta.

Muitos foram sinceros ao falar que simplesmente não viam em mim vontade alguma de fazer coisa alguma, e que '' esse não era o perfil procurado. "

Mas embora fosse compreensível, eu simplesmente não tinha forças para mudar. No fundo, eu não tinha motivos para mudar, e mesmo que o motivo fosse '' arranjar emprego, '' no final das contas isso também não tinha um porquê.

Frequentemente eu entrava em espirais de pensamentos negativos, e me perguntava quando foi o momento exato em que minha vida deixou de fazer sentido. Mas o pior de tudo era não ter ninguém para me convencer do contrário.

O maior dos meu problemas era ter tempo demais para pensar demais. Isso provavelmente não faria muitos danos a alguém com uma vida normal, mas infelizmente esse não era o meu caso. Então, em momentos vazios do meu dia, eu me pegava pensando em coisas que eu não devia pensar.

Fossem elas lembranças, sonhos impossíveis ou pensamentos aleatórios, todas acabavam fazendo com que eu saísse no prejuízo, e talvez a parte mais patética disso tudo era o fato de não ter o menor controle sobre minha própria cabeça. Por isso, não eram raros momentos em que eu sabia que não deveria estar lembrando de certas coisas, mas mesmo assim continuar pensando nelas. E o pior de tudo, sentir saudades.

Não havia mais como negar: Eu já não fazia o menor esforço para parar de pensar nela, e eu sabia o quão ridículo isso era porque havia problemas demais na minha vida, coisas mais urgentes com as quais eu deveria me preocupar. Mas a lembrança dela simplesmente insistia em tomar conta de mim como uma força superior, e eu não tinha condições de negá-la, mesmo que em pensamento.

Assim, meus momentos de reflexão consistiam basicamente em pensar nela, lembrar dela e mesmo depois de tudo, ainda querê-la. Mesmo sabendo que era impossível. Mesmo sabendo que desejá-la só me tornava mais fraca e infeliz a cada dia.

Vez ou outra a razão surgia em mim, então eu usava o pouco da fé que tinha para pedir que eu pudesse esquecê-la.

Mas não era assim tão fácil.

Então, além de uma vida completamente sem sentido, eu também tinha que lidar com o fantasma dela me assombrando todos os dias e todas as noites, me deixando perigosamente vulnerável a uma mera lembrança.

Minhas noites mais recentes haviam sido passadas em claro, fruto de minhas preocupações ou da minha depressão quase crônica.

Quando meu corpo se rendia ao cansaço, na maioria das vezes minha cabeça não tinha forças para sonhar, mas eventualmente lampejos dela vagavam pela minha mente, tornando meus sonhos um pouco mais prazerosos. Ironicamente, isso só fazia com que, por contraste, minha realidade fosse muito pior.

Eu queria esquecê-la, mas uma pequena parte um tanto masoquista queria manter um pouco dela guardada comigo, porque era ali que se encontravam alguns dos momentos mais simples da minha vida, e de uma forma ou de outra, felizes.

Era uma pena que tudo havia acabado de uma forma tão triste e amarga, mas ainda sim, não deixava de ter sido doce um dia.

Era tudo que havia restado. Um amargo forte que temperava cada dia, cada tentativa e cada fracasso.

E era com esse gosto que eu acordava todas as manhãs, quando conseguia dormir.

- Um novo dia, Nayeon.

Eu havia desenvolvido a mania de falar comigo mesma, já não tinha um animal de estimação ou uma bola de vôlei para me fazer de companhia. Era importante me manter lúcida, e além disso, eu poderia checar se minhas cordas vocais não estavam atrofiando gradativamente com a falta de uso.

- Adivinha o que você vai fazer hoje?

A mesma coisa que eu fazia todos os dias ultimamente.

- Exatamente. E hoje você vai se sair bem, porque é seu dia de sorte.

Hoje seria o meu dia de sorte, e com esse pensamento na cabeça, era uma boa maneira de começar o dia.

É isso aí. Nada como o poder da indução.

Ultimamente, boa parte das minhas horas matinais eram desperdiçadas por causa da minha enorme falta de vontade em levantar. Assim, meus dias vinham começando mais tarde do que deveriam para uma pessoa desempregada.

Por isso, eu pensei que fosse ser um bom sinal aquela manhã ter sido diferente. Acordei mais bem disposta e mais confiante do que o normal, o que poderia ser sinal de mudanças boas na minha vida.

Mas eu deveria ter mantido meu ceticismo em assuntos relacionados a sortes e coisas do tipo. Não pelo fato de agora serem aproximadamente 18h e eu não ter conseguido nada.

Era o que acontecia todos os dias, portanto isso não era sinal de azar, mas sim uma constante irritante.

O problema era no que estava por vir.

- Veja bem, eu não sou o dono daqui, sou apenas o gerente.

- Mas o senhor não pode me ajudar?

Havia poucas pessoas no lugar. A lanchonete era clara e alegre, o que contrastava fortemente com o ar triste e feio daquela rua escura. O bairro era vizinho ao meu, e ainda que fosse pobre, já apresentava uma aparência consideravelmente melhor. Se eu conseguisse algo ali, seria um bom lugar porque, além de não ser longe, era bem mais agradável.

Era verdade, eu não tinha experiência nenhuma, em nada. Nada além daquilo que eu tentava fugir.

- Mas eu prometo que vou me empenhar.

- Nós não estamos precisando de outra garçonete, moça.

Eu estava a ponto de ajoelhar ali mesmo e implorá-lo para que pudesse ter uma chance. Aquela tinha sido, até agora, minha melhor oportunidade.

- Por favor, me deixe tentar por algum tempo.

O homem agora me olhava com um pouco de pena. Eu estava desesperada e falava com toda a sinceridade da alma, então esperava que ele acreditasse no meu empenho e pudesse me ajudar de alguma forma.

- Olha, o dono deve estar chegando por agora. Ele vem sempre no final da tarde ver como foi o balanço do dia, então você pode falar com ele. Eu não tenho muita lábia, mas vou tentar convencê-lo, ok?

Aquilo me animou. Era a primeira vez que eu tinha uma real oportunidade, então concordei e agradeci exageradamente, enquanto sentava na sala dos fundos a qual o homem havia me levado.

Senti-me um pouco nervosa com aquilo, porque seria algo como uma entrevista. Eu poderia colocar tudo a perder, por isso tentei me concentrar e pensar em respostas boas para perguntas aleatórias, quando meu possível empregador chegasse e resolvesse fazê-las.

Devo ter ficado ali por algum tempo, tentando me concentrar e me manter tanto calma quanto otimista, e não notei quando já não estava mais sozinha na sala.

- Boa noite. - Disse o homem.

- Boa noite. - Respondi, me levantando - Meu nome é Nayeon.

Notei que ele olhava de forma estranha para mim, então me correu um leve arrepio por toda a extensão da espinha. Seus olhos estavam focados em mim, enquanto um sorriso meio debochado brincava em seus lábios.

Ele continuava com o sorriso estranho, me encarando como predador. Eu poderia até dizer que o conhecia de algum lugar. Talvez já o tivesse visto antes, mas onde?

- Sente-se.

Obedeci, sentando-me novamente na cadeira ao meu lado, e o vi arrastar outra cadeira para perto, imitando meu ato logo em seguida. Notei que ele estava de frente para mim, inclinado em minha direção, enquanto me analisava de cima a baixo.

Ele estava perto demais. Desconfortavelmente perto.

- Então, o que você quer aqui? Meu empregado disse que queria falar comigo sobre um emprego.

- É... - Comecei, desviando o olhar dele e encarando agora minhas mãos - Eu não tenho experiência como garçonete, mas posso prometê-lo que vou me esforçar para fazer tudo certo.

Ele se inclinou mais em minha direção, e no mesmo momento que sua boca foi parar em minha orelha, senti uma de suas mãos em minha coxa esquerda.

- Eu sei bem em que você tem experiência, Nayeon.

Estaquei em choque, enquanto lutava para assimilar suas palavras.

Ele me conhecia. Ele sabia o que eu era.

- Da última vez que te vi, você não estava assim tão magra, mas ainda lembro de você. Foi uma das melhores noites que eu passei naquele lugar, sabia?

Ele tinha sido meu cliente. Eu não lembrava exatamente dele, não sabia seu nome, mas tinha a impressão que o tinha visto em algum lugar.

E onde mais haveria de ser?

- Eu... - Comecei, mas não sabia ao certo o que falar. Eu queria que ele saísse de perto de mim, queria que ele parasse de falar coisas ao pé do meu ouvido enquanto ia subindo sem cerimônias suas mãos pelas minhas pernas, mas não conseguia me mexer. Eu estava em pânico, e por mais que eu quisesse, tomara uma atitude era impossível.

- Eu não... Eu só queria....

- Sabe o que eu acho? Acho um desperdício. Você é tão boa no que faz...

Por que ele tinha que lembrar de mim? Por que ele tinha que me conhecer?

- Não pode jogar fora um talento tão bom assim, querida. Onde já se viu, uma menina tão habilidosa deixar isso de lado?

- Eu não faço... mais... Vai me dar o emprego?

Senti o riso debochado dele no meu pescoço, e estremeci.

- Não posso permitir que uma puta trabalhe na minha lanchonete, paixão. Tente entender. Mas se você quiser oferecer outros serviços...

Dizendo isso, ele segurou rudemente minha mão e com força, a apertou contra sua ereção.

Aquilo foi o gatilho para que meu sistema nervoso fizesse alguma coisa e me permitisse ter alguma reação. Levantei extremamente rápido, o que fez com que eu derrubasse a cadeira na qual estava sentada. Ele continuou me olhando com um sorriso debochado no rosto, enquanto me olhava outra vez de cima a baixo.

Antes que eu pudesse me dar conta, saí correndo da sala, esbarrando com o homem que havia me atendido antes. Ele notou meu estado de desespero, mas obviamente não entendeu o que estava acontecendo.

- Sinto muito, espero que você consiga o emprego em outr...

Eu já estava na porta que dava para a rua, e não parei um segundo sequer para olhar para trás, enquanto desviava de algumas pessoas despreocupadas. Subitamente senti meu rosto mais frio, então percebi que ele estava molhado. Eu não notei quando as lágrimas haviam começado a descer, mas não importava.

- Merda! Merda de azar! Por que nada dá certo na porra da minha vida? - Falei para mim mesma, ainda caminhando rápido, sem um destino certo.

Algumas pessoas me olhavam como se eu fosse algum animal de circo, e a vontade que eu tinha era de mandar todos irem à merda.

Estigma. Desgraça.

Meu passado seria sempre uma desgraça na minha vida, e eu teria sempre que fugir dele, me esgueirando entre um canto e outro para que ele não me seguisse onde quer que eu fosse.

A dúvida era se eu poderia fugir dele para sempre, se poderia contar sempre com a sorte, ou se teria que aceitar que as coisas como as que acabaram de acontecer poderiam acontecer outra vez.

Eu não conseguia conter as lágrimas que teimavam em cair, mas não era como se eu realmente estivesse tentando. Eu simplesmente não me importava mais com nada, porque nada tinha mesmo importância nenhuma.


Notas Finais


Espero que tenham gostado. Não fiquem fula com a Irene....okay talvez um pouco 😶🤏
♥️♥️❤️


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...