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História Na Sombra de Outro Mundo - Avalon


Escrita por: Beako_Bia

Capítulo 2 - Avalon


Fanfic / Fanfiction Na Sombra de Outro Mundo - Avalon

Um ser humano que domina o fogo. Depois do que vi, não consigo mais duvidar do que aquela “existência misteriosa” disse sobre esse mundo. Avalon, um mundo onde Deuses, criaturas mágicas e humanos com superpoderes coexistem. Mas me parece que, pelo menos até agora, os superpoderes se resumem ao controle de alguma coisa. Já vi vento e fogo, talvez sejam os quatro elementos fundamentais. Se minha lógica estiver certa, existem também os que controlam água e terra.

Regler. 

Esse foi o nome dado para esses humanos “controladores”. Mas e eu? Ela falou que eu controlo a escuridão, as sombras. O que isso tem haver com os quatro elementos?

-Quem está aí? – A garota das chamas olha em minha direção incomodada com a minha presença que só a observa. Parece que esses poderes também se relacionam com os próprios sentidos, que são bem mais apurados que os de um humano normal. Até porque, desde que reencarnei, me sinto bem mais atento a tudo. Já estou acostumado a ter uma visão bastante precisa, mas não a audição, o tato. Meus instintos parecem se conectar a tudo ao meu redor, sendo que qualquer movimentação eu já fico mais em alerta. – Mostre sua cara, ou eu mesmo o farei sair de onde estiver. – Já morri hoje. Não quero morrer de novo. Ainda mais virando churrasco.

-Calma aí, eu estou desarmado. – Fico em pé com as mãos levantadas, mas pensando agora, devem haver muitas pessoas que possuem esses poderes. Então, para quê arma? Burro. 

-Quem é você? – Ela pode até ser bonita, mas a cara que ela faz agora botaria qualquer um para correr. Esquisito. Ela faz essa cara enquanto esconde uma dúvida imensa dentro de si. Consigo ver claramente. Eu sou tão estranho assim?

-Meu nome é Raito Hirano, mas talvez a minha origem eu não possa contar tão facilmente. – Tento instigá-la a fazer as várias perguntas que surgiram dentro de si ao me ver.

-O quer dizer com isso? Qual é o seu reino? – Hm... Reino é? Acho que vou acabar conseguindo informações sobre esse mundo mais rápido do que imaginei.

-Hm... Em qual estamos?

-Responda minha pergunta! – Bem-vinda ao meu mundo. Responder uma pergunta com outra pergunta. É uma estratégia chata, mas eficiente. Aprendi com Yami, seja lá onde ela estiver. Se é que ela está em algum lugar. Mas parece que isso não vai funcionar com a esquentadinha aqui, porque ela já se prepara para me fritar.

-Ei, ei, calma. Eu estou perdido, okay? – Tento apelar para a gentileza. Não é bom cutucar muito uma bomba preste a explodir. – Segui a fumaça que vinha daqui, pensei que talvez tivesse alguém que pudesse me ajudar.

-Um Regler pedindo ajuda a outro? – É tão esquisito assim? Droga! – Aliás qual é mesmo o seu tipo? Esse símbolo é bem estranho.

-Símbolo? 

-Hm... – Droga! Soltei a dúvida involuntariamente, ela vai perceber minha provável farsa. – No seu braço direito, a tatuagem de uma árvore com uma copa de ossos.

Hã…? Como não percebi isso antes? Realmente tem uma árvore tosca e aterrorizante tatuada no meu antebraço direito. A árvore tem suas raízes ligadas as veias que vinham do punho, as quais subiam e aumentavam sua largura formando um tronco enrijecido e velho, que se divide ao chegar no meio do meu braço. A divisão forma vários galhos que, ao invés de folhas, possuem vários ossos. Fêmur, crânio, colunas. Ossos dos mais variados tipos tomam conta da copa da árvore horrenda. 

-Você sabe o que isso significa? – Ela percebe minha apreensão diante daquilo e se endireita tentando me entender. Se eu disser que não, ela vai confirmar suas prováveis dúvidas. Se disser que sim, não vou ter informação o suficiente para convencê-la. Por mais que isso possa representar o meu “poder”, sei lá, não seria capaz de usá-lo para me defender, ou mesmo justificá-lo.

-Eu sou um Regler das Sombras, isso serve como resposta? – Ela solta um suspiro alto, não de assustada, mas sim de curiosidade. Acho que eu sou, literalmente, novo em todos os aspectos para ela.

-Das Sombras, é? – Ela parece pensar um pouco. – Então, me mostre do que é capaz! 

-Hã?! – Ela salta em minha direção com um soco preparado para me atingir. Por reflexo, movo meu corpo para a direita desviando de seu golpe. Mas, assim que ela passa por mim, ela abre a mão, que solta uma explosão que me joga para outra árvore. – Gah! 

O impacto foi tão grande e surpreendente que eu pensei que ia desmaiar, mas meu corpo não parece ser mais o fraco de antes. Continuo acordado com dores incômodas nas costas, mas não insuportáveis. Me levanto ainda encostado a árvore e vejo um quase monstro por trás das labaredas intensas. 

Ela vai me atacar de novo. 

Mas dessa vez ela prepara uma bola de fogo na mão esquerda. Ela então coloca o pé direito a sua frente, fazendo uma pose para lançar aquela bola flamejante com toda a sua força em mim. No momento em que seu corpo começa a se mover, o mundo volta a ficar em câmera lenta. 

Eu vou morrer. 

Uma bola de fogo tão intensa como essa não vai me deixar escapar tão facilmente. O ataque finalmente saí de sua mão e vem minha direção. Não... Eu não quero morrer... Fecho meus olhos para não ver a desgraça iminente...

“Juro pela minha vida”

Yami... Eu... O que eu tô fazendo...? Eu... Eu não posso me dar ao luxo de morrer de novo! 

Abro meus olhos e, com um olhar confiante, que surpreende a agressora, começo a sentir um formigamento na tatuagem da árvore, que passa a brilhar com um roxo intenso. Que sensação boa é essa? Me sinto tão bem que poderia até flutuar. 

Como na escuridão.

Foi então que, quando a bola de fogo estava a um centímetro do meu rosto, sinto como se a árvore atrás de mim tivesse sumido. Caio de repente nesse vazio que se formou e, ao fechar e abrir os olhos com a surpresa, vejo que ainda estou em pé encostado na árvore, mas não em uma árvore marrom comum, mas em uma negra. Como tudo ao meu redor. A grama, as árvores, o céu e até o Sol se tornaram negros ao meu olhar. E o mais importante. A garota das chamas sumiu. Mas a sua sombra continua no mesmo lugar, projetada no chão, assim como as sombras que as labaredas criavam.

Tá, agora eu morri mesmo, né?

Por mais que esse mundo ao meu redor seja esquisito, eu me sinto tão bem aqui, por mais que nenhuma luz chegue a esse lugar, tudo aqui se resume a escuridão. Olho para a sombra da garota, e vejo que ela está se movimentando, provavelmente está me procurando. Mas, antes de mais nada, como eu vim parar aqui? Como eu volto? Eu acredito que aqui seja um mundo reverso do que eu estava, e eu acho que é aqui onde as tais criaturas mágicas vivem, porque posso ouvir vários rugidos à distância e alguns pássaros esquisitos voam na imensidão preta.

Quando vou em direção a sombra da esquentadinha, uma sombra muito maior surge em cima de mim e, instintivamente, olho para cima. Mas não consigo acreditar no que vejo. Um dragão imenso, muito maior que qualquer avião que já vi em minha outra vida, voava tranquilamente junto com os pássaros esquisitos, que o contornavam de tão grande que era. Ele parecia ter uma armadura de ossos, pois não vejo só seu corpo, mas também vários ossos para fora, além de que ele em si não tem asas, mas só ossos que formam as asas e uma membrana fina entre eles. Deve ter alguma magia em relação a isso. Quando olho para sua cara, vejo que ele olhava para mim, mas não fiquei com medo ou recuei, mas me senti ainda mais confiante e orgulhoso. Não sei porquê, mas por causa disso, dei um sorriso malicioso involuntário. Quando a criatura viu isso, ela virou a cara e seguiu seu voo.

Tá, isso foi estranho.

Mas voltando para minha inimiga de fogo, me aproximo de sua sombra que, pelos movimentos, ela já deve ter incendiado a floresta toda, porque ela parecia socar o ar várias vezes. Com o braço tatuado, toco sua sombra, que imediatamente fica com um preto mais vivo e minha tatuagem volta a ficar roxa. Por curiosidade (como sempre), estico um pouco mais o braço para a sombra, e meu braço afunda. Hm... Será que foi assim que eu vim para cá? Afundo mais o braço para ver no que ia dar. Então, ouço um grito fino e o barulho de uma explosão. Rapidamente tiro meu braço. Quase que perco ele. Mas isso confirmou minha pergunta. 

Posso abrir um espécie de portal entre esse mundo e o outro através das sombras.

Dessa vez, faço com o braço esquerdo e o mesmo acontece, a sombra abre o tal portal ao ficar com um preto mais vivo e a tatuagem fica roxa. Eu, com essa curiosidade insana, coloco agora minha cabeça. Fecho os olhos ao passar pela passagem e ao abri-los vejo fogo ao meu redor e, quando olho mais para cima, vejo a garota que já parecia totalmente confusa. Volto para o mundo reverso e dessa vez me preparo para voltar totalmente para o mundo da luz. Vou até a árvore de antes e me encosto nela de novo, tocando minha sombra que fica projetada em seu tronco. Mesmo o Sol daqui sendo negro, ele emite uma luz esquisita que cria sombras da mesma forma que o Sol normal, como no caso do dragão. 

Começo a me inclinar para trás passando pela passagem. Passo rapidamente todo meu corpo, voltando para o mesmo lugar de onde sumi. Eu sabia, a floresta ao redor da garota já está toda incendiada.

-Você não tem pena das árvores não? – Ironizo dando um susto nela que, involuntariamente, lança outra bola de fogo na minha direção. Pulo para a direita, mas acabo colocando as mãos na sombra da árvore a minha direita e caio no portal de novo. Estou de volta ao mundo reverso. 

Isso não vai dar certo.

Tenho que acalmá-la, não assustá-la. Tenho que pensar numa maneira de convencê-la de que não quero lutar, só quero informações. Por enquanto. Não posso planejar fazer qualquer coisa com esse mundo sem conhecê-lo, além de ter que conhecer melhor esse meu poder e aperfeiçoa-lo. 

Olho a minha volta e percebo que a área onde estamos é fechada pelas árvores, formando um círculo quase perfeito. Já sei. Olho para a sombra da garota e vejo que ela está olhando para onde eu sumi por último. Então, vou para a sombra da árvore atrás dela e passo pelo portal.

-Eu estou aqui, esquentadinha. – Chamo sua atenção, mas com a mão ainda na sombra. Ela lança uma rajada de fogo na minha direção com um soco no ar. Deixo-me cair de novo na passagem e vou para a árvore a sua esquerda, fazendo tudo de novo.

-Não – Árvore à esquerda, queima.

-Vai – Árvore à direita, parte ao meio.

-Me encontrar – Árvore de onde sumi na primeira vez, derruba.

-Queimando – Árvore destruída na luta anterior, deixa só os pedaços.

-Toda essa floresta... – Falo em um tom sombrio em uma árvore atrás de sua posição. Ela perde o controle e solta explosões em seus pés que dão impulsos para dar um chute explosivo onde eu estava. Mas escapo a tempo para o mundo reverso e vou em direção a árvore a sua direita, que logo fica com a sombra dela quando ela vira de costas para a planta. Encosto meus braços na sombra e passo eles para o outro mundo.

-Se acalme, princesa. – Prendo ela com um braço em seu pescoço e o outro empurrando o que a estrangula. – Não estou afim de te machucar. – Coloco metade do meu rosto para o outro mundo para olhar bem em seus olhos. – E nem você quer, não é? – Já era para eu ter virado churrasquinho.

-Tsc... O que você quer?

-Por enquanto, só que confie em mim.

-Você... – Olha para meus olhos pensativa - Hã! Não tem essa possibilidade, não sou tão fácil de enganar quanto você pensa.

-Nem eu, princesa. Você já entendeu o que sou, não é?

-Como eu poderia saber? 

-Ah... Eu vou perguntar de novo, em qual Reino estamos?

Ela arregala os olhos e se vira para olhar bem em meus olhos. Podia ver que seus sentimentos estavam bem… misturados, não consegui distinguir o que ela sentia. De repente ela abaixa a cabeça, dá um sorriso e começa a rir alto. Então, solta os meus braços, dos quais quando tentava se soltar, e levanta os seus para o alto.

-Okay, okay, eu desisto. – Ela olha para minha cara e esboça um sorriso. – Homem perdido. - Também sorrio e solto ela, passando totalmente para o mundo da luz pelo portal. Ela então parece se endireitar e me olha por cima do ombro – Mas antes de mais nada – Ela faz a cara aterrorizadora de novo. - Não me chame de princesa.

-Você é mesmo bem esquentadinha, não é? – Retruco enquanto andamos em direção ao campo da primeira batalha que a vi travando.

-Não é por isso, é porque eu não sou uma princesa, mas sim – Ela se volta para mim e tira a luva que ia até o cotovelo do braço direito. Ela me mostra a sua tatuagem de árvore, mas era uma bem mais viva e com uma copa com folhas e flores de fogo. – Uma Rainha.

-Hã? 

-Ah... você realmente não sabe de nada. Olha – Ela vai até um dos Regler do Vento e tira sua faixa do braço direito, também com uma tatuagem. Só que dessa vez, ao invés de uma árvore, tinha só uma folha com sua ponta também ligada as veias do punho, mas era grande o suficiente para cobrir o antebraço do cara. Além disso, o formato da folha parecia que estava sendo levada pelo vento, com alguns cortes – Essa tatuagem representa um subordinado dos líderes de cada tipo de Regler, os quais possuem essa tatuagem de árvore.

-Entendo. Mas isso quer dizer que os poderes vêm de seu líder?

-Não, mas sim da Deusa elemental de cada um dos quatro tipos. O líder é como se fosse uma ligação entre a Deusa e os Reglers.

- Eu acho que você tá colocando o ponto final antes mesmo de começar o texto. Deusa? – Eu sei que esses Deuses vivem e existem nesse mundo, mas não posso simplesmente aceitar isso sem uma base. Os Reglers e as criaturas mágicas já vi com meus próprios olhos (sou até um deles), mas Deuses? Só acredito vendo.

-É, você tem razão, desculpa. Posso explicar tudo para você, mas vamos para um lugar seguro, esses caras vão acordar daqui a pouco.

-Eu pensei que estivessem mortos.

-Sou uma guerreira, não uma assassina.

-Acho que de onde venho não faz muita diferença, mas OK. Além de que nunca imaginei uma Rainha tão sem modos.

-Rainha também deve ser uma coisa diferente de onde você veio.

-É por isso que estou achando estranho, sem ofensas de qualquer forma.

-Oh? Gentil.

-Não se acostuma.

-Nem que eu queira. – Ela dá uma risadinha sincera enquanto me seguro para não corar. – Vamos! Tem uma cabana aqui perto que eu me apossei para passar a noite.

-Se apossou? Tem certeza que é uma Rainha? – Começo a rir da ironia.

-Sim, e com muito orgulho. – Ela estala os dedos e todo o fogo que tinha lançado na floresta some. Nem a fumaça fica. – Vamos ver se consegue me acompanhar, Rei dos Reglers das Sombras.

Rei? Agora que ela está falando, eu também tenho a árvore que representa o líder. Mas a Deusa... Aquela que me reencarnou. Talvez tenha sido isso que ela falou com me dar poderes e deixar que o meu consenso decida o que acontecerá daqui em diante com esse mundo. 

“Eu não diria desesperada, mas curiosa.” 

Curiosidade, não é? Bom, pode se dizer que também fiquei curioso com essa pouca explicação. 

Quando olho para frente, a Rainha de fogo dá um impulso e salta para longe, sem usar explosões. Está correndo para a tal cabana como se fosse uma ninja.

-Vamos, vamos!

-Ei, espera! 

Começo a correr o mais rápido que posso, mas estou a perdendo de vista. Tenho que alcança-la, não posso perder a primeira oportunidade que consegui nesse mundo. Foi então que, quando pisei em uma sombra de uma árvore, sinto como se uma energia imensa tivesse surgido no pé direito. Essa energia me impulsionou para muito além de onde estava. Aterrisso de mal jeito, rolando no chão até conseguir parar. 

-Quer ajuda, Rei? – Ela debocha ao olhar para trás.

-Nem morto, princesa. – Pelo menos achei algo que tenho certeza que a afeta.

Mas por causa da provocação, ela aperta o passo. Não é uma competição, mas não faz mal aceitar o desafio. Me levanto e começo a correr de novo. Mas depois de alguns metros, coloco meu pé em outra sombra e a energia volta. 

Não dessa vez, tenho que controlá-la. 

Solto só um pouco da energia, ainda me impulsa bastante, mas consigo aterrisar de uma forma que logo coloco o outro pé em uma outra sombra, fazendo o mesmo de antes. Vou alternando, assim como ela faz com as árvores, e finalmente consigo aos poucos vê-la nitidamente.

-E aí, princesa? Sentiu minha falta? – Ironizo, mas bastante ofegante.

Novamente ela aperta o passo, mas antes dá um sorriso de satisfação. Ela se sente satisfeita? 

Espera, não é um desafio. 

Ela está me ensinando. 

Não pedi por isso, mas ela não pode confiar em mim se não souber do que sou capaz. Tenho que admitir que é uma boa estratégia.

Ela então para em um galho e impulsiona para poder virar para a esquerda ao pegar mais impulso no tronco da árvore a sua frente. Foi uma curva brusca. Ela quer que eu acompanhe seu ritmo. Desculpa, mas eu não sou de cair em armadilhas facilmente. Continuo em frente, mas propositalmente entro no mundo reverso, e viro a esquerda para acompanhá-la pelo outro mundo. 

Não vai mais ver o que poderei fazer, princesa.

Apesar de sair de sua provável armadilha, o caminho aqui é mais difícil. Tenho que desviar de goblins, lobos e outras criaturas desconhecidas. Mas o engraçado é que elas não parecem ficar hostis quando me aproximo, simplesmente continuam suas vidas como se eu fosse nada. Ou mesmo um deles.

Quando olho para mais além, vejo a fatídica cabana. Não sei se é porque estou no mundo reverso, mas ela não me parece muito convidativa. Velha, grande e quebrada cabana de madeira. Vejo que a sombra da Rainha vai diminuindo sua velocidade e para em frente a cabana. Vou desacelerando também e pulo para ficar atrás dela. Ela olha para os lados me procurando e, quando começa a andar para a frente da casa, pulo em sua sombra e passo direto para o mundo da luz.

-Então esse é o lugar que você  se “apossou”.

-PARA COM ISSO! – Ela se vira com o susto e soca o ar em minha direção, lançando uma rajada imensa de fogo. Meu reflexo foi bom o suficiente para conseguir desviar daquele ataque poderoso.

-Você está realmente tentando me matar...

-Você fica me assustando o tempo todo!

-Own, assustei... – Minha consciência... – a princesa...

-Ei!

...

Caí duro no chão e apaguei com a exaustão. Mas quando acordo, vejo que estou dentro da cabana deitado em um sofá pequeno e desconfortável. Parece que o mundo sombrio é realmente o contrário do mundo normal, porque agora a cabana me parece bem rústica e bonita com um candelabro aceso, várias mobílias ao redor do espaço e uma lareira na parede mais a direita.

-Finalmente acordou, majestade. – Ironiza a Rainha que ajeitava a lenha da lareira. – Parece que a corrida não lhe fez muito bem.

-Atividades físicas nunca foram o meu forte. – Resmungo enquanto sento no sofá, ainda com o corpo desgastado, mas melhor do que antes.

-Percebe-se. Mas se esse é o caso, você aprende muito rápido, hein? – Ela questiona enquanto anda em minha direção e se senta em uma cadeira da mesa à minha frente.

-Então você realmente estava querendo me ensinar alguma coisa com aquela corrida. – Instigo-a enquanto me junto à mesa.

-Oh? Fui descoberta. – Ela dá um risadinha sincera. – Você até que é bem inteligente.

-Vou considerar isso como um elogio.

-Pois eu tenho mais um. Me parece que a única parte do seu corpo mais bem desenvolvida são seus olhos. 

O Soul Reader.

-Posso saber por que acha isso?

-Sei lá, acho que você tem uns olhos bem fixos no que quer. Concentrados até demais. Talvez isso ajude no seu rápido aprendizado, além da inteligência, é claro. – Ou ela é bem inteligente ou lê mentes para deduzir tão rápido assim e ainda acertar. Acho que a primeira opção é mais plausível.

-Bom, posso até responder essa e várias perguntas que você tem, mas eu tenho prioridade para as minhas, já que eu sei menos do que você.

-Hm... Somos esquisitos um para o outro, é normal termos perguntas. Mas você tem razão e me derrotou, é mais do que justo.

-Você deixou eu ganhar.

-Quê isso! – Mentirosa, não adianta esconder isso de mim. Ela logo percebe que não estou muito para brincadeiras. – Ok, ok. Então, o que você quer saber?

-Ah... Antes de mais nada. – Olho para seu rosto. – Qual é o seu nome mesmo?

Levo um susto da sua risada alta.

-Me desculpa! Como sou burra, esqueci totalmente de me apresentar. Meu nome é Helene Von Feuer, Rainha do reino de Rauch  e Regler Líder dos devotos a Agni, Deusa do Fogo.

-Calma, é muito nome de uma vez. Helene está bom.

-Oh? Ok, Hirrano – Como é esquisito ela falando japonês.

-Prefiro que me chame de Raito.

-Tem um motivo?

-Só não gosto desse sobrenome. – Não quero me lembrar daquele vagabundo.

-Aff, você só está criando mais dúvidas. Mas ok, Rraito.

Acho que isso é um sotaque daqui, porque ela fala como se tivesse a língua sempre dobrada para dentro toda vez que pronuncia meu nome japonês.

-Bom, então vamos começar. Quero que você me fale do começo.

-Começo? Você fala de Avalon?

-O que mais seria?

-Como eu queria as minhas perguntas respondidas. – Ela solta um suspiro de frustração.

-Quanto mais cedo você responder as minhas, mais rápido as suas serão respondidas. 

-Ok, ok. Deixe-me ver... O começo né?

-Dá para ir logo. – Já estou começando a perder a paciência.

-Tá, tá. Há milhares de anos atrás, Avalon era formado por um só continente.

Ela esboça um mapa de fogo em cima da mesa de madeira (só eu acho que isso não é uma boa ideia?)

-Esse continente era chamado de Gaia e os humanos viviam harmonicamente, mesmo com a ausência de Nações, Reinos, Povos ou mesmo aldeias. Todos sobreviviam de uma ajuda mútua.

Uma Anarquia.

-O sustento da humanidade era responsabilidade da Deusa maior, criadora de tudo e todos, a Grande Mãe, representada por uma árvore gigantesca no meio de Gaia.

-Que nome original. – Ironizo.

-É, isso eu tenho que concordar com você. Mas esse é o nome mais fácil.

-Que maravilha.

-Bom, continuando. Ela governa o mundo junto com sua irmã Hórus, Deusa da Luz que reina sobre Avalon, representada tanto pelo Sol, quanto pela Lua. Há também os filhos e filhas da Grande Mãe, representados por buracos grandes em largura e profundidade ao seu redor, cada um com seu elemento representante dentro e direcionados para uma das pontas das Rosas dos Ventos. – Ela começou a apontar para certas áreas do mapa. - Nordeste: Akir, Deus do Vento

“Sudeste: Agni, Deusa do Fogo

Sudoeste: Varuna, Deusa da Água

Noroeste: Geb, Deus da Terra. 

E entre os abismos dos Deuses, existiam rios que nasciam da Grande Mãe e desaguavam no oceano ao redor de Gaia. Cada um desses rios dividia o continente em quatro partes, cada uma com habitantes mais devotos ao Deus que representa sua região.”

Ela esboça uma grande árvore no meio do mapa de fogo, com os respectivos abismos e rios.

-Essa divisão nunca incomodou ninguém, os rios eram utilizados por ambos os lados de sua margem. Até o dia em que esses rios começaram a secar sem motivo aparante. A Grande Mãe nunca falharia com seu povo, então eles começaram a culpar uns aos outros. Cada região começou a juntar seus habitantes e a dizer que a culpa disso era do Deus de sua região vizinha, mas que seu Deus representante era o salvador. Esse foi ápice para a primeira e única guerra por toda a Gaia, a qual formou as nações que existem até hoje. 

“Éolo, Reino do Vento

Rauch, Reino do Fogo 

Alfeu, Reino da Água

Agartha, Reino da Terra. Cada uma com seu Deus representante e protetor. O mais corajoso e confiante devoto de cada região foi coroado como Líder, podendo ser Rei ou Rainha, formando as famílias reais que perpetuam até hoje também. Wind, Feuer, Wasser e Stein para o respectivo reino.

Essa guerra durou por dezenas de anos, até que os líderes já cansados de perder seu povo para um conflito que não trazia a água de volta, ele assinaram um cessar-fogo e cada Líder levou seu povo para onde ficava a Grande Mãe. Ao chegarem lá, não conseguiram acreditar no que viram. A Grande Mãe estava com o tronco bastante quebradiço e sua copa tinha poucas folhas, e as poucas que tinham eram amarelas. 

Ela estava morrendo.

Quando somente os líderes chegaram perto dela, perceberam que ela liberava uma gosma negra de suas raízes e não mais aquela água pura. Sacerdotes de toda Avalon não conseguiram descobrir o porquê daquilo acontecer, mas depois dessa visita a Grande Mãe, os rios começaram a serem enchidos com a gosma negra. Os que acabaram bebendo dela, viravam monstros, demônios desconhecidos até então. A guerra não era mais viável, era preciso solucionar esse problema. Mas nem a reza pôde ajudá-los. À noite mais demônios apareciam, mas de uma forma inacreditável. Milhares e milhares atacavam os povoados, matando centenas de humanos inocentes, que já não tinham muitos suprimentos para sobreviver.

No meio do desespero, a Grande Mãe finalmente chega ao seu fim com a caída de sua última folha. Foi então que o demônio supremo apareceu. 

Morrigan, a Deusa da Escuridão.”

Deusa da Escuridão? Será que é ela...?

-Ela passou a dominar o mundo espalhando de vez sua escuridão. Hórus não podia mais liberar sua Luz sobre nosso mundo. Avalon estava condenada a viver assim para sempre, até que os Líderes do que restou das nações receberam um sinal de seus respectivos Deuses. Eles diziam que a única coisa que poderia deter Morrigan seria se eles formassem um pacto perpétuo ao sacrificarem seus filhos nos abismos de cada Deus. Desesperados, os Reis e Rainhas não pensaram duas vezes, e jogaram seus filhos ainda adolescentes nas imensidões do Vento, Fogo, Água e Terra.

“Quase instantaneamente, os abismos, antes preenchidos pelos elementos de cada Deus, se esvaziaram, e os filhos dos Líderes voltaram com os cabelos e olhos com cores representando seus Deuses, além da tatuagem da árvore mãe em seus braços direitos.”

Ela passa a mão em sua tatuagem. Olho para seus olhos e a ponta de seu cabelo, ambos vermelhos como fogo.

-O verde do vento, o vermelho do fogo, o azul da água e o marrom claro da terra. Os quatros príncipes e princesas se juntaram aos Filhos da Grande Mãe. Com os poderes de controlar os respectivos elementos, lutaram bravamente contra os demônios e Morrigan, a qual eles finalmente conseguiram selar com a ajuda de Hórus, que havia reconquistado aos poucos seu poder sobre Avalon. 

“Eles selaram tanto seu poder, quanto seus monstros em um mundo onde só a escuridão reinaria. Um mundo reverso a Avalon, Hádria.”

O mundo reverso, Hádria.

-Morrigan foi presa em uma prisão em Hádria que se conecta a carcaça da Grande Mãe, sendo que seu poder selado serve de sustentação para que esse mundo sombrio exista. Mas essa carcaça seria a única entrada e saída entre os dois mundos.

Acho que não é mais a única.

-Depois da batalha, os Deuses e filhos dos líderes chegaram à conclusão que toda essa escuridão vinha dos sentimentos mais obscuros humanos, que afetaram a Grande Mãe e a mataram. Assim, chegaram ao consenso de dividir Gaia em três partes: 

“A Oeste, ficaria o continente Westen, onde ficaria Alfeu e Agartha, reinos da água e terra, respectivamente

A Leste, ficaria o continente de Osten, onde ficaria Rauch e Éolo, reinos do fogo e vento, respectivamente;

“No meio, bem afastado dos dois continentes, ficou a ilha onde o cadáver da Grande Mãe descansa e o portal para Hádria é protegido, já que as águas para chegar lá são bastante perigosas, sendo que ninguém que vá poderá voltar, ou mesmo morre no caminho. Desde o fim desse conflito, um novo calendário foi formado, também usado hoje: o Calendário Depois dos Reglers, já que, para perpetuar a paz trazida pelos Deuses, cada Líder disponibilizou o poder de controlar o elemento de seu Deus para seu povo, surgindo os Reglers, que foram surgindo sem mais ajuda do Líder, já nascem com esse poder.

-E se houver um casamento entre dois Reglers de tipos diferentes?

-Aí a criança precisa receber a benção de um dos Líderes, não pode ser de outro Deus que não sejam os dos pais. Assim, os Líderes só não precisam mais ficar dando benção o tempo todo, mas ainda possuem o poder tanto de conceder, como de tirar. – Quando ela fala a última palavra, percebo uma frustração, um quase arrependimento. Mas, pensando bem, quem quer ser o diferente em um mundo onde todos tem algum poder?

-Entendo.

-Bom, depois disso, as fronteiras entre os reinos de mesmo continente passaram a ser os rios que secaram e, com ajuda de Varuna, Deusa da Água, a água do mar passou a formar vários rios intercontinentais e doces, para abastecer o povo. A história continua com muitos outros conflitos, mas isso dependia do Reis ou Rainhas vigentes, sendo conflitos somente dentro dos reinos, mas nunca entre reinos.

Percebo que ela faz uma cara mais triste.

-Até o ano passado, pelo menos. O Rei atual de Éolo, Franz Von Wind, declarou guerra a Rauch, alegando que queria unir novamente os quatro reinos em um só, como era, mais ou menos, em Gaia. Mas, obviamente, ele governaria, já que ele acha que a guerra em Gaia aconteceu por justamente não ter tido um Líder na época.

“Eu, como Rainha de Rauch, venho tentando convencê-lo do contrário, aquilo é o passado, não temos como voltar a aquela situação, mas o idiota não me escuta. Então, como guerreira, assim como todos os Líderes são e sempre foram, vim escondida a Éolo para descobrir mais sobre o que ele planeja.”

-Hm... Então era por isso que você estava lutando com aqueles Reglers do Vento?

-Exato.

-Mas você não tem espião para isso, não? E se você morrer?

-Tá preocupado?

-Não, só acho uma péssima estratégia. E quando você os ataca, só está aceitando a guerra que ele quer.

-... – Percebo sua cara de confusão.

-Não me diga que não pensou nisso?

-Isso foi mais ideia do parlamento...

-Não culpe os outros pela sua burrice.

-Eu não sou burra! Eu só não quero arriscar meu povo em uma guerra sem sentido, se é para morrer, que eu morra sozinha. É minha responsabilidade como Rainha. – Orgulho falso de uma garota que não parece querer estar nessa situação.

-Não, isso é só burrice mesmo. Se você morrer, quem vai proteger seu reino? – Faço uma cara feia para que ela entenda bem sua situação.

-Mas eu sou a Lí-

-Por isso mesmo que se você morrer, Rauch vai ficar sem liderança! – Bato a mão na mesa. Odeio gente que se faz de idiota. – Me corrija se estiver errado, mas de um Líder para outro, deve haver algum ritual por causa dessa tal ligação com o seu Deus, não é?

Em vez de ela responder, ela passa a olhar para os meus olhos com uma certa dúvida, estranheza.

-O que é? 

-Seus olhos... – Ela estreita os olhos com uma seriedade. – Em volta da sua íris tem um círculo branco brilhando.

-Hein? – O que diabos ela está falando? Mentindo ela não está...

Ela se levanta e pega um espelho que estava em uma mesa pequena ao lado do sofá onde dormia.

-Olha. – Ela me dá o espelho.

-Hã? O que... O que é isso? – Ela está certa, um círculo branco brilha ao redor da minha íris, mas eu não sinto nada. Será que... 

-Isso faz parte de ser um Regler das Sombras?

-Não, não acho que seja isso...

-Bom, se é assim, chega de falar de mim.

Ela olha com aquela cara de que vai me matar.

-Hora de responder as minhas perguntas, Rraito.

Fim – cap. 


Notas Finais


Desculpa a demora pelo capítulo 2, mas se o feedback for bom, já tenho mais capítulos escritos e prontos para postar ^^
Arte do capítulo feita por @SalvartArt e @Birdzinho (Twitter)
E se gostou do capítulo, comente e compartilhe com os amigos ^^


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