História Não Conectados - 2jae (one shot) - 1:31am

Eu nunca fui sozinho. 

Quer dizer, todos somos sozinhos na vida. O que eu quero dizer é que sempre tive amigos. Sou fechado e reservado mas, quando conheço alguém acredito que essa pessoa tem o direito de me conhecer por completo, afinal, nas amizades como no amor temos que se entregar por completo.

Im Jaebum não é um nome muito comum mas mesmo assim, as pessoas sabiam quem eu era. Não por popularidade mas onde quer que eu ia eu conhecia alguém e me enturmava fácil. Já havia saído do colégio há tempos e alguns de meus melhores amigos foram estudar fora: Mark, Jinyoung e Jackson ainda mantinham o contato, me visitavam quando podiam e nossa amizade era tudo pra mim. Eles se gostavam. Sim, os três se gostavam mas eram orgulhosos demais pra confessar. No colegial eles eram calmos em relação a gostar de outro alguém mas, agora já uns anos na faculdade é cada hora o nome de um cara ou garota saindo da boca de cada um deles. E, logo eu que no colegial era... "saidinho", hoje estou quieto no meu canto ouvindo os casos e acasos deles. Como se adiantasse muito eles ficarem fugindo do que sentem: eles estão amarrados.

Não, não "amarrados" no sentido gostando. Sabe aquele mito japonês antigo do fio vermelho amarrado no tornozelo? Então, ele é real. Muitos falam que é no tornozelo, outros dizem que é no dedinho da mão e eu posso afirmar: depende. Depende de como você estava, a posição, quando nasceu, pois ele aparece assim que é rompido o cordão umbilical, o primeiro e mais importante cordão que temos. O segundo é esse, vermelho que, no caso dos três, fica no dedinho. Como eu sei?

Eu sou Im Jaebum, o único que pode vê-los.

Não sei se é por ter esse dom de ver uma cidade inteira aos fios e mais fios, se esticando se embolando mas nunca se partindo, que eu não possuo um. Sim, eu não tenho alguém destinado, mas não sou infeliz. Tive casos e acasos com pessoas antes e, por mais que eu soubesse que elas estavam conectadas com pessoas ao redor delas, eu não podia interferir. Me sentia culpado ao ficar com alguém e logo bem ali ao seu lado eu cordão se conectando com outro. Foi como quando eu fiquei com o Jinyoung e Jackson estava do lado comemorando e bebendo e ali os nós deles atados. 

É interessante isso: as pessoas passam umas pelas outras nas ruas e nem percebem que estão conectadas. Mas não adianta elas ficarem procurando seu par ou pares: tudo vem na hora certa. Esse fio que as pessoas têm do dedo estão comentadas a alguém que vai passar a vida com ela no sentido amoroso. Quando um dos dois morre o fio não é rompido e se mantém ao longo das vidas e eterno. Não, não é o que chamam de "destino", afinal, cada um faz o seu próprio mas, por mais que você passe a vida com alguém que não é atado, na próxima vida o fio nasce mais grosso e as chances de vocês se encontrarem aumentam cada vez mais. 

Enquanto há pessoas conectadas com alguém ainda na próxima vida, há pessoas conectadas com gente que vai além dos oceanos, em outras terras, outros países. O peso de ver os fios é sentir a angústia que cada um possui por estar distante do seu par. Não que as pessoas precisem de alguém para serem felizes, longe disso! Mas todos estão destinadas a alguém. Bem, todos menos eu. 

Minha mãe me dizia que era porquê eu sou especial e que posso encontrar em qualquer um, um amor, mas acontece que: todos já tem um. Não há outra pessoa sem um fio no corpo. Eu posso ver.

- Ei cara, o que está pensando? - era Bambam, meu amigo do curso. Ele era mais novo, tailandês e muito animado. Seu fio ficava no tornozelo e ele era um sonhador em relação a relacionamentos mas não se aquietava: sempre nas baladas, dizendo que estava sentindo que iria encontrar sua metade logo. É verdade que sentimos quando a pessoa está mais próxima. É como se fosse uma felicidade que passa por nós que não sabemos de onde vem e ficamos ansiosos sem saber o motivo e, sim, nós sabemos quando É a pessoa. Por mais que achamos que sabíamos na época em que estávamos com o que hoje chamamos de ex, nós só sabemos de verdade verdadeiro uma única vez.

- Estava pensando no tema do nosso seminário, já é para semana que vem - eu respondi. Não gosto quando interrompem meus pensamentos, mas continuando: sim, nós podemos ser felizes com quem não somos atados. Não é como se dependêssemos da outra ponta do nosso fio para viver. Mas a felicidade que eles nos dão é bem diferente do/da escolhido/a.

- Ah relaxa, a gente vai achar logo um tema. Falando em tema, amanhã tem uma balada e eu tô sentindo que vai ser boa. Tipo sério man, vai acontecer algo amanhã e temos que ir - ele se ajeitou na cadeira sabendo que eu não ia negar. Apenas revirei os olhos e disse um ok e voltei a atenção ao professor, este que estava infeliz ao ver uma sala inteira agitada numa sexta feira à noite.

Não quis mudar de cidade. Não sei muito bem o porquê mas fiquei ali em Seul, procurando matérias em que eu me interessasse. Eu me sentia perdido por ver meus amigos indo em frente em suas faculdades e eu ali, no meu segundo curso apenas para arrumar um emprego que ajudasse a pagar o aluguel e as contas. 

Cheguei em meu apartamento e logo fui recebido pelos meus gatos. Estavam com fome e logo tratei de colocar a ração a eles e ir para o chuveiro.

De moletom e deitado confortavelmente em minha cama ouvindo Her do Block B pensando em como era bom poder morrer de dormir após um dia exaustivo, que ouço uma batida na porta. Olho o horário e são 1:30 da manhã e eu juro que mato um tailandês se for ele que estiver estourando minha madeira envernizada.

1:31 am eu abro a porta.

- Você não sabe a merda que aconteceu - e lá está ele, todo bêbado com um olho roxo e a boca sangrando: Kunpimook Bhuwakul conhecido mais como Bambam porem em sua lápide vai estar só Bam porque o outro Bam eu vou usar como onomatopeia para dar um soco nele.

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- Eu juro que não vou beber demais hoje. Eu preciso estar atento. A maquiagem cobriu bem o roxo? - Bambam me perguntou 

- Aish, sim. Eu deveria deixar o outro igual por ter feito eu levantar de madrugada pra te receber. - respondi empurrando ele para mostrar que a fila tinha andado.

Ele estava mais animado que o normal e pude ver o porquê: seu fio se agitava aos poucos, sinal de que era hoje que ele conheceria (ou talvez não) o seu conectado. Eu sabia que isso ia acontecer e topei vir com ele. Já havia visto seu fio se agitar algumas vezes aquela semana. 

Senti uma pontada de inveja. Eu já me apaixonara antes mas foi uma única vez e já faz tempo e eu queria ter essa animação que é estar próximo ao seu/sua conectado/a. Queria poder sentir isso mas... Olho para o meu corpo todos os dias para ver se algo vermelho aparece e nada. 

Enfim entramos naquela imensidão vermelha que, para Bambam, era apenas pessoas. Vi duas amigas passarem por nós e uma delas flertou com Bam e a outra piscou para mim. Eu ri. Ri pois os nós delas estavam atados e quem sabe ali, naquela noite, elas não descobrissem isso.

O tema da noite era Indie internacional e não havia quem não cantasse a toda voz Lana del Rey, Arctic Monkeys, Oasis. Bambam notei que já havia se entregue a uma drinks e ele conversava com uma garota ruiva. Eles estavam bem próximos mas um cara alto de calça justa e cabelos castanhos passou rapidamente entre os dois e acabou tropeçando e empurrando a ruiva que teria caído se ele não tivesse a segurado. Me aproximei pois sabia que o paquita da Gucci ia tirar satisfação e assim que cheguei o encontrei esbravejando contra o cara.

- Você sabe o que você fez, seu poste? Acabou de fazer perder eu perder a OPORTUNIDADE de ficar com Lisa. Agora cadê ela? Hein? 

- Me-me desculpa cara, eu precisava ir atras d...

- EU NÃO ME IMPORTO! Quem eu vou beijar agora? Você? 

- Pode ser - e nisso o alto agarrou Bam e iniciaram um beijo bem fogoso. Não acreditei quando notei o fio do cara atado com o do Bam.

- É Bam, você encontrou o que procurava - ri sozinho e me afastei para o bar. Me senti triste pois, mais uma vez, eu fiquei para trás. 

Lembrei de quando eu achava que tropeçaria nos fios quando mais novo e ri. Passe o tempo, a distancia, as voltas que forem, nada separa um fio. Olhei para o relógio em meu pulso: 1:30 AM. Aquelas duas últimas semanas tem sempre acontecido algo exatamente nesse horário para que eu visse 1:31. Ou eu acordo de um pesadelo, ou eu estou na internet e resolvo ver as horas bem na hora que é esse horário, ou o telefone toca. Sempre 1:30. Olhei em volta para ver se algo me acontecia e... nada.

- E...1:31 AM, mais uma vez fui feito de tr... Me desculpe! Eu...eu te compro outra bebida - fiquei tão distraído com tolice minha que nem vi em quem trombei, simplesmente peguei seu copo do chão e puxei a pessoa até o balcão, jogando seu copo rachado no lixo. Estava pegando meu dinheiro quando ouço uma voz alterada com sotaque tailandês vindo do outro lado da balada - Olha fica com o dinheiro e o troco, preciso ir.

Entreguei tudo ao que notei que era um cara de camiseta branca com detalhes, moreno e só consegui notar uma pontinha abaixo do seu olho direito e corri em direção à confusão. Ainda bem que eles só empurraram e eu não tive que arrastar Bambam desacordado pra casa, porém tive que levar dois bêbados.

- Hyung! Você é demais! Obrigado por deixar a gente ficar na sua casa - disse Bambam enquanto saíamos da balada 

- Eu não lembro de ter convidado...

- Ah, esse é o Yugyeom. Ele é meu novo amigo e beija muito bem - o mais alto ruborizou mesmo bêbado. Notei que era o mesmo cara que havia trombado nele mais cedo. 

- Eai, sou Kim Yugyeom mas pode me chamar de Yug - disse apoiando no tailandês 

- Eu sou Im Jaebum, pode me chamar de JB mas lembre que você é mais novo e me chame de hyung. Esse dai esquece que sou mais velho e me trata informalmente - fingi que ia bater em Bambam que apenas riu e chamou um táxi, que Yug fez a questão de pagar.

Já no meu apartamento, fiz os dois tomarem um banho enquanto organizava a sala para dormirem e, assim que saíram, se jogaram exaustos nos colchões e ali dormiram. Ri com a cena. Espero que esses dois fiquem juntos. 

Tomei meu banho e fui para o quarto. Já eram quase 4 da manhã. Sentei na cama e senti a culpa bater por não conseguir me desculpar com o cara que eu trombei. 1:31am. Um horário que acabou se tornando importante pra mim por nada. Nada acontecia aquele horário, mas ao mesmo tempo tudo acontecia para que eu visse, toda madrugada, 1:31am. Deixando os devaneios de lado, fui contar quanto dinheiro eu tinha ainda na carteira quando me bateu o desespero.

- Onde tá minha carteira?

Procurei pelas roupas sujas e por todo o quarto e não encontrava. Será que? Não! Não posso ter deixado com o cara na balada! Meus documentos, cartões e o único dinheiro que eu tinha...já era. Sentei na cama com os cotovelos apoiados no joelho e a cabeça entre as mãos quando ouvi a campainha. Será que era minha carteira? 

Corri até a porta, de calção, chinelo e uma blusa cinza velha. Nem ao menos me importei com meus cabelos bagunçados e úmidos, eu só precisava que fosse alguém de bom coração devolvendo minha carteira. Abri a porta e...

- Ah! Me desculpe atrapalhar mas... você deixou sua carteira comigo lá no bar... Im Jaebum? - disse o moreno a minha frente. Eu teria duvidado dele se não fosse pela sua pintinha abaixo do olho. Não pude negar que, além de muito belo e fofo como um filhote de lontra, o sorriso que ele me deu fez algo chacoalhar em meu estômago. E não era a bebida.

- A sim! Eu mesmo e...uau mal te conheço e já tô em dívida com você! - disse sorrindo - Me desculpe pela bebida aquela hora e muito obrigado pela honestidade. Quer entrar? 

- Se não for incomodo, na verdade meu táxi foi embora, preciso chamar outro e meu celular descarregou. Estranho que ele estava em 87% e cheguei aqui acabou a bateria! - é, meus caros, a Vida sabe o que faz e quando faz.

- Por favor - eu disse lhe dando passagem - Eu te empresto o meu. Não repara nesses bêbados na sala. Eu nem conheço esse grandão e ele já está dormindo aqui - rimos 

- Está hospedando desconhecidos então, Im Jaebum? - indagou ele 

- Tem interesse? Tenho mais um colchão se quiser! E juro que cobro baratinho - e ele riu. Uma risada um pouco escandalosa mas contagiosa. Nem estávamos num ambiente de flerte mas eu já tinha me interessado por ele. E muito.

- Posso ficar? Eu faço o café da manhã para compensar! Realmente meu dormitório é longe daqui e...

- Tudo bem, não se preocupe com isso. Faz faculdade? 

- Sim! De música! Quero ser cantor! Você faz também?

- Não - sorri fraco - faço curso e ainda não sei o que quero fazer, apesar da minha idade. Não sei que caminho seguir

- Não se preocupe, Im Jaebum, você vai encontrar logo o que procura - e quando ele sorriu foi como se o sol tivesse nascido bem ali na minha frente

Estiquei a mão e lhe disse:

- Pode me chamar de JB.

Ele sorriu e tomou a minha, respondendo:

- Choi Youngjae.

Não sei em que momento meu sorriso foi maior: ao sentir minhas borboletas no estômago voarem descontroladas ou ao notar que Choi Youngjae também não possuía fio vermelho. Bem, até àquela hora em que nossas mãos se separaram e um fio brilhante e vermelho se estendeu do meu dedinho até o dedinho dele.

E foi naquele instante que eu percebi que eu, Im Jaebum, estava totalmente "amarrado" em Choi Youngjae.