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História Não conte nada aos girassóis - Florescência


Escrita por: HeyMaxi

Capítulo 2 - Florescência


Fanfic / Fanfiction Não conte nada aos girassóis - Florescência

Xiumin acordou com a sensação de que algo lhe faltava dentro de seu abraço, ainda de olhos fechados tateou o  colchão com suas mãos preguiçosas em busca de contato, mas elas não encontraram nada. Ao abrir seus olhos a roupa de cama ainda continha as marcas de quem lhe fizera companhia na noite passada. Seus dedos sentiram o calor que ainda havia no espaço ao seu lado, aquele calor era de Jongdae,  calor esse que ele tomou pra si na noite passada para se proteger do frio. Não precisou checar as horas pra saber que havia dormido demais, ele sempre acordava antes do mais novo, e até então, não tinha o menor sinal do garoto no quarto. 

A luz que entrava pela janela não tinha o amarelo brilhante característico, tinha um tom mais azul e as cores no quarto pareciam mais frias por isso. De fato, o dia tinha mesmo um filtro diferente, era algo que não precisava apenas ser visto pra ser notado pois tudo a sua volta indicava uma ressaca gostosa de chuva – você passa a perceber essas coisas quando vive em constante contato com a natureza – , os pássaros não cantavam a aquela hora, estavam um tanto atrasados, pareciam que assim como Xiumin, eles também acabavam de acordar. Também não ouvia o barulhos das vacas, nem a agitação do galinheiro, então ocorreu a ele que talvez todos os bichos ainda estivessem dormindo. Não se ouvia nenhum som, nada, a casa parecia vazia, e aquilo o relaxava de forma que nem mesmo o menor barulho do vento era forte o bastante pra obrigá-lo a levantar. Mas claro, não há esse tipo de caprichos na fazenda, ele não podia se dar ao luxo de continuar dormindo, era um garoto que não fugia do trabalho, precisava acordar e estar disposto a cumprir com suas tarefas, não faria corpo mole pro seu pai dessa forma, e se tal pensamento já não bastasse pra fazê-lo levantar, o cheiro de café que sentiu foi o faísca que faltava pra que ele se sentasse na cama com um pulo. 

O aroma invadia seus narizes e parecia tomar todo o quarto,  um cheiro forte que acariciava seu olfato, ele quase podia sentir o gosto do café tão puro como se os grãos fossem moídos e fervidos agora mesmo. Encheu seus pulmões de ar com um sorriso, um suspiro forte pra espreguiçar, afastar a fadiga, esticar seus membros e pra se deliciar com o cheiro de café forte que parecia vir da cozinha. Aquilo fez seu dia começar bem, lhe trazia paz. Ele podia saciar sua fome apenas sentindo o aroma que pairava no ar.

Seus pés sentiram a madeira fria quando finalmente se pôs de pé e desceu as escadas fazendo o único ruído que agora se podia ouvir.  Encontrou Jongdae na cozinha, sorrindo sobre uma xícara de café – que aparentemente ele mesmo havia preparado – como se estivesse pensando coisas boas antes de Xiumin entrar na cozinha.  E na mesa o desjejum lhe esperava.

-Por que não me acordou? – perguntou Xiumin já se sentando servindo-se do café que desejou antes mesmo de levantar da cama, e preocupado por começar o dia tão tarde, mesmo que agora ainda não passasse das oito ou nove da manhã.

-Você estava sorrindo enquanto dormia – brincou Jongdae ainda rindo sobre a xícara – fiquei com pena! 

-E o pai? – ele perguntou ao notar o prato com fatias de pães intergrais cobertos por manteiga no centro da mesa, tomando uma delas para si. 

Jongdae fez uma pausa antes de responder, seus olhos se enchendo de entusiasmo antes de dizer qualquer coisa, como se esperasse pra contar aquilo a Xiumin a manhã toda. – Dormindo!

-Dormindo? – “o dia está mesmo diferente hoje!” ele concluiu olhando para o relógio na parede que marcava 9:15 da manhã.  Aquilo era incomum demais já que o homem era o primeiro da casa a acordar. Xiumin não conteve sua vontade  de ir até o quarto do pai que ficava ali mesmo no andar de baixo e abrir devagar a porta com um ruído tímido apenas para ver com seus próprios olhos  o velho adkins jogado de forma preguiçosa sobre os cobertores.

Foi também até a varanda para concluir com suas expectativas  que realmente até mesmo os animais ainda dormiam.  O cheiro de terra molhada o saudou assim que abriu a porta da frente, vindo de algumas poças de água que se formaram na terra. 

Seu pai se deixara dormir até tarde hoje
Jongdae parecia feliz demais hoje
Até os bichos estavam tão preguiçosos hoje...

“Afinal o que de tão especial a chuva trouxe ontem a noite?” Se perguntou...

Mal acabara de escovar os dentes e Jongdae já tinha uma laranja em mãos, aqui no campo ele é o responsável por devorar todas as frutas, é involuntário, ele nem precisa estar com fome para dar “oi” as maçãs.

 

O problema é que desde que ouviu de sua tia sobre o que é estar apaixonado, desde que vira um beijo, ele parece funcionar de forma diferente. Em momentos como estes, quando  está sozinho fazendo nada em especifico, nada além de olhar para um ponto fixo na parede da cozinha e pensar em absolutamente nada, sua mente vaga por pensamentos peculiares até demais. Aquela duvida, aquela mesma vontade de sentir a sensação de um beijo o tomava e antes mesmo que percebesse ele já mordia a fruta devagar, puxando com a boca ao invés dos dentes os pedaços da laranja, passando seus lábios pelos gomos enquanto fechava seus olhos devagar. Explorando sua superfície mais do que comendo. Aquilo era diferente de saborear, Jongdae parecia namorar a fruta quando foi pego de surpresa pela voz do irmão que ele não sabia a quanto tempo estava dentro de casa de novo.

-Essa não é a ultima laranja do pomar, sabia? – o mais velho estava parado na entrada da cozinha, sorrindo para seja lá o que o irmão estivesse fazendo. Aquilo para Jongdae era como um segredo, ninguém podia ler sua mente, ninguém podia saber de fato o que o garoto imaginava e tal pensamento o impedia de se envergonhar com a situação, ele apenas tirou a fruta da boca e sorriu, passando a língua pelos lábios. Estariam a uma mesa de distância um do outro se Xiumin não tivesse se deitado parcialmente sobre ela pra roubar um dos gomos da fruta na mão do garoto sentado na cadeira. Com seu rosto próximo ao do menor Xiumin levou a fruta até a boca, sorrindo, e Jongdae – de repente estático pela aproximação repentina – acabou por acompanhar cada movimento da boca do loiro, desde que se abrira levemente mostrando apenas a ponta de seus dentes da frente, até mesmo agora que seus lábios se moviam ao mastigar ele não tirava os olhos deles. Sua respiração se descontrolando acompanhada pela lembrança do beijo apaixonado daquele casal que estavam a pouco centímetros um do outro quando o fizeram, assim como Xiumin estava de si agora.  Aquele poucos segundos pareceram eternidades, até Jongdae voltar a si quando o maior se desvencilhou da mesa. – vem, não têm muito o que fazer hoje, vamos terminar antes  que o pai acorde e dar um descanso ao velho.

 O loiro saiu pela porta dos fundos deixando pra trás um Jongdae paralisado, com a ponta dos dedos que teimavam em ir até sua boca, metade de uma laranja em mãos e uma vontade repentina de beijar seu irmão mais velho... 

Se referir ao pai como “ velho adkins” era como uma piada interna para os dois, já que ele  era tão jovem a ponto de nunca aparentar ser mais que um irmão mais velho para quem não os conhecia.

Os dois se livraram de seus pijamas de pássaros e vestiram roupas mais apropriadas para o trabalho, e concordaram em fazer sozinhos todo o pouco serviço que tinha, que se resumiu em alimentar os bichos, recolher alguns ovos, colher o que já estava maduro demais na horta, e abandonar o lixo na beira da estrada para que o caminhão de coleta desse conta dele. Algo que terminou tão rápido quanto o café da manhã. 

 

...

 

 

Alguns cantares de Galo depois o trabalho estava feito. E na a entrada da casa estavam jogadas as botas de plástico, no fim da escada que levava até o quarto estavam as camisas brancas sujas de terra, na porta do banheiro duas calças jeans surradas largadas da forma mais aleatória possível.  No banheiro o chuveiro ligado imitava o barulho da chuva, e as risadas que vez ou outra escapavam de trás da cortina indicava a presença dos dois ali. O pai ainda dormia, e Xiumin massageava fazendo espuma nos cabelos de Jongdae a sua frente com a água fria caindo sobre sua cabeça. Enquanto o menor  limpava seu corpo com uma esponja cheia de sabão, de costas para o loiro. 

-Isso me lembra de quando você teve piolho, eu tinha que lavar seus cabelos assim todos os dias – E Xiumin ria dessa mesma forma quando o fazia, o  velho adkins sempre confiara  a ele cuidar do irmão mais novo desde cedo. 

-E eu reclamava que o remédio ardia todas as vezes – ele também ria de si mesmo.

-A diferença era que você não era quase tão alto quanto eu! – os últimos risos se foram junto com a água que descia pelo ralo, por um momento um silêncio se fez entre os dois, a única coisa que se ouvia era o chuveiro acima deles, e o barulho ensaboado dos fios do moreno, Xiumin se concentrava em massagear o topo da cabeça do mais novo enquanto Jongdae passava a esponja nas partes de seu corpo que não estavam cobertas pela cueca. Até Jongdae quebrar o silêncio, de repente sentindo uma vontade de confessar ao irmão uma pulga atrás da orelha que trouxe da cidade naquele dia.

-E você era mais gordinho, não tinha um corpo tão forte quanto agora – ele se virou, trocando de lado com o outro para se livrar da espuma em seus cabelos, ficando de frente para Xiumin agora – o pai disse que logo você terá uma namorada...

-Uma namorada? – o loiro franziu a testa, de onde ele tirara tanta certeza disso, Xiumin nunca sequer tocara no assunto com o pai. 

-É... – suas palavras começavam a abandonar o tom brincalhão que tinham a momentos atrás, suas expressões ficando mais sérias e confusas da parte de Xiumin – contei a ele que algumas garotas estavam te olhando estranho na loja aquele dia. E ele disse isso...

Jongdae fechara seus olhos enquanto afanava os próprios cabelos, as vezes tendo que soprar a água de sua boca pra poder falar desimpedido, a resposta de Xiumin fora mais audível, e diretas a Jongdae – Eu não quero ter uma namorada. Eu nem sei por que as pessoas fazem isso, na verdade... – ele abaixou o rosto, o que foi notado por jongdae que abriu um olho só pra fitá-lo – eu tenho pensado em muitas coisas desde aquele dia na cidade, menos em garotas.

Tal confissão pegou o moreno de surpresa, ele imediatamente desligou o chuveiro, olhando assustado o outro esperando que ele levantasse o rosto e continuasse o que tinha a dizer, ao mesmo tempo que se perguntava se ele havia visto o mesmo que Jongdae viu naquele dia, se tinha as mesmas curiosidades que ele. Mas o loiro não o fez, parecia estar prestes a abandonar o assunto, então Jongdae decidiu questioná-lo.

-Você também têm se sentido assim?

-É, eu não sei...é estranho, tenho tido ideias que não sei se devia ter – as palavras agora não eram impedidas pelo barulho da água se chocando na cerâmica do chão, de forma que suas vozes ecoavam pelo banheiro.

-Que tipo de ideias? – Jongdae não sabia pelo que esperar, mas se sentia aliviado em saber que não era o único a pensar coisas incomuns em segredo.

-Sabe, depois que nos despedimos da Tia Betty, eu olhei pra estrada antes de entrar na caminhonete, e ... eu não senti vontade de voltar.

Aquilo foi um balde de água fria em Jongdae – mesmo já estando todo molhado – as ideias de Xiumin pareciam diferentes das dele, e querer muito beijar alguém ainda parecia pesar mais. No fim ele ainda tinha um segredo, que seria fácil de contar ao irmão, se algo não estivesse o incomodando dentro do peito desde a noite passada. – o que quer dizer?

-Eu não sei bem, mas, pensa só...nunca imaginou em viver em algum lugar que não fosse o campo? Com coisas novas, com gente nova, nunca pensou no quanto a gente ia ver e aprender? – Jongdae pôs as mãos pra fora das cortinas e puxou uma toalha, secando seus cabelos e braços evitando olhar  o outro enquanto falava... – eu não falo da cidade aqui perto, falo da cidade grande, com casas de vários andares. É lá que são feitos os grandes homens, eu poderia ser um deles! 

Jongdae o olhou disposto a por um fim a conversa, não gostara muito da ideia de que Xiumin quisesse ir pra longe, aquilo o incomodava a ponto de ficar com raiva do outro – Nosso pai é um grande homem Xiumin, e ele é um homem do campo. Não diga besteiras.

Ele saiu de perto do outro sem lhe direcionar um ultimo olhar, pronto para ir pro quarto e se livrar da cueca molhada e trocar de roupa. Mas o garoto que fora deixado para trás não parecia querer por um fim ao assunto daquela forma, Jongdae que sempre admirava os pensamentos inteligentes do irmão agora parecia julgá-lo por querer ir a cidade grande, sua ideia era mais exagerada que as minha? Afinal, quais eram suas ideias ? Ele pensou...

-E você? – Jongdae parou os movimentos repetitivos com a toalha sobre o cabelo, “Eu o que?” ele pensou, mas temeu ter que responder Xiumin caso vocalizasse aquilo. Ainda assim, o outro iria  querer uma resposta.

-Eu o que? – disse já pondo a mão na maçaneta da porta prestes fugir do assunto.

-No que têm pensado? Você disse que também teve pensamentos estranhos – sua insistência era tanta que quando jongdae puxou a porta xiumin se apressou, empurrando sua palma para fecha-la com um baque – você não vai fugir – ele riu, levando aquilo como uma brincadeira de segredos – eu contei, e você não gostou muito, então seu segredo não deve ser pior que o meu. 

Com o susto da mão do outro sobre a porta Jongdae acabara se virando pra ele, de forma que mais uma vez seus rostos estavam próximos – Pra ruína de Jongdae isso têm acontecido frequentemente, mas dessa vez a culpa era apenas do cômodo pequeno em que estavam – mesmo com riso na voz o loiro insistia como se o outro tivesse que confessar um crime. 

-Eu não quero falar, não vou contar ao pai que você quer ir a cidade grande, mas não vou te contar meu segredo.

-Mas eu já contei... –  insistia ainda segurando a porta atrás do outro, sentindo a respiração quente de Jongdae se descontrolar – vamos Jongdae, não seja chato, você tá estranho esses dias, e eu sei que têm fruta nesse galho – ele pedia com voz brincalhona –  no que têm pensado em fazer desde que voltamos da cidade?

Não era exatamente nas palavras do  outro que Jongdae se mantinha atento,  suas faces estavam tão próximas que os pingos de água que desciam pelos fios loiros de Xiumin caiam sobre o nariz dele, e tudo no que o moreno conseguia focar era na boca do outro que se movia a cada palavra, e que por alguns segundos formaram um bico pidão diante de seus olhos. 

O moreno agora não conseguia pensar nem em seu próprio nome, o sorriso de Xiumin começou a se desfazer aos poucos, seus olhos mirando abaixo de seu nariz, sua expressão curiosa foi seguida de um tom  de voz sério, com interrogação evidente quando Jongdae começou a se aproximar cada vez mais de seu rosto até que seus narizes se encostaram, a boca do outro estava levemente aberta, Xiumin já podia sentir seu hálito quente direto nos lábios, seus olhos não entendiam o que se passava enquanto os do outro estavam fechados, o ar se tornara tão tenso, suas bocas de repente tão próximas. Aquilo hipnotizara o mais velho, seus olhar vidrado, fitando  abaixo de si, sua boca entreaberta, sua respiração quase pausando...e os lábios do moreno quase tocando os seus  – jongdae?

O silencio fora cortado, parando os movimentos do outro que ainda de olhos fechados virou o rosto, o ar quente que saia de um loiro  nervoso se chocando sobre sua bochecha – eu não tenho nada pra contar,Xiumin...

A porta do banheiro foi aberta, e Jongdae escapou por ela, deixando pra trás seu irmão molhado e estático, seus olhos zumbificados. Os dois tratavam seus pensamentos profundos como segredos, talvez sua definição de “segredo” fossem diferentes, na verdade, eles tinham definições diferentes para muitas coisas, principalmente para as que não conheciam tão bem – quase tudo –  Mas seja lá o que acontecera agora tinha haver com os segredos de Jongdae? Afinal o que aquilo significava? Era mesmo algo que nem mesmo ele podia saber? E por que de repente ele se sentiu tão bem? Seu peito ainda palpitava, sua bochecha comichava, e seus lábios, eles ainda podiam sentir a sensação da respiração quente de Jongdae sobre eles, e dessa vez, era Xiumin quem levava a ponta de seus dedos até a boca. 

 

...

 

O irmão mais novo agora se arrependia com todas as forças, sentado no chão encostado na cama abaixo da janela. Estava tão perto de finalmente saber como era beijar alguém. Não se tratava de acariciar o rosto um do outro, ou de sorrir quando o outro sorri assim como o casal no estacionamento faziam, se tratava apenas daquele pequeno momento, onde os dois pareciam sintonizar seus pensamentos em um canal que o pequeno camponês desconhecia, era como arrancar do chão uma raiz diferente, ou como ordenhar algum bicho diferente, era algo que ele não conseguia imaginar até que  o fizesse. Se tratava apenas de beijar alguém, e por que esse alguém não poderia ser seu irmão mais velho? Por que ele não conseguiu por um fim a suas dúvidas a momentos atrás?

A porta de madeira a sua frente foi aberta timidamente, a primeira coisa que viu passar por elas foram os fios que brilhavam como o sol dos cabelos de Xiumin, parecia tão sem jeito ao falar com ele que nem se deu o trabalho de passar totalmente seu corpo pela abertura da porta – o pai ainda não acordou, eu estou ficando preocupado.

-Ele vai acordar em breve, ainda é de tarde, o sol está forte, ele não deve ter dormido a noite por algum motivo.  – jongdae respondera da forma mais natural possível, o que fez o sorriso voltar ao rosto do mais velho, e sua forma de falar abandonar o tom tímido e voltar a seu tom borbulhante natural. 

-Você têm razão, sabe no que eu pensei? – Jongdae levantou o pescoço  e sorriu aberto com uma aceno de cabeça, um sinal para que ele continuasse – que a gente podia checar os girassóis por ele. 

A ideia fizera Jongdae se levantar com entusiasmo, seguindo o outro que saiu correndo do quarto mais animado que ele, corriam pelo corredor as vezes ajeitando a alça do macacão sem se preocupar com o barulho que faziam na madeira ao descer as escadas. Sorriam como se nada tivesse acontecido, talvez essa fosse a melhor coisa em ter uma mente tão florida, as coisas nunca incomodam, tudo sempre está bem,  tudo é sempre amarelo como  uma enorme plantação de girassóis.

 

Os dois agora usavam do pouco conhecimento que tinham sobre aquelas flores para avaliar se estavam amadurecendo no tempo certo, Xiumin usava um isqueiro para queimar a ponta das sementes e depois as mastigava, as vezes dando a Jongdae para que fizesse o mesmo, enquanto se olhavam avaliando o gosto e a textura. 

-Eu acho que ainda não está bom – dizia Jongdae sem certeza pois o gosto das sementes era ruim para ele seja verde ou madura. 

-É, ainda não estão no ponto, acho que a colheita vai demorar um pouco mais dessa vez – o semblante derrotado do mais velho não era bem por ele, e sim por seu pai, o adkins estava bem, se a plantação estivesse bem, e pelo jeito que as coisas estavam indo a safra desta temporada podia estar comprometida – vamos apenas esperar e torcer para o pai dar um jeito. 

Os dois andavam no meio dos girassóis que os cercavam, Jongdae podia não gostar do gosto das sementes, mas não podia negar que aquelas eram as flores mais bonitas que ele já vira, “não havia amarelo tão lindo como o amarelo daquelas pétalas” pensou, quando os cabelos loiros de Xiumin tomaram sua visão. E ficando a frente do sol, brilhantes daquela forma, ele podia reconsiderar e eleger o amarelo dos cabelos de Xiumin como o amarelo mais bonito que já vira na vida.

-Não sei por que estamos fazendo isso se o pai vai vir checar as sementes de novo de qualquer jeito – Xiumin repensava e concluía agora que sua ideia não era das melhores. O que Jongdae parecia discordar.

-Mas nós temos que começar a fazer isso por ele, ora. Até por que daqui a alguns anos nós dois vamos estar plantando girassóis. E isso tudo será nosso, temos que aprender a cuidar. Afinal nós prometemos que tomaríamos conta da plantação, não foi?

De primeiro nenhuma resposta veio do loiro, tinha pensado tanto em morar na cidade grande que nem se lembrava de que  prometeu quando eram menores que cuidariam das flores, e seriam os novos cultivadores de girassóis da região, e assim, continuariam o legado do pai.  Aquilo seria um balde de água fria nos sonhos do velho Adkins, mas Xiumin não tinha certeza se queria ser um cultivador de girassóis. Não conseguia pensar em uma decepção maior para seu pai do que o filho se recusar a cuidar da segunda coisa mais importante pra ele, depois da família, aquele mar de flores amarelas – Ei Jongdae...

-Hã? – o outro tirou a atenção das flores.

-você não vai mesmo contar nada ao pai sobre o que eu te disse hoje, não é?

-Por que eu faria isso? Ele não gosta que a gente vá a cidade, mas você não está falando sério, eu sei que você gosta do campo.

-Claro que eu gosto...

-E você não têm motivos pra querer ir pra lá. – as palavras do moreno sobre o irmão eram tão seguras e tão confiantes, Xiumin gostava de estar ali, gostava da via que tinha em meio as plantações e aos bichos, mas, por vezes, pensava em que tipo de pessoa ele poderia ser longe dos limites que o pai lhe impunha em tudo, podia até mesmo escrever seus próprios livros, mas aquilo, claro, ficaria apenas em sua mente curiosa, e agora, nos medos de Jongdae: – Você não teria coragem de deixar a gente. 

-Claro que não, você podia vir comigo! – ele tentou brincar, mas recebeu um olhar de repreensão do mais novo.

-Xiumin! Não, vamos esquecer isso.

-Eu só to brincando – ele pôs as mãos no bolso enquanto andava, abaixando o rosto com culpa, enquanto chutava algumas pedras e Jongdae andava a sua frente prestes a tomar caminho pra fora dos Girassóis o loiro até desejou que tudo aquilo realmente não passasse de uma brincadeira, ele não queria estar falando tão sério. Seu pai nunca poderia saber disso, nunca poderia sequer imaginar que seu próprio filho pensou por um momento sequer em deixa-lo pra trás. Pensou na decepção que o velho adkins sentiria, e na vergonha que sentiria de si mesmo se tivesse a audácia de se aventurar por fora das cercas, ele queria garantir que nenhuma palavra daquela conversa sairia da boca do moreno,  correndo alguns centímetros pra agarrar o pulso de Jongdae no meio dos girassóis – Ei. vamos fazer um trato? Mas têm uma condição, vai ser nosso segredo! 

-Segredos não são bons Xiumin, não devíamos esconder nada do pai.

-Eu sei, eu sei. É por isso! – ele respirava forte mesmo tendo corrido tão pouco, tentando organizar as palavras em sua mente. – vamos contar um pro outro o que queremos, e depois disso a gente esquece. Não vamos ter mais nada a esconder do pai, vamos esquecer tudo!

-Esquecer os segredos? – Xiumin acenou em confirmação, com entusiasmo nos olhos.

O mais velho só queria garantir que seu pai nunca soubesse de suas vontades, mas não parou pra pensar no que suas palavras significavam, ele tomou as mãos do irmão mais novo, e olhando nos seus olhos disse, respirando fundo e se certificando de que cada palavra saísse de forma correta – Eu quero estudar, quero ir a cidade grande e ter uma profissão muito boa, quero conhecer muitas outras coisas – cada palavra do loiro trazia confiança a Jongdae, sempre fora assim, ele poderia  passar por qualquer coisa desde que  o outro estivesse ao seu lado, segurando sua mão , como agora – esse é o meu segredo... é  a sua vez.

Um vento correu sobre a plantação, uma nuvem que impedia parcialmente a luz do sol se foi,  os girassóis brilharam mais fortes, e os cabelos de Xiumin brilharam mais fortes, uma sintonia de amarelos vivos aos olhos de Jongdae, ali, embaixo do Sol, no meio dos Girassóis, Os fios pretos dos cabelos de Jongdae chegaram a tocar os fios loiros de Xiumin quando ele se inclinou pra frente e selou seus lábios nos do outro. Seus olhos fechados e seus braços largadas rentes ao corpo, fora um beijo casto, rápido, um selar de lábios que durou poucos segundos. E que renderam a Jongdae a tão esperada sensação de um beijo, que fora resumida em...Nada! 

Ao se afastar do outro, que tinha seus olhos vidrados e seus lábios entre abertos, Jongdae tocou de novo os próprios lábios, e a mesma coisa que sentia com seus dedos não diferia em quase nada dos lábios do outro, era macio, e fez um barulho gostoso quando se separaram, e nada mais que isso. Nenhuma outra sensação tomou conta de si como esperado.

Mas para sua surpresa, a chama que devia acender naquele momento não fora sentida por ele, e sim pelo mais velho que esqueceu até mesmo de respirar, olhava para o nada enquanto os olhos de Jongdae se perdiam em confusão.  Ali, embaixo do Sol, no meio dos girassóis, eles selaram um pacto, seus segredos tornaram-se um só quando Xiumin tomou o rosto de Jongdae pelas bochechas e puxou de encontro a sua boca, beijando os lábios de Jongdae repetidas vezes, um beijo profundo, intenso, e ali Jongdae entendeu, que não se tratava só de beijar, e sim de ser beijado, pôde sentir suas mãos formigarem, e um calor repentino tomar conta de si dos pés a cabeça, segurou os ombros do loiro, puxando-o pra baixo, o tecido dos lábios estavam  molhados, podiam sentir o gosto um do outro, a sensação era de um “Eu te amo” que não podia ser vocalizado e nem escrito, um ato que transmitia todo o sentimento que ele não sabia ter, mas que naquele momento desabrochou como uma centena de flores, de fato, nunca seria capaz de imaginar algo assim pois a sensação não estava só nas bocas que se tocavam, estava na forma como Xiumin  segurava seu rosto, em como seus batimentos mudaram de ritmo, no jeito com que tudo a sua volta parecia sumir lentamente e assim como na noite passada ele sentia vontade de entregar seu corpo aos braços do outro.

-É o nosso segredo? – disse Xiumin quando separaram seus rostos, ainda estático, seus olhos fixos nos do outro.

-Sim, acho que agora é o nosso segredo...

 

O vento soprou forte as pétalas das enormes flores amarelas, passando pelos dois garotos e afanando seus cabelos, aquele momento, o primeiro beijo, foi mais que especial para Jongdae, sua duvida se foi, de fato, um beijo fora mesmo uma das melhores sensações– se não a melhor – já vivida por ele. E para Xiumin, que ainda não entendia o que se passava, ele apenas se entregou aquele ato peculiar, que bagunçou todos os seus sentidos. E inconscientemente, o mais profundo deles.
Se perguntassem a Jongdae qual gosto tinha “gosto de café!” certamente ele diria. fora tão bom quanto imaginava, não sabia se poderia ser ainda melhor com alguém que não fosse seu irmão, ou se por sorte havia sido bom por ter dividido o primeiro beijo com ele, mas no fim não importava, pois ele estava  satisfeito!

 

E apenas os girassóis eram testemunhas daquilo....

 

 

 

 

 

 

 

 



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