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História Não é o que eu pensava (Bellow) - Precisamos conversar



Capítulo 35 - Precisamos conversar


Estava jogada em meu sofá, nua, cabelo todo bagunçado e suada por inteiro. Ainda estava ofegante de minha última "brincadeira" via vídeo com minha namorada. Ainda deitada de lado, com o celular em mão, a apreciava, Blue ainda respirava ofegante, estava muito sexy;  deixei meu celular posicionado sobre a mesa de centro, não aguentava mais segurá-lo.

Blue estava em seu quarto de hotel, já de volta a Toronto. Estava com o cabelo preso em um rabo de cavalo e também jogada em sua cama. Ela me mandava beijinhos, enquanto ainda não conseguimos falar muita coisa.

Estávamos fazendo o que podíamos para matar nossa saudade, assim como nosso tesão. Mas brincar de siririca olhando pra pessoa que sente atração... Não é a mesma coisa que ser tocada por ela, nem se compara o prazer, na verdade. Mesmo assim, hoje gozamos juntas, e tenho que admitir, foi até legal.

—Você me acostumou muito mal, Yellow... — Blue tapou o rosto e então virou-se de lado — Droga, eu ficava meses sem ser tocada, Zaffre viajava e eu não sentia muita vontade, sabe? — Ela me olhou novamente — Mas agora eu não consigo ficar um dia sem ter vontade de trepar com você, que inferno!

—Pois é... Que "inferno" — Falei revirando os olhos, em tom de ironia.

—Eu queria você aqui, sabe disso, neh? — Blue falou séria.

—Sei, e eu quero você aqui... — Me levantei e peguei o celular — Olha amor, isso é temporário, logo vamos estar juntas novamente. Sabe, vamos vencer isso.

—Pode ser... Mas... Eu não consigo parar de me sentir culpada por ter que ficar aqui mais um tempo.

Me estiquei e peguei meu blusão, cobrindo meus peitos desnudos. A escutava sentindo dó, não vou mentir.

—Não é sua culpa, você precisa resolver suas coisas, amor.

—Mas precisava ser justo agora? — Blue se sentou na cama e se afastou um pouco, pra que eu a visse. Ôh visão dos anjo! — Podia ter resolvido o problema com as meninas, talvez esperado o ano virar, pra depois pensar em viajar.

—Amor, tá tudo bem... Eu tô aqui pra isso, pra te ajudar.

—Eu sei...mas... — Ela coçou os olhos, queria chorar — É que eu não devia ter deixado você sozinha...Para resolver MEUS problemas.

—Ei, ei!! Ssshh — Estralei os dedos tentando chamar sua atenção — Amor, tá tudo bem. Por favor, fica triste não... A gente não ia tomar champanhe na banheira?...Pra comemorar.

Sorri meigamente, Blue deixou escapar uma lágrima, mas logo em seguida a limpou com as costas da mão, sorrindo de forma meiga.

—Amo você — Blue falou rindo.

Comprei uma champanhe na volta para casa, sabia que havia uma no frigobar do quarto da Blue também. Era para tomarmos em simultâneo, como comemoração por eu ter me entendido com as meninas. 

Mas quando cheguei, liguei para minha namorada via vídeo chamada no WhatsApp, e minha Blue já estava me esperando semi-nua, a champanhe acabou ficando para depois.

Queria muito esquecer aquele dia, e como foi estranho ver o sultão pessoalmente. Nunca me importei tanto com os Eldora, desde que comecei a trabalhar na Diamonds Corp. nem nunca atendi eles, e não me lembrava de ter visto o sultão pessoalmente também. Sempre falávamos com os advogados.

Volta e meia minha tia sempre viajava para encontrá-lo em Dubai, mas nunca vi isso com maus olhos, papai sempre dizia que eles tinham um caso, e como o passar dos anos também comecei a achar isso normal. Tornou-se mais que normal minha tia ir negociar pessoalmente com o sultão, ela sempre voltava com presentes; nunca entendi a necessidade de minha tia fazer isso, já éramos ricos.

Mas hoje, vendo o carinho que minha tia está tratando o Sultão Eldora, eu entendi. Ela o ama, talvez não tanto quanto ele a ama, mas há amor entre os dois e isso é nítido. 

Não acho que Eldora seja meu tio, mas eu lembro dele e minha tia juntos, nós três passeando pelo parque central de Empire City. Então eu me pergunto se ele já não foi da minha família, se... Ele já não foi casado com minha tia, sei lá.

Talvez nunca houve um terceiro irmão, eu não sei, estou realmente confusa. Ver esse homem hoje, mexeu com minha mente e me faz duvidar do que eu sei, e do que eu lembro.

 

E me deixa pior saber que ele está morrendo.

 

Chorei enquanto dirigia de volta pra casa, ficava indo e vindo a Imagem daquele velhinho beijando minha mão e me dando seu cachecol de seda negra com detalhes em ouro. Eu só o vi quando criança, e mesmo assim ele disse que me amava; senti que foram palavras verdadeiras. Ver Eldora, mexeu comigo, até porque, ele parece tão sereno, mesmo sofrendo tanto. 

Por isso comprei o vinho espumante e agora estou tentando esquecer meus problemas, aproveitando minha noite com minha namorada.

Nem champanhe, nem banho, nem nada estava tirando minha mente desse encontro inesperado de hoje. Mas estar com a Blue era bom, ver ela se arrumando pra dormir, com todo aquele ritual que ela tem, também foi muito bom.

Apreciei ela secando o cabelo na toalha, ainda de roupão, depois vi ela passando creme em suas pernas e braços. Acho incrível como ela consegue me segurar a atenção com essas coisas simples do dia a dia. 

Ela colocou o pé sobre a cama, deixando a mostra sua perna e sua coxa grossa, e com calma ela começou a espalhar o creme, acariciando sua pele com carinho pelo caminho. Seu roupão bem amarrado na cintura só a deixava mais sensual ainda, seus seios escapavam do roupão volta e meia e dava para vê-los saltando lindamente também. Visão dos anjos, diga-se de passagem também. Queria ver ela massageando aqueles lindos seios também, mas isso não aconteceu.

Porém, ver Blue vestindo uma camisa social amarela e abotoando ela, botão por botão era tão surreal. Aliás, essa camisa é minha, ela roubou sem eu perceber; mas falando sinceramente, adorei ela ter feito isso. 

Por fim, Blue pegou uma calcinha fio dental azul escuro e a vestiu na minha frente. Ela foi se virando de costas para mim a medida que subia a calcinha, finalizando com ela levantando a camisa um pouco para visualizar melhor sua bunda linda um pouco.

Eu já havia me arrumado pra dormir na hora que ela tava secando o cabelo. Mas ver todo o ritual de minha namorada ao se trocar, me deixou em dúvida se devia ter feito isso tão rapidamente. Sinto que há uma "poça" em minha calcinha, e Blue ainda nem havia terminado de se arrumar.

Ela se deitou, se cobriu naquele cobertor branca e fofinho de sua cama do hotel e então me provocou mais um pouco. Blue deitou-se de lado e então abriu os dois primeiros botões da minha camisa amarela, deixando mais a mostra seus seios pra mim. Estavam empilhados pela posição que Blue estava deitada, o de cima espremia o de baixo; me dava um tesão dos infernos vê-los daquele jeito.

Adormeci com Blue olhando pra mim, eu acho que dormi primeiro. Quando acordei, ela já havia ido trabalhar também, apenas me deliciei com um vídeo dela (focando apenas do pescoço para baixo) onde Blue estava trocando de roupa para ir trabalhar. Ela vestiu uma calça flare preta e uma blusa de manga longa azul, uma bota de salto e um sobretudo marrom. Blue estava linda e muito poderosa naquele look. 

Me arrumei rapidamente, comprei um Starbucks no caminho do trabalho e bebi o mesmo subindo o elevador. O dia parecia que ia ser uma merda, mal cheguei e já havia um casal de clientes me esperando em minha sala.

Então Blue me mandou uma mensagem que salvou meu dia:

 

"Estava pensando em você, espero que tenha um ótimo dia, Yellow".

 

Abri um ligeiro sorriso e então fui atender o casal que me esperava em minha sala.Dos janelados da minha sala, eu via tia Blanca em sua sala do outro lado do corredor, sorrindo amigavelmente para os clientes que ela também conversava. Sinceramente, minha vontade era deixar o casal Niram, da Índia, esperando e ir atrás dela, talvez tentar forçar White a falar. Ela sabia muito bem que eu saí desorientada de sua sala secreta no dia anterior, mas Blanca simplesmente fingiu que nada havia acontecido pelo visto.

Queria ir falar com Blanca, naquele momento mesmo mas eu sabia que cordialmente ela me mandaria embora, que de um modo frio e autoritário ela postaria sua voz e me falaria "conversamos depois, Starlight". Como se fosse minha mãe, e me mandasse.

Então fui para minha mesa, nem perdi tempo tempo tentando, apenas fui direto pra minha mesa, coloquei minha maleta sobre a mesma e quando fui abrir minha maleta, lá de dentro, eu avistei em um dos bolsos laterais um caderno de capa de couro. Era o diário de minha tia, que guardei em minhas coisas e disse a mim mesma que iria devolver à ela. Mas não fiz isso ainda.

Olhei aquele objeto, sem levantar suspeitas que eu estivesse com ele, peguei minha pasta sanfonada e apenas continuei normalmente minha reunião com os Niram.

Mas naquele momme senti tentada a ler aquele diário velho e de folhas amarelados. A voz de Pink falando que eu devia ler, ainda ecoavam na minha cabeça. Sentia que talvez encontrasse respostas naquele lugar. 

Afinal, este diário é de 1986. Creio que meu tio "morreu" entre os anos de 84 e 87. Certamente tem algo sobre ele nesse diário. Bom tratei de esquecer um pouco daquele amontoado de papel costurado em um papelão revestido com couro, e me foquei como pude em meu trabalho. Atendi bem todos que sentavam-se à minha mesa, mas estava com a cabeça em outro lugar e o coração cheio de perguntas. A curiosidade de ler o diário era tentadora, mas também era a única coisa me mantinha meus pensamentos mais ou  menos no lugar.

Enfim chegou a hora do almoço, eu peguei minha marmita rapidamente e fui para um canto onde esperava ter sossego, a antiga sala da Blue. Levei minha maleta comigo, carregava debaixo do braço, por fim tranquei a porta ao adentrar a sala.

Sentei-me no chão e comendo uma maçã, eu enfim comecei a ler o diário. Abrindo na primeira página, no dia 01 de janeiro daquele ano.

 

[][]Quarta-feira.01.01.86.

 

Feliz ano novo, querido diário!

Não, você não me conhece ainda. Mas eu estou aqui para me confessar com você. Eu matei um homem, e já não aguento mais guardar esse segredo. Por isso te comprei, estou tentando tirar isso da cabeça. 

E não tenho coragem de procurar uma psicóloga, certamente ela me julgaria. Então estou aqui, longe de qualquer olhar preconceituoso ou especulação. 

 

EU MATEI ADAM DIAMOND!!

 

Foi muito rápida minha leitura, mas assim que li eu percebi que aquele homem, o sultão não era meu tio... Só que eu lembrava dele, a imagem dele mais novo e com a barba mais escura e menor, é a que eu tenho quando penso em meu tio. Mesmo que turva minhas lembranças, eu lembro dele, a forma como ele me olha e até a forma como ele beija minha testa… É ELE!! Seja quem for ele, Eldora fez parte do meu passado... Mas por que eu lembro dele? Era tão pequena, nunca confiei muito em minhas lembranças, mas dessa vez algo em mim sabe que conhece ele e o Sultão falou comigo como se soubesse muito bem quem eu sou, e até soubesse da minha vida.

Abri minha marmita e comecei a degustar minha refeição de US$40,00 que comprei pelo Ifood. Valeu o investimento, era uma comida árabe que uma vez Blue me fez experimentar junto dela. Adorei e cá estou eu, comendo novamente. Única parte ruim é que agora eu estou morrendo de saudades da minha rainha de cabelos prateados.

Enquanto comia, continuava a ler. Fui avançando os dias naquele diário, tudo meio melancólico e meio depressivo ao meu ver. Minha tia estava realmente triste com a perda do irmão. Fui avançando os dias no diário até o dia 02 de fevereiro de 1986.

 

[][]Quinta-feira.06.02.86.

 

Voltei ao trabalho hoje, pela primeira vez depois do período de 1 ano e 8 meses… Todos me reconheceram… Como já era esperado, todos também me evitaram.

Mereço isso, admito! Principalmente da parte de Pietra.

Nós comunicamos por carta esse tempo todo e por ligações semanais… Mas ela me olha como se fosse uma estranha, acho que ela não sabe mais quem eu sou. O que é uma pena, ela é a melhor amiga que eu tinha.

Ah, e Beyaz… Sinceramente, eu não sei como meu irmão não me deu uma surra quando entrei de salto alto e terninho social na sala de reuniões. 

 

EU MATEI ADAM DIAMOND E SINTO TÃO SOZINHA DESDE ENTÃO

 

Parei de ler no mesmo minuto, não entendia, não fazia sentido. Como assim?! Minha tia matou meu tio e meus pais ainda a acobertam?

 

Não faz sentido, tem algo de errado nessa história.

 

Sei o que havia acabado de ler, a letra era da minha tia, escrito em caneta vermelha, como ela sempre gostou de escrever as coisas, acho que para dar um ar feminilidade, sei lá, a letra dela é linda escrita à caneta fina. Me senti profundamente incomodada.

Por teimosia minha continuei virando as páginas do diário de minha tia, até parar na página do dia 07 de março, onde pelo visto ela teve um surto. Pois havia sangue seco na página, não sei dizer a origem, mas estava manchada de vermelho escarlate.


 

[][]Terça-feira.18.03.86.

 

EU

EU MATEI 

EU MATEI ADAM 

EU MATEI ADAM DIAMOND!!

EU MATEI ADAM DIAMOND!!

EU MATEI ADAM 

EU MATEI 

EU 

 

Havia sido escrito como raiva aquela página, riscos que quase perfuraram a página. Era estranho, Saí novamente tateando as folhas do diário, vi várias páginas muito semelhantes a esta. Umas com caveiras desenhadas, outras rasgadas pela metade. Não sabia o que pensar, só sei que senti mal estar em ler aquilo e acabei perdendo a fome também.

Fechei o diário, deixei a marmita de lado e apenas fiquei lá sentada, esperando minha namorada mandar uma mensagem qualquer para tirar meus pensamentos daquele problema. Mas Blue estava voando hoje novamente, só voltaria para Toronto no dia seguinte, e ela estava bem no meio do caminho; nem sempre tem Wi-fi no jato das Diamonds quando ele está sobre as nuvens, então sabia que ela não estar online por um tempinho seria normal.

Precisava muito de algo, qualquer coisa na verdade, para me distrair um pouco; então, de repente um número estranho, me chamou no WhatsApp. Código de área +971, ou seja, com certeza não era de Empire City, muito menos desse país. 

Já tinha recebido mensagens com código +971, era um número dos Emirados Árabes. Dubai fica justamente nos Emirados, meu coração disparou com aquilo. Pensei logo de cara que poderia ser o Sultão entrando em contato comigo...mas errei.

Ao abrir o chat, vi que tratava-se de uma mensagem do nosso representante local, na nossa filial lá em Dubai. Ele me mandou uma foto da fachada da Diamonds Corp. de lá, estavam tirando a placa da entrada, ele me mostrou também um luminoso enorme, ainda com plástico em volta, guardado em uma enorme caixa de madeira. Parecia ser uma foto tirada de um de nossos depósitos.

O luminoso desligado era a Logo grande da Water Wings. Ah que inferno esse Malachite, essa era a empresa que a Alexandrite trabalhava, agora que estou raciocinando tudo, percebi que é dele a empresa. Me senti traída novamente por essa desgraçada masoquista.

Isso tirou um pouco a minha mente do sultão, e do meu tio, e principalmente dessa história mal contada da White ter matado meu tio... O próprio irmão dela. Aquele dia foi realmente difícil, Blue apareceu um pouco depois do meu almoço terminar. Ficamos conversando o resto da tarde, mas não foi a mesma coisa. Ao mesmo tempo, se não fosse ela ali digitando para mim a todo momento, eu não teria conseguido fazer nada aquele dia.

Provavelmente teria arrumado uma desculpa qualquer pra ir ao centro da cidade, e ficar por lá mesmo, andando sem rumo entres os estabelecimentos comerciais. Sem comprar nada, mas olhando tudo. Até eu cansar, ir á um Starbuck e ficar lá até fecharem, basicamente isso.

Mas permaneci em meu escritório, trabalhando normalmente. Cabeça na lua, mão no celular e olhos atentos na White. 

Nada fazia muito sentido pra mim naquele momento. Voltei pra casa, e ao adentrar na garagem do meu condomínio, vi que em uma de minhas duas vagas havia um enorme Troller preto de vidros fumê. Achei muito estranho, teria que sair para tirar minha a moto do lugar e então ajustar os dois veículos debaixo da mesma marquise.

Não me dei tempo para reclamar, apenas queria entrar mesmo. Mas assim que desci, o motorista do carro que ainda estava dentro do carro na minha vaga apareceu,  era um cara enorme com seus dois metros de altura ou mais, vestindo um terno preto, óculos escuros e cercado de um ar sombrio.

Parei no lugar por um momento, olhei para os lados e apertei a porta do meu carro. O porteiro estava do outro lado do meu prédio, a portaria também, se aquilo terminasse mal, eu tinha que entrar rapidamente em meu carro para me safar.

Mas não era exatamente nada ruim, o motorista veio andando no meu rumo, mas dois ou três passos depois ele parou, e abriu a porta do carinho detrás. E lá do banco de trás eu ouvi uma voz rouca e fraca, mas conhecida dizendo em minha língua (mas bem enrolado):

 

—Yaya, podemos conversar em sós?

 

"Yaya?!" Me perguntei por um momento, mas já sabia quem era. o sultão estava alí dentro do carro. Ele então apareceu na porta:

 

— Dê chaves para meu motorista, ele ajeita moto e carro pra você —Sultão dizia como podia, devagar e calmamente, para não atropelar as pronúncias.

 

Fiquei imóvel por um momento, mas logo em seguida cedi ao pedido do sultão. Entreguei minhas chaves para o armário de portas abertas que Eldora chamou de segurança, mas que certamente era seu segurança também. 

Entrei no carro como o Eldora pediu, sentando me ao seu lado. Olhei ao redor dentro carro, e vi que no banco do carona ao lado do motorista havia outro homem enorme, calado, olhando para frente. Ele também olhava para mim, através do espelho retrovisor central, no meio do carro, bem no rumo do câmbio.

—Yaya, meu querida! —Disse o Sultão beijando o topo da minha cabeça 

Não sabia que árabes faziam isso, achava que islamistas só encostavam em quem tinha seu próprio sangue, ou eram da mesma família que ele. Olhe Eldora um tanto perplexa, então em resposta ao meu aparente estranhamento , o Sultão falou:

—Yaya, eu considerar você e su tia como se fosse de família —O sultão sorriu e depois tossiu.

Era uma tosse seca, quase como de fumante, então rapidamente ele tampou a boca com um lenço, mas pude ver a mini poça de sangue que ele cuspiu nessa tosse, manchando o pano branquinho. Ele falou algo em árabe com o segurança da frente, o mesmo começo a preparar algo para ele. Havia umas folhas de plantas secas no porta luvas, junto com duas garrafas térmicas.

 

—Oh, não se impressione com isso. Estou assim já vai fazer meses — O sultão falou pegando a xícara — Só não ofereço chá, pois esse ser muito amargo, é remédio.

Permaneci calada, estática no lugar.

—Está tudo bem? — O sultão me perguntou estática — Vi que algo mexer com você, ontem. Por isso achar muito justo conversarmos.

Olhei para os os lados umidifiquei os lábios, e então tomei coragem para perguntar. 

—O senhor... — Não sabia muito bem o que falar — Quem é o senhor? Qual seu nome?

—Hum, pode me chamar de Sultão. Meu nome ser difícil para você pronunciar.

Me aproximei dele e então perguntei novamente, olhando em seus olhos.

—Por favor, me diga seu nome... Eu preciso saber quem é o senhor.

—Me chamo Malik Mustafá Youssef  Awla Al Qasimi, Sou Sultão dos Emirados Árabes, mas meu nome para ocidentais é Malachite Primeiro Eldora.

Ele não é Diamond, seu nome nem de longe parece vir de nossas linhas. Não entendi aquilo... Por que ele me conhece, ou pelo menos porque ele diz que sente como se fosse da família dele?

—Está muito confuso, Yaya?! Calma minha criança — O Sultão falou devolvendo a xícara para seu capataz  —Vi seu olhar de perdida ontem. Uma pergunta, lembra de mim?

Engoli o seco nesse momento. Lembrava, mas eu não sabia quem ele era. Então, apenas acenei positivamente com a cabeça.

—Sabia... Yaya, nós sempre saímos quando você ainda era criança, seu tio e eu sempre brincávamos que você era nosso criança.

Tio?! Ah, deve ser a tia Blanca, ele toda hora está confundindo o gênero das palavras mesmo. Na verdade, ele deve não falar meu idioma a anos, então, para ser sincera, está muito do jeito que está.

—Tia Blanca sempre foi como uma mãe para mim, mesmo.

—Sim... Mas era Adam e eu que fingíamos ter uma filhinho.

Quase caí para trás quando ouvi aquilo, logo em seguida cheguei meu dorso para frente, e então com os olhos arregalados eu disse:

—Vo...Você conheceu meu tio?!

—Sim, eu conhecia Adam Diamond.

Eu tive que me recostar no assento, depois passei a mão em meu cabelo.

—Como ele era? — Falei empolgada —Todos sempre quiseram esquecer meu tio, nunca entendi isso. Mas meu pai, minha mãe, minha tia... Até meu irmão... Sempre que eu tocava no assunto do meu tio, eles me censuravam... — Uma lágrima escorreu do meu rosto — Eu já nem lembrava o nome dele, muito menos a aparência dele. Eu vi o senhor e lembrei de você jovem, segurando minha mão. Por um minuto até pensei que o senhor fosse meu tio.

O Sultão Eldora ficou sorrindo meigamente para mim, e depois que eu terminei de falar, ele esperou um momento. Logo em seguida me respondeu:.

—Está vendo esse anel? — Ele levantou a mão, havia um bonito anel de ouro com um diamante cintilante no meio — Foi o anel que seu tio me deu em nosso noivado.

—Espera aí, tio Adam era gay?! — Falei em choque, não esperava isso, afinal, ele é pai do Zaffre — Não que isso seja ruim... Eu mesma tenho namorada... É que eu não esperava.

O Sultão sorriu quase que debochando de mim, mas de uma forma meiga.

—Eu sei, por isso vim te contar.

—Contar o que?! —Indaguei sem entender muito bem.

—Toda a verdade, minha criança.

 

______*______

 

Fomos até um clube fechado, um pouco afastado da cidade, tinha uma construção que lembrava persa. O Sultão me levou até uma sala afastada nos fundo do local e nos sentamos em almofadas ao redor de uma mesinha baixa, especialmente posta com vários pratos árabes para nós comermos.

—Sirva-se Yaya, sei que trabalhou duro hoje… Merece uma boa refeição agora.

Olhei tudo realmente com água na boca, e enquanto pegava um pão sírio com uma pasta ao qual nem sabia de que era, vi o Sultão falar algo em sua língua com uma mulher trajada com um lenço na cabeça, era uma garçonete pelo que entendi. 

—O clube é só nosso hoje, Yaya, se quiser caminhar ou até ir às piscinas, é só falar — O sultão sorriu — Apesar de eu acha que você não é mais minha “menininha”, e que já nem lembra desse lugar.

Olhei ao redor, é verdade, já estive aqui, mas nem lembrava disso. E logo fez sentido, o clube se chamava “Clube Eldora”, justamente em homenagem ao sultão. É dele este lugar.

—Minha tia morria de medo de eu me perder nesse lugar, ela não largava meu braço quando vínhamos aqui.

— Ah você lembra… — O riu — Bom, fazer o que… Mães sempre defendem seus filhotes, e mais mãe que Blanca não existe. Ela cuida de todos, sempre cuidou… Do jeito dela, claro.

—Verdade… — Olhei desconfiada para o sultão — Então quer dizer que você é “AMIGO” da minha tia, e não “AMANTE” ou algo do tipo.

—Sim, não gosto de mulheres, pra falar verdade… E su tia é melhor amiga que eu ter. E olha que, nunca tive amiga mulher, sua tia ser o exceção à regra.

Peguei umas azeitonas pretas, junto à umas tâmaras secas. O Sultão apenas tomava um chá, que a garçonete lhe entregou.

—Estes chás… — Eldora levantou a xícara — É o que está me mantendo vivo, ainda… Mas não vai durar muito tempo. Eu sei que em breve o criador vai me chamar de volta, e eu terei que ir. Por isso vim ver você, su tia e resto de su família — Ele sorriu meigamente para mim — Flor Blanca não aceita morte muito bem, já perdeu muitos que amava. Mas eu, que sou mais velho, também já perdi muito, aceito que a morte é só uma transformação. Tipo borboleta.

Parei de comer por um momento, e olhei em seus olhos, triste eu então disse:

— Sinto muito, pelo que seu filho fez a você.

—Tudo bem, ele ser jovem, ambicioso e não sabe o que fez — O Sultão parecia muito sereno ao falar isso — pai ama filho, mesmo filho matando pai. Dói muito saber que minha única filhinha de sangue fez algo tão grave, matou tanta gente...Mas mesmo assim — Uma lágrima escorreu de seus olhos — Eu amo meu filhinha.

Ele tomou mais um gole de chá, eu tentei puxar papo, não só ficar calada.

—Pensei que tivesse mais filhos, não só o Malachite.

—Tenho… 25 no total, 09 esposas e 34 netinhos — Eldora sorriu — Mas só Malachite é realmente meu filhinha de sangue, só consegui dormir até hoje com mamãe dle. O resto de meus filhinhas, são cria de meu vizir de maior confiança.

Eldora levantou o indicador e então fez “shh”, me pedindo silêncio. Aquilo era um segredo pelo visto.

—Mas esse ser um segredo de família, só te contei pois tu é da família. Ser gay de onde eu venho, é coisa muito ruim. Por isso meu vizir, amigo de longa data, em ajuda a viver nesta mentira e continuar passando a imagem de um Sultão forte, viril e com uma prole saudável de descendentes.

Segundo as notícias, Os dois filhos mais velhos do Sultão havia morrido de formas misteriosas, Malachite na verdade é o terceiro na sucessão ao trono de seu pai, mas com isso ele se tornou o primeiro. Não acredito, ele matou os irmãos, para tomar o trono para si… Mas acho que também já entendi que eles não eram seus irmãos.

—Você disse que ia me contar sobre meu tio… — Resolvi perguntar após um momento de silêncio — Por que vai fazer isso? 

—Blanca sofre com isso, até hoje e… Eu estou morrendo, acho que você deveria saber, pois a única que poderia te contar… — Ele acenou positivamente — Não vai contar. Eu faço isso, pra tirar peso das costas de minha amiga. 

—Nada faz muito sentido — Levantei e fiquei andando meio zonza — Tipo, como era meu tio?! A minha tia “matou” ele? Se ele era gay, por que então ele casou com uma mulher, ele é o pai do meu irmão, sabia disso?

— Bom, sente-se… Vamos com calma.

O Sultão estalou os dedos e logo em seguida chegou uma mulher com uma maleta antiga, ele entregou a maleta para mim, e logo em seguida disse:

—Essas fotos são todas as lembranças que tenho do seu tio. E Blanca não o matou, apesar de toda sua família ter tido peso na decisão dele tirar a própria vida. 

Sentei, coloquei a maleta em meu colo e depois a abri com cuidado. Estava cheia de fotos desbotadas pelo tempo, todas com um homem alto, delicado, vestindo roupas formais, algumas ele estava muito barbudo. Mas a que me chamou mais atenção, foi uma, que minha mãe estava comigo no colo e em pé lá estava ele, tio Adam, com uma barba enorme e um jeito meio afeminado. Eu era apenas uma criança, mal devia saber andar, mas eu estava com os braços esticados, voltados para o enorme homem ao lado da mamãe. Queria “pegar” ou ser pega por ele, tio Adam sorria para foto, mas seus olhos estavam em mim, parecia ter muito carinho por mim.

É real, meu tio existiu de verdade e… Não sei por que, mas eu comecei a chorar, não entendia o motivo. Estava tudo tão confuso, e eu senti como se tivesse perdido algo muito grande, que nem eu sabia que havia perdido.

—Ele é real, meu tio sempre existiu… Mas… Mas.. Porque todos sempre me fizeram acreditar que não?!

O sultão se ajeitou em sua almofada, umidificou os lábios e então me soltou a bomba:

—Acho que você sempre foi a pessoa que Adam mais amou. — Ele apontou para mim e me olhou pensativo — Sabe o que disse sobre seu irmão, ser filha dele?

—Sim, mas ele não é realmente meu irmão — Limpei minhas lágrimas… É que o Zaffre é meu primo, mas na verdade foi criado como se fosse meu irmão e...Eu sempre chamei ele assim. E o amei assim também.

— Bom, mas acontece que Zaffre é seu irmão.

—Eu sei disso, não importa o sangue.

—Importa sim… — Ele ficou me olhando como se esperasse algo de mim.

—O que você espera de mim?! Sabe, eu realmente não estou entendendo aonde quer chegar com essa história.  

O sultão se levantou, e então veio até mim, e ficou mexendo nas fotos dentro da pasta.

—Você é irmão do Zaffre, porque Adam é seu pai.

Ele jogou uma foto sobre a mesa, onde minha mãe muito nova, talvez da época da faculdade, e Pietra Diamond estava beijando um homem loiro, cuja a cara não dava para ver muito bem. Mas certamente aquela foto foi tirada pós sexo, estavam com a pele à mostra e minha mãe estava enrolada até pescoço (com os braços de fora) em algo que parecia ser um cobertor. 

—O que?! — Falei sem entender aquilo.

Olhei ao redor, então me levantei, andei de um lado para o outro. Estava mais perdida ainda, não sei se acredito nessa história mas então o Sultão falou:

—Eu amava Adam, e íamos nos casar… Eu estava disposto largar meu trono, tudo, tudo mesmo só para viver uma paixão com seu pai. Mas, ele era apaixonado por uma mulher e não tinha nada que eu pudesse fazer quanto a isso.

—Isso não faz sentido!! — Me virei para o Sultão — Nada do que está me dizendo, faz sentido.

—Imaginei que dissesse isso, mas é verdade — Ele pegou uma xícara de chá — Yaya, mentiram para você a vida inteira. E sei que isso não importa agora, mas acho que você devia saber, por isso estou te contando.



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