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História Não é o que eu pensava (Bellow) - Melhor nem pensar muito



Capítulo 4 - Melhor nem pensar muito


Dormia tranquilamente, quando de repente escutei “Trim..Trim..Trim...” ao longe, aparentemente era o despertador. Bati a mão no pequeno relógio digital ao meu lado, logo em seguida abri os olhos, a primeira coisa que vi foi que não estava sozinha na cama, havia alguém ao meu lado. Assim que me vi nessa cena logo pensei:

“Merda, transei com a Alexandrite de novo!”

A cabeça da pessoa ao meu lado estava tampada pelo cobertor, puxei receosa o pano ao meu lado e ao ver a cor do cabelo da pessoa já me acalmei um pouco, não era castanho escuro. Nem as mechas em verde e vermelho, que ela tinha.

Mas logo em seguida meu coração disparou em meio a uma sensação de desespero, era platinado, em um tom que eu conhecia bem. Puxei um pouco mais aquela coberta e meu coração pareceu querer parar na hora, o cabelo era cumprido.

—Me deixa dormir, cacete! — Disse Blue puxando a coberta de mim.

Tentei achar algo para me apoiar e acabei caindo da cama naquela hora, não acreditava que havia... Ai, não consigo nem pensar nisso.

—Bu..Bu...Blue, o que faz aqui na minha casa?

—Sua casa? — Blue riu — Estamos na minha casa, Yellow.

—QUE?! — Me sentei de forma que pudesse abraçar meus joelhos — Ah não, isso não pode estar acontecendo. Quanto eu bebi para acabar transando com a... — Fui interrompida de meu pensamento pela senhorita Des Sables.

—Você está de brincadeira comigo dizendo uma coisa dessas, não é? — Disse Blue séria — Não vem com esse papo de “amnésia alcoólica” para cima de mim, sei que isso é só uma desculpa para as pessoas redimirem a “culpa” das coisas.

Ela me encarou e eu a olhei confusa, ela procurava achar alguma coisa em meus traços que eu não fazia ideia do que era.

—Não acredito...Você realmente não se lembra de nada, não é? — Disse Blue se levantando.

Ela vestia um conjunto de moletom na cor azul marinho, daqueles que usamos no frio ou quando o desleixo fala muito alto; o que me deixou mais calma. Olhei para mim e vi que também estava desarrumada, vestia as mesmas roupas que saí para trabalhar no dia anterior. Blue abriu as cortinas iluminando seu enorme quarto.

—O que aconteceu na noite passada? — Perguntei tampando meu rosto daqueles raios mortais que chamo de luz — O que... Eu fiz?

—Me deu muito trabalho — Disse ela com desgosto aparente no olhar — Isso que você fez.

Blue começou a mexer em sua cômoda, não sei o que fazia, também não estava interessada nisso.

—Como assim?! — Perguntei tentando me levantar na cama, mas estava bamba.

—Olha aqui, você apareceu na porta da minha casa quase que uma da madrugada... Ou melhor, você bateu com o carro na fonte d’água na frente da casa, meu querido chafariz de concreto. Depois ficou gritando comigo, dizendo que precisávamos conversar, acordou a vizinhança toda e inclusive minhas filhas... — A interrompi nesse exato momento.

—Tá, pode parar... Já entendi que fiz muita besteira — Dei um tapa na minha cara — Como posso ter sido tão imprudente?

—Olha, quando disse que queria te conhecer melhor... Não era desse jeito, foi humilhante ter que cuidar de você enquanto dava esse PT todo — Blue me jogou um conjunto de roupa — Vai tomar um banho, está fedendo.

Blue parecia realmente irritada, ela abriu uma das três portas em seu quarto e me mostrou o banheiro, ou melhor, me empurrou forçadamente para dentro dele e fechou a porta quase que na minha cara. Não sabia o que fazer ou pensar, estava tudo tão confuso ainda, puxei o folego e tentei fazer algo mais útil que ficar parado naquele estranho enorme banheiro.

Olhei as roupas em minha mão, havia uma camisa social branca, uma calça social preta e vou fingir aquilo era uma calcinha. Ou melhor, vamos dizer que aquilo era calcinha, para não dizer que Blue Diamond acha que uso cueca, porque aquela porcaria parecia mais um shortinho preto. Ah, foda-se a cordialidade, ela me deu uma Cueca Boxer mesmo, por sorte era nova, tinha até etiqueta e tudo mais.

Me olhei no espelho e me assustei, parecia tão acabada. Minha maquiagem estava borrada, cabelo sem gel algum, olheiras aparentes e pelo visto, muitas marcas de batom no colarinho da minha camisa social... Nada disso era nada bom, mas a parte do batom me preocupava mais.

Finalmente tomei coragem e entrei debaixo da água fria do chuveiro, uma dor latente me fez gritar, havia um hematoma enorme em meu abdômen, estava bem roxo. Blue disse que bati o carro, pensei ser fruto disso, mas não parecia ser; com minha vasta experiencia semiprofissional em campeonatos informais de luta entre irmãos, podia dizer até o que havia causado o roxo, era uma joelhada.

Enfim, para evitar paranoias, tentei esquecer esse detalhe e me convencer de que era um machucado da batida, não queria ficar pensando com quem eu posso ter brigado essa noite.

Me sequei, coloquei meu sutiã mesmo, depois receosamente subi a cueca boxer, e tenho que admitir, pareceu me servir perfeitamente, era até confortável. A calça também serviu, mas a camisa social... Hum... Ficou um pouco larga, mas tudo bem, é roupa emprestada, posso nem pensar em reclamar.

Saí do banheiro e tentei achar o corredor daquela casa, mas abri o closet na primeira tentativa. Aliás, para que tanta porta num quarto só?  Havia um pote de gel sobre a cama, creio que fosse um mimo da senhorita “doida por azul”. Arrumei meu cabelo e voltei a procurar uma saída daquele quarto.

Finalmente achei o corredor e vida inteligente de brinde. Lazuli e Perla estavam a espreita do quarto da mãe, queriam falar comigo pelo visto, mas também era evidente que não tiveram coragem de entrarem e me encararem.

—Meninas? — Perguntei tampando o rosto, lá estava mais claro que o quarto — Tudo bem?

—Si...Si..Sim tia —Disse Lápis sem jeito.

—Sim, só estávamos preocupadas com a senhora...Tia —Completou Perla.

—Óh meninas... — Tentei abraçá-las, mas se afastaram — Eu fiz algum mal a vocês, minhas joias?

Elas balançaram a cabeça negativamente, de forma um tanto desesperada, aquilo não era um bom sinal.

—Eu fiz algum mal... Então a mãe de vocês? — Perguntei fingindo o mínimo de consideração por Blue.

—Vocês brigaram e foi feio — Disse Perla escondendo o rosto — Tia, eu fiquei com medo, nunca tinha visto a senhora daquele jeito.

—Eu sei, eu também queria que nunca tivessem visto — Consegui abraçar as duas — Me perdoem, sério, nem sei dizer porque vim parar aqui depois de beber.

Conseguia ver a janela por entre as duas, a luz que vinha dela não me agradava muito.

Aliás, isso é meio inútil, mas vou comentar. Lápis é um pouco mais alta que Perla, ambas têm por volta de 1,73 ~ 1,75 de altura. Sendo que a mais alta das jovens Diamonds é Pink, tenho 1,87 e ela está quase da minha altura. Se bem que Pietra tem de onde puxar, White é mais alta que eu, não sei bem a altura dela, mas é mais que 1,95.

Geralmente eu evito salto, não acho necessário isso dentro de um escritório e minha presença já impõe respeito. Imagine quando White chega então, ela sempre é foco das atenções numa reunião ou congresso, tanto pela postura, quanto pelo tamanho, sem contar que ela sempre ganha (no mínimo) 10 centímetros a mais com aqueles saltos que ela usa. É a rainha das mulheres gigantes, basicamente isso.

—Mas tia... — Disse Lápis — Você não veio até aqui... Mamãe te trouxe.

—O que? — Me levantei — Mas a mãe de vocês me disse que eu “apareci aqui”.

—Não mesmo — Perla abafou a risada — Ela te ligou, você parecia bem alterada no telefone, ela foi te buscar e... Bem... Aconteceu aquilo tudo.

—Ahh... — Falei sem graça — Aliás, cadê a mãe de vocês?

—Lá de fora, olhando o carro da senhora — Disse Perla prontamente.

—Obrigadas, meninas...E só por curiosidade, vocês não têm aula hoje não?

—Hoje é sábado tia, pelo amor das, aula hoje não — Disse Lazuli.

—É, tem razão.

Estava começando a repensar e me sentir culpada por ter feito toda bagunça que Blue disse que eu fiz. Mas continuo tento raiva dessa tonta. Por que não me deixou bêbada, no meu canto? Não teria traumatizado as meninas, não teria...

Ai, será que esse roxo na minha barriga foi algum tipo de briga com a Blue? Senhor Amado, espero não ter feito tal coisa, posso não gostar dela, mas não quero ter esse peso na consciência, de ter espancado a mulher.

Desci as escadas com certa dificuldade, estava meio tonta, minha cabeça doía bastante. Aliás, que hora era para o sol já estar com daquele jeito? Passei a mão em meu bolso da calça procurando meu celular e só então eu fui perceber que não fazia ideia de onde ele estava, inclusive não vi se estava no quarto.

Pelo pouco que me lembrava da casa das minhas sobrinhas tive dificuldades em achar a saída; não era como a casa da minha tia, que eu sabia dizer até se havia algo fora do lugar. Acho que entrei poucas vezes na casa da Blue desde que ela e as meninas haviam se mudado, geralmente só pegava ou deixava as minhas sobrinhas na porta.

Ao sair vi que Blue não estava dizendo só mentiras, meu querido Audi A8 estava sobre o chafariz bem no meio do jardim dela. O danado do meu carro pode até ser blindado...Mas acho que a parte de baixo dele não era, doeu ver meu carro daquele jeito, não pelo o que o meu bolso iria sentir no conserto, mas porque eu tinha comprado aquele carro não fazia nem dois meses.

Blue estava dentro do meu carro, sentada no banco do motorista...Falando ao MEU celular.

—Isso mesmo Perl, pede para ele me ver às dez da manhã... Uhum... Isso mesmo — Dizia ela ao MEU telefone — Olha, diga que ela teve um imprevisto com o carro dela e que não é certeza que chegará a tempo.

—Que bonito... — Falei subindo os escombros do adorno de mármore — Além de falar ao meu telefone, rouba meu cliente das dez horas — Arfei em desgosto— E ainda por cima insiste em dar ordens na MINHA Pearl?

Agora que fui pensar, sei nem que hora é agora.

—Cala a boca Yellow, tô tentando salvar sua pele — Falou ela, continuando a mexer no meu celular — Pelo visto está boa novamente, já voltou a ser grossa como sempre.

— Olha, eu realmente não gosto de tirar conclusões precipitadas, então eu vou te perguntar... O que aconteceu noite passada? Eu não lembro de nada, e não é brincadeira isso.

—Não quero falar disso agora — Disse Blue ligando meu carro — Agora sai da frente que essa coisa não pode ficar aqui para sempre.

Blue arrancou com o carro de ré, pisou fundo e com muito custo conseguiu descer meu carro dos blocos de concreto da fonte d’água. Mas ao fazer isso, o para-choque do meu bebê acabou caindo. Ao ouvir aquele som estridente, de metal tilintado, meus olhos se reviraram de raiva.

—Ops... — Disse Blue ao olhar o que tinha feito — Foi mal aí.

—Táh.... Na... Nada que um mecâ...Mecânico não possa resolver — Disse eu tentando engolir a raiva — Mas sério Blue, me diz o que aconteceu, sei que você sabe.

—Então... Do mesmo jeito que está tentando não brigar comigo por conta do carro, eu tô tentando digerir tudo que você me fez passar essa noite — Ela me olhou de uma forma firme, deu até um nó na boca do estômago, nunca vi ela falando daquele jeito — Mais tarde, se eu já tiver conseguido assimilar tudo...Eu te chamo para uma conversa, pode ser?

—Não me culpe tanto, as meninas me contaram que você me trouxe para sua casa — Disse olhando séria — Por que fez isso?... Eu vou custar a me perdoar por ter traumatizado elas.

—Traumatizar elas? — Disse Blue nervosa — Você deu em cima de mim enquanto estava bêbada, e eu não tô reclamando disso.

Arregalei os olhos, estava realmente assustada... Nunca pensei que faria isso... Tipo, nunca e em nenhuma realidade possível. Mas pera aí um pouquinho, que algo tá errado. Se eu dei em cima dela, então por que estava dormindo na cama dela? COM ELA NA MESMA CAMA!!

—Blue, eu não sei nem o que dizer — Virei de costas — Acho que tá certa, quando digerir o que aconteceu eu volto a perguntar.

—O que?! Então é assim que você fez com a Alexandrite? — Disse Blue com um tom irritante de deboche — Deu em cima, iludiu e depois foi embora?

—Como você sabe da Ang... — Ela me interrompeu.

—Tu me ligou chorando por volta da meia noite falando coisas sem sentido, todas sobre uma tal de Alexandrite. Eu fiquei preocupada, perguntei onde estava e fui te buscar, mas você só soube brigar comigo por ter feito isso e... Ah, eu tô nervosa demais para conversar sobre isso.

—Na verdade já disse mais que o suficiente... — Disse meio catatônica — Blue, eu não vou te pedir perdão pelo que eu fiz, porque palavra alguma vai mudar o passado. Mas posso te recompensar de alguma forma? É só me dizer o que quer, que eu faço.

—Pague pela minha fonte d’água, já está passando de bom. E fique com as meninas hoje, não tenho com quem deixar e vou ter que levar para o escritório.

—Mas eu tenho que trabalhar, não posso ficar... — Ela me interrompeu novamente, odeio quando fazem isso.

Ela me puxou pela gola da camisa e me olhou no fundo dos olhos, podia ver que estava espumando de raiva, nunca havia a visto assim. E tenho que admitir, parte de mim queria muito rir da cara dela. Tipo, essa parte de mim estava pensando: “Quem ela pensa que é? Acha que mete medo em mim? Não me conhece, tadinha. Eu meto medo até em quem é mais assustador e sério que eu”.

Por sorte e uma questão de postura não ri dela, sabia que só iria piorar as coisas.

—Olha, eu podia ter contado isso para a White e ocasionar um problema maior para você, não fiz isso. Podia deixar você ir trabalhar com essa cara de ressaca e deixar você se ferrar por conta própria, tô pegando suas reuniões e te poupando da vergonha. Então... SÓ FAZ O QUE EU TE PEDI... POOR FAAVOOR!!

—Táh... — Disse mostrando minha indiferença

—É, pelo visto “Táh” é sua resposta para tudo — Gritou Blue.

—Que seja — Lembrei nesse momento que estava usando uma cueca — Aliás, por que meu deu essa cueca?

—Hã?! O que — Disse ela, sem entender direito, acho que a desarmei — Era a única peça de roupa intima que tinha sem ser usada... — Ela abaixou o olhar — Era do Zaffre... Tadinho, ele estava tão magro antes de... Antes de...

Vi que Blue queria chorar, COMO SEMPRE FAZIA, e como de costume, eu achava isso irritante. E apesar de estar incomodada por usar uma cueca, que além de tudo era uma roupa não usada de um morto eu me contive. Era mais importante não deixar ela chorar, me pouparia certa dor de cabeça.

—Aff, sem choro mulher, tava tão séria até agora pouco e agora vai demorar como faz todo dia?

—Vou responder como você me responde sempre — Ela secou uma lágrima que já estava começando a descer e disse novamente séria — Não é da sua conta se eu... — A interrompi.

—Táh, já entendi... Se recompôs rápido por conta da raiva — Voltei meu olhar para o carro — Parabéns... Para minha capacidade de te irritar.

Ela ficou alguns minutos me encarando, eu fingi não ligar para sua presença.

—Ela foi legal comigo? — Disse Blue em tom baixo.

Voltei minha atenção rapidamente, mas antes que pudesse simplesmente a questionar, Blue entrou para dentro do hall de entrada. Eu fiquei olhando os estragos em meu carro, não foram muitos, mas custei a arrumar o para-choque. Depois de uns 20 minutos ou mais que eu finalmente consegui recolocar provisoriamente meu para-choque no lugar, ainda sim era suspeito andar com ele, tive que amarrá-lo com uma corda maltrapilha. Assim que acabei de fazer isso vi Blue e as meninas saindo de casa, Perla trancava a porta enquanto Lápis me entregava um sanduíche de mortadela e pão integral.

—Você não acha que vai levar minhas filhas nessa carroça, não é? — Disse Blue balançando as chaves do carro para mim — Vamos, eu te levo até o serviço. Lá você surrupia uma chave qualquer e sai com as meninas.

—Mas e meu carro? — Perguntei olhando com certo repúdio — Vou deixá-lo aqui?

—Yellow, você está na minha casa, dentro do condomínio mais bem protegido de toda Empire City. Tá com medo à toa.

—PARA DE ME CHAMAR DE YELLOW, CARA.... — Lembrei que minhas sobrinhas estão por perto e não quero xingar perto delas — ...CA... CAraaa.. Caracoles?!

Vi as duas jovens Diamonds rirem de forma contida, elas sabiam muito bem o que eu queria dizer.

Resisti por um momento em entrar no carro da senhorita Des Sables, vulgo Blue Pistola Platinada, mas ela falou firme e eu tive que entrar. Aliás, não sabia que ela conseguia ser assim, acho que talvez ela seja realmente uma Diamond, mesmo não tendo o sangue de uma.

—Qual o problema em te chamar de yellow? — Disse Blue mexendo na bolsa — Amarelo não é sua cor favorita?

—Sim, mas eu não gosto.

—Não te entendo Yana Diamond — Disse Blue arrancando com o carro.

—A reciproca e verdadeira... Senhorita Des Sables — Falei me segurando.

Chegamos ao meu escritório por volta das nove horas e meia, Lazuli veio comigo enquanto Perla seguiu sua mãe até sua sala. Aliás, Perla insiste em seguir a mãe a qualquer lugar que ela vai, parece até um assistente pessoal dela, também acho que Blue abusa da menina, já vi ela pedindo várias vezes para Perla atender telefonemas e pegar coisas em seu escritório.

A porta da minha sala estava aberta, pude ver Pietra do lado de dentro. Só agora que fui me lembrar:

“MARQUEI DE LEVÁ-LA PARA PINTAR O CABELO HOJE”

Ela estava sentada em meu divã com os pés no estofado de couro (tudo bem, não deixo a raiva me abater por coisas tão minúsculas e insignif....Uhhh...Tá, passou a raiva). Enfim, voltando o assunto, Pietra parecia ler um pesado livro que rapidamente identifiquei ser o livro de Código de Conduta e Ética da Diamonds Corp.

Minha afilhada me viu e rapidamente veio até mim, me abraçou encostando a cabeça em minha barriga e depois falou de forma chorosa:

—Graças aos deuses, céus, mares e qualquer coisa... Você chegou, madrinha — Ela me apertou mais — Mamãe me obrigou a ler aquele livro chato enquanto você não chegava... Eu pensei que fosse pirar de vez.

—Só por que tava lendo o CCE da empresa? — Perguntou Lápis rindo.

—Siiiiiiiimmm — Respondeu Pietra de forma manhosa.

—Como sabe do CCE da empresa, Lápis? — Perguntei tentando me livrar dos braços de Pietra, mas estava difícil — Aliás, SAI DAÍ PIETRA! Levanta logo!

Adoro esse modo espontâneo e meio bobo da minha afilhada, mesmo que não demostre isso. Pietra assustou-se com meu tom firme e compenetrado, levantou-se rapidamente e de forma ereta fez continência com a mão. Lápis riu mais uma vez e logo em seguida respondeu minha pergunta.

—Papai sempre tinha um no escritório dele, lia de vez em quando.... — Ela olhou para baixo — Achava que ele iria gostar mais de mim se eu gostasse mais das mesmas coisas que ele.

—Ahh.. Fica assim não, prima — Disse Pietra abrindo os braços — Quer um abraço?

—Ah não... — Ela continuou cabisbaixa — Estou bem.

—Ham... Abraços não melhoram esse tipo de dor Pietra, infelizmente — Disse fingindo minha indiferença rotineira — O tempo, é o único que pode tentar fazer isso melhorar, e ainda assim não é garantido.

—Ahhh — Disse Pietra meio sem saber o que dizer.

Entrei em minha sala, aquela conversa não estava me acrescentando em nada. Lazuli imediatamente sentou-se em meu divã e ficou mexendo no celular dela. Pietra por outro lado sentou-se na cadeira de frente para minha. Tinha que fazer pelo menos três relatórios rápidos antes de levar as adolescentes ao shopping, então seria apenas questão de alguns minutos na frente do meu computador antes de sair novamente.

“SERIA” ... Seria é a palavra exata para o que está acontecendo agora, aquela simples tarefa iria durar poucos minutos se Pietra não ficasse me perguntando a cada segundo uma coisa diferente, que eu se quer sabia responder, pedindo minha atenção quase completa para ela.

—Pietra, vai sentar com sua prima — Disse digitando furiosamente e fingindo estar calma.

—Mas tá legal aqui — Disse ela debruçando sobre minha mesa.

—Isso foi uma ordem — Falei firme, mas calma — Agora.

—Hihihi...Vem jogar comigo Pink, duvido você bater meu recorde — Disse Lápis rindo e balançando seu celular.

—Ah, Seja lá o que você está jogando... Vai ser bem fácil te vencer...

Fiz sinal de obrigada com as mãos, Lazuli me deu um sorrisinho de lado em resposta.

Finalmente, depois que Pietra saiu de perto, pude terminar de escrever o segundo relatório. Usei meu telefone sobre a mesa para falar com Pearl, mas não ouvi sua imediata resposta como sempre escuto. Olhei para fora e vi que ela não estava lá, achei estranho, mas permaneci em meu lugar digitando, provavelmente ela só tinha ido ao banheiro.

Minutos depois olho para fora e vejo Pearl, ela estava em seu lugar, e Perla, minha sobrinha estava sentada sobre sua mesa com as pernas cruzadas. Elas conversavam freneticamente, Perla usava até uma tiara, o que tirava seu cabelo da frente dos olhos, o que evidenciava sua felicidade de conversar com Pearl. Meus olhos se reviram na hora, lembrei do papo que tivemos no carro dias atrás, sobre “Pearl ser o contatinho de Perla”.

—Meninas.... — Ambas no divã olharam — Se não for incomodo eu vou pedir que se retirem da sala... E quando fizerem isso... Peçam para a Pearl me trazer um copo d’água com açúcar para mim, avisem que também quero conversar com ela... a sós.

—Ué, por que não faz a senhora mes.. — Pietra falava, mas foi repreendida pela prima.

—Sim senhora, tia — Disse Lazuli.

Pietra e Lápis olharam para a parede espelhada e também viram a mesma cena que eu, ambas se entreolharam preocupadas e saíram sem mais palavras. Pearl entrou logo depois que elas saíram, trazendo o que eu pedi, ainda sorrindo de forma boba.

—Pearl, sente-se — Disse eu arredando a cadeira para ela — Precisamos ter uma conversa séria.

—Sim... My... Diamond.

Dei a volta a mesa e me sentei de frente para ela, Pearl parecia suar fria, enquanto isso mantinha um sorriso falso em seu rosto.

—O que quer conversar comigo? — Disse Pearl engolindo o seco.

Bebi um gole da água com açúcar, passei as mãos em meus cabelos, fechei meus olhos e puxei o ar de forma grosseira. Quando abri os olhos disse de forma séria:

—Pearl, eu estive te olhando esse tempo todo pelo vidro da minha sala... E esses dias tenho me deparado com um trabalho excepcional de sua parte, li seu pedido de aumento. Avaliei e... Concordo.

— O que?! — Perguntou Pearl atônita.

—Sim, tem trabalhado mais que o comum. Está a bastante tempo sem receber aumento, acho justo.

O que foi?? Pensavam realmente que eu era tão antiprofissional desse jeito? Se pensaram, saibam que não sou, eu só pareço, mas não sou nenhum monstro. Quer dizer, não estava nos meus planos dar um aumento para Pearl nesse mês, mas ela fez por merecer esses dias. Foi a forma que encontrei de sair daquela situação sem brigar com ela, Pearl é muito profissional para paquerar no ambiente de trabalho provavelmente aqueles sorrisinhos que vi, foram de uma verdadeira amiga mesmo.

Adolescentes tem muitas “Paixonites”, eu inclusive vivia me apaixonando pelos professores e professoras no ensino médio. Paixões platônicas e nunca correspondidas, então não posso culpá-la, Perla não tem culpa de sentir isso, e provavelmente Pearl nem sabe dos sentimentos da minha sobrinha.

—Obrigada, my Diamond — Disse Pearl com um sorriso de fora a fora.

—Só tem um problema, temos que negociar esses $1,60 a hora...

—Tudo bem, eu aceito $1,50 se a senhora achar caro demais.

—Caro demais? Estava pensando em propor $2,50 a hora para você.

—Sério?! — Disse minha secretária, entusiasmada — Espera... Deixa-me fazer as contas... 400 dólares a mais iriam me ajudar muito, my Diamond.

—Está feito o negócio então? — Perguntei estendendo minha mão para ela.

—Sim, my Diamond!

—Ótimo, pode se retirar então Pearl — Me levantei e andei até a porta — Isso é tudo por hoje, tire o resto do dia de folga.

As três jovens Diamonds tentavam escutar minha conversa encostadas na parede de vidro ao lado da porta, tentaram disfarçar ao me ver a porta abrindo, saíram correndo, mas elas esqueceram que eu as vejo dentro da sala.

Pearl passou por mim, sorridente, quase saltitando.

Lapis me olhou perplexa, vi que Perla chorava por debaixo da franja, que ela havia deixado cair no lugar. E Pietra estava perdida, não sabia nem para onde olhar. Peguei minha bolsa, desliguei meu computador e quando uma delas estava para me fazer uma pergunta eu perguntei primeiro:

—Então, alguém aí quer escolher um carro para irmos ao shopping?

 



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