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História Não há problema - Lá no fundo


Escrita por: Meliorismo

Notas do Autor


Em primeiro preciso agradecer e admirar a coragem que a noire teve em postar algo parecido. Coragem essa que me tomou.
Em segundo, me desculpem.

Capítulo 1 - Lá no fundo


Há dois dias não levanto. Ninguém sabe. Não contei por opção, só não quero incomodar. A questão é que não consigo.

Também não sei quando isso começou. Na verdade eu sei, mas finjo que não. Prefiro que não. Naquele parapeito de dois andares em dois mil e dez que eu sentei mil vezes, duas mil, três mil. Eu só queria escorregar mais um pouco. E mais um pouco.

Lembro que minha mãe dizia que aquela era a melhor decisão, mas eu sentia tanta falta de casa. Ela odiava nossa casa e eu passei a odiar também. Quando me perguntavam de onde eu vinha eu nunca dizia. Eu odiava o que aquele lugar tinha me tornado.


Eu nunca mais fui eu.



Tentei me dar uma chance de amar alguém depois daquele dia. Do dia em que me trancaram no banheiro e brincaram comigo e fizeram mil coisas eu só tinha onzeanosporqueelefezissocomigoefezdenvoedenovoedenovoedenovoeden-

Eu fracassei de novo. Não era boa o suficiente ele disse. Me lembro bem. Lembro exatamente. Eu não era bonita, não era inteligente pra ele. Não era nada pra ele. Anos depois eu recebi as desculpas mas ele nunca saiu das minhas costas desde quando isso aconteceu. Ele ainda diz pendurado nas minhas costas quando eu me olho no espelho que eu não sou bonita. Que eu nunca vou ser.



Recebi permissão para voltar pra casa.



Foi meu presente de quinze anos. Minha primeira viagem sozinha. Achei que eu ia ficar sozinha nos assentos. Achei que ia.


Aconteceu de novo.



Eunãotivecoragemdesairdolugareutomeitantosbanhosmasnuncasainuncasainuncasainuncasainu-




Quando ela soube, disse escondido que eu tinha dito um monte de merda a ela. Eu vi. Eu não consegui perdoar essa parte.

Quando contei para a minha mãe, ela me abraçou e não fez nada.

Por que Deus não me protegeu?

E ela nunca me respondeu nada.


Quando eu contei pra ele, que esse era o motivo pelo qual eu odiava abraços, ele foi embora. E ninguém mais quis me abraçar desde então.



Tem horas que eu ainda preciso de um abraço.



Me lembro muito bem da última vez que ele foi onde eu morava. O primeiro homem. E ele conversou e sorriu e seguiu como se tudo estivesse bem como se tudo…

Quando ele foi embora, meu ar também foi. Não consegui mais respirar. Caí no chão e o ar não voltava. Ele não voltava. Foi a primeira vez.

Houveram várias vezes. Inúmeras.



Acho que vou me consultar, eu disse.

Não precisa, ela disse. Eu não quero que tu fique agindo feito louca que nem a tua prima.

Eu te arrumei um psicólogo, a diretora do colégio disse.

Seria uma boa você frequentar uma igreja, a médica disse enquanto eu sentia os cortes por debaixo da minha calça se remexendo e afirmando que eu era um fracasso. Que não ia dar certo.


Que não deu certo.



Eu não podia falar com ninguém. Então eu resolvi escrever.

Saiu cidade dos anjos. Muita gente leu, mas ninguém entendeu. Não queria que entendessem. O final foi feliz mas o meu final não estava sendo. Não está sendo. Não será. Dei um fim em tudo quando entenderam. Eu estava exposta. Fora descoberta. Precisei fugir.



Precisei sumir.




Hoje é mais fácil lidar com esse peito que abri. Há coisas que você não deve dizer nem para um buraco sulcado em uma árvore perdida numa montanha longínqua, lembra? Você vai conseguir lidar com tudo, você vai.



Não alimente seus demônios, reprima-os.




Você vai conseguir lidar.


Notas Finais




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