1. Spirit Fanfics >
  2. Não ouse me esquecer >
  3. Era alto demais

História Não ouse me esquecer - Era alto demais


Escrita por: dudacartman

Capítulo 26 - Era alto demais


Ícaro

As luzes do corredor se acenderam e vi Theo caminhando na minha direção enquanto eu tentava sem sucesso limpar as minhas lágrimas.

— Está tudo bem? — perguntou, com a testa vincada de preocupação.

— É claro — choraminguei, tentando respirar fundo.

Theo chegou mais perto de mim e me envolveu num inesperado abraço. Olhei para ele, meio confuso, mas ele simplesmente sorriu. Era um pouco mais baixo do que eu, então tive que abaixar a minha cabeça para que o nosso abraço se encaixasse perfeitamente. Eu mal o conhecia, mas me sentia confortável em seus braços.

— Sinto muito — sussurrou, enquanto me permitia sentir o cheiro estranho dele de canela com mel... Uma mistura estranha, mas que parecia combinar com ele.

E eu me achando o homem mais cheiroso do mundo!

— Não sinta — sussurrei. — Não é a sua culpa.

Nunca entendi por que as pessoas falavam que sentiam muito quando elas não podiam ter feito nada para impedir tal coisa. Por isso eu nunca falava nada do tipo.

— Tenho certeza de que você vai encontrar o Leo — Ele sorriu enquanto seus olhos verdes brilharam para mim como os de um gato.

Quando disse isso, me senti ainda pior, como se meu peito estivesse se rasgando de dentro para fora. Já era difícil perder uma pessoa amada, mas duas? É demais para qualquer coração, não importava o quão forte fosse.

— Ei — Limpou minhas lágrimas, era tão gentil que não parecia filho daquele monstro, provavelmente não foi influenciado pelo Christian, o que já era algo muito positivo. — Eu disse algo errado?

— Falei com Christian — cada palavra doía como um soco no estômago. Queria parar de chorar, mas não conseguia. Parecia que eu estava sempre chorando como a porra de uma mariquinha!

Mordi o lábio inferior, tentando encontrar maneiras de falar o que eu queria sem usar de fato as tais palavras, mas não tinha jeito...

— É verdade — Engoli o bolo em minha garganta. — Tudo o que você disse, deu para ver nos olhos dele.

Theo pareceu tão decepcionado que só piorou o meu estado de espírito. Deve ser doloroso amar alguém tão decepcionante.

— Ele disse que... — Vamos, Ícaro, deixa de ser idiota e fala logo! — Ele disse que o Leo está morto.

Theo piscou como se não tivesse ouvido direito e ficou boquiaberto assim como eu quando ouvi aquelas palavras cortantes.

— Não — Theo meneou a cabeça. — Christian estava brincando, ele é meio mórbido quando fica zangado.

— Ele não parecia estar brincando.

— Droga, vem cá. — Abraçou-me de novo, ainda mais forte do que antes. Não tinha medo do seu abraço porque Theo era cuidadoso e parecia tão indefeso quanto eu. Ele era um tanto magrelo, totalmente diferente do brutamonte que era o seu pai.

— Como você pode ser filho de uma pessoa tão babaca? — perguntei, sem querer ofendê-lo, mas ofendendo do mesmo jeito.

— Ele não é babaca de propósito — Apoiou o queixo em meu ombro. — Você só acha isso porque não o conhece direito.

— E nem quero conhecer — funguei — Ele me dá arrepios.

Ele soltou uma risada fraca.

— Christian é um amor de pessoa se souber tocar seu coração. — Afastou-se de mim com um sorriso.

— E você já conseguiu tocá-lo? — perguntei, curioso.

Pensou por um momento e balançou a cabeça negativamente, seguido por um suspiro pesado.

— Não, mas pretendo. Quero que ele mude a forma de pensar.

— Então somos dois — murmurei. — Já notou a forma como ele olha para você?

Theo corou com a observação e desviou os olhos dos meus.

— Ele é meio estranho às vezes, me olha assim porque somos muito próximos, sou filho dele, não é? — Soltou uma risada nervosa.

Dei um sorriso em resposta, abandonando o assunto. Já tinha problemas demais na minha vida para acabar me intrometendo na relação estranha do Theo e do Christian. Se eles queriam se pegar mesmo sendo pai e filho e mesmo me dando ânsia de vômito, quem era eu para impedir? Christian parecia ser enrustido mesmo.

Só um gay enrustido para ser tão homofóbico, preconceituoso, ranzinza e babaca. Enrustidos são uma das piores espécies!

— Darling, eu... — Fomos surpreendidos pela voz de Christian, que ecoou o no corredor onde ainda estávamos abraçados.

 Afastamos-nos de súbito, enquanto tentávamos lidar com o olhar pesado de Christian sobre nós.

— Achei que já tivesse dado o fora daqui — disse, com a voz carregada de desprezo.

— Já estava de saída — Não olhei para ele quando falei, continuei olhando para Theo com uma ideia estranha formando na mente.

— Então se apresse, não vamos descer no mesmo elevador ao mesmo tempo nem se a minha vida dependesse disso.

Revirei os olhos para o ser insuportável que nos fitava e agarrei Theo da forma que faria com um ficante e dei um dos beijos mais épicos da minha vida nos lábios daquele garoto baixinho de cabelos cacheados.

Me perdoa, Paula, mas esse cara tava mesmo me irritando!

Queria ver se ele ia buscar um tratamento urgente para o seu filho amado agora que lhe passei uma doença contagiosa recheada de glitter.

Assim que me afastei de Theo, dei uma piscadinha para ele e com um sorriso no rosto muito satisfeito e me virei a tempo de ver a cara de choque que Christian exibia.

— Te ligo depois, darling — Usei o apelidinho pelo qual Christian o chamava apenas para irritá-lo ainda mais. — Ouvi falar de uma boate gay que abriu aqui perto — informei, enquanto via o rosto de Theo mudar para todas as cores do arco-íris.

Christian pareceu ainda mais puto, bufando de ódio e meu sorriso só se alargou enquanto eu entrava no elevador.

Me senti meio mal pelo Theo, ele era bonzinho demais, não devia ter metido-o em problemas com o seu pai, mas não consegui me segurar, não com aquele idiota usando aqueles argumentos rasos e sem fundamento.

Ninguém passava por cima de Ícaro Tramontini.

As pessoas chamam isso de vingança.

Eu chamo isso de jeito Tramontini de ser.

   Leo

Daiane e eu passávamos praticamente o tempo inteiro juntos, mesmo eu já estando quase recuperado.

Nós nos divertíamos assistindo alguns besteiróis e milhares de animes que nos fascinavam. Dividíamos nossas séries favoritas em semanas. Em uma semana nos dedicávamos a assistir uma temporada de uma série que eu gostava e na outra uma de sua preferência.

Era muito divertido!

Após uma conversa onde pudemos nos conhecer ainda mais, ela conseguiu me arrastar até um parque de diversões na promessa de que me faria realizar o meu sonho de andar numa roda gigante.

Meu pai ficou muito satisfeito com a nossa aproximação e até me deixou sair mais vezes com ela, o que me deixava muito feliz, já que cada dia que passava, gostava mais dela.

— Tenho certeza de que você vai adorar — declarou, com um sorriso confiante. — Ver tudo lá de cima é incrível.

— Tenho medo de altura, Ane — murmurei com insegurança usando o apelidinho que dei a ela como uma forma de fazê-la mudar de ideia, embora eu quisesse muito andar na roda gigante.

 Pegou a minha mão suada e me fitou de forma encorajadora. Estávamos no meio do parque de diversões da Ilha dos Anjos, crianças pulavam animadas a nossa volta, brinquedos coloridos giravam fazendo seus olhares brilharem.

— Tá bom — cedi, apertando sua mão um pouquinho mais forte.

Ficamos um tempo na fila, o sangue sumindo da minha corrente sanguínea. Podia sentir a minha pele empalidecer gradativamente conforme a fila diminuía. Daiane, como a menina incrível que era, não saiu do meu lado e não parou de dizer coisas que fariam me sentir melhor.

Ao contrário de outras meninas, que provavelmente ririam de mim ao ver o meu medo excessivo de altura, Daiane parecia entender perfeitamente, e não me julgou nenhuma vez.

Quando chegou a nossa vez, tive que ser arrastado de novo, já que eu mal conseguia sair do lugar sozinho. Sentei-me naquela coisa que ficava balançando e que começava a me deixar enjoado e tentei respirar fundo, mas até isso era difícil.

— Calma, querido — O modo como ela falava me deixava totalmente derretido. Era um tom maternal que me trazia segurança.

Agarrei-me a ela assim que a roda gigante começou a se mover. Já estávamos presos nela, mas ainda assim, eu tinha medo de cair. Tudo estava ficando muito menor e quanto mais subíamos, mais apavorado eu ficava.

— Está tudo bem — Afagou meu rosto horrorizado. — Você não vai cair, está seguro.

Assenti, fechando os olhos por alguns segundos antes de tomar coragem para olhar para ela.

— Deve me achar um idiota — Soltei uma risada nervosa. — Um marmanjo desses com medo de altura. — Olhei para baixo pelo canto do olho, só para ficar ainda mais assustado.

Era alto demais...

— É claro que não, Leo — Ela riu e me abraçou, como fazia quando estávamos sozinhos e entrelaçou os dedos em meu cabelo. — O importante é que você está superando esse seu medo. Isso faz de você uma das pessoas mais corajosas que já conheci.

Não pude deixar de sorrir. Ela era mesmo encantadora...

Segurei seu rosto com a maior delicadeza de pude, analisando minuciosamente cada parte dele e finalmente consegui encontrar forças o bastante para conseguir voltar a respirar como antes.

Daiane se adiantou e segurou meu rosto da mesma forma, mas com uma intenção completamente diferente da minha. Não tínhamos os mesmos objetivos.

Ela colou sua testa na minha e já pude prever o desenrolar daquela cena com certo pesar. Não que eu não quisesse beijá-la, mas estava tão confuso com a bagunça que a minha vida se tornou que não queria de forma alguma magoá-la.

Mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa para impedir esse acontecimento, seus lábios já estavam presos aos meus.

Era como se ela tivesse adivinhado que o meu maior sonho era beijar alguém no topo de uma roda gigante. Ela sabia sobre a roda, mas não sobre o beijo. Saber disso só me fez gostar dela ainda mais, e por mais estranho que parecesse, não queria parar de beijá-la.

Incrível como às vezes tudo o que parecia tão errado no início de repente se tornou tão certo.

Eu não amava Daiane e nem estava apaixonado por ela, mas estava disposto a tentar, a fazer o que temos se tornar algo mais. Ela era adorável, me entendia, tinha os mesmos gostos que os meus, nos completávamos de certa forma.

— Acho que estou me apaixonando por você, Leo — confessou, quando se afastou de mim e abaixou a cabeça envergonhada, evitando o meu olhar.

Abracei-a, fazendo com que apoiasse a sua cabeça em meu ombro, e soltei um longo suspiro. Não queria mentir para ela, mas se eu não dissesse nada, sem dúvida ficaria magoada. Mentindo ou não, estaria magoando-a da mesma forma e já que eu estava disposto a me apaixonar por ela, não tinha nada de errado em antecipar esse fato previsível.

— Também estou me apaixonando por você, Ane — Mordi o lábio e ela me deu mais um beijo.

Achei que eu sentiria alguma coisa diferente quando nos beijássemos, como sangue pulsar mais rápido, coração pular do peito, nervosismo incontrolável...

Eu estava assim, mas era mais pelo meu medo de altura do que pelo beijo em si. Seu beijo não me provocava qualquer reação profunda, mas não deixava de ser bom. Só porque não era capaz de tocar a minha alma, de balançar todo o meu ser não significava que era ruim.

Não tinha beijado tantas pessoas na minha vida, então não tinha muito com o que comparar. Todos os meus beijos foram comuns, sem nada de especial, mas isso jamais desmereceu nenhum deles, o que me fazia duvidar seriamente de todas aquelas sensações que líamos em livros de romances onde o casal principal se beijava de forma apaixonante, um beijo carregado de significado, de sentimentos que ardiam à flor da pele, que mexiam com o psicológico das mocinhas apaixonadas, que faziam o mocinho se derreter...

Para mim, um beijo era apenas um beijo. Nada mais, nada menos. Não ia além disso, não importava quais fossem as minhas expectativas.

Daiane não fazia meu coração disparar loucamente, nem fazia meu corpo ter reações estranhas.

Ela era uma garota linda, especial que me fazia feliz e eu estava disposto a ter um relacionamento real com ela, onde teríamos uma vida juntos. A minha vida se fundiria a dela.

Pensar nisso me fazia sorrir, sempre sonhei em ter outra pessoa ao meu lado para compartilhar nossas experiências, nossas dores, para que nossas vidas se tornassem uma só.

Tinha quase certeza de que eu era um dos poucos garotos que pensavam em casamento quando a maioria dos meninos procuravam fugir sempre que escutavam essa palavra. Não é sempre que você vai ver um garoto de vinte anos dizendo que um de seus sonhos é se casar.

Casar e ter trinta cães! Deus do céu, como eu queria ter um cachorro. Mal podia esperar para ter a minha própria casa e ter quantos animais eu quisesse e cuidaria de todos eles com o maior carinho e amor.

Porque no final das contas, meu grande amor sempre seriam os animais.

E é praticamente impossível superar esse amor.

  



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...