História Não sou dois, não sou um. O que sou? - Já tem outro? Tudo bem, meu bem. Eu também.

O ônibus ia rápido, o que era ótimo. Ou chegaria rápido ou morreria logo na batida, pensou ele*. Havia sentado na cadeira alta, o que lhe dava um ar imponente. Olhava por cima as velhas subir no veículo, muitas vezes desequilibradas. O ar recifense, quente e úmido, dançava em seu rosto, sensação revigorante. Logo chegaria à escola.  Em seu fone tocava "Runaway" da Aurora, enquanto ele afundava na cadeira à espera da sua parada. Aqueles olhos, lembrou... Vasculhou suas memórias em busca daqueles olhos, mas não encontrava. Em sua cabeça martelava suavemente a pergunta: quem é tal mulher? Tão suavemente bisbilhotava, mansa, como se não quisesse espantar sua presa. Estava levemente confuso, nunca havia notado menina alguma dessa forma... Sentiu seu corpo tremer junto ao balanço do veículo. Tão linda... Um dia hei de descobrir, pensou. 

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Ela viu o rapaz desaparecer no ônibus, e ficou à espera do seu. De onde o conheço, perguntou-se. Seria ele o rapaz que estudou comigo, há alguns anos? Improvável, se é o mesmo garoto, havia mudado muito, graças aos deuses. O tempo lhe fez bem, viu. Costumava usar um topetinho com gel, corrente inox grossa e óculos espelhado, apenas vergonhas. Parece ser um cara legal, bom vê-lo bem.

Sacou seu espelho, e pintou seus olhos de lápis preto e rímel. Ela sabe que tem olhos provocantes, e os utiliza a seu favor. Deu piscadelas pro espelhinho, fazendo bico. Seu batom roxo deslizou pelos seus lábios, ela adorava aquela cor.

Ficou um pouco insegura, a princípio, eles conversavam há algum tempo pela internet, mas e se o rapaz que estava prestes a encontrar não gostasse dela? E se não gostasse das suas roupas? E se ele for um babaquinha? Logo após, olhou de soslaio para o próprio pensamento. Bitch, i'm flawless. Jogou seu cabelo pra esquerda com um movimento de mão e subiu em seu ônibus.

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Ele acordou com o sol forte em seu rosto, que havia adrentrado pela janela. O ônibus já estava saindo da parada em que ele desce. O desespero lhe consumiu.

~ VAI DESCER MOTÔ - Falou batendo na porta entreaberta do ônibus.

O cobrador avisou ao motorista que tinha gente para descer, entre xingamentos. Fez uma cara feia para o rapaz, que descendo os degraus mostrou o dedo do meio.

Estava lá, IFPE. Viu aquele prédio em cor creme, e pensou no mal gosto de quem escolheu aquela cerâmica, hmmm choices* . O sol refletia sobre o lago reflexos brancos de luz. Um cisne brincava dentre os matos da beira do lago esverdeado. Algumas árvores robustas cresciam espalhadas ao lado do prédio. Faziam companhia ao velho lago. Uma paisagem bela. Talvez a lenda seja verdade...

Encontrou seus amigos sentados sobre a relva dourada, à sombra de uma árvore ríspida. Alice acariciava os cabelos de um rapaz, provavelmente um dos emos com quem ela costuma sair. Ela fora a primeira a perceber sua chegada.

~ Josias! - exclamou - hieee, tudo bem?

~ Estou viva infelizmente - disse, abraçando-a forte. Os abraços dela eram seus preferidos - Vocês viram Você-sabe-quem? 

~ Ele passou por aqui - disse Jairo, contorcendo um pouco a boca - delinho*, viu! Gostosinho, tava com uma bremudinha mostrando as pernas. MENINO QUE PERNAS.

Josias revirou os olhos. Ele havia terminado o namoro com VSQ (você-sabe-quem) no final de semana passado. O menino passou uma semana sem frequentar a escola, Josias até ficou um pouco preocupado. Bom que ele voltou pra escola, apenas espero que não tenhamos mais conflitos. Não tenho mais chances para lhe dar, nem tenho mais confiança, afirmou para si mesmo.

~ Jairo, para de passar vergonha amiga, porfa.

~ Que vergonha? Só falei que ele é gostoso.

Josias o ignorou. Sentou-se com eles na grama. Percebeu que Giovanna estava só, incomum. Geralmente ela e Gabriel, seu namorado não se desgrudam. Por isso o chamam de Josias mesmo seu primeiro nome sendo Gabriel, para não ocorrer confusão. 

~ Cadê Gabe, Gio? - perguntou ele.

~ Não sei, estamos brigados. - falou com voz suave, mas deixando claro que não quer falar sobre o assunto. 

~ AAAAAAAAAAAAAAA VOCÊS VÃO NA FESTA DO GRÊMIO NA SEXTA?????? - perguntou o rapaz no colo de Alice, histérico.

~ Não brigada rsrsrssss - responderam todos em uníssono, sarcasticamente

~ Puq? ~ parecia um pouco magoado, o rapaz. 

~ Tenho mais o que fazer - Josias levantou da grama limpando sua calça empoeirada - Vamos. Temos uma desgraça de uma aula de matemática agora, nessa mizera.

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Andou dentro do ônibus usando salto alto, como um dom. Chegara no shopping meia hora antes do combinado com o rapaz. Então ela fez o que mais gosta de fazer no shopping, foi tomar café na sua livraria preferida. O cheiro dos livros lhe acalma, o odor quente do café a consola. Preto, e quente. Quente como o inferno. Ousou degustar um livro que não ia comprar, para torrar o tempo, até que seu celular toca.

~Eai? Onde estais? - perguntou, ligeiramente impaciente - cheguei já faz algum tempo. 

~Eh, estou na livraria - sua voz doce anunciava certa timidez - já chego aí, Alex.

Timidez temporária. Ela tinha muitas dessas, porém, logo retoma o senso de que é livre, bonita e não tem nada que a abale. Terminou preguiçosamente seu café, sem pressa, e levantou-se de seu trono provisório de rainha da Saraiva. Um pé a frente do outro, a moça desfilou até o cinema. Seus cabelos dançando a cada passo, e ela dançando ao ritmo de seu corpo. Nesse momento, ela é o poder, e nunca houve ninguém que fosse poderoso assim com ela.

 Ele tinha cabelos castanhos, cacheados. usava um óculos wayfarer e uma camiseta da casa Targaryen. Ele parece ser ótimo, nota Alanis. Sorri pra ele, sincera, olhando em seus olhos. Ele sorri pra ela, receoso, analisando a garota de cima abaixo. Ela nao percebe nada errado com ele e o abraça. Não conseguiram ver o filme todo (fica a vocês imaginarem o porquê), mas passaram o dia juntos. Victor parecia ótimo. Atencioso, bonito, inteligente... Protetor? Ficou irritado em alguns momentos que rapazes olharam para ela. Ela ficou um pouco confusa, mas não viu nada de errado no rapaz. Ele é bom. Sim, um fofo, Alanis afirmou para si mesma.

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Todos foram pra aula semi-mortos. Ninguém entendeu nada naquela mizera ao final de toda aquela explicação, e foram pro intervalo. 

~ Já reprovei nessa mizera - disse Jairo

Alice assentiu com a cabeça, deixando seus cabelos loiros caírem no rosto.

~ Matemática I de novo período que vem, beberes - disse Josias - todas as trans phiníssimas pagando cadeira.

Andando pelos corredores, continuaram conversando. Iam para a cantina quando Josias o viu. Você-sabe-quem estava lá num canto discreto, perto do lago, num banco com um rapaz. Eles estavam bem próximos, conversando. Você-sabe-quem levantou, mas o rapaz não. Ele sentou no colo do garoto, beijando-o. O rapaz deslizou as mãos pelas suas coxas, subindo-as e puxando seu corpo para si. Você-sabe-quem desliza no colo dele, enquanto o rapaz beija seu pescoço, quase hipnotizado. 

Perplexo...