Breeze continuou com os olhos bem fechados durante alguns segundos. Era fato que alguém a havia segurado, uma vez que não tinha dado com a bunda no chão. Seu medo era descobrir em quais braços estava.
Lentamente ela foi se permitindo ver quem a salvara. Primeiro, notou o semblante de surpresa, e por que não, de desgosto, dele. Um pouco do seu cabelo platinado, levemente longo, estava sobre a testa e quase chegando em seus orbes, por culpa do movimento brusco.
Breeze teve tempo de deixar escapar um curto sorriso enquanto sentia as mãos de Midnight segurar suas costas e suas pernas. Depois disso, o que ela sentiu foi o frio piso de madeira bater contra seu corpo.
— Aaai — reclamou ela em alto e bom som. Blade deu de ombros enquanto os demais apenas observavam a cena.
— Acho que você precisa perder alguns quilos, Breeze Dancer. Mais um pouco e eu saía sem os dois braços — comentou ele, ardiloso. A loira se sentou antes de levantar-se e ficar de frente para ele.
— Mais um pouco e eu faço questão de te fazer esse favor, já que está me pedindo tão educadamente — ironizou ela, o encarando profundamente. Midnight sorriu, fazendo a raiva que Breeze sentia efervescer dentro de si.
— Tente — sibilou. Um milésimo de segundo depois a mão de Dancer teria acertado um tapa no platinado, caso Crimson não tivesse segurado o pulso dela. A francesa virou seu rosto para olhar, indignada, aquele que tinha impedido seu ato.
Fist apenas acenou negativamente antes de dizer:
— Não vale a pena, Breeze. — Entretanto, no fundo ele mesmo queria encher Midnight na porrada. Aos poucos a falta de interesse do russo estava o tirando do sério, principalmente quando envolvia Dancer, que estava apenas tentando ajudar.
— Olha só, mais uma peça! — A atenção de todos na cena se dissolveu no momento em que Scarlet, alheio a tudo, apareceu sorrindo de trás da enorme árvore de Natal, segurando um pedaço do quebra-cabeça que haviam ganhado pela tarefa realizada.
Crimson soltou, delicadamente, o braço de Breeze, e esta decidiu esquecer o assunto por agora, uma vez que realmente não valia a pena sujar as mãos. Azure, que assistiu a briga de camarote, pensou que o ódio entre os dois loiros lembrava o enredo de seus livros, séries e filmes favoritos, nos quais os protagonistas acabam juntos e apaixonados. Sorriu levemente com a hipótese, pensando que dariam um bom casal. Na verdade, um bom triângulo, se contar o moreno de cabelos ruivos.
— O que é a imagem dessa vez? — perguntou Dancer, tentando não soar brava enquanto mudava de assunto, aproximando-se de Blaze.
— Ahn… é um pedaço de terra, com areia, e tem uma fogueira — tentou explicar o brasileiro, mas decidiu que entregar a peça seria mais fácil. A parisiense pediu a anterior e as uniu, notando que se encaixavam perfeitamente. Pelo formato, faltavam ainda duas partes. Era a imagem de uma praia durante o crepúsculo, coisa que não tinha relação alguma com o Natal.
— Casa… — Azure murmurou. Não era igual a nenhuma praia que ela conhecia, mas no final das contas todas as praias se parecem, ao menos um pouco.
— Vamos para a próxima, ainda faltam três missões. Onde está o duende? — questionou Crimson, olhando ao redor e partindo para fora da loja de árvores de Natal.
— Tá, mas o que eu faço com isso? — perguntou Scarlet, se referindo a embalagem de biscoitos que haviam feito, a qual repousava embaixo da árvore.
— Deixe aí, é um bom lugar. Se precisarmos depois, sabemos onde está — respondeu Azure, prestativa.
Todos foram deixando a loja e seguindo Crimson, que já havia achado um duende na frente do estabelecimento. O responsável pela tarefa atual é extremamente parecido com os anteriores, mas ao invés de trajar uma roupinha, com um chapeuzinho pontudo, em vermelho, este está vestindo verde.
— Eu pedi para ele anotar alguma coisa e ele tirou um bloquinho de papel branco do bolso e uma caixa de lápis com vinte e quatro cores da Faber-Castell das costas. Agora está desenhando — explicou Crimson.
— Caixa de lápis de cor com vinte e quatro cores da Faber-Castell? — Os olhos de Scarlet brilharam como as luzinhas piscantes da árvore que acabaram de montar. — Sempre foi o meu sonho de consumo levar para a escola uma dessas!
— E por que não levava? — questionou Azure. Ela não se importava muito com a marca ou quantidade de cores.
— Porque minha mãe sempre comprava a caixa de lápis com doze cores da Faber-Castell todo início de ano. Não tinha o dourado e às vezes vinha aquele branco inútil — choramingou o moreno.
— O branco não é inútil, você que não sabe usar — retrucou Midnight. Scarlet fez bico.
— Ele terminou! — comemorou Fist, erguendo a folha no alto, como se o “alto” dele fosse o mesmo “alto” de todo mundo. Fang estreitou os olhos, não conseguia ver o que o duende tinha desenhado com a caixa de lápis de vinte e quatro cores da Faber-Castell.
— Abaixa o desenho aí, Crimson — protestou Breeze antes que Azure tivesse a chance de pedir. Todos se aproximaram em uma rodinha no meio da rua.
— Ele desenha bem — comentou Blaze. — Mas como ele consegue segurar o lápis com as mãos tão pequeninhas?
— Scarlet-eu-não-sou-menina, presta atenção no que é mais importante. Alguém já viu esse lugar? — indagou a garota de cabelos azuis.
— Acho que fica um pouco mais distante do centro do globo, porque parece grande — opinou Midnight.
— Mas não fica na parte da floresta — completou Breeze.
— Então deve ficar do outro lado, no final do globo. Acho que ainda não fomos para lá — refletiu o ruivo.
— ESPERA — gritou o brasileiro, assustando a todos. Breeze inclusive deixou a mão sobre o coração e Azure quase se engasgou com a própria saliva. — Eu sei onde é, cheguei nesse mundo perto deste lugar.
Todos encararam Blaze, que estava se achando extremamente importante por sua contribuição, não percebendo a feição de raiva que todos o ofereciam por estarem gastando tempo à toa, sendo que o bonito sabe onde será a próxima missão. Sorrindo, Scarlet deu um passou para a frente e disse:
— Me sigam, pessoal!
Todos, e isso inclui Midnight, reviraram os olhos antes de acompanharem o guia que se preocupa com caixas de lápis da Faber-Castell com doze ou vinte e quatro cores.
Em cinco minutos estavam na frente de um grande barracão, colorido e cheio de enfeites, igual na imagem. O que não constava no desenho é que haveria vários e vários duendes entrando e saindo daquele lugar a cada segundo.
O grupo olhou para trás, procurando o duende de verde que os ajudou, mas nem sinal dele. Das duas uma: ou já os havia ajudado o suficiente, ou eles tinham andado rápido demais para suas perninhas acompanharem. O russo também cogitou a possibilidade de o duende desenhista ter os abandonado, enquanto a parisiense acredita que ele esteja dentre os duendes que circulam por ali.
Esperar não fazia sentido, então o grupo caminhou até a entrada, sustentada por pilastras que pareciam bengalas doce em tamanho gigante. As portas, que estavam abertas, eram como duas enormes barras de chocolate. O lugar podia ter relação com comida, se não tivesse enormes engrenagens de enfeite e chaminés altas das quais saíam fumaça constantemente.
Assim que entraram na porta do local, em uma pose como se fossem os Power Rangers no final de uma batalha, descobriram que se tratava de uma fábrica de brinquedos. Afinal, o Papai Noel tinha que entregar muitos deles na noite do dia 24 para o dia 25 de dezembro.
— Uau — Azure sussurrou. Se a fábrica por fora já parecia grande, por dentro era mais ainda.
O local não tinha paredes para separar, em setores, onde cada brinquedo era fabricado. Pelo contrário, tudo era feito ao mesmo tempo, com enormes máquinas vermelhas chiando, mesas de montagem, esteiras por toda parte e, é claro, muitos e muitos duendes trabalhando arduamente.
Os sinos soaram, indicando que tinham novamente uma hora para realizar a missão. O desespero tomou a expressão de todos.
— O que temos que fazer? — questionou Scarlet e eles se entreolharam. — Quer dizer, um brinquedo ou mais de um? Pode ser qualquer brinquedo? Como fazemos um brinquedo? Tem como criar um console PlayStation 5 mais bonito?
— Vamos ser realistas. O console nem é tão feio assim e temos uma hora apenas para criar um brinquedo inteiro, então é mais fácil fazermos todos juntos. Não posso prometer que vai dar certo, ou dizer o que vai acontecer se não der, mas pelo menos teremos feito alguma coisa — afirmou Crimson.
— Vamos tentar isso — concordou Breeze. — Reparei que os duendes começam a criar os brinquedos a partir de uma carta que eles pegam ali. — Ela apontou para uma caixa de correspondência vermelha do tamanho de um carro, com a altura de um caminhão, perto da porta de entrada onde estavam.
— As cartas que as crianças escrevem! — exclamou a australiana, correndo para verificar com suas próprias mãos e olhos. Os demais logo se aproximaram também e começaram a ler.
— Nossa, essas crianças de hoje em dia só pedem coisas difíceis, como celulares ou tablets da última geração… mas não julgo, faria o mesmo — comentou Crimson, depois de ler por cima quatro cartas com esses pedidos.
— Como será que eles fazem isso? Só vejo os duendes construindo carrinhos de madeira e jogando UNO no intervalo do trabalho. — Scarlet encarou um grupinho dos ajudantes de Papai Noel agitados porque aparentemente algum deles estava roubando no jogo de cartas.
— O Papai Noel deve ter contrato ilimitado com todas as empresas do mundo, para pegar o que quiser e oferecer de presente a quem pediu. Deve ser por isso que os duendes têm tempo livre para jogar UNO... — raciocinou Blade, encarando a mesma panelinha de duendes que Scarlet observava.
— Azure, você está chorando? — questionou Breeze. Os garotos que planejavam entrar na rodinha do UNO pararam o que estavam fazendo para olhar a mais baixinha do grupo que, neste momento, soluçava.
— É uma cartinha triste. — Ela balançou o papel com uma letra de quem aprendeu a escrever faz pouco tempo. Assim como no livro de receitas, eles conseguem ler o que as crianças escreveram independente da língua, mas os garranchos às vezes dificultam um pouco. — Essa menina tinha uma mãe costureira, que prometeu fazer uma boneca única para ela. A garotinha pedia, mas a mãe dela estava sempre ocupada costurando para fora. Acho que eram apenas as duas e eram muito pobres. A mãe dela ficou doente e acabou morrendo sem fazer a boneca. Agora a menininha está em um orfanato e pediu para o Papai Noel encontrar a mãe dela no céu e trazer a boneca. — Fang mal terminou de resumir a carta e caiu em lágrimas novamente.
Todos permaneceram em silêncio por um momento, restando apenas os ruídos da enorme fábrica. Nas cartas que leram os presentes não tinham um significado tão profundo. Breeze tomou partido:
— Vamos fazer esse. Devemos ter uns 40 minutos ainda. — E saiu andando até uma mesa na qual alguns duendes estavam trabalhando em construir bonecas, mas deixaram o espaço para que o nosso grupo pudesse trabalhar.
Azure limpou suas lágrimas e parou de chorar, explicando como a menina queria a boneca para todos saberem. Enquanto isso, Dancer ia marcando e cortando os tecidos no formato do corpo da boneca, em um castanho claro, e seu vestido, em um floral de margaridas coloridas. Depois de terminar, separou as funções, assim como na montagem da árvore:
— Eu, Azure e Crimson costuramos, Scarlet precisa achar algodão para enchermos a boneca e Midnight tinta para fazermos um rostinho nela. — Uma vez que estas últimas coisas citadas estavam em falta na mesa de criação de bonecas dos duendes. Todos acenaram positivamente e foram ao trabalho. Scarlet não sem antes comentar um ponto interessantíssimo.
— Crimson sabe costurar? Olha, já dá para casar. — A risada do brasileiro foi cessada por um tapa de Breeze, aquele que ela queria dar em Midnight e não teve a oportunidade.
— Para de encher o saco e vai fazer o que eu te mandei — brigou ela.
— Viu Crimson, já tem a noiva — comentou ainda Blaze, antes de sair correndo ao ver que Dancer estava pronta para jogar uma máquina de costura nele.
— Aprendi com a minha mãe, ela fazia com que eu costurasse minhas roupas porque eu rasgava muito nos joelhos e cotovelos brincando quando era criança — explicou ele, com um sorrisinho nostálgico. Sentiu uma pontada de saudade da mãe, que tinha ficado no mundo normal enquanto ele estava preso neste globo de neve.
— Uma pena que ninguém sabe usar isso. — Breeze guardou a máquina de costura no lugar. — Seria tudo mais rápido. — Em seguida pegou os pedaços de tecido que formariam o corpo da bonequinha quando terminasse. Azure costuraria a cabeça e os fios de cabelo feitos com barbante marrom, enquanto Crimson costurava o pequeno vestido.
Depois de 20 minutos o clube de costura começou a ficar ansioso. Estavam na metade do trabalho e ambos, Scarlet e Midnight, ainda não tinham aparecido.
Mais 10 minutos se passaram e Midnight apareceu com três potinhos de tinta, um preto, um verde e um vermelho, acompanhados de um pincel fino. Tinha conseguido com os duendes que fabricam carrinhos de madeira.
Mais ou menos 5 minutos depois Scarlet surgiu, afobado, com uma sacola com algodão. Ele estava inspirando e expirando profundamente, como se tivesse corrido uma maratona. Quando conseguiu falar, explicou:
— Tive que roubar isso de um grupo de duendes que faziam gorros de Natal, e não foi nada divertido. — Tomou fôlego antes de continuar. — Fui perseguido pela metade da fábrica, eles deviam achar que era pega-pega, ou só queriam fazer um churrasco de mim mesmo…
Mas ninguém estava ouvindo suas reclamações. Breeze pegou rapidamente um pouco do algodão e foi enchendo a boneca, enquanto Midnight desenhava um rostinho na cabeça que ainda não tinha sido emendada ao corpo. Ninguém viu, mas Blade deu um pequeno sorriso ao lembrar que fez matrioskas na escola quando menor. A mãe dele tem o conjunto de bonequinhas até hoje de decoração na sala de casa.
Depois de terminar, entregou para Breeze, que costurou rapidamente a cabeça da boneca no corpinho e vestiu o vestido. Aliviada, com um sorriso no rosto, ela disse:
— Terminamos.
Os sinos soaram antes mesmo que ela completasse a palavra. Mais uma peça do quebra-cabeça apareceu e o russo a pegou.
— A boneca ficou linda. Espero que a garotinha receba e goste — disse Azure enquanto colocava o brinquedo, juntamente com a carta, na esteira que levava os itens para serem embalados e endereçados por um conjunto de duendes.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.