Soonyoung acordou, mas seus pensamentos ainda estavam dentro de seu sonho, os olhos pequenos, ainda menores devido ao sono, se encontravam fixos em lugar nenhum, sua destra subiu e tapou um bocejo fujão e ele se deu mais alguns minutos antes de levantar e ir para o banheiro.
Seu dia seria longo, ele combinara de se encontrar com Seungkwan naquela manhã para se atualizar de como estava a situação do amigo. O Kwon não poderia negar sua preocupação em relação ao mais novo, aquela seria a primeira vez que algo assim acontecia, então ele tentava prestar o dobro de atenção no amigo, mesmo que ser cuidadoso não fosse o seu forte, ele sabia que conseguiria ajudar a distrair o Boo.
Após todo seu ritual matinal e um café da manhã simples, ele já se via indo em direção à casa do amigo, que não tardou em lhe deixar entrar ao bater na porta, subindo para o quarto do moreno em seguida se acomodando em sua cama, como de costume.
Seungkwan parecia estar mais calmo aquele dia, mas isso não significava que estava bem. O Kwon podia notar nos olhos do amigo que ele provavelmente não havia dormido bem e que chorara em algum momento de sua noite ou madrugada. Era inevitável para o mais velho perceber tal fator, mesmo que o menor ainda tivesse tentado esconder com maquiagem os inchaços de suas pupilas e as bolsas que se formavam abaixo de suas íris castanhas, Soonyoung conhecia-o há muito tempo e para ele era notável a preocupação do amigo.
Naquele momento, sentado na cama do Boo, observando-o forçar um sorriso pouco agradável, que Kwon Soonyoung tomara uma decisão, esperando somente o momento certo para tentar por parte de seu plano em prática, momento esse que se mostrou não muito tempo depois, quando o mais novo se levantou para ir atender um chamado de sua mãe. O rapaz de cabelos avermelhados rapidamente se levantou, apanhando o celular do amigo e indo diretamente em seus contatos, onde fez questão de abrir um em específico e anotar mentalmente o número, para então copiar em seu aparelho antes que pudesse esquecer, o tempo para checar se estava tudo correto só não fora menor do que o que o levara para pegar suas coisas e se dirigir para a porta do quarto, assustando Seungkwan que voltava a entrar no cômodo.
— Eu acho que eu… ahn… já vou indo, desculpa, preciso fazer umas coisas agora à tarde… — o Kwon disse rapidamente, notando que seu timing não havia sido tão bom quanto pensara. Ele nunca fora bom mentiroso, seus risos de nervosismo e a falta de palavras sempre o entregava, mas aparentemente ou o mais novo deixara passar ou de fato estava com a cabeça cheia porque não parecia desconfiar do ruivo, que saía do quarto enquanto internamente se preocupava com o amigo, que por sua vez o acompanhava até a porta de sua casa para se despedir.
O novo objetivo de Soonyoung não era exatamente um local específico, sendo assim ele entrou na primeira loja de conveniência que encontrou, passeando pelas prateleiras até encontrar a seção das bebidas, pegando duas garrafas de refrigerantes distintos, e logo se dirigindo ao caixa. Ao sair do local o rapaz se permitiu bebericar um pouco de seu novo refresco enquanto discava para o número recém adicionado em sua lista.
A conversa foi mais rápida do que previra, mas com a promessa de encontrar certo loiro e o local de encontro combinado. Soonyoung se dirigiu à praça próxima ao metrô, a fim de terminar os preparos que julgava necessário e esperar por ali mesmo até que Hansol chegasse, fato esse que não tardou a acontecer, deixando ambos os rapazes frente a frente pela primeira vez sem a companhia de Seungkwan.
— Toma, achei que pudesse querer beber algo enquanto conversamos. — Soonyoung estendeu uma das garrafas que havia comprado, sendo agradecido pelo loiro logo em seguida. — O Kwan me falou que você só bebe coca… Então achei que pudesse querer.
— Sim, obrigado de novo… — O mais novo agradeceu novamente, reagindo minimamente ao ouvir o nome no Boo, mas disfarçando logo em seguida. — O que queria falar comigo? — ele indagava enquanto se sentava ao lado do outro rapaz, e acomodava-se o máximo possível para poderem conversar, a bebida fora deixada de lado de forma natural, Vernon beberia quando sentisse sede.
— Bom, acho que sabe que te chamei por causa do Seungkwan… — O mais velho começou, recebendo uma afirmativa muda do mestiço, que tinha seus olhos ainda meio abaixados, contrastando com os de Soonyoung, que estavam fixos nas expressões do outro. — Eu conheço ele a muito tempo, sabe… crescemos juntos em Jeju antes de eu precisar me mudar para cá alguns poucos anos atrás. Ele nem sempre foi… assim, sabe? — E então deu uma pausa, esperando alguma reação de Hansol, que parecia processar as informações de forma cautelosa e atenta. — Ele começou a se vestir de menina aos cinco ou seis anos, se não me engano, foi meio estranho no início, mas quando soubemos da história todos da sala só concordamos em cooperar.
— C-como assim? — O loiro finalmente se pronunciou, agora seus olhos estavam fixos nos de Soonyoung, sua expressão oscilava entre confusão, curiosidade e mais alguma coisa que o mais velho não soube reconhecer, os lábios de Hansol se encontravam entreabertos, mostrando as cicatrizes das mordidas que o mestiço havia dado nos últimos dias por conta da ansiedade.
— A mãe do Kwan foi deixada pelo pai dele, que acabou indo morar com uma mulher muito mais nova, deixando ela e os filhos sozinhos, o maior problema é que ela era muito apaixonada pelo marido, então sofrer essa desilusão foi bem complicado… — O Kwon então suspirou, estava soltando todas as informações que sabia, tentando a todo custo fazer com que o mestiço compreendesse a situação. O mais velho estava cansado de ver o amigo triste e sofrendo, ele queria poder fazer algo para vê-lo sorrir novamente. — O problema é que o Kwan lembrava muito o pai dele para a mãe, então as irmãs começaram a vestir ele de menina para que a mãe não ficasse tão triste.
— E ele ama muito a mãe, então é óbvio que topou… — O mestiço acrescentou baixinho, recebendo uma resposta positiva do mais velho, que o observava com todos os sentidos que lhe era permitido, a fim de notar qualquer reação, por mais simples que fosse, mesmo que Vernon estivesse inteiramente parado, ouvindo a história.
— Entende o que eu quero dizer? Ele foi criado praticamente como uma menina, sentia medo da mãe sofrer ou o rejeitar por ser quem ele era e por isso fez o que fez… Mas agora parece que está acontecendo a mesma coisa, só que o oposto, ele tem medo de você sofrer ou o rejeitar por ele não ser o que querem que ele seja… — Soonyoung ia dizendo de forma pausada e cautelosa, cada uma de suas palavras era mastigada em sua boca antes de sair, ele não estava querendo culpar Hansol, mas também queria que o rapaz entendesse que ele era responsável por muitas coisas que aconteciam ao Boo naquele momento.
Houve um longo momento de silêncio, o mais velho controlava seu impulso de querer continuar falando e explicando sobre o amigo, ele tinha que dar tempo ao loiro para pensar, tinha que deixá-lo tirar suas próprias conclusões, mesmo que todo aquele silêncio fosse ensurdecedor, ele tinha que esperar Hansol ter o tempo que precisava. Tempo esse que pareceu dar uma pausa quando o barulho da coca se abrindo fora captada pelos ouvidos do mais velho.
O Chwe levou a garrafa a boca, bebendo alguns poucos goles antes de afastá-la com uma expressão confusa, olhando para o Kwon assim que tampou novamente o recipiente e se deparando com um sorriso diferente estampado no rosto do mais velho.
— Isso… não é coca… — o loiro dizia pausadamente, ele tentava entender o que estava acontecendo, seu olhar oscilava entre a garrafa em suas mãos e Soonyoung, que ainda o observava com um meio sorriso nos lábios. — O que houve?
— Não é coca mesmo… mas é meio parecido, né? Eu até gosto mais pra ser sincero. — O rapaz de cabelos avermelhados disse, apanhando o refrigerante das mãos do outro e roubando um gole enquanto continuava a sorrir. — E você, o que achou?
— Você fez isso de propósito? Porquê? Digo, não me entenda mal, eu gostei, só não estou entendendo o que está acontecendo aqui… — O mais novo realmente parecia estar perdido, seu olhar confuso e expressões perdidas não tentavam ser escondidas e o mais velho não parecia querer lhe explicar logo o que estava acontecendo.
— Então gostou mesmo? Talvez isso seja um sinal, ahn? — Soonyoung por fim riu, se deixando levar pela situação, mas logo percebendo que talvez estivesse enrolando de mais o loiro, decidindo por fim lhe explicar o que estava tentando dizer. — É uma metáfora, entende? Mais cedo eu comprei uma garrafa de cada refrigerante, só que eu tomei toda a coca e depois coloquei o líquido da outra aqui dentro e te entreguei. — O Kwon ia explicando agora um pouco mais sério, mas ainda assim com um meio sorriso estampado em seu rosto, suas mãos estenderam a Hansol a bebida, que o pegou e voltou a deixá-la de lado. — Pense na coca como o Seungkwan, ele foi colocado em uma "embalagem" que não lhe pertencia e por isso automaticamente as pessoas acharam que ele era o que está na embalagem, mas não é bem por aí. Se eu dissesse que o refrigerante não era coca desde o início, você poderia nem sequer ter experimentado, ainda mais porque não está na sua zona de conforto, mas você não sabia disso quando bebeu e então pode provar e tirar suas conclusões sozinho.
— Mas e se eu não tivesse gostado? — Hansol perguntou por fim, sua voz soava mais baixa devido a sua mente tão pensativa. — Digo, se eu não gostar, posso magoar dele, não quero que ele saia magoado…
— Olha, eu acho que essa sua preocupação toda só mostra que você podia já estar gostando, olhe, se não fosse você e eu não conhecesse o Kwan tão bem, eu te proibiria de vê-lo com medo de você usá-lo ou deixá-lo mal, mas eu vejo que você está mais preocupado com isso do que eu mesmo. — Soonyoung então soltou uma risada contida, sua expressão estava mais leve do que quando chegara, seu corpo mais relaxado e os músculos mais soltos, de fato parecia que um peso havia sido tirado de si.
O rapaz mestiço estava mudo, suas sobrancelhas levemente arqueadas e os braços postos ao lado de si, pendiam descansando em seu colo, com a garrafa de Coca envolta em suas mãos, que a seguravam firmemente, seus olhos fitavam o chão de forma fixa, se desconcentrado somente quando o mais velho se levantara, postando-se frente a Hansol.
— Olha, eu realmente acho que você deveria dar uma chance ao Kwan, acredite, ele não é uma pessoa totalmente nova, na verdade, ele ainda é o mesmo… É só que ele não é uma menina. — Soonyoung ainda estava parado de frente ao loiro, que por sua vez o encarava com seus olhos cor de mel. — Hansol, sinceramente, tenta conhecer o Kwan, dá uma chance pra você mesmo descobrir o que está sentido.
Soonyoung então sorriu amigavelmente, se despedindo em tom mais baixo e logo deixando o loiro sozinho para pensar e refletir sobre tudo o que havia ouvido. O mais velhos só esperava que não tivesse feito nada de errado.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.