1. Spirit Fanfics >
  2. Náufraga do Tempo: 1943 >
  3. Capítulo Extra — Além do Tempo

História Náufraga do Tempo: 1943 - Capítulo Extra — Além do Tempo


Escrita por: coffffffffffeee

Capítulo 47 - Capítulo Extra — Além do Tempo


Fanfic / Fanfiction Náufraga do Tempo: 1943 - Capítulo Extra — Além do Tempo


  🤚🏻🤚🏻 ATENÇÃO 🤚🏻🤚🏻

(Again...)

Para uma melhor experiência eu gostaria de sugerir à vocês que durante este capítulo ouça as seguintes músicas listadas.

Por isso eu sugiro à você, que possui conta no Spotify, que acesse a playlist "Náufraga do Tempo: 1943" (shelsealves) 

Caso não possua Spotify, as músicas sugeridas são as seguintes (para que possa ouvir em outra plataforma)👇🏻


1) Lee Su-hyun (이수현) — Sound/Sori (소리) Mr. Sunshine (미스터 션샤인);


2) 백지영 (Baek Ji Young) — See You Again (Feat. 리처드 용재 오닐) (미스터 션샤인);

3) Savina & Drones (사비나앤드론즈) — My Home (Eugene's song);


4) HALLELUJAHKatherine Jenkins;

Esse foi o capítulo mais difícil de toda a história. Não estou brincando quando digo que fiquei exatamente assim kkk 😆

((Apesar do capítulo inicialmente ser bastante maçante (muita explicação foi necessária), por favor, vão até o seu final. Sério, vale muito a pena 😭👍🏻))


LEIAM AS NOTAS FINAIS

OBRIGADA


▃▃▃▃▃▃▃▃▃▃▃▃

🎧 OUÇA LEE SU-HYUN (이수현) — SOUND/SORI 🎧


| Capítulo Extra | Além do Tempo

(01 janeiro de 2021 — sexta-feira)

Coimbra | Portugal 🏷

✍🏻 NARRAÇÃO: ALMARA CASTRO


Eu sonhava com você todos os dias. Todos. Sem exceção. Em todos os míseros dias, eu sonhava algo relacionado à você. De segunda à segunda, diariamente. A minha imaginação simplesmente não permitia que eu o esquecesse. Como se eu mesma pudesse esquecer você. Não, não poderia. Jamais


Haviam se passado exatos nove meses desde a minha fatídica "volta" ao presente. Sozinha. Ao meu bárbaro presente. Eu sentia falta de tudo. Absolutamente tudo. Todos os aspectos, sem exceção. Tudo o que um dia Hiruma representou à mim, ecoavam em minha mente saudosista. Lembrava-me tão vivamente de cada detalhe seu que chegava ser cruel. Eu sentia a sua falta há todo momento. De sua voz. De seu olhar. De seu sorriso. De sua amabilidade. Da sua singular gentileza. De sua polidez. De seu cuidado característico. De seu carinho natural. De você. 


Eu saíra de agosto de 1943 para cair rigorosamente em abril de 2020. Novamente abril de 2020. E agora estávamos em janeiro, nove meses depois. 


A última vez que vi Hiruma eu estava morrendo em seus braços. Eu nunca imaginei que pudesse ser da maneira que foi... uma despedida tão breve, tão triste. Uma despedida tão mal protagonizada, com tamanha comoção. Eu mal pude dizer á ele o que realmente gostaria, o que realmente precisava. Ao menos não da maneira correta. Vê-lo chorar por mim, soluçar... que memórias trágicas. Eu havia falhado. Fracassei em minha difícil tarefa de dizê-lo a verdade, a verdade recém descoberta de que finalmente havia notado que o amava, que o amava! Eu! Almara! Almara Costa estava realmente amando alguém. Queria dizer à ele, dizer que eu enfim havia me apaixonado... por ele. Justamente por ele. Dizê-lo que iria amá-lo, para sempre... mas nem ao menos isso eu consegui dizer. Não tive forças, não o suficiente. Eu não havia conseguido dizer nada. Praticamente nada. E isso era algo que me atormentava, me flagelava. Assim como todos os meus sonhos, como todas as minhas memórias.


A sensação ao fechar os meus olhos era como se ele ainda estivesse ao meu lado, como se ainda estivesse presente em minha vida. Era como se ele apenas esperasse eu despertar na manhã seguinte para enfim me reencontrar... mas essa manhã nunca chegava. Mentalmente problemática? Talvez. E eu ainda aguardava ansiosamente o dia em que eu fosse realmente acordar e novamente fosse revê-lo. Mas este dia nunca chegava. Nunca. E eu sabia que jamais chegaria. Não mais. Ele era e tão somente seria uma lembrança minha. Uma memória. Saber deste fato era algo que me mortificava, mortificava diariamente


Apesar de ser um época festiva, eu não teria nada à que comemorar. Estávamos em janeiro, mas as Ruínas de Quioto foram implodidas havia muito tempo. Em abril, alguns dias após o meu "retorno". As Ruínas foram completamente destruídas e eu não pude fazer nada. Nada. Somente assistir. Do que adiantou eu lutar arduamente na justiça japonesa para evitar esta catástrofe? Nada.


Ao longo daquele mês conflitante eu bem que havia tentando evitar a sua destruição... eu havia coletado várias assinaturas de personalidades acadêmicas, criando uma espécie de "baixo-assinado" para usar como "testemunha" contra aquela ordem de destruição insana. Eu praticamente havia implorado às autoridades competentemente que não fizessem isso. Mas de nada adiantou.


Não funcionou. O sítio arqueológico havia sido implodido com alvará do governo japonês e norte-americano, em parceria especial a comunidade internacional. Os Estados-membros das Organização das Nações Unidas (ONU) aprovaram em sua maioria a concretização da explosão, pois julgavam ser, este "um ato que verdadeiramente estabelecia a segurança internacional". Segundo a sua própria Assembleia Geral, aquilo "proporcionaria um um 'bem' maior para todos os países-membros. Protegeria o Japão de maiores infortúnios nucleares"...


"Bem"? Qual "bem"? Não houve nada que esse fato catastrófico pudéssemos considerar como um "bem". Nada. E eu conhecia o motivo (verdadeiro) que levou à sua destruição. Não, não era por realmente conter algum "risco nuclear" ao Japão.... era por algo maior. Muito maior e perigoso. Viagens no tempo. 


Doeu realmente em muitos historiadores assistir a destruição de um sítio tão rico em artefatos históricos, sobretudo após tentarmos há todo custo evitá-la... contudo, acredite, doeu bem mais em mim. Doeu. Machucou, feriu mais do que qualquer tiro de arma de fogo de Iwane poderia ferir. Uma grande parte de minhas esperanças se foram juntamente com aquelas Ruínas. Esperanças de um dia retornar à 1943. De um dia voltar rever Hiruma. 


Tendo em mente então um segundo plano para retornar ao passado, ainda no Japão, decidi ir até o Museu de Arte Sumiya Motenashi. Tentaria retornar ao passado "utilizando" o quadro de Akemi Ikeda, como outrora eu havia feito. Porém, algo estranho havia acontecido. Estranhíssimo


O quadro não estava no museu. Na verdade, segundo os próprios registros históricos, ele jamais estivera no museu... os registros on-line mostravam que o quadro não estava catalogado. Simplesmente não estava e nunca estivera. Aliás, ele nem mesmo parecia ter sido descoberto ainda... não havia registro algum de seu achado. Ninguém sabia dizer o que era aquilo que eu buscava. Ele simplesmente não existia em nosso século. Não havia registro daquele quadro em lugar algum! Era como se ele tivesse sido apagado do passado ou em alguma era de sua própria história, antes da nossa. A foto que eu mesma havia registrado também não servia para mais nada. Ela também não existia. Não mais. Ela apresentava uma espécie de erro quando eu mesma tentava acessá-la em meu smartphone. Era como se a foto e o próprio quadro jamais estivessem existido!


O que diabos estava acontecendo?? Eu havia alterado o presente, de alguma maneira...??


A vista disso, após perder a batalha judicial para a própria ONU, testemunhar a destruição completa das Ruínas de Quioto e presenciar o estranho "desaparecimento" do quadro de Akemi Ikeda do Museu de Arte Sumiya Motenashi, eu retornei à Coimbra. Sim, voltei para Portugal. Não poderia esperar mais nada do Japão. Do que adiantaria eu permanecer nele? Sozinha?


☑️ Não poderia mais acessar o quadro de Akemi, visto que ele não existia mais. Não havia como eu provar que um dia eu realmente o havia visto;

☑️ Não poderia ir às Ruínas de Quito, pois haviam sido destruídas;

☑️ Não tinha condições financeiras de permanecer no Japão, visto que a minha viagem havia sido custeada pelo governo japonês em prol de uma pesquisa que fora cancelada;


O que eu faria então permanecendo naquele país? Nada de útil, além de me culpar. Eu havia perdido coisas impagáveis à mim. Não haveria de continuar no Japão, me lastimando por todas elas...


Por esses tétricos motivos eu resolvi voltar à Portugal. Voltaria para casa e, consequentemente, adiaria o meu projeto de mestrado. Sim. Decidi adiá-lo uma vez que tinha algo muito maior em mente para concretizar: eu precisava encontrar respostas. Repostas de quem havia sido "Kim Jong", de quem havia sido o médico Hiruma. O que diabos poderia ter aconteceu com ele. De como viveu. Sobretudo isso. 


Ao longo desses nove meses em que permaneci em Coimbra, após retornar no final de abril do Japão, eu pesquisei inúmeros registros históricos, fossem eles durante a guerra ou após ela. Incontáveis documentos. Foram diversos títulos, declarações, escrituras, certidões de nascimento (e de óbito, infelizmente muitos), certificados militares, contratos de residência, atestados, comprovantes. Até árvores genealógicas eu chequei... fiz diversas entrevistas, telefonei para muitas pessoas. Usei tradutores. Perguntei, interroguei. Analisei diversos documentários, gravações e registros fotografados. Tudo, simplesmente tudo o que me foi possível, tudo mesmo, eu investiguei. Eu procurei, intensamente. Estudei, explorei, analisei. Buscava por Hiruma. Por meu Kim Jong. Quantas miseráveis vezes eu havia dormido sobre aqueles mesmos registros? Sem cessar um mísero minuto para descansar? Eu havia me mergulhado neles. Submergi em cada um. O procurava até mesmo nos detalhes improváveis...


Todavia, por mais que buscasse intensamente, quase nada encontrei. Não havia progredido como gostaria, como deveria... e isso era frustrante. Desanimador.


Ao longo de toda a minha busca, tudo o que eu havia conseguido obter de informações relevantes foram a suposta carta de Hiruma e algumas menções (breves) de seu nome, em japonês. A maioria eram registros de hospitais, tudo ao longo de 1941 e 1943. Porém, nada encontrei ao seu respeito "pós-1943". 


Hiruma também não estava em nenhum registro de óbito (não sabia dizer se isso era algo realmente positivo), fosse na Coreia ou mesmo no Japão. Nenhum registro mortuário. Em relação a sua família verdadeira, eu havia encontrado apenas alguns registros de cartório, nada mais que pudesse realmente provar o seu parentesco coreano... poucas coisas verdadeiramente úteis. Também não existia nenhum registro familiar "futuro" seu. Nenhuma esposa, filho, netos ou bisnetos. Nada. Nadinha de nada. Não havia registro de nada, se estava vivo ou mesmo se já havia falecido. Nada. Hiruma havia simplesmente evaporado da história da humanidade e se não fosse por minhas memórias tão vivas, eu arriscaria dizer que eu o teria inventado. Mas eu sabia que não, sabia que ele era real. Eu não me havia me apaixonado por uma imaginação, por uma mera fantasia minha. E isso eu sabia muitíssimo bem. 



***  


🎧 OUÇA SAVINA & DRONES — MY HOME (EUGENE'S SONG) 🎧




LISBOA, PORTUGAL 

📍MUSEU MILITAR DE LISBOA 

10 DE JANEIRO DE 2021


Apesar da temperatura baixa, o dia  estava consideravelmente ensolarado. Já estávamos na segunda semana de janeiro, eu havia reservado aquele dia para uma tarefa muito especial. 


Finalmente visitaria o único museu em Portugal que ainda não tivera a chance investigar, não como realmente gostaria. Iria finalmente acessar os arquivos do Museu Militar de Lisboa.


Eu já havia desistido de voltar para 1943 fazia uma semana. Como eu conseguiria realmente realizar tal feito se ambos "portais do tempo" já não existiam mais? Não era mais possível realizar tal feito milagroso. Impossível, eu sabia. Chorei muito quando finalmente percebi que jamais voltaria à ver Hiruma... aliás, ainda chorava. Todos os dias. Todos os malditos dias eu chorava de saudades dele. Todos. Saudades de algo que não poderia ter novamente. Desisti de voltar ao passado, era verdade, mas não havia desistido de encontrá-lo em registro... isso ainda me era possível. 


Em consequência disso, eu continuaria mais arduamente a minha pesquisa. Eu precisava descobrir o que poderia ter acontecido com Kim, precisava... deveria encontrar algo que realmente esclarecesse a sua vida. Algo que me fizesse conhecer a maneira que ele escolheu viver após aquele agosto de 1943.


Eu havia visitado mais de 57 museus, fossem eles nacionais ou não. França, Alemanha, Itália, Espanha, Holanda, Hungria, Áustria, Croácia, Polônia, Dinamarca. Em todos eu realmente encontrava algo para acrescentar-se à minha "pesquisa", mas nada que fosse realmente significativo. Como havia voltado a viver na Europa, em Portugal, essas viagens não foram efetivamente caras... só eram... frustrantes. Eu ainda não tinha nada concreto de Hiruma. 


Em Portugal somente me faltava este. O Museu Militar. Em Lisboa, a nossa capital. Ele possuía uma acervo confidencial à respeito da Segunda Guerra Mundial e isso era terrivelmente estranho, visto que Portugal alegou neutralidade à Guerra.


Eu já havia visitado aquele estonteante lugar antes... em julho de 2019, em uma excursão com a Universidade de Coimbra, para 16 alunos sorteados.


Pelo o que eu me recordava, no museu eu não havia encontrado propriamente nada de muito interessante. Lembro-me que até cheguei a "vasculha-lo" escondida de minha própria turma... mas nada de muito extraordinário ou mesmo incomum eu havia encontrado em sua área "restrita". Nada de "notável" chamou a minha atenção, ao menos era isso o que eu me recordava... ah, mas também eu não havia investigado corretamente naquela época. Eu não estava a procura de um nome, como atualmente estava. Precisava visitá-lo novamente para fazer uma apuração mais precisa, mais detalhada. 


E este dia finalmente havia chegado. A autorização de minha pesquisa havia sido algo realmente muito difícil de conseguir... demorou para que eu finalmente tivesse o aval que permitiria o meu acesso ao acervo bibliográfico. Para eu tê-lo realmente foi preciso pedir um consentimento diretamente ao diretor do Museu. Também precisei solicitar um acesso exclusivo ao Ministério da Defesa Nacional de Portugal. Ambas autorizações demoraram cinco meses para serem aprovadas. Eu havia solicitado ambas em agosto, no meio do ano. E ja estávamos em janeiro, janeiro de 2021. Demorou um bocado. 


Eu realmente não fazia ideia do porquê tantos trâmites, porém, se quisesse analisar adequadamente esses documentos, como efetivamente pretendia, eu precisaria de tempo. Esconder-me em meio a área restrita não era mais uma opção com anteriormente havia sido, infelizmente. Caso eu fosse até o Museu e acessasse mais uma vez os arquivos secretamente, corria o terrível risco de ser encontrada e nunca mais voltaria à vê-los. Por mais que o processo de autorização demorasse, eu teria de esperar. Eu não tinha mais o "luxo" de espiona-los... não. Precisava acessá-los da maneira correta, isso para a minha própria sorte. E foi exatamente desta forma que fiz: esperei que tivesse a permissão devida para acessá-los oficialmente. Levou-se cinco longos meses...


***  


Quando cheguei apropriadamente ao local, me apresentei corretamente na secretaria. Após a identificação ser aceita, fui encaminhada até a entrada e, após passar pelo detector de metais, fui automaticamente direcionada à uma estranha sala pequena. Nela havia quatro cadeiras e um projetor acoplado. Teria algo para assistir antes de efetivamente analisar os documentos...


Antes que eu pudesse acessar propriamente a área restrita do museu, eu deveria assistir um seminário de orientações acerca da "preservação de documentos históricos". Essa era a metrologia obrigatória para qualquer um que consultasse os arquivos secretos. E eu não suportava mais tanta burocracia, céus.


"E pensar que eu não havia feito absolutamente nada daquilo quando escondida os consultei..."


Contudo, ouvir todas aquelas regras e especificações por quase uma hora já estava me irritando... afinal, eu trabalhava justamente com a preservação de documentos, por Deus, era óbvio que eu conhecia as diretrizes...! Somando a minha impaciência ao meu conhecimento sobre o tema, eu não suportava mais aquilo. Era maçante e eu tinha pressa. Urgência, urgência absoluta. Precisava o quanto antes analisar aqueles documentos. Precisava verificar se neles haviam alguma referência ao médico. O museu porém não permitiria a minha análise sem antes ouvir cada maldita palavra daquela apresentação enfadonha.


O que diabos havia naquela sala para que o museu tomasse tanto cuidado...?? O ponto péssimo era que eu justamente não me lembrava muito do lugar... eu somente me recordava encontrar algumas fotos (com baixa resolução, inclusive) e informações bélicas ultrapassadas... por que então toda aquela vigilância exarcebada?? Não fazia sentido... só se posteriormente coisas mais preciosas que eu ainda não havia visto tinham sido catalogadas... okay, deveria ser justamente isso.


Há cada minuto que se passava uma pequena esperança nascia em meu coração desiludido. Contra o meu próprio bom senso e precaução, as minhas expectativas estavam altas. Altíssimas. Eu poderia me decepcionar com a possibilidade de nada encontrar naqueles registros secretos? Talvez. Contudo, eu ainda nutria esperanças. Sim. Uma esperança mínima de que talvez pudesse realmente encontrar algo, encontrar qualquer prova substancial de Hiruma. Algo que eu ainda não havia visto. Céus, como eu sentia a sua falta. Era doloroso


Eu havia perdido para sempre a única maneira de revê-lo pessoalmente. E agora, mesmo que eu pesquisasse feito uma louca por ele, quase nada encontrava ao seu respeito... era como se a vida tentasse apagá-lo de mim, apagá-lo fisicamente e teoricamente


Sem mais conseguir prestar a devida atenção naquilo, os meus pensamentos foram para longe. Para o passado. Controlava-me para não me debulhar em lágrimas em meio aquela apresentação. Eu só queria ele novamente, ao meu lado. Queria, céus, como queria. Gostaria de tê-lo novamente comigo. Mas eu sabia que isso era impossível. Impossível



***



Após as diretrizes finalmente terminarem, eu assinei mais alguns termos de confiabilidade. Somente depois disso feito que a minha entrada foi enfim autorizada. 


Finalmente. 


Eu tremia da cabeça aos pés, tudo por pura ansiedade. Eu iria finalmente conferir o que haveria naquela sala. Conferiria se existia algo relacionado à ele, algo que realmente expusesse o seu passado. O meu próprio, inclusive. 


Entrei, por fim. 


Assim que cheguei à área restrita, eu fui deixada sozinha. Seria como há cinco meses atrás eu ousadamente havia solicitado: "acesso privado e individual, com comodidade acadêmica mais 'solitária' o possível, tudo em prol do estudo à ser realizado pela solicitante". 


Pensei que fossem desconsiderar este último pedido meu, mas não. Aparentemente eu havia sido deixada realmente sozinha no local, o que era estranhamente ótimo. Era a melhor notícia de muitos meses, afinal... 


Era realmente estranho estar naquele local novamente, sobretudo em circunstâncias tão...diferentes. Inusitadas


Mesmo com aquele meu estranhamento inicial, não pude perder mais tempo: fui diretamente para onde mais desejava em toda aquele familiar lugar. A área com o "Catálogo da Biblioteca do Exército durante a Segunda Guerra Mundial — Invasão Japonesa". Era uma pasta grossa com várias anotações e registros da guerra. Havia sido exatamente naquilo que eu havia "fuçado" outrora. 


Céus, eu tremia. Tremia absurdamente. Quase não conseguia segura-lo. Eu poderia acidentalmente rasgar cada página daquele frágil papel, tamanho a forma que o sacudia


Virando cada uma (sem o devido cuidado necessário), eu finalmente encontrei a página certa. Nela haviam grandes dizeres: "GALERIA DE IMAGENS CONFIDENCIAIS — ALTAMENTE SECRETO — GOVERNO PORTUGUÊS"


Imediatamente fui para a página seguinte. Nele haviam apenas três curiosas coisas: duas fotos, cada uma dentro de um envelope branco envelhecido e algo que se assemelhava como uma carta. Fui diretamente à carta, visto que ela estava sem embalagem, como as fotos. 


Comecei a lê-la atentamente:


"ALTAMENTE CONFIDENCIAL

(MUSEU MILITAR DE LISBOA) 

CARTA DE HIRUMA, KIM JONG — 05 DE JANEIRO DE 1944"


Parei imediatamente.


Tive de reler o seu título, no mínimo, três vezes. Eu não estava acreditando, não realmente. Era efetivamente possível...?? O n-nome... aquilo era... era realmente de... Hiruma....???


"HIRUMA, KIM JONG"


Antes que viesse realmente desmaiar, continuei a leitura daquele preciosíssimo documento. 


"ALTAMENTE CONFIDENCIAL

(MUSEU MILITAR DE LISBOA) 🚫

CARTA DE HIRUMA, KIM JONG — 05 DE JANEIRO DE 1944 


"É noite alta. Os grilos estão cantando exatamente da maneira que você gostava ouvir... ah, você se lembra? Lembra de como eles cantavam? Para nós? Eles ainda estão cantando, como antes. Mas algo está errado... existe um vazio ao redor sem você. É estranho. Eu ando me sentido desconsolado e perdido como nunca antes estive em toda a minha vida. Pensamentos terríveis insistem em me atormentar... e se por acaso eu realmente não puder mais te rever? Quanto mais eu penso em você, mais eu sinto a sua falta. Hiroki aconselhou-me a parar... aconselhou-me que parasse de tentar reviver essas memórias.... mas eu não consigo. Me sinto um peixe que não tem a água para nadar. Mas continuo, indiscutivelmente eu continuo a me recordando...

Céus, você estava tão bonita. Como você espera que eu esqueça? Naqueles dias, apesar de toda morte, apesar de toda dor, toda desconfiança, todo o medo de sermos descobertos, apesar disso tudo a vida era mais bonita. O sol era mais brilhante do que hoje. Não concorda? Almara, não acha? Você era a minha doce amiga. Uma amiga verdadeira. Mas eu lamento que nada regressará. A vida realmente separa aqueles que amam. Deus, como eu sinto a sua falta, Almara"


— O-O... q-q-que...?? O q-que...??!


Eu estava sem fôlego. Não conseguia respirar, não conseguia. O meu coração estava prestes a explodir. O que diabos 

era aquela carta...?! "Kim Jong"? "Hiruma"? "Hiroki"?? "Almara"?! "ALMARA"??! AQUELA CARTA DO PASSADO ERA REALMENTE ENDEREÇADA À... MIM??!


Como aquilo estava ali?? Naquele Museu tão....? Por que?? Como?? Quando?? Por que?? Em um Museu de Lisboa?? Por que...??! POR QUE??!


Eu não poderia jamais mensurar o quanto de tempo fiquei relendo aquele registro. Cada vez que a relia, chorava ainda mais. Mais, mais e mais. Eu já não tinha controle algum quanto aos meu sentimentos, quanto aos meus pensamentos. Estavam todos confusos, incrivelmente caóticos. 


Eu havia finalmente o encontrado. Encontrado Hiruma. Kim Jong. Algo que exemplificasse que realmente chegou existir. Era em um local completamente inesperado, era verdade, contudo, eu havia finalmente achado um documento que realmente provava que viveu como eu mesma havia visto. Como eu mesma havia presenciado. Sentido. 


Chorava absurdamente enquanto segurava aquela preciosa carta. A relia mais uma vez quando, inesperadamente, eu ouvi um barulho. Um estranho barulho. Um grito. Era um som alto, de puro terror. Automaticamente olhei para frente. 


E foi quando eu realmente imaginei estar sonhando. Alucinando



✨🎧 OUÇA HALLELUJAH — KATHERINE JENKINS 🎧✨


Eu deveria estar sonhando. Delirando, de alguma forma...


Eu não estava mais na sala de arquivos confidências do Museu Militar de Lisboa.


Não.


Eu estava sentada com antes estivera, era verdade, mas agora parecia estar em algo mais firme. Ao ar livre de alguma... rua? Em uma pedra...? Sim. Uma rocha, uma rocha no meio de uma rua, uma rua vazia. Uma rua antiga. Um lugar que parecia não pertencer ao nosso... século


Como exatamente eu fui parar até aquele lugar...?? Assim como as Ruínas de Quioto e o Quadro de Akemi, aquele documento precioso era também um "portal temporal"...?



Pessoas caracterizadas pelo século passado passavam despreocupadas por mim. Era nítido um fato inquestionável que eu insistia questionar: eu havia, mais uma vez, voltado no tempo...?


Mas exatamente em qual ano? 


Me levantei confusa, quase tropeçando em meus próprios pés e parei imediatamente a primeira pessoa que encontrei naquela estranha passagem. Era um velho homem (asiático) e parecia estar terrivelmente assustado com a minha repentina ação.


Sem momento algum para a devida comunicação e sutilezas, o agarrei, antes que pudesse fugir.


Pelo amor de Deus, me diga, me diga imediatamente: em que ano estamos?? Em qual dia???


— Mas o q-que?? Quem é você??? Me s-solte agora mesmo!! S-socorro!!


Ele gritava desesperado, em japonês. Não o soltei e tão pouco iria. Não até que me dissesse exatamente em que dia e ano estávamos. Eu o segurava com força, para que não pudesse escapar de mim. Não ainda


Eu havia conseguido, afinal...? Havia voltado para o passado...? Mas... e Hiruma?? Eu poderia estar no Japão?


— Não. Não irei soltá-lo, não até me responda: em qual ano estamos?? Em que dia?? Diga-me!!


O pobre homem estava assombrado. Se ele estava assustado, acredite, eu estava mais. Contudo, não me admira o seu espanto comigo... eu gritava. Esbravejava a plenos pulmões e o segurava como se minha vida dependesse de suas respostas. De fato, dependia. O velho senhor poderia estar bastante amedrontado, era verdade, contudo, eu estava em pior estado. Eu "era" desespero. Desespero completo. Angústia pura. 


— V-você pode falar j-japonês...? Ah... nós... d-digo... 1944! Hoje é-é 10! Dia 10 d-de janeiro! De 1944! Sexta-feira!! Com mil d-diabos....


Eu havia conseguido.


Eu... eu havia retornado. Retornado. Voltado para o passado, para o exato dia em que já estava, 77 anos. Retornado para o dia 10 de janeiro de 1944. Voltado exatamente para onde gostaria de estar. 


— Onde? Onde estamos?? Responda-me!!


— Em Sakyō-ku! Em u-um hospital, perto de Minako![*] Em Quioto! Japão! Agora solte-me sua espurca!!


Japão. Eu estava no Japão. Em Quioto. No dia 10 de janeiro de 1944. Nove meses depois de "morrer" nos braços de Hiruma e 77 anos e cinco meses adiantada do meu próprio presente[**]. 


O soltei, finalmente. Ele era um velho homem. Tinha possíveis 80 anos, era verdade, contudo, a sua idade avançada não o impediu realmente de dar-me um tapa certeiro no rosto. 


Okay, aquilo não havia sido uma "recepção" muito agradável... mas... bem, digamos que eu havia agido mal em agarrar aquele pobre ancião... ah, que culpa afinal tinha eu? Eu estava realmente desesperada. Desesperadíssima. Angustiada e precisando urgentemente de respostas


Após o tabefe em meu rosto, encarei automaticamente o chão. Sentia a minha bochecha direita arder e latejar de dor. Contudo eu estava tão feliz de ter finalmente retornado que não pude realmente me importar. Eu sorria. Muito. 


Eu. Havia. Retornado... verdadeiramente RETORNADO...!!!


Precisava, o quanto antes, encontrar Hiruma. Urgentemente. Urgentíssimo!!


Quase me virando para fugir e irá buscá-lo corretamente, eu estagnei. Os meus pés se transformaram em duas rochas sólidas, e jurei à mim mesma que havia enlouquecido. 


Pare!! Céus, pare já! O que pensa que está fazendo senhor?? Por Deus, não faça isso! Como pode realmente bater em uma moça??


Abri os olhos. Não pude efetivamente ver quem era o dono daquela voz, visto que eu estava de costas para ela. Contudo, nada, nada, NADA NESSE MUNDO INTEIRINHO poderiam me impedir de reconhecer aquela voz.


Tudo a minha volta parou. Estacionou. Tudo desapareceu. Tudo. Tudo, tudo!! Absurdamente tudo! Somente aquela voz ecoou em minha mente, como se eu houvesse mais uma vez sonhado com ela. Imediatamente me coloquei à chorar.


— Doutor! Ah, e-eu... bem, perdoe-me! Mas... por Deus, chame já a polícia!! Agora!!


Mesmo que aparentasse estar arrependido por ter me agredido, o velho homem permaneceu em minha frente, gritando. Aponta angustiado para mim, como se fosse óbvio eu ser o motivo (suficiente) para que ambos chamassem a polícia. 


Eu ainda não havia movido um músculo meu. Nada. Absolutamente nada. Eu simplesmente não conseguia. Petrifiquei-me inteiramente. Não fui capaz... e-eu... eu não conseguia. Não podia me mexer. Não conseguia, não podia. Nem falar ou mesmo pensar...!! Não me era capaz, não era. Simplesmente toda a capacidade de raciocínio cognitivo pleno haviam se esvaído de mim. 


Aquela voz. 


A sua voz. 


Polícia? Por que eu chamaria a polícia, Senhor Ishikawa?


Aquele senhorzinho enfim correu até o seu som, me deixando para trás, ainda de costas. Eu chorava. Chorava abundantemente


Por que?? Não vê doutor?? Uma estrangeira! Uma estrangeira chegou até o seu hospital! Ah, corra! Antes que a descubram! Corra doutor! Eu irei chamar a políc-


Antes que o tal senhor Ishikawa pudesse ir de fato me delatar, o dono daquela voz o segurou. O seu som ainda era o mesmo. Exatamente igual ao que eu carinhosamente me recordava. Idêntico como era há meses atrás. Só estava um tanto trêmulo. Oscilante, assim como eu também estava. Estremecida. Completamente bamba. Desacreditada. 


Aquilo não poderia ser realmente verdade, poderia? Não era um sonho, não desta vez? Não de novo, não... era? Outra ilusão? Outro sonho?


— N-não... senhor Ishikawa... n-não faça isso. Não faça. Não. P-por favor, se tem realmente algum apreço por mim, não f-faça isso... deixe-nos... p-por favor... deixe-nos, p-por Deus...!


Senhor? O que está dizendo doutor Hiruma? Deixá-los?


Quando fechei os meus olhos, lágrimas grossas escorreram por todo meu rosto. Um soluço sôfrego escapou de mim. Eu não poderia estar sonhando, certo? Não novamente...? Não...? Aquilo não era mais uma ilusão que me faria sofrer pela manhã seguinte, como todas as outras vezes? Era mesmo... real?


Pelo amor de Deus, senhor Ishikawa vá... deixe-nos... p-por favor... vá.


Fazia nove meses que ele chorava por mim, acreditando verdadeira que eu havia morrido em seus braços. Ele até poderia ter me enterrado, junto com as suas esperanças. Contudo, fazia nove meses que eu buscava incessantemente por ele em todo e qualquer documentos possível, jurando à mim mesma que jamais o veria novamente, fosse físico ou registrado. Ele não havia sido um fruto de minha imaginação pérfida. Não. 


Ambos traumatizados por nossas próprias perdas. Ambos desacreditados pelas nossas próprias desesperanças pessoais. E agora o impossível parecia que tornaram-se concretamente real: o nosso amor poderia realmente ser vivido além do tempo? Isso era realmente a verdade? Era possível...?


Quando finalmente o meu corpo respondeu aos meu comandos confusos, eu me virei para enfim encara-lo. 


Era ele.


Hiruma. O meu Hiruma.


Vivo, muitíssimo vivo. Em carne e osso. Bem, saudável... lindo. Lindo como sempre foi e haveria de ser. Magnífico de tão bem. 


A-almara...? M-meu Deus... A-almara...??


Hiruma!!!


Sem hesitar por instante algum (e tão-pouco entender o suficiente) Hiruma correu imediatamente onde eu estava. Ele me abraçou. Forte. Tão forte que pensei que, em sua felicidade absurda, me esmagaria. Não que eu realmente me importasse em ser esmagada pelo seu amor transbordante. Nos abraçamos tão intensamente que ambos caímos  diretamente no chão. Mas eu não havia sentido dor alguma, não realmente. Só alegria. Felicidade. Contento. Deleite. Abundamos em nós mesmo. Veemente. Eu havia voltado para ele. E ele para mim. 




ONZE ANOS DEPOIS 

QUIOTO, JAPÃO 

13 DE MARÇO DE 1955


✍🏻 NARRAÇÃO: HIRUMA (KIM JONG)


Mamãe, mamãe, mamãe! Papai! Venham aqui, eu tenho um pedididinho para fazer, para vocês dois. 


— Lee, o que está fazendo? Sabe que já passou da hora do mocinho ir dormir, não sabe? A mamãe já está vindo aqui para desligar o abajur...


— Eu sei papai, mas é rapidinho... ah, mamãe!


Quando Almara entrou finalmente no quatro, pronta para desejar uma boa noite para a nossa riqueza, o garotinho de oito anos saltou do colchão e foi até ela. 


Saltitando, ele foi buscá-la para a levar até a sua cama. Eu já estava acomodado no colchão, sentado em sua borda, apenas admirando o que construímos juntos. Esperava para ver o que exatamente Lee estava aprontando...


Confusa, Almara sentou ao meu lado. Tentou buscar respostas em meu olhar, mas neles somente encontrou suspeitas. Suspeitas que só o nosso garotinho poderia despertar. 


Ah, pronto! Agora posso fazer o meu pedidinho. Aos dois. 


— "Pedidinho"? Que pedidinho, meu bem?


— Mamãe. Papai. Eu queria muito um namdongsaeng (irmãozinho). Pode ser também uma yeodongsaeng (irmãzinha), eu não me importo. Mas gostaria de ter um... onde podemos conseguir? Poderíamos voltar amanhã mesmo onde vocês também me "pegaram" quando eu era nenê e encomendar um igualzinho, um irmãozinho para mim! Que acha mamãe? Não é uma ótima ideia? Papai, por que está tossindo tanto? Está dodói?


— N-não! Não estou dodói querido... ah, m-meu D-deus do céu... A-almara eu não estava preparado para esse tipo de pergunta vindo dele, não tão cedo....!


— Calma, Kim. Acalme-se... e Lee, meu bem, iremos conversar sobre isso depois, está bem? — Almara disse enquanto o cobria gentilmente com a manta. Para variar ela estava completamente calma e tranquila, apesar da pergunta constrangedora de Lee. Ela deixou-lhe um pequeno beijo em sua testa — agora vamos dormir, pois já passou da hora do mocinho descansar, hum? Contudo meu querido, por hora, ainda não. Você não poderá ter um irmãozinho ou irmãzinha. Pelo menos, não ainda. E também não poderá ir buscá-lo amanhã no mercado querido


"P-pelo menos"?! Como a-assim Almara...?!?


Ah, mamãe... prometam pensar um pouquinho mais? Depois de amanhã, então? Ah, se ele for muito caro, podemos esperar até o Natal e pedir para o Papai Noel! Que acha? O papai também gostou da ideia, não é papai? É que eu queria ter um irmãozinho para cuidar também... 


— A mamãe vai pensar, está bem? O papai também. Amanhã conversaremos direitinho. Mas agora, seu maluquinho, hora de dormir. Tenha ótimos sonhos, hum? Mamãe ama muito você, sabe disso não sabe? Sempre


Céus... o papai também viu? Muito. Muitíssimo. Bons sonhos, meu querido. 


— Boa noite mamãe. Boa noite papai. Eu também amo vocês. Amo muito. 


Após Almara enfim apagar o abajur, nós saímos. Juntos. 


✍🏻 NARRAÇÃO: ALMARA JONG


Assim que nos despedimos de Lee e sairmos de seu quarto, ainda perto de nosso próprio, Kim abraçou gentilmente a minha cintura. Beijando o meu ombro, brincalhão ele disse:


Almara? Você quer mesmo "encomendar" um irmãozinho para o Lee...? Foi isso mesmo o que eu entendi...?


Ignorando (por hora) a sua pequena brincadeira maliciosa, perguntei verdadeiramente preocupada: 


— Eu queria entender o porquê dele nos pedir isso agora... será que se sente sozinho? Eu fiquei preocupada, Kim...


— Acredito que não, meu bem. Ele tem apresentado amiguinhos quase diariamente, não tem? — ainda segurando delicadamente a minha cintura, Hiruma me questionava com um tom um pouco mais sério (algo porém que não o impedisse de me fazer singelos carinhos... cócegas vieram automaticamente) — ah, mas eu acho que sei o que poderia ter acontecido. Sim, sim. Agora tudo faz sentido. 


— O que?


Ah, não é nada sério meu bem. Mas é que ontem, antes dele ir à casa de Hiroki, ele me pediu para contar-lhe mais uma vez a nossa história... sim, acredito que tenha sido isso. Hiroki também deve ter lhe dito algo, certamente... sabe como ele gosta de contar, não sabe? Bem, após a visita, Lee me disse sinceramente que gostaria de "cuidar" de alguém como eu cuidei de você e você de mim... jurava por Kirk Douglas[***] que iria registrar cada aventura nossa em um livrinho... eu não te disse isso? Ah, foi muitíssimo fofo. Acho que ele também queria viver uma "aventura" ou algo do tipo... crianças! Tão incríveis, eu me derreto com isso. Ah! Falando em crianças... quando quiser... mais crianças... eu estarei aqui ao seu dispor viu, meu bem? Completamente ao seu dispor...


Após aquela sua última fala galanteadora (e com um suspiro encantador), Hiruma iniciou uma trilha bem-vinda de beijinhos em meu pescoço... calafrios receptivos se fizeram presente, mas eu não dei continuidade aquilo. Afinal... ainda estávamos na frente do quarto de Lee.


— K-kim...!! E-eu... ah, fale baixo. Venha, venha. Eu não quero "corromper" o nosso neném, não até os 12 anos... ah, daqui quatro anos esteja preparado para ter esse tipo de conversa com ele, okay?


— Eu? Terá de ser bem eu a fazer isso? — Hiruma fingia agora um choro tristonho. 


Você é o médico da casa. Ninguém pode ser melhor do que você para isso, meu bem... sinto muito. 


— Oh, está certo, está certo. Também sem esse "tipo" de conversa até Lee ter 12 anos. Okay. Err... meu bem, sobre mais crianças... como vai explicar amanhã à ele que não poderá "ainda" ter um irmãozinho? Uma irmãzinha...?


— Pensei em dizer que não é alta temporada de cegonhas...  


Hiruma riu. Riu bastante. Após a sua deliciosa risada cessar, voltamos a ficar em silêncio. Já estávamos em nosso quarto, especificamente no toalete particular que nele havia.


Kim estava logo atrás de mim, em frente ao espelho do bonito banheiro. Ambos dispersos, visto que nos preparávamos para também descansar. Amanhã acordaríamos cedo para ir novamente à casa de Hiroki. Lee jurava já estar com saudades do tio dengoso e pediu para visitá-lo novamente caso não fizesse (muita) bagunça... promessas eram dívidas, não eram?


Agora distraída, eu penteava completamente absorta o meu cabelo. 


— Almara, olhe para mim. 


Olhei para a minha frente, ainda levemente distraída. Não sabia dizer o porquê, mas Kim sorria. Muito. Hiruma agora não exibia um sorriso de "malícia", como brincava há pouco. Não. Trazia um verdadeiro e genuíno sorriso. Puro, como se estivesse realmente feliz, feliz com toda a sua alma. Vê-lo daquela maneira, mesmo que repentinamente, era impossível também não sorrir. 


— Sim, querido? O que foi...? Por que está me olhando assim...?


Tirando delicadamente a escova de cabelos de minhas mãos, Hiruma as segurou, por fim. Ele olhava à mim tão estranhamente feliz que era impossível não retribuir o seu sorriso.


Kim? O que foi...?


— Eu amo quando me chama de Kim, sabe disso, não sabe? Além do mais minha querida Almara... obrigado.


— Pelo o que, meu amor?


— Por tudo. Tudo. Sabe... enquanto eu esperava que subisse para desejar uma boa noite à nosso neném, eu fiquei refletindo... pesando. Pensando o que seria de mim sem você, meu amor. Obrigado, do fundo do meu coração, obrigado. Obrigado meu anjo. Por esta família incrível que você me presentiou. Pelo nosso menino. Ele é perfeito... ele é... céus, ele é tão incrível. Tão inteligente, tão esperto Almara... obrigado. Obrigado. Por tudo. É mais, bem mais do que um diga eu poderia sonhar. Almara. Vocês são as minhas riquezas. Minhas duas maiores riquezas. Eu os amo, amo do fundo do meu coração, sabe disso não sabe? Sabe meu amor? Hum?


— K-kim... — como não chorar diante aquela declaração tão repentina? — ah meu querido... eu também o amo. Muito. Muitíssimo. Você nem poderá um dia imaginar. E é eu quem agradeço. Por tudo. Novamente meu querido. Obrigada. Por tudo. 




ASSINATURA 

LEE SUN-JONG, 33 ANOS, 1977, QUIOTO, JAPÃO.

REGISTRO DE VIDA MEUS QUERIDOS PAIS: ALMARA COSTA JONG E KIM SUN-JONG, TAMBÉM CONHECIDO COMO "DOUTOR HIRUMA". 

REGISTRO ALTAMENTE CONFIDENCIAL

"NÁUFRAGA DO TEMPO"


JAPÃO E PORTUGAL 

(PASSADO E PRESENTE)




FIM




🥺


NOTAS

[*] MONTANHA MINAKO — É a montanha mais alta de Quioto. Fica exatamente em Oharaogosecho, Sakyō-ku, Quioto. 

[**] MESES (LINHA DO TEMPO) — Se a linha temporal das personagens ficar muito confusa, por favor, vá até o final deste capítulo. Lá terá uma Linha do Tempo didática para os leitores hehe ✨💅🏻 

[***] KIRK DOUGLS — Kirk Douglas (nascido Issur Danielovitch Demsky; Amsterdam, 9 de dezembro de 1916 — Beverly Hills, 5 de fevereiro de 2020) foi um ator, cineasta e autor norte-americano. Centenário, ele foi uma das últimas estrelas vivas da Era de Ouro do Cinema Americano. Douglas é amplamente considerado um dos melhores atores da história do cinema. É pai dos atores Michael Douglas e Eric Douglas e do produtor cinematográfico Joel Douglas.


.

.

.



🎖 ELENCO 🎖


Tuba Buyukustun como a historiadora e arqueóloga Almara Castro: 26 de março de 1994;

Kim Seokjin como o médico Hiruma (Kim Jong): 15 de dezembro de 1915 (28 anos em 1943);

Jung Hoseok como o nipo-coreano Yoshida Hiroki;

William Chan como o general nazista do Exército Japonês, Iwane Matsui;

Huang Zitao como o charlatão e mafioso Ken Masao;

 Zhang Yixing como Lee (filho de Almara e Hiruma em 1977, com 33 anos)


Obrigada.

Eu agradeço com todo o meu coração por cada comentário, cada reação positiva, cada crítica-construtiva. Agradeço à todos os leitores que até aqui chegaram.

Por longos dois anos, essa história finalmente chegou ao seu fim.

A personalidade de Hiruma foi inspirada no ator Yang SeJong (양세종) e em sua atuação no drama "My Country: The New Age (나의 나라)"

A personalidade de Almara foi inspirada na atriz Ayelet Zurer, em sua personagem "Drª. Vittoria Vetra" no clássico de Dan Brown, "Anjos e Demônios". 

Espero que tenham gostado, de coração. 


LINHA DO TEMPO


📌 07 JULHO — 2019 (PORTUGAL)

- ALMARA VISITA PELA PRIMEIRA VEZ O MUSEU MILITAR EM LISBOA

((CAPÍTULO 07))

📌 20 MARÇO — 2020 (PORTUGAL)

- ÚLTIMO DIA DE ALMARA EM LISBOA

((PRÓLOGO))

📌 23 MARÇO — 2020 (JAPÃO)

- CHEGADA DE ALMARA À QUIOTO

((CAPÍTULO 01))

📌 02 ABRIL — 1943 (JAPÃO)

- ALMARA VISITA ESCONDIDA AS RUÍNAS DE QUIOTO

- CHEGA PELA PRIMEIRA VEZ À 1943

((CAPÍTULO 02))

📌 01 ABRIL — 2020 (JAPÃO)

- ALMARA RETORNA AO SEU PRESENTE APÓS TER SIDO SOTERRADA NO DISTRITO DE YOZA

- ALMARA ENCONTRA A CARTA "NÁUFRAGA DO TEMPO" EM SUA PRIMEIRA VERSÃO

((CAPÍTULO 13))

📌 20 ABRIL — 2020 (JAPÃO)

- ALMARA DESISTE DE TENTAR RETORNAR À 1943

((CAPÍTULO 15))

📌 AGOSTO — 1943 (JAPÃO)

- ALMARA RETORNA INESPERADAMENTE À 1943, DIRETAMENTE PARA AGOSTO APÓS VISITAR O MUSEU DE ARTE SUMIYA MOTENASHI

((CAPÍTULO 15))

📌 01 AGOSTO — 1943 (JAPÃO)

- ALMARA E HIRUMA SÃO CAPTURADOS POR KEN MASAO 

- CONSEGUEM FUGIR

((CAPÍTULO 15 ~ 17))

📌 07~13 AGOSTO — 1943 (JAPÃO)

- APÓS CONSEGUIREM FUGIR DE KEN MASAO, HIRUMA E ALMARA VIAJAM ATÉ NAGASAKI PARA BUSCAR AUXÍLIO À HIROKI YOSHIDA

((CAPÍTULOS 18 ~ 31))

📌 14~25 AGOSTO — 1943 (JAPÃO)

- ALMARA VIVE TEMPORARIAMENTE NA CASA DOS YOSHIDAS

((CAPÍTULOS 32 ~ 41))

📌 26 AGOSTO — 1943 (JAPÃO)

- ALMARA LEVA UM TIRO DE IWANE APÓS FUGIR DA DENÚNCIA DE SAKURA YOSHIDA

((CAPÍTULOS 42 e 43))

📌 01 ABRIL — 2020 (JAPÃO)

- ALMARA AO SEU PRESENTE, PARA ABRIL DE 2020

((CAPÍTULO 43))

📌 MAIO — 2020 (PORTUGAL)

- ALMARA RETORNA À COIMBRA PARA ENCONTRAR RESPOSTAS DE QUEM UM DIA FOI HIRUMA

((CAPÍTULO EXTRA))

📌 DEZEMBRO — 2020 (PORTUGAL)

- ALMARA RETORNA AO MUSEU MILITAR DE LISBOA QUE HAVIA VISITADO EM 2019, BUSCANDO RESPOSTAS

((CAPÍTULO EXTRA))

📌 10 JANEIRO — 2020 & 1944 (PORTUGAL) (JAPÃO)

- ALMARA ENCONTRA UMA CARTA DE HIRUMA JUNTO ÀS MESMAS FOTOS QUE TIRARAM EM 1943. TAMBÉM HAVIA UMA CARTA. A CARTA ERA DE 05 DE JANEIRO DE 1944. TUDO ESTAVA NA ÁREA CONFIDENCIAL DO MUSEU MILITAR DE LISBOA

- ALMARA CONSEGUE RETORNAR AO PASSADO, PARA 10 DE JANEIRO DE 1944. DIRETAMENTE PARA QUIOTO, JAPÃO 

((CAPÍTULO EXTRA))

📌 MAIO — 1955 (JAPÃO)

- ALMARA E HIRUMA COLOCAM O SEU FILHO LEE PARA DORMIR

((CAPÍTULO EXTRA))

📌 1977 (JAPÃO)

- AOS 33 ANOS, EM 1977, O FILHO DE ALMARA E HIRMA TERMINA FINALMENTE OS REGISTROS DAS MEMÓRIAS DE SEUS PAIS

((CAPÍTULO EXTRA))


CURIOSIDADES

- HIRUMA E ALMARA NÃO FICARIAM JUNTOS NO FINAL DA HISTÓRIA (A minha irmã me ameaçou para que isso não acontecesse. Eu tive de criar o capítulo extra para que ambos realmente ficassem juntos hahaha 😂🤪)

- O ENREDO DESSA HISTÓRIA SURGIU APÓS UM SONHO MEU (bem doido diga-se de passagem) QUE TIVE, EM 2017.

- HIROKI TERIA UMA "QUEDA" POR ALMARA E ELE CHEGARIA A ACREDITAR EM SUA HISTÓRIA REAL (VIAGEM NO TEMPO), MAS AMBAS IDEIAS FORAM DESCARTADAS 

- HIROKI HAVIA FUGIDO PARA A CHINA APÓS SAKURA DELETAR A SUA PRÓPRIA FAMÍLIA. SÓ DEPOIS QUE A GUERRA TERMINASSE QUE ELE, SEU PAI E SUA MÃE RETORNARIAM PARA O JAPÃO, MAS NÃO PARA NAGASAKI.

- A IDEIA INCIAL ERA QUE HIRUMA VIVESSE COM HIROKI, ATÉ 1945, MAS A IDEIA TAMBÉM FOI DESCARTADA

- SAKURA NUNCA MAIS HAVERIA APARECIDO PARA A PRÓPRIA FAMÍLIA E NÃO SE SABE O QUE ÊXTASE ACONTECEU À ELA

- INICIALMENTE LEE (FILHO DE AMBOS PROTAGONISTAS) SERIA CHINÊS E A HISTÓRIA SERIA NARRADA POR ELE



👘


"O livro é um objeto mágico capaz de te transportar para vários mundos e viagens no tempo"

Silvano Colli


👘


"A vida é um relâmpago nas bordas do tempo... 

Como viajante do infinito escolho ser luz por uma fração de segundos... ou deixar um vazio somatório de muitos nada como marca da minha passagem"

Maria Aparecida Giacomini


👘


"O que nos torna únicos é a consciência, algo individual. E se viajar no tempo fosse possível usando apenas isso, nossa consciência?

Talvez a viajem no tempo seja mais simples do que imaginamos"

Maryanne Schramm


FIM


04 de Maio de 2018

~

24 de Maio de 2020



🥺




Não se esqueça de votar. Obrigada

↘️⬇️↙️



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...