História Nebula Boy - Anos Luz

- Por que você fez isso a si próprio? - perguntou Johann olhando para as cicatrizes. Para fazer aquilo ele deve ter passado por algo extremo.

- Deve ter sido pelo mesmo motivo que o seu. Sinto um vazio além da minha falta de memória. Mas temo o que deve ter sido, pois quando me lembrar de tudo essas coisas ruins também voltarão junto.

- Se eu puder te ajudar novamente eu irei – disse Johann – Você é mesmo muito misterioso e quero muito saber sua história.

E pela primeira vez Rigel sorriu. Um sorriso simples e sem mostrar dentes, mas sincero que combinava com a beleza ímpar de seu rosto.

- Rigel, você gosta de estrelas né. Venha ver isso.

Johann o chama para perto da janela e lhe apresenta Órion – seu telescópio. Ele o havia comprado com o dinheiro que recebeu do emprego e isso o fazia se afastar dos pensamentos negativos.

- Observe essas estrelas aqui – disse posicionando o telescópio num ângulo de 45° para o céu – olhe por aqui.

Rigel obedeceu e observou um conjunto de estrelas brilhantes no céu noturno.

- Está vendo?

- Sim! São incríveis! – sorriu Rigel.

- Essa constelação se chama Órion. E essas três estrelas são chamadas de Três Marias. É o cinturão de Órion. Agora preste atenção nessa estrela azul.

- Que legal! É gigante!

- Adivinhe o nome dessa estrela.

- Não faço ideia...

- Enquanto eu estava voltando pra casa eu me lembrei de onde se lembrava do seu nome – sorriu Johann -  E é dessa estrela, que talvez ela tenha origem. Ela se chama Rigel.

Ambos ficaram quietos por alguns minutos. Rigel olhava a estrela com seu nome e a constelação na qual estava. Parecia encantado com toda aquela beleza. Aquilo lhe trazia uma tranquilidade junto com uma estranha sensação que não sabia como explicar.

- Isso é incrível! - disse.

- Sim. Você gostaria de ir ao planetário comigo? - convidou Johann.

- Planetário?

- Sim. É um lugar onde podemos ver os planetas e várias estrelas bem de perto. Eles explicam muito sobre esse universo. Depois de amanhã vai ter um eclipse da lua e eles vão explicar o que vai acontecer. E então? Quer ir comigo?

- Claro! – sorriu Rigel deixando o telescópio de lado - Vai ser divertido.

Dessa vez Johann viu um sorriso aberto de Rigel e um brilho nos olhos do rapaz se ascendeu. E ambos eram lindos.

Johann e Rigel passaram o fim da noite na sala vendo televisão e comendo pipoca. Johann estava começando a sentir algo diferente por Rigel. Ele tinha algo misterioso que o atraia assim como um planeta solitário era atraído por um buraco negro. Algo que o deixava calmo e que fazia todas as suas inseguranças sumirem e lhe traziam uma estranha vontade de viver. Outra coisa que tinha percebido sobre Rigel é que ele não conseguia se lembrar do passado, mas a sua dificuldade com o idioma parecia não existir mais. Seja lá de onde ele fosse deveria ter algum parente ali ou então nasceu em outro país e se mudou para lá há alguns anos, embora ainda tivesse um sotaque singular. Outro fato que também era estranho era que ninguém parecia estar sentindo falta dele. Rigel não estava sendo procurado por ninguém. Nada aparecia na televisão, nos jornais ou entre as fofocas costumeiras dos vizinhos. E isso só aumentava a dúvida: Quem era Rigel?

Na tarde do dia seguinte, Johann e Rigel vão até o planetário da cidade. A viagem durava cerca de uma hora e meia e na última meia hora, Rigel não passou muito bem e chegou a vomitar dentro do ônibus. Sorte que o veículo estava vazio. A sessão no planetário começou meia hora depois deles terem chegado. O ponto principal do prédio era uma cúpula púrpura que chamava a atenção até de longe. Era ali que estava o gigantesco telescópio que poderia ver diversas galáxias onde era impossível de se chegar com uma nave espacial construída pelo homem. Ali também eram dados aulas, palestras e ensinavam muito sobre o universo. E naquele dia eles iriam falar sobre eclipses e constelações. A seção não estava cheia. Era uma quarta-feira e dos duzentos lugares nem setenta estava ocupados. Tinham professores, alunos e algumas pessoas que se interessavam por estrelas.

Ás seis horas da noite a sessão anunciada começou. O teto se iluminou e pequenos pontos luminosos brilhavam aqui e ali. Uma voz vinda dos autos falantes espalhados no auditório fez uma breve apresentação do nascimento das estrelas, dos planetas e dos satélites naturais. Era como se todos ali estivessem em uma nave espacial e vissem tudo de sua poltrona confortável. Sentados ali, naquela poltrona que vibrava cada vez que uma explosão ou som mais forte acontecia, Johann se sentia fascinado assim como Rigel, cujos olhos brilhavam, embora ele parecesse estranhamente nervoso. Johann imaginou ser a primeira vez dele num lugar desses e sussurrou que era para ele ficar tranquilo.

- Por favor, coloquem os óculos 3D que estão debaixo de suas poltronas – anunciou a voz do apresentador – Vamos levar vocês à outra dimensão.

Todos na sala puseram seus óculos e segundos depois tudo que ficava no teto estava espalhado por todo o lugar. Era como se flutuassem e pudessem ser tocados. Depois uma luz forte iluminou o espaço e as estrelas se tornavam borrões, os planetas passavam centímetros de distância e os cometas pareciam que iam lhe atingir a qualquer momento. Viram o sol, os planetas, a Terra, a lua e viajaram até outras constelações. Viram o nascimento de uma nébula e a explosão de cores em brilhos estonteantes. Tudo era fascinante para Johann, mas ao contrário dele Rigel, estava nervoso. Numa explosão de cores vivas de uma simulação de descida em um planeta recém-descoberto algo pareceu lhe assustar e sem que percebesse agarrou a mão de Johann que estava no seu lado esquerdo. Johann se assustou com a mão gélida, macia e suada do rapaz que parecia estar com medo de algo.

- Você está bem?

Mas Rigel não respondeu. Sussurrava frases em uma língua estranha e protegia o rosto com as mãos como se pudesse ser atingido por algo. Como estavam sentados um pouco afastados de outras pessoas, elas não perceberam o que estava acontecendo. Rigel parecia apavorado com algo e assustado Johann o puxa pela mão e tira os óculos 3D do rosto do rapaz.

- Ei! Rigel! O que houve? - perguntava Johann olhando nos olhos de Rigel que brilhavam em um misto de cor violeta e azul marinho, cores que não estavam em nenhum lugar das luzes do planetário.

- Não estou me sentindo bem...

- O que houve? Deve ter ficado zonzo com as luzes – mas Rigel não o olhava mais, seus olhos estavam vidrados no teto do planetário.

A voz do alto falante voltou a falar:

- Essa estrela gigante é uma das que mais chamam atenção no céu de ambos os hemisférios. Ela é muito usada pelos navegantes, pois é visível em todos os oceanos. Muitos acreditam que se você o olhar, ele o olhará de volta e de alguma forma irá de ajudar se estiver perdido. Essa estrela se chama...

- Rigel – respondeu Rigel com os olhos brilhantes, ao mesmo tempo em que o locutor também terminava a frase.

Johann queria entender por que Rigel estava agindo daquela forma, e parecia que ele estava se lembrando de algo.

- Eu não quero voltar para casa – sussurrou Rigel.

- Você se lembrou!? Lembrou! Onde é sua casa? - perguntou com o coração batendo forte.

Rigel olhou para Johann e apontou para uma massa colorida que se destacava a uma grande distância da estrela que levava seu nome. Ela era gigante e multicolorida. Era uma Nebulosa. E era para lá que Rigel apontava.

- Não quero voltar para lá...

...Continua

(^_^)\/

by Hikari-Monster