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História Neptune - O planeta mais distante


Escrita por: DDunuts

Notas do Autor


EIS-ME AQUI COM MAIS UMA FANFIC
Então, essa é triste pessoal
Cuidado porque tem... muitas referências ao passado do Andrew
E é meio pesado, okay? O final é feliz mas isso é angustia pura

LEIAM OUVINDO NEPTUNE DO SLEEPING AT LAST!!

Capítulo 1 - O planeta mais distante


AVISO DE GATILHOS: Menção a abuso sexual passado, pensamentos autodestrutivos, referencia a automutilação, violência passada e abuso infantil.



Andrew estava frio.

Não era nada diferente, não quando ele já havia passado tantos e tantos anos sem ter a mínima noção do que era se sentir aquecido. Era a mesma sensação de membros entorpecidos de sempre ― a mesma que fazia com que ele mal pudesse se mover em alguns dias, que tornavam suas pernas tão pesadas como pedras submersas.

Mesmo ali, as luzes brilhantes do Éden não podiam causar a menor faísca, a bebida simplesmente não queimava sua garganta ―  as pessoas felizes, suadas e altas que dançavam não faziam nada além de fazê-lo se sentir sufocado. Mesmo quando Andrew burlou os seguranças e arrombou a porta que dava para o telhado, ele não pôde impedir o zumbido em seus ouvidos ou o arrastar de suas pernas moles.

Sua cabeça estava a quilômetros de distância ― em um quarto com uma porta trancada, cama com cobertores suaves e xícaras iguais. Sua cabeça estava em Neil.

Sempre Neil. Irritante, estúpido e interessante Neil.

Confuso, compreensivo e maldito filho da puta, Neil.

A merda mais corajosa que Andrew já viu em sua vida, assim como o maior covarde que já teve o desprazer de conhecer. 

Neil era surpreendente e Andrew o odiava. Ele odiava surpresas. Ele odiava o quanto ainda se sentia pequeno apenas com a ideia de Neil. 

E era esse ódio, essa sensação de pavor, que o levou ao motivo de estar a ponto de jogar seu celular do telhado e torcer para que ele acertasse um carro ou causasse um acidente com vítimas fatais. Apenas para ver se Andrew poderia causar mais dano do lado de fora que do lado de dentro. 

A mensagem dizia apenas “venha para casa se não estiver okay” ―  mas era mais que isso. O próprio Neil havia dito antes, meses atrás que mais se pareciam séculos, Andrew foi uma criança adotiva.  Ele sabia o que significava a palavra casa para pessoas como eles, que tiveram que lutar a cada segundo de suas vidas pelo pouco que tinham.

Andrew apertou o celular em sua mão com força e respirou fundo.

Essa situação toda era ridícula, ele nem mesmo devia estar tão perturbado por aquilo. As raposas adoravam Neil e elas definitivamente não eram tão emocionalmente atrofiadas quanto ele ― era óbvio que em algum momento aquela frase sairia.

E era só o que era. Uma frase, um conjunto de letras que formavam palavras com um significado que Andrew nunca pôde entender.

Mas a lembrança de Matt esmagando o corpo de Neil em um abraço, rindo alto porque Neil o chamou de amigo. Matt dizendo a Neil que o amava, deixou Andrew estranho.Como se o mundo virasse de ponta cabeça e saísse do eixo.

A expressão no rosto de Neil ao ouvir aquilo…

Olhos arregalados e brilhantes, a boca aberta e sobrancelhas quase encostando no couro cabeludo.

Ele parecia surpreso. Tão surpreso que apenas murmurou um agradecimento pequeno e saiu direto para o telhado, voltando apenas quando Andrew disse a ele que estavam indo para Columbia naquela tarde.

Neil decidiu ficar em casa durante a noite e Andrew não questionou e até ficou entre ele e Nicky quando o outro ficou de coração partido por Neil dizer não.

Andrew, olhando para toda a situação, quase pensou que seria melhor ficar em casa também ― sua cabeça não parava de dar voltas em torno do mesmo tema.

Algum dia ele seria capaz de dizer a mesma coisa a Neil?

Algum dia ele seria capaz de amar alguém?

Cerrando sua mandíbula, Andrew discou o número de Neil sem precisar checar as teclas e chamou.

Tocou uma vez apenas e Neil atendeu, o que para ser sincero era estranho levando em conta que era mais provável Neil aceitar cortar fora uma perna que levar seu celular com ele quando pediam.

Uma parte pequena de Andrew sabia, no entanto, que a razão para que Neil tivesse atendido tão rápido, era porque ele estava ligando. O pensamento fez um pouco do frio ir embora e suas pernas tornarem-se um pouco mais leves.

― Ei. ― A voz de Neil era baixa e difícil de ouvir por culpa das batidas altas e tremores que a música do clube proporciona.

― O que está acontecendo?

Andrew não tinha certeza se qualquer outra pessoa entenderia, se alguém mais poderia ouvir o “o que você está fazendo” no que ele disse, mas Neil tinha um sexto sentido fodido quando se tratava de Andrew, então  contra o que a maioria faria ―  porque Neil não era como a maioria, ele era como Andrew. Ele entendia, ouvia e via. ― respondeu:

― Apenas no nosso quarto. ― E um outro pequeno pedaço de frio se desprendeu de suas juntas doloridas. ―  Ouvindo algumas músicas e bebendo sua nova bebida favorita. ―  Falou em tom de provocação.

Andrew torceu o nariz, provavelmente chá então.

― Música? ― Indagou de volta, tentando manter Neil falando. Andrew havia descoberto apenas recentemente o quão bem Neil poderia cantar.

Ele contou algumas histórias sobre como às vezes Mary o colocava para cantar nas ruas e ganhar algum dinheiro extra quando eles não pudessem chegar a uma das reservas por algum tempo ― contou também como Nathan tentou arrancar isso dele com uma lâmina cega quando o pegou cantando pelo casarão frio em Baltimore.

― Quer ouvir?

Andrew não respondeu, mas ele não precisava.

A voz de Neil soou quase que no mesmo momento. Calma, suave e um pouco rouca ― enviando arrepios pelos braços de Andrew quando a rouquidão era agravada pelo chiado constante da ligação fazia com que o seu francês soasse mais acentuado do que normalmente era.

Ele cantou por dois minutos, ao menos foi o quanto Andrew ouviu.

Andrew ainda estava frio, seus membros ainda eram pesados ― mas era mais suportável agora. Quase como se lentamente ele estivesse sendo exposto ao sol e descongelando no processo.

Como se Neil fosse sua enorme massa de fogo particular.

Quando mais jovem, Andrew se manteve ocupado pesquisando mais sobre o espaço ― ele não diria que estava interessado, era difícil se interessar por algo quando ele passava a maior parte do tempo tentando fingir que sua vida não era dele, quando ele tentava fingir ser uma pessoa diferente habitando aquela pele manchada e dolorida.

Foi assim que ele decidiu que se fosse um planeta, provavelmente seria Netuno.

O mais distante do sol, do calor.

O menor dos planetas entre os gigantes gasosos, o mais indefeso entre os maiores.

Andrew uma vez havia sido tão pequeno e indefeso quanto uma estrela sem brilho, dizendo coisas que trariam amargor a sua língua até o dia de sua morte, acreditando em falsas promessas, implorando por algo que nunca deveria ter sido tomado em primeiro lugar. Que implorava para que as mãos parassem, para que a dor fosse embora, para que ele pudesse dormir tranquilo em sua propria cama sem temer cada ruído que viesse do lado de fora da porta.

Crianças normalmente tinham medo dos monstros embaixo de suas camas, ele sabia que os monstros usavam sempre a porta da frente.

Andrew há muito havia calado a criança dentro de si que pedia, que queria e que desejava ― que machucava, que doía e ainda esperava pelo melhor.

Então, sim. Em certo ponto, Andrew se via como Netuno.

O mais distante do sol.

O menor entre os maiores, o mais afastado daquilo que o manteria aquecido, o mais frio.

Andrew era como Netuno e Neil atraía pessoas como a órbita do sol.

Ele não sabia como seria conseguir alcançar o calor, mas sabia que o gelo nunca derreteria ―  não completamente. Ele ergueu suas barreiras para impedir isso.

Agora, se lembrando da expressão de Neil quando Matt disse que o amava, Andrew pensou que talvez ele pudesse querer quebrar aquelas paredes para Neil.

Era estúpido, ele devia saber melhor que isso. Querer doía, querer nunca foi o suficiente antes e definitivamente não seria o suficiente agora.

Andrew nunca foi o suficiente antes.

Não seria surpresa não ser agora também.

Mas Andrew sabia que não podia ir por esse caminho, ele sabia que estava projetando e quase podia ouvir a voz de Bee em sua cabeça dizendo para manter os pensamentos longe, porque só o machucariam mais e sem necessidade.

Andrew quase não pôde deixar de zombar. Desde quando ele se importava o suficiente consigo mesmo para ouvir sua Bee imaginária?

― Ei? Tudo bem? ― Ele piscou algumas vezes, sendo trazido de volta de seus pensamentos pela voz de Neil e se lembrando do porquê se importar em não se machucar. ― Você parecia fora.

Andrew se sentia fora, mesmo que fosse mais fácil se mover agora. Ele se sentia a um passo de ficar frio novamente.

  Preciso falar com você. ―  Porque não era justo com Neil manter isso sob as cobertas, não quando o envolvia também. Não quando era principalmente sobre Neil.

  Okay? Por aqui ou você vem para casa?

E lá estava novamente. Casa.

― Casa. ― Entoou a palavra.

― Estarei aqui.

E então desligou. Sem adeus, sem nada.

Andrew sentiu como se estivesse sendo retirado da água gelada por alguma razão.

 

-

 

Quando eles chegaram em casa, o lote rapidamente se dissipou. Nicky e Aaron muito bêbados para tentar fazer qualquer coisa como beber água, comer ou tomar banho. Kevin surpreendentemente ― ou não, já que ele estava tentando diminuir a bebida ― estava quase sóbrio e perguntou de passagem se Andrew gostaria de algo para comer, o que ele não fez. Não porque não estava com fome, ele estava, mas porque Kevin desconhecia o significado de de sabor e achava que as coisas eram comestíveis apenas quando estivessem verdes de couve ou espinafre.

Kevin tentou perguntar algo mais, mas Andrew já estava subindo as escadas em direção a seu quarto.

A porta estava fechada, mas as luzes estavam acesas ― havia música tocando bem baixinho e um murmúrio rítmico que Andrew sabia ser Neil acompanhando o que quer que estivesse ouvindo. Ele abriu a porta devagar, para que Neil soubesse que ele estava entrando e não se assustasse.

Mas o único surpreso foi o próprio Andrew.

Porque lá, parado no meio do quarto movendo-se no ritmo do som em uma espécie de dança mal sincronizada, estava Neil com os olhos fechados.

Ele não estava sorrindo, mas seu rosto estava relaxado e aberto. Não exatamente suave, Neil era suave muito poucas vezes ― mas ele parecia em paz.

Andrew pensou em voltar para a sala, parecia íntimo. Parecia um segredo que Neil não havia oferecido, mas quando ele deu um passo para trás ― os olhos de Neil se abriram e aquele azul indescritível se focou completamente nele.

A dança desajeitada parou, mas seus ombros não enrijeceram, a paz em seus traços não desapareceu.

Neil sabia que Andrew estava lá desde o começo.

― Ei. ―  Disse pela segunda vez na noite.

E a mente de Andrew estava girando, brigando e gritando.

Ele não podia saber se algum dia teria aquilo, se algum dia conseguiria ter aquilo. Aquela expressão de paz.

Andrew nem mesmo sabia mais como era seu rosto sem a máscara fria, olhos furiosos ou o sorriso maníaco.

Como seu rosto seria com uma expressão natural? Uma que não foi moldada ali por necessidade ou forçada contra sua vontade?

Como seria Andrew se ele não fosse Netuno?

Ele não sabia.

― Você está bem?

Sua mão tremeu, o desejo de bater em alguma coisa, de jogar seu corpo contra algo simplesmente para sentir o impacto. Para sentir algo, porque de repente ele estava frio demais e parecia vazio e o vazio iria engoli-lo.

― Vá embora.

Neil não obedeceu, ele nunca foi bom nisso e Andrew sabia disso. Sim, ele sempre fazia o que Andrew dizia a ele sempre, mas não quando seria prejudicial ― não quando sabia que Andrew estava tomando uma decisão que machucaria a si mesmo.

― Você precisa que eu vá, quer que eu vá ou só acha que se eu ficar você vai me machucar? ― Andrew o encarou, tentando desesperadamente não refletir sobre o quanto Neil o conhecia. O quanto ele via e no quanto aquilo era novo e perigoso porque coisas novas e desconhecidas eram perigosas porque estavam lá sempre para tomar, sempre para machucar.  ― Do que você precisa? 

Andrew sentiu seus lábios racharem em um sorriso seco e amargo

― De você. ― Disse enquanto deixava o veneno escorrer de sua voz. Tentando assustar Neil, querendo assustar Neil.

― O que você precisa que eu faça?

Os pensamentos pararam abruptamente e ele piscou. Primeiro confuso, mas então a raiva substituiu qualquer outra coisa.

Neil não estava assustado. Ele não estava com medo.

Andrew estava armado, pelo amor de deus.

― Fique reto, braços para trás. Não se mova. 

Neil nem mesmo piscou antes de obedecer. 

Andrew se aproximou dele, deixando o sorriso cair e seus olhos se fixarem em cada centímetro do corpo de Neil. Ele levou os dedos trêmulos até o seu pescoço, bem acima da jugular. 

― Você é tão estúpido. ― Sussurrou enquanto deslizava o polegar pela pele acima da veia. ― Eu estou armado, você está vulnerável. Seria tão fácil te machucar, Neil. ―  Fácil demais. Porque Neil confiava nele, porque Neil não resistiria e isso o assustava ‘pra caralho.

Ninguém confiava assim em Andrew. Não antes, não agora. Sempre foi desconfiança, olhares estranhos até que ele se provasse dócil o suficiente.

Eu poderia? Andrew se pegou pensando. Ou eles quebraram essa parte também?

― Você nunca faria isso. Você nunca me machucaria. 

Eu poderia aprender a amar algum dia?

― Você não pode confiar em mim. ― Porque nem Andrew confiava em si mesmo, era ridículo pensar que Neil poderia.

― Mas eu faço. 

― Não, Neil. ― Andrew cobriu a boca de Neil antes que ele a abrisse para responder. ― Não diga coisas que você não pode entender. ― Porque mesmo que Andrew confiasse em Neil, ele não tinha certeza se algum dia retribuiria tudo aquilo. Para ele, confiança era a coisa mais frágil de si mesmo que poderia entregar a alguém e, exceto pouco mais de três vezes, todas as vezes essa ínfima confiança foi esmagada no chão com tanta força que ele havia parado de tentar. Doía demais ser decepcionado, então Andrew decidiu não sentir mais a dor.

Mas talvez…

Talvez ele pudesse? Neil foi um dos únicos que cuidou das poucas expectativas que Andrew lhe confiou. O único que perguntou e aceitou a resposta que recebeu. O único que entendeu o que um não significava.

Então, mesmo contra seu melhor julgamento. Mesmo que tudo de si gritasse para que Andrew parasse de se matar um pouquinho de cada vez sempre que ele encontrava alguém que ele queria, ele disse:

― Não se mexa. 

Neil parecia esperar que Andrew o beijasse com raiva, com força. Parecia esperar dentes em sua pele, qualquer coisa que pudesse acalmar Andrew ― e ele sabia, apenas pela expressão em seu rosto, que Neil permitiria tudo isso. Ele permitira qualquer coisa que desse a Andrew um pouco de paz. 

A ideia disso o deixou arrepiado, não querendo saber até onde a fé cega de Neil iria, até onde ele deixaria Andrew ir.

Então, confiando mais uma vez, mesmo que fosse doer, ele ficou na ponta dos pés para equilibrar as alturas, passou os braços envolta do pescoço de Neil e-

...e o abraçou. 

Os braços de Andrew o agarraram e trouxeram para perto, tão perto que ele pôde sentir o momento em que Neil prendeu a respiração, como se temesse que se seu peito subisse para um fôlego, isso o assustaria para longe 

Mas Andrew não o soltou quando Neil finalmente respirou. Seu peito mal roçou a pele coberta de Andrew e, mesmo nos poucos lugares em que fez, não foi nojo ou repulsa a sensação que predominou.

Foi o calor. 

Andrew se moveu um pouco mais para perto e enterrou o rosto no pescoço de Neil, seus olhos ardendo e nariz formigando.

Ele não sentia vontade de chorar a quantos anos?

Ele já havia abraçado alguém?

Alguma vez ele foi abraçado por alguém?

Eu poderia? A voz em sua cabeça era jovem. Jovem o suficiente para que seu estômago embrulhar. Eu poderia aprender?

 ― Andrew? ―  Neil perguntou baixinho. ― O que aconteceu?

Andrew fechou os olhos, se sentindo vulnerável e desejando conseguir permitir a Neil que o abraçasse de volta.

Mas ele não podia. Ainda não.

― E se eu nunca puder dizer isso? ―  Ele disse com o rosto ainda no pescoço de Neil. ―  E se tiverem arrancado isso de mim? Porque Neil, eu não te amo. Eu não sei fazer isso.

E Neil merecia isso, certo? Ter alguém que pudesse dizer isso o quanto quisesse e fosse verdade.

Ele não sabia se poderia dar isso, Andrew era capaz de muitas coisas mas não tinha certeza sobre aquela.

  Sabe ― Neil começou. ― Eu também não te amo, Andrew. ― Isso o fez arregalar os olhos, o soltando e dando um passo para trás. A expressão no rosto de Neil agora era suave e possuía um sorriso muito pequeno, muito triste. ― Eu nunca disse isso na minha vida, não sei se posso dizer algum dia. ―  Ele pendeu a cabeça. ― Minha mãe dizia que me amava enquanto arrancava tufos de cabelo da minha cabeça. Lola dizia que me amava porque eu era uma pequena cópia de carbono do meu pai. Meu pai dizia que amava minha imagem gritando. Riko dizia que amava quando eu sangrava. ―  Neil suspirou e se afastou o suficiente para alcançar a cama e se sentar. ― Sempre que alguém dizia que me amava, eu me preparava para a dor, entrei em pânico mais cedo com Matt. Eu não sei se algum dia poderia dizer algo assim para você.

Andrew pensou em todas as vezes em que alguém disse que o amava e em quanta dor isso causou.

Amor não vinha livre de cobranças e o preço era sempre alto.

Ele deu alguns passos e se sentou ao lado de Neil.

  Não sei se algum dia direi isso a você.

Neil o olhou diretamente nos olhos.

― Não sei se algum dia vou querer que você faça isso. ―  Seus olhos se desviaram para a sua mão. ―  Eu tenho certeza, no entanto, que não quero isso se você se sentir forçado a dizer porque acha que eu quero.

Andrew o encarou, se sentindo estúpido por um segundo. Era Neil, ele esperava sinceramente que Neil o forçasse a algo?

Não. Neil nunca esperava nada de Andrew. Ele sempre estava feliz com o que é que Andrew pudesse dar.

Ao lado da cama a música mudou.

― Eu conheço essa. ―  Neil disse ao seu lado, sentando um pouco mais perto.

A voz do cantor era suave e a melodia triste.

O lembrava um pouco de si mesmo.

― Qual o nome?

O sorriso triste de Neil se animou um pouco com seu interesse.

  Neptune. ― Ele disse suavemente. ― Sabe, quando estávamos fugindo eu gostava de ler sobre o espaço. ― Neil fechou os olhos, balançando no ritmo da música. ― Netuno sempre foi meu planeta favorito. Ele continua forte e na órbita do sol, se mantendo firme mesmo estando tão distante. Sempre admirei isso. Netuno me lembra um pouco você.

O coração de Andrew bateu mais forte, seus olhos se arregalando minimamente.

Ele era como Netuno.

Neil era como o sol.

Mas nem mesmo o sol havia desistido de seu planeta mais distante, Neil não desistiria dele.

A música tocou mais alto, era a segunda vez que o refrão chegava e Neil cantou junto ― a melodia triste, os olhos de Andrew ardendo.

  Eu não sei como.   Neil cantou, a voz rouca por cantar baixinho.

Andrew fechou os olhos, sua bochecha sendo marcada por uma pequena linha molhada.

Eu não sei como ― Cantou junto e abriu os olhos. Neil o encarou, os olhos brilhantes e sorriso gigante que mostrava os dentes. ―  Eu quero te amar, mas não sei como.

E talvez ele não precisasse saber.

Talvez…

Talvez ele só precisasse dar o que poderia. Seria a primeira vez que isso funcionaria, mas era Neil.

Andrew não o amava, mas ele confiava em Neil com aquilo. Para não quebrar aquele pedacinho de si mesmo.

Então sim, talvez estivesse tudo bem.

Afinal, ele era Netuno. Ele ainda não havia desistido do sol.

Ele ainda podia alcançar o calor.

 

 



 





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