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História NERVE: Taegi - 05


Escrita por: VoriitaChiters

Notas do Autor


OLAR ^^
Boa tarde k-lovers<3
Muito obrigada pelos favoritos e comentários me incentivando a continuar, vocês são muito especiais<33
Muito obrigada pelo apoio! szszsz

Para você que acabou de chegar, oi turubom? *-*


PS: Daqui a alguns dias precisarei da ajuda de vocês, não vou dizer para o que... ~suspense


Betado por: @xiushymin @Butterlanding17

Capítulo 16 - 05


Fanfic / Fanfiction NERVE: Taegi - 05

Narrado por: Yoongi

 

— Como assim? — pergunto, confuso.

Meu pai então pega seu celular e após alguns segundos o estende em minha direção; o pego e dou play no vídeo que preenche a tela.

Uma musiquinha que parece aquelas de jogos arcade antigos começa, e então a imagem de meu rosto surge.

Acima dele é desenhado em letra cursiva a palavra “Farsa”; aparece minha expressão quando Tae me beijou em seu desafio na Tabom, diminuindo a velocidade e ficando em tela preto em branco quando ocorre o zoom em nossos rostos. Consecutivamente a tela gira e mostra duas silhuetas.

— Aqueles viados… — reprimo o que deveria ser um xingamento dentro de mim. “Viado” não parecia mais ter o mesmo significado de antes. — Filhos da puta… — sussurro, os olhos vidrados na tela e a mão livre cerrada.

Demoro certos instantes para perceber de que se trata de mim ajoelhado sobre Tae, na festa de Do Yeon. Estremeço e tiro o vídeo, mesmo este já estando no final.

— Tem ideia de quem pode ter sido? Eu não entendi o propósito do vídeo. Insinuando algo ridículo, como se eu fosse acreditar… Yoongi?  

Olho em seus olhos quando ouço meu nome e ele me analisa preocupado, as sobrancelhas cerradas. Engole em seco.

Esses garotos… — ainda o fitando e apertando o aparelho em minhas mãos. — precisam saber…  — sinto uma lágrima escorrer sobre minha bochecha; mesmo chorando, minha voz sai firme e cheia de ira — quem é que manda aqui.

— Yoongi. — ele me segue enquanto avanço para meu quarto.

Pego as primeiras peças de roupa que encontro jogada e me visto rapidamente, enquanto ouço:

— Você já ‘tá todo quebrado. Deixa de ser burro e liga para a diretora. Nem tudo precisa ser a base de porrada, se você explicar essa brincadeira de mal gosto…

— Não se mete. — murmuro seco.

Coloco as roupas e saio em disparada, sem vacilar o passo, mesmo quando o ouço gritar:

— Volta aqui, garoto! Aonde você vai?!

 

<0>

 

Estaciono meu carro na frente da casa de Hoseok. Desço e vou em direção à porta da frente, batendo agressivamente, apesar da dor que se espalha por minha mão após tê-la feito.

Passo alguns segundos batendo na porta insistentemente; sou atendido por uma mulher.

Ela mostra uma carranca logo que põe os olhos em mim, e mesmo sem se apresentar sei que se trata da mãe dele.

— Hoseok está em casa? — pergunto apressadamente, ignorando sua cara feia.

Ela me analisa de cima a baixo, e volta o olhar para meu rosto com a mesma expressão:

— Não, não está.

Suspiro irritado, e assinto.

Depois que ela fecha a porta, ainda dou uma pequena olhada ao redor da casa, perto de seu quarto, esperando ouvir sua voz ou barulho de vídeo-game, mas está silencioso.

Então, volto para o carro decepcionado e puto. Bato a porta com força, e rumo à casa de Jungkook.

 

<0>

 

Estaciono novamente, com palavras queimando em minha garganta. Não importa o que Jungkook disser, nada vai me acalmar.

Estou tão absorto em pensamentos que quando ouço sua voz vindo detrás da casa, onde possuía um pequeno campo para que praticasse basquete nas férias, simplesmente a sigo.

Muitas vezes nos reunimos ali, nas férias ou momentos de tédio, em que apenas ficávamos bêbados ou chapados e não tínhamos festas para ir e dinheiro para gastar.

Há um barulho  característico de bola de basquete batendo no chão junto a sua voz, e vou na direção da mesma, parando no último minuto, já o tendo em vista, junto a alguém que reconheço até mesmo de costas.

—...pense no que eu te disse, Jungkook. Não pode ficar do lado dele… — Hoseok parece prestes a continuar, mas então nota Jungkook lhe olhando sobre o ombro, assustado.

Se vira e me encara, a bola que havia acabado de apanhar após uma cesta em mãos. Seu olhar é vazio, mas duro. Parece frio com a pouca iluminação fazendo sombra nos contornos do rosto.

Jungkook imediatamente se coloca entre nós na medida em que me aproximo, como se estivesse com medo de que nos espancássemos imediatamente. 

— Acho que se enganou de endereço. Ninguém aqui te chamou para uma visitinha noturna.  — Jung diz.

— Cala a boca. — Jungkook retruca antes de mim. Parece cansado. Eu avanço e ele coloca a mão sobre meu peito, empurrando-me para trás — Essa situação de merda não tem mais graça. — encara o chão.

Hoseok está com as sobrancelhas franzidas, quase ofendido pelo mais novo tê-lo mandado calar a boca. Estranhamente permanecemos em silêncio. Por isso, ele continua:

— Tentem falar um com outro, sem brigar. E se tentarem se socar… Que não seja no terreno da minha casa. Ou meus pais e vizinhos chamarão a polícia. — parece meio nervoso nessa última parte. Não consigo interpretar se pelos vizinhos ou por nós.  

— Não quero conversar com esse aí. — vira a cara.

— Crianção. — as palavras saem da minha boca, me permitiria sorrir se não o odiasse tanto agora. — Mas não vim aqui para isso. Não iria perder meu tempo. Afinal, você teria medo de ser contaminado se tentasse. — soou mais triste do que irado. — Você sabe que está errado Hoseok. E o que fez passou dos limites da filha da putisse.

Espero por sua resposta, meus batimentos acelerados.

— Você é um mentiroso do cacete. — responde, largando a bola com força, fazendo-a quicar para longe.

Anda lentamente em minha direção e estou pronto para o ataque, mas então ultrapassa, e percebo que está indo embora.

— E você é um covarde! — digo em voz alta, me virando em sua direção. Ele para.  — Você não tinha o direito de ter feito aquilo. — percebo que não estou apenas falando do vídeo, mas do fato de ele ter contado à Jongin sobre minha mãe. — E não quer me ouvir porque na verdade sabe que não fui assim sempre. Sabe que não disse nada antes porque eu mesmo não queria aceitar. — minha voz abaixa e engulo em seco, porque estou sendo sincero. — Você não tem moral ‘pra me julgar.

Ele permanece parado. Vira o rosto, dizendo sobre o ombro:

— Eu não estou fugindo. Só não queria sujar o terreno dos Jeon com seu sangue.

Balanço a cabeça irritado querendo socar alguém.  

— Ele não vai com você. — JK diz, nervoso. — Vocês não vão brigar!

— Você não manda em mim, Jeon. — Hoseok responde, sem aumentar o tom de voz.

— É só isso que você quer não, é? — eu disse, no mesmo tom. — É totalmente surdo para o que não quer ouvir.  Pois bem…

— Aprendi com você. — respondeu, o que me fez engolir em seco. — Agora me acompanhe até a rua e deixe com que fiquemos quites.

— Não! — JK gritou, colocando-se novamente entre nós.  

— Vai deixar com que ele te diga o fazer? — continua, me fitando pela primeira vez por um tempo.

Sustento seu olhar por certo tempo, me sentindo vazio.

Eu era como ele.

Volto-me para o Jeon, que com os olhos arregalados e postura tensa, parece pronto para nos afastar a qualquer indício de aproximação.

Ele merece coisa melhor do que nós dois como amigos, reflito, percebendo pela primeira vez que havíamos ensinado muita merda a ele. Mesmo assim, ele ainda continuava bonzinho

Lembro então da fala do Jung, antes que minha chegada fosse notada por ambos.

“Pense no que eu disse, não pode ficar do lado dele”

Hoseok está certo, percebo agora. Jimin havia tomado a decisão certa, é como havia pensado horas atrás. Caso Jungkook fosse associado à mim após tanta merda como as de hoje, ele certamente iria sofrer. Hoseok poderia muito bem se voltar contra ele. Talvez o tenha visitado para  dar essa opção, e o idiota tenha negado.

Talvez… Eu possa tomar alguma atitude que não seja apenas pensando em mim.

Continuo mirando Hoseok com minha máscara inexpressiva, mesmo ainda não tendo certeza do que estou fazendo. É muito parecida com a maldita sensação de quando me entreguei à diretora.

Incerteza, nervosismo e um incompreensível bem estar. Tento relaxar meus músculos e soar decidido quando respondo:

— Não.

— Yoongi. — ouço Jungkook sussurrar, tentando fazer com que olhe para ele, me fazer parar.

Seu receio em mim quase me ofende. Mas sei que não é por eu ser “fraco”, e sim porque não quer reviver a cena da festa. Porque, assim como eu, não quer acreditar que a amizade de uma semanas atrás entre nós três não existe mais.

— Jungkook. — sem emoção, finalmente olho em sua direção, sério. — Vou te dar essa opção, mas com condições. — sua expressão é obviamente confusa. Continuo: — Posso sair e ir imediatamente para minha casa, sem brigar com Hoseok. Mas você será obrigado a nunca mais dirigir uma palavra sequer a mim na escola. Caso recuse, eu irei com Hoseok para fora agora, e vou acabar com ele.

Seu semblante permanece confuso por alguns instantes e o Jung se intromete, impaciente:

— Eu não estou dentro dessas condições. Não vou poupar você por isso.

O ignoro, esperando uma resposta de Jungkook.

Suas sobrancelhas estão franzidas e uma careta infeliz estampa seu rosto. Ele então mira seus olhos redondos em mim e responde:

— Tudo bem. Eu aceito.

Assinto e viro meu corpo, andando em direção a meu carro.

— Está mesmo falando sério?! — Hoseok grita em minha direção. — Isso é ridículo Min, você veio aqui para brigar, não? Ou para me agradecer sobre o vídeo?!

Paro quase a um metro de meu carro, lembrando do meu objetivo.

Os batimentos aceleram novamente e tento me conter, cerrando os punhos com força e fechando brevemente os olhos.

Como queria dar meia volta e acertar seu rosto, suas costelas, acerta-lo com meus punhos até que virasse uma massa disforme.

 

Parte de mim sussurra “isso lhe faria se sentir melhor”.  

E a outra tão pequena diz “você acabou de escolher não fazer isso. Por Jungkook”

.

A dor em minha mão se mostra presente, como lembrete de uma decisão.

Olho para as ataduras nela, com raiva, e continuo minha trajetória rumo ao carro. Quando dou partida, tento fingir que não ouvi Hoseok gritar que sou um covarde e acreditar.

 

<0>

 

Depois de dar umas voltas para perder tempo e esfriar a cabeça volto para casa. Reparo que as luzes estão apagadas. Fico mais tranquilo que tenha deixado apenas a porta destrancada e não tenha esperado meu retorno.

Não sei como meu pai agirá comigo daqui em diante. Quando nos entreolhamos, horas atrás, pude sentir que havia acreditado no vídeo. Isso porque eu me entreguei com o ataque de raiva.

Talvez esteja confuso. Sim. Vai evitar a possibilidade de minha “instabilidade sexual” até que se torne óbvio demais, que eu declare com todas as letras.

Instabilidade sexual. Que termo bosta.

Quase fico satisfeito quando acordo e me dou conta de que é sábado. Não tenho aula. Não preciso voltar a escola a não ser que vá participar de algum cursinho —até parece— e meu castigo infindável de limpar as salas de aula.

Bem, foda-se.

Levanto e vou em direção a cozinha, parando ao ouvir meu pai conversar pelo telefone. Pela voz parece irritado; consigo prever que não está falando com nenhum cliente ou fornecedor só pelo tom.

— É, isso que ouviu. Por isso te liguei ontem, mas não atendeu. Sabe que nunca te ligo, Yejin, devia presumir que se trata do nosso filho. Lembra-se que tem um filho, Yejin?  

Congelo. Ele estava ligando para aquela mulher? Mas que porra…

Me afasto da cozinha nauseado, voltando ao meu quarto e indo até o guarda-roupa; pego uma calça jeans rasgada, um moletom e touca pretos automaticamente, querendo me afastar dali o mais rápido possível.   

 

Saio de casa levando apenas o celular, dinheiro, quatro cigarros e um isqueiro. Coloco os fones e ando em passos largos, evitando a voz de meu pai chamando meu nome.

Eu deveria ter pegado meu carro, considero, mas já está tarde para voltar.  Demorarei mais para voltar se for a pé.

Talvez uma caminhada me distraia.

 

<0>

 

Mais uma vez, errado. Especulações sobre aquela mulher vir me visitar vieram a mente.  

Se tinha sentido minha falta, se se lembrava de mim, se havia constituído outra família.

 

Não quero saber. Não quero saber. Não quero saber. Não quero saber. Não quero saber.

Ela não tem nada a ver com a minha vida! Que fique onde está!

 

Começo então a escutar as músicas, utilizando os fones que já estavam acoplados aos meus ouvidos, apenas para não ser incomodado.

Mas todas, todas me lembram dos meus amigos. Ex. Eu sei lá.

Toca Gucci Gang e a lembrança de Hoseok e Namjoon cantarolando como idiotas vem a minha mente, passo para a próxima e reconheço o início de Power do Kayne West.

Tiro os fones com raiva, irritado com a perseguição de lembranças. Não quero pensar em nada. Quero…

 

Fugir. Fugir do que está acontecendo.

 

Fecho os olhos por um instante guardando o celular no bolso do moletom; em  seguida retiro um cigarro comprido de dentro dele. Analiso o fino cilindro entre os dedos e meus olhos escorrem para as ataduras em minhas mãos, já desajustadas por não tê-las trocado.

Será que odiaria Hoseok se todas essas coisas acontecendo fossem com ele, e não comigo? E se na lanchonete do meu pai, quem estivesse na frente do Tae naquele dia fosse Hoseok, e não eu?

E se Tae o tivesse beijado e despertado sentimentos nele?

Hoseok nunca admitiria. Eu nunca teria admitido se não tivesse sido descoberto na festa.

O pensamento me faz suspirar e, finalmente, acendo o cigarro, dando uma tragada rápida e coloco a mão pendida ao meu lado dentro do bolso, porque está frio.

Mesmo assim, acho que ele teria feito como eu. E, naturalmente se fodido.

Será que eu começaria a odiá-lo da mesma forma que me odeia agora?

Paro ao notar carros passando. Viro a rua e tento escolher algum caminho que não tenha percorrido, para talvez chegar a algum lugar longe e desconhecido, me perder.

Não tenho ideia, e na verdade não quero pensar sobre isso. Nunca vou querer pensar sobre isso.

Nunca penso sobre nada, e quando acontece, simplesmente faço merda.

 

Deixo os pensamentos confusos e quase surreais sobre meus amigos e os preencho apenas com Kim Taehyung e meu recém admitido egoísmo.    

Recordo de quando tentei evitar o efeito que Taehyung causava em mim, e quando o aceitei, o agarrei na primeira oportunidade. Literalmente.  

Consigo sorrir com a lembrança daquele dia, em que estava fazendo a faxina na sala, arrependido de ter dito à diretora que havia batido nele… Isso foi a quantas semanas? Duas?

Lembro de ter agarrado sua roupa e o pressionado sobre a porta, selado nossos lábios. Os dele eram tão macios…

Tento recordar de mais algum detalhe, mas então lembro de todas as vezes em que o  vi; foram poucas, e rápidas... Sempre se manteve distante após nosso primeiro contato, por medo.

Medo de mim, medo do que eu poderia fazer.

 

Cada átomo dele deve me odiar.

 

Tento trazer novamente a idéia de troca, se eu fosse ele, e o que teria feito caso ele me tivesse encostado na parede, caso ele tivesse me enganado e chupado meu pau.  

Percebo que não consigo fazer isso sem tentar arranjar alguma justificativa para meus atos, mas como Jungkook disse, nada parece plausível o suficiente para meu egoísmo.

Taehyung provavelmente é hétero.

Hétero sem tendências homossexuais, completo, com nojo de mim mesmo.

Eu o coloquei no mesmo lugar das garotas que ficaram comigo: todas apaixonadas ou apenas com tesão, mas com desejo em comum.

Mas Taehyung não é como aquelas garotas. Ele não havia me beijado na lanchonete porque sentia-se atraído, mas por um jogo. Ele nunca demonstrou algum sentimento senão medo, e eu simplesmente ignorei.

Se Taehyung tivesse feito o que fiz na festa…

Tento não ficar excitado ao imaginar seu rosto abaixo de mim, me tocando. Mas não consigo.

Olho ao redor e sustento o cigarro entre os lábios, deixando minha mão direita livre, sem tirar a esquerda de dentro do bolso. Pressiono a região do meu pênis, me certificando de que sim, fiquei duro. Puxo meu moletom largo mais para baixo, mais por irritação do que vergonha, e em seguida resgato o cigarro, o posicionando entre meu dedo do meio e indicador, soltando uma baforada.

Até parece que sou um virjão, ficando duro do nada, só de pensar.

Lembro da forma como Moonbyul se ajoelhava, sorria para mim como se soubesse exatamente o que estava fazendo, e realmente sabia. Da forma que era estranhamente manhosa quando queria e só parava de ficar “chateada” quando eu me permitia fazer o mesmo com ela. Meu corpo correspondia muito bem ao dela.

Mas, porque resgatei essa memória? Estou tentando comparar a lembrança de Moonbyul ajoelhada me sugando com a da ilusão de Taehyung? Exatamente porque estou pensando sobre isso?

Para provar que provavelmente eu seja bissexual, ou que talvez eu possa esquecê-lo ficando com alguma garota?

Balanço a cabeça, parando de andar por um instante e me sentindo tonto por tantos pensamentos evitados vindo a tona.

Olho para o céu de coloração cinzenta e ajeito a touca, apenas fumando por uns breves instantes enquanto mais uma enxurrada de culpa e desprezo me penetra, de modo tão sensório quanto o frio.

 

<0>

 

Caminho por o que se parecem horas e fumo mais dois cigarros, deixando apenas um para mais tarde.

Paro em um bar aleatório pensando em pedir qualquer coisa que valha no máximo 4.900 wons*, já morto de fome.  

Permaneço o restante de meu sábado no bar, hora observando homens jogando sinuca e bebericando aos poucos uma lata de cerveja, hora olhando a tv e pensando em mil coisas.

Penso sobre a mulher que deveria chamar de mãe, sobre Jimin, Namjoon e Jin que nem sequer falaram comigo, nas consequências de meus atos para Taehyung; na escola e como tudo estava ruindo sobre minha cabeça. Como tudo que antes parecia minimamente concreto em minhas mãos ou substituível sumiu e se tornou uma coisa só, um líquido importante escorrendo por entre meus dedos.

 

É como se eu não tivesse mais controle sobre absolutamente nada.

 

<0>

 

Chego em casa às dez e meia, e meu pai me pergunta aonde fui. Respondo “dar uma volta” inexpressivo, pronto para ir para meu quarto e dormir.

Sinto que não tenho forças para tomar banho.

Ele naturalmente não aceita minha decisão, me seguindo, tentando arrancar algo de mim, tentando fazer com que eu diga qualquer merda que seja, sobre o que quer que seja.

Não sei porque de repente está assim. Ansiando por respostas, querendo saber sobre o que acontece comigo, como estou.

Seu falatório me irrita ao mesmo tempo que faz com que a confusão volte a se formar na minha cabeça. Talvez eu realmente tenha mudado.

Não consigo discernir se isso é bom ou não.    

 

<0>

 

Nem vejo o domingo passar e já estou acordando novamente para a porra da escola.

Yejin não apareceu, o que me fez cogitar que talvez tenha alucinado meu pai falando ao telefone, ou sei lá.

Ao decorrer da manhã tento ao máximo agir como sempre, sem me deixar descansar e parecer intimidado. Na verdade, até que foi um bom passatempo para sufocar meus pensamentos.  

A naturalidade com que atuava me fez perceber que não havia sido a primeira vez em que agia dessa forma. Quantas vezes fingi estar bem, escondi de mim mesmo e dos outros?

Essas indagações me assustam um pouco, e tudo que sabia sobre mim mesmo tornou-se, mais uma vez, nebuloso.

Criei uma imagem para as pessoas olharem e admirarem, e na qual eu mesmo acreditei… Mas agora tudo parece ter outra forma. Tudo parece diferente

Ou nunca percebi?

Já sentia olhares de reprovação e indiferença antes, mas agora eles parecem multiplicados com pessoas que antes me idolatravam. Idolatravam? Ou estavam só esperando um mísero escorregão para se mostrarem de verdade?

Nunca pensei que sentiria falta de pessoas. Achava um grande foda-se quando alguém, um colega relativamente próximo ou apenas conhecido, simplesmente se afastava.

Pensava “Tanto faz. Não estou perdendo nada.”

Mas, durante as aulas de História Coreana, Química, Física… Foi puta esquisito. Parecia que eu era apenas um observador, e não estava participando da “cena” de verdade.

Hoseok murmurou umas putarias e riu com alguém como um retardado, mas não comigo.

Jimin interrompeu a professora para pedir permissão para ir ao banheiro, e demorou mais do que uma pessoa normal faria, naturalmente porque estava cabulando aula e passando nas salas de suas paqueras para distribuir “oi’s”, com óbvias segundas intenções.

Mas eu não saberia dizer com 100% de certeza, porque não foi a mim que ele se dirigiu quando voltou.

Jungkook olhou para mim. Não sei se ao me mirar, como que querendo dizer alguma coisa, me fez sentir melhor ou pior. De qualquer forma, ele compriu com nosso acordo. No trabalho em dupla que o professor de História propôs, ele foi com Jimin.

 

<0>

 

Não aguento permanecer na escola para o período da tarde, então simplesmente saio sem olhar para trás, nem mesmo quando sou descoberto por uns guardinhas da escola.

Estou a pé. Ainda sou de menor para dirigir, por isso só me aventuro em ir para a escola de carro quando tenho certeza de que não serei descoberto.

Quando estou a uns três metros da escola puxo um cigarro longo dentro da carteira, pensando se deveria fumá-lo ou pegar um dos menores, normais, de tabaco.

Daqui a pouco minha reserva termina, e não teria mais como repor, já que Hoseok com certeza não iria querer me ajudar com merda nenhuma.

Pego e acendo o cigarro de um vez, tragando forte a fumaça até queimar em meus pulmões, a sensação de calmaria e leveza se apoderando de mim. Sigo meus pés, sem me ligar na verdade para onde vou.

 

Trago, baforo, inalo, consecutivamente inúmeras vezes, como a porra de uma máquina ou chaminé.

Sorrio do nada, a sensação conhecida, agradável, muito semelhante à de felicidade vem.

Começo a acelerar o passo na medida que a euforia chega, com a necessidade de correr, de gritar.

Paro e olho ao redor, onde meus pés haviam me levado e fico estático ao me dar conta de que estou em um bairro conhecido.

 

Kim Taehyung.

Pisco olhando para o chão que parece pulsar levemente, como se pudesse vê-lo novamente deitado sobre ele, hematomas no rosto, segurando a mão quebrada.

Não sorrio mais, apenas fico fitando o chão, angustiado.

Eu não o vi hoje, apesar de tê-lo procurado em vários rostos.

Certo nervosismo me domina com a ideia de vê-lo. Vê-lo depois do que fiz.

Fumo mais dois cigarros e o efeito vem e passa. Paro antes de pegar o terceiro. Talvez… eu devesse estar um pouco sóbrio quando for falar com ele. Reflito, fechando a mochila.

 

Claro que sim, o que estou pensando? Ele provavelmente vai me achar ainda mais babaca.

E você liga?

Eu… Acho que sim.

Mesmo que seja impossível ele me ver um pouco melhor. Por causa disso.

Por que vim até aqui?

 

Não consigo responder a essa pergunta, mas tenho a impressão de que parte de mim sabe, e está apenas guardada.

 

<0>

 

Vê-lo não me traz lembrança alguma da festa.

Ele parece quase feliz quando o avisto de longe, andando de bicicleta. Mas então quando me vê, sua expressão se endurece. Ele desce da bicicleta e segue sem desviar do caminho. De mim.

  

Parece que a qualquer momento meu coração pode sair pela boca.

 

Tento não pensar no quanto ele é bonito. No quanto parece mais decidido, e —que roupa de uniforme é essa?— gostoso ‘pra cacete.

Se não fosse o gesso em sua mão esquerda, eu poderia dizer que nada havia acontecido naquelas últimas semanas. Desde que o avistei até seu caminhar em minha direção, seus olhos me miravam sem desviar.

Nem mesmo quando parou à minha frente. Vejo de relance seu cabelo pulsar pequenas pigmentações, e ele parece muito luminoso.

 

Ah, ainda estou chapado.

 

Ele também mudou, penso, não consigo encará-lo diretamente.

Por quê? Por que cheguei ao ponto no qual ele seja a única pessoa que tenha restado, mesmo sendo provavelmente a que mais me odeia?

Suspiro pesadamente, encarando-o em fim.

Sua imagem ainda parece levemente pulsar e vibrar quando as palavras vão se formando em meus lábios quase que instantaneamente:

— Sei que não tenho o direito de pedir desculpas, mas foda-se, vou pedir mesmo assim.  

Taehyung franze as sobrancelhas, parecendo me analisar, como se simplesmente não entendesse. Seu cabelo e pele parecem mais brilhosos. Vejo seus olhos passearem por meu rosto e lembro que estou com hematomas.

— Desculpe por... Ter sido um babaca. — desvio de seu olhar, sentindo cada palavra — Eu... Tinha bebido e fumado e... Não estava totalmente são do que estava fazendo, eu só... Estou chateado. Estava. Me desculpe. Eu fui um babaca. — repito, me sentindo um bosta.

Eu quero falar mais. Dizer mais coisas a ele, sei que tenho mais coisas guardadas. Quero lhe contar sobre Hoseok e sobre Jimin, e como tudo está sendo uma merda, mas seria tão patético…

— "É". — ele se pronuncia pela primeira vez, a voz aveludada acariciando meus ouvidos. O miro novamente, enquanto complementa:  — No presente. Já pensou que o que você fez é considerado assédio ,se não estupro?

Abro a boca para dizer que sei, mas fico em silêncio, travado. Não consigo mira-lo nos olhos com seu tom de acusação, porque é a verdade.

Eu poderia —e deveria?—  estar preso agora.

Será…

Será…

— Eu poderia ter te denunciado na justiça e fodido com a tua herança. — continua, e deixo de fitar o chão para mira-lo.

— Herança? Acha que eu sou riquinho? — pergunto, conseguindo milagrosamente rir.

Tae não me conhece nem um pouco, muito menos do que eu o conheço.

— Você é um playboy de merda, todo mundo sabe.

Seu olhar de repúdio e a forma como me chamou faz com que o sorriso se desfaça.

 

Todo mundo sabe?

Você sabia, então?

Ah, então só eu mudei.

Eu sempre fui…

Todo mundo sabe.

 

Viro o rosto como se tivesse levado um tapa. Sinto meus olhos ardendo, lágrimas se acumilanto e embaçando minha visão. Tae desvia de meu rosto. Merda.

Ele nem sequer consegue me olhar.

— Você me odeia. — sussurro a sentença óbvia.

Eu já sabia disso, eu tenho certeza. Por que estou tão triste?

— Entenda como quiser. —  responde friamente.

Por que estou me sentindo assim? É como se tivesse diminuído. Desprezível.

— Então por que não fez? Por que… Não me denunciou? — minha voz sai embargada apesar de me esforçar para permanecer estável. Estou fora do controle.

Odeio estar chorando, estar chorando na frente dele.

Porque eu gosto dele. Isso é ridículo.

Ele olha para mim:

— Porque uma das regras do Nerve é não denunciar o jogo. Isso me traria consequências. Porque se eu fizesse isso, tornaria o que aconteceu na festa, real. Eu quero esquecer. Quero esquecer você. — sua expressão é fria e rancorosa. Tenho vontade de gritar e bater em mim mesmo.

Mas eu não. — deixo escapar, logo mordendo meus lábios.

 

Cacete. Eu falei. Eu falei. Eu disse eu voz alta… Caralho. Que merda. Cacete.

 

O silêncio paira e fico acelerado, aquele pequeno intervalo guardando todas as possibilidades.

— Não entendi. É 'pra eu rir? — ele diz em tom de deboche, algo que não havia presenciado antes. — Suas tentativas de piada estão... Fazendo minhas pernas tremerem de desejo. De me jogar de uma ponte.

Aspiro lentamente, processando suas palavras.

Eu disse, e para ele não significa nada.

— Eu gosto de você, caralho! — quase grito, surpreendendo até a mim mesmo. Eu preciso, preciso que ele saiba que não estou brincando. Não consigo acreditar que estou dizendo a verdade em voz alta, que estou contando isso a ele, mas as palavras se atropelam em minha boca, tendo pressa em serem verbalizadas, concretas — Não consigo tirar você da cabeça, SEI que já disse isso, e é a verdade. Sei que é difícil não pensar que eu esteja querendo enganar você, mas isso infelizmente não é a porra de uma piada. Não sei que maldição jogaram em nós, mas não consigo parar de pensar em você.

Ele solta uma risada que seria graciosa se o motivo não fosse eu.

Diga alguma coisa. Diga alguma coisa. Qualquer coisa, pelo amor de Deus.

Mas ele não diz nada. Seu rosto ainda iluminado pelo sorriso se vira de costas para mim, e sem aviso começa a andar. Fico parado, paralisado entre a sensação de solidão imediata e entre ir atrás dele para exigir alguma resposta.

Tae para por um instante, se virando em minha direção.

—Uau. Que declaração! Mas veja só, tenho mais o que fazer… Ah, meu pau mandou lembranças!

 

  


Notas Finais


*4.900 wons equivale a aproximadamente 15 reais.

EHHHH
Mais um cap postado ^^ Espero que tenham gostado sz
O Yoon realmente está mudando, aos poucos...
O que acharam??


Chu~chuu<333.


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