História Nesse Apartamento - Doze

Ichigo On

As imagens na TV iluminavam as paredes de meu quarto. Os tiros, gritos e zumbis que se passava naquela série de televisão não eram capazes de me fazer reagir, em meio ao meu estado entorpecente.

Eu estava péssimo. Dava para perceber pela minha barba mal feita, olheiras profundas e roupas amassadas. No trabalho, eram raros os momentos em que eu me encontrava realmente envolvido com o que estava fazendo. Felizmente, os pacientes que eu atendia eram poucos, pois eu conseguia ajudá-los a se recuperarem do câncer, logo, as macas ocupadas com pessoas doentes sumiam.

Havia uma garotinha que era minha paciente, e esta estava com um sério caso de Leucemia Mielóide Aguda, e os tratamentos infelizmente não surtiam efeito. Todos estavam perdendo as esperanças, mas eu não podia pensar desta forma. Eu tinha uma missão, e essa era uma das poucas coisas que me levavam de volta à superfície: salvar as pessoas; o que se tornou irônico, já que não consegui salvar a pessoa mais importante da minha vida, Kuchiki Rukia. Eu era um verdadeiro merdinha.

Soquei a parede do meu quarto com fúria enquanto gritava, tentando aliviar tanto a dor física quanto emocional. Peguei o celular ao meu lado, disquei sue número e este, como sempre, ia direto para a caixa postal. " Oi, é a Rukia. Não posso atender agora, então deixe sua mensagem." Suspirei, ouvindo sua voz doce e ao mesmo tempo marrenta. Como eu sentia sua falta!

" - Rukia, sou eu de novo. Por favor, me diga onde você está! Me desculpe, eu..." - as palavras sumiam à medida em que as lágrimas surgiam em meus olhos - " Me desculpe! Eu sei que sou um merda e que estamos distantes, mas por favor... Volta pra mim."

Desliguei o celular, fitando a maldita tela, e esta marcava 3:49hs. Decidi dormir um pouco. Enrolei meu corpo nas cobertas, enquanto desejava fortemente sonhar com Rukia em meus braços.

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" - Bom dia Nel! Como você está?" - dirigi-me para a garotinha deitada na maca. Ela havia mudado muito desde o início do tratamento. Seus lindos cabelos verdes, agora inexistentes, foram substituídos por um turbante azul e branco. Sua pele, antes bronzeada, agora estava pálida e com hematomas. Os olhos estavam avermelhados devido à medicação, e sua boca tinha um tom violeta.

" - Bom dia Itsugo" - disse sorrindo. Esta insistia em falar meu nome errado de propósito - " Posso jogar no seu celular?"

" - Que horas é sua próxima medicação?"

" - 8:15hs."

" - Tudo bem então. Mas só um pouquinho" - falei, fazendo cócegas na pequena e entregando-lhe meu celular.

" - Itsugo, quem é essa?" - Nel apontou para a tela do celular, aonde se encontrava uma foto de Rukia.

" - É minha esposa."

" - Ela é muito bonita. Como se chama?"

" - Rukia."

" - Rukia... Nome bonito" - ela disse, sorrindo.

Fechei a cara, tentando empurra meus sentimentos para longe. Mas não fui rápido o bastante, pois a pequena criaturinha de 10 anos me encarava com seu olhar inquisidor.

" - O que aconteceu?" - disparou. Fiquei surpreso com seu jeito direto.

" -  Eu não dei atenção à ela quando precisava. Eu fui um babaca."

" - E quem não é? Olha Itsugo, não sei o que aconteceu mas ela deve estar com saudade. Sei disso porque comigo é assim. Eu e mamãe vivíamos brigando com meu pai, até que a gente não aguentou mais e fomos embora pra Karakura. Papai ficou em outra cidade. Eu sinto saudade dele, e sei que logo vou morrer. Só queria me dizer "eu te amo" para ele antes de partir. Então, vai atrás dela, antes que seja tarde demais."

Fiquei atônito com a sabedoria daquela menina.

" - Nel..." - eu estava boquiaberto - " Escute, não vou deixar você m..."

Meu celular tocou. Era Renji.

" - Alô?"

" - Ichigo? Me desculpa cara, você precisa vir aqui." - Ele parecia desesperado.

" - Renji? Onde você está? Cadê a Rukia?/'

" - Ela está na ambulância. Foi tudo culpa minha..."

" - Ambulância?! Onde vocês estão? O que aconteceu?"

" - Ichigo, ela não está reagindo" - Renji parecia estar prestes a chorar.

" - Renji, me diga o que aconteceu!"

" - A Rukia... A Rukia tentou se matar."