História Never be alone - Remember?

“Eu viajei o mundo; Não há outra garota como você (...)   Eu poderia cair ou voar aqui no seu avião e eu poderia viver, poderia morrer me apegando às palavras que você diz" - Dive, Ed Sheeran.

Alguns meses se passaram sem que eu pudesse sequer tocar em Shawn. 5 meses, na verdade. Mas pareciam mais uma eternidade.

Estava prestes a me mudar pra faculdade e meu coração se apertava: por ter que deixar minha família e mais ainda por Shawn não estar do meu lado naquele momento. Como queria tê-lo ali. Poder abraça-lo, sentir seu cheiro antes de ir para uma das maiores batalhas da minha vida. Como sentia falta daquele sorriso, tão perto de mim... 

Nos falávamos sempre que dava por vídeo conferencia, mas não era a mesma coisa. Nunca seria suficiente pra mim. E eu tentava ser forte todas as vezes que atendia o telefone e fingia que a saudade era tão grande que minha vontade era de chorar ao invés de sorrir. Mas eu precisava sorrir. Precisava que Shawn soubesse que eu estava bem, apesar da saudade que era maior que qualquer coisa dentro de mim. Ele precisava de forças pra seguir na turnê e eu de forças pra seguir minha vida.

Era estranho pensar dessa forma. Era diferente. Nos amávamos, mas sempre tínhamos que seguir caminhos diferentes. Sequer podíamos fazer planos juntos, porque nunca sabíamos o que poderia acontecer no dia seguinte. Era como viver numa corda bamba. A diferença era que se caísse, você era queimado pelo fogo ardente do amor que nos tomava.

Comecei a rir. Que depressão, um dia antes de seguir seus sonhos, Leah!

— Vamos, encosto! Que demora pra arrumar uma mala, meu Deus, parece que ta indo pra um enterro. Sorria, maninha! — Abby entrou no quarto, apavorada como sempre, jogando minhas roupas de qualquer jeito dentro da mala. — Vem, vamos, quero ver animo nessa carinha ai!

Balancei a cabeça em negativa.

— Você ainda me mata... — Falei, arrumando as roupas que ela jogara. — Você sabe que não consigo deixar as coisas bagunçadas, Abby!

— Ai Leah, a vida é curta demais pra ficar arruando tudo. Além do mais, você vai chegar la e ter que tirar tudo, então... — Deu de ombros, como se não tivesse outra opção.

Abby tinha vindo para as festas de fim de ano. E graças a Deus ela estava ao meu lado. Essa pestinha me animava de uma maneira que ninguém mais conseguia fazer. Passamos a maior parte do tempo andando pra todo lado, comprando coisas desnecessárias que Abby insistia em dizer que eu precisaria na faculdade. Ela parecia sentir, todas as vezes em que eu pensava em desabar, Abby aparecia com alguma coisa nova e me fazia ficar distraída por tempo suficiente pra esquecer que a saudade existia. Ate Shawn ligar e me lembrar.

Encarei Abby por um tempo, amando aquela mulher mais que qualquer outra coisa no mundo. Abby me encarou de volta, fazendo uma cara de má, como se quisesse puxar briga e pude ouvir seus pensamentos dizerem: “O que foi, doente?”.

— Ta me olhando assim por que? — Perguntou, mal encarada.

Gargalhei.

— Você é demais. — Falei. — Obrigada, Abby. Obrigada por tudo. — Abri os braços em direção a ela, igual a uma criança pedindo colo.

— Awn — Sorriu, se jogando em cima de mim.

A abracei forte, afundando meu rosto em seus cabelos. — Eu te amo! Senti tanto sua falta. Queria que você pudesse ir comigo. Vou apanhar lá, Abby — Me afastei, fazendo um biquinho manhoso.

— Claro que não! Você é uma Collins! É você quem bate. — Seu indicador bateu duas vezes no meu nariz. — E se você apanhar na faculdade eu juro que arrebento sua cara quando chegar em casa!

— Agora é que vou ficar com medo mesmo! Obrigada Abby. — Resmunguei

— De nada — Sorriu, descarada. — Agora vamos, que o jantar esta pronto e a mamãe quer comemorar sua ida. Digo, quer fazer uma despedida. — Soltou um risinho brincalhão.

— Idiota! — Mostrei a língua a ela. — Só vou terminar aqui, e já desço.

— Não demora, se não venho aqui e bagunço tudo de novo e você vai ter que passar a noite em claro arrumando porque você tem problema e vai chegar amanhã com cara de morta — Ralhou, saindo do quarto.

— Você é tão boa pra mim! — Gritei, e pude escuta-la rir, já descendo as escadas.

Deixei as roupas do jeito que estavam e peguei o celular. Entrei no número de Shawn e cogitei ligar. Meus dedos deslizaram pelo telefone, várias e várias vezes, até que o desliguei. Não queria incomoda-lo.

Como eu era idiota. Ele era meu namorado, porque eu agia como se eu fosse um incomodo?

Liguei o celular novamente.

— Aaaaaaaah! — Suspirei. — Não vou ligar. Não vou, Morgana. Amanhã, quem sabe? — Passei a mão em Morgana, bagunçando sua pelagem, a fazendo resmungar e sair de perto de mim.

Deslizei os dedos novamente no celular.

“Sinto sua falta. Queria tanto que estivesse aqui. Eu te amo.”

Digitei e enviei.

Respirei fundo, erguendo da cama e me alongando. Não queria pensar na faculdade. Eu estava animada, mas tinha um medo enorme tomando conta de mim. Era uma responsabilidade enorme. E toda vez que pensava nisso, me apavorava. Porque eu sabia que lá eu estaria sozinha. Não teria mamãe, nem papai e muito menos Abby por perto pra me defender das minhas burradas. Mas ao mesmo tempo pensava na liberdade em que isso me proporcionava. Só que bem, eu só me dou mal, tinha até medo de ficar pensando demais em como isso iria me afetar.

Desci as escadas como alguém que anda em direção a morte.

A partir daquele jantar, tudo seria real. E eu não sei se isso era bom, ou apavorante demais.

Já podia ouvir as vozes de papai, mamãe e Abby na cozinha, rindo de alguma coisa que provavelmente envolvia Leah e faculdade.

— Minha bonequinha! — Papai sorriu, vindo em minha direção e me abraçando.

— Puts Leah, mandei você melhorar essa cara — Abby falou — Desse jeito o Shawn vai te largar!

Enchi as bochechas de ar e soltei, fazendo um barulho esquisito. — Ele nem ta aqui pra ver, fica de boa ai

— E quem disse que não?  

Meu cérebro demorou pra processar a voz que vinha de trás de meu pai. Meu coração não demorou dois segundos pra começar a pular feito doido dentro de meu peito de uma forma tão desesperada que tive que prender a respiração. Papai me deu dois tapinhas no ombro antes de se afastar e me dar a chance de olhar pro ser parado a minha frente: lindo, com as mãos nos bolsos da calça jeans preta e um sorriso que parecia ser moldado pelos dedos de Deus, iluminado e perfeito.

Fiquei tão estática que esqueci de respirar, até meu corpo começar a formigar de uma forma gostosa pra me lembrar. O encarei, tempo suficiente pra digerir a imagem a minha frente. O choro veio junto com a respiração, de uma vez só, tudo embalado. Shawn gargalhou daquele jeito gostoso que só ele sabia fazer e andou em minha direção, me apertando em seus braços.

— Eu também senti sua falta. E eu amo você! — Sussurrou.

Entrelacei meus braços em sua cintura com toda força que eu conseguia. Não queria solta-lo, nunca mais. Meu Deus como esperei por aquele momento.

— Ai meu Deus — Falei, finalmente — Se for um sonho, por favor, não me acorde, nunca mais!

— Não é um sonho — Abby falou, estragando o momento e me dando um beliscão no braço.

— Ai! — Rosnei, sem me soltar de Shawn. — Eu ia acabar com a tua raça, mas você tem sorte que estou com medo de soltar de Shawn e ele me escapar de novo! — Ralhei, parecendo mais ranzinza do que gostaria.

Ergui o rosto pra poder olhar para Shawn novamente. Segurei sua face com as mãos e o beijei. Depositei ali todos os sentimentos que eu guardei por todo tempo que eu fiquei longe, por todo tempo que a saudade me esfaqueou o coração, por todo tempo que meu amor ficou retraído. Seus dedos percorreram por minhas costas, me acariciando suavemente ali antes de se afastar.

Seus olhos passaram de mim, para meus pais.

— Posso roubar Leah de vocês um pouquinho? — Pediu.

— Com essa carinha, como é que se diz que não?! — Dona Eva falou, cruzando os braços numa pose marrenta.

— Obrigada! — Sorri, pulando em mamãe e a enchendo de beijos. — Amo vocês! — Beijei papai e Abby antes de agarrar Shawn pelas mãos e o puxar porta afora.

— Wow, temos alguém apressada aqui! — Shawn riu, e eu pulei em seu colo assim que a porta se fechou, entrelaçando as pernas em seu quadril

— Eu estava com tanta saudade, você não tem ideia do tanto que eu estava com saudades! — Falei, afobada.

— Leah, eu sei, acredite em mim, eu sei! — Seus braços se apertaram em minha cintura, me segurando. — Em todos os shows eu ficava procurando você na plateia. Todos, acredita nisso? Olha que coisa mais boba! Eu procurava você em cada cantinho, e ficava imaginando te ver ali, no meio das minhas fãs. Seria tão foda! — Continuou, todo animado.

— Ah, meu amor! — O beijei novamente, deixando nossas línguas brincarem por tempo suficiente para ficarmos sem folego.

Shawn me encheu de selinhos e caminhou, me levando até o carro, ainda em seu colo. Fiquei agarrada em seu pescoço, inalando seu cheiro e o gravando na memória o tanto que pudesse.

— Aonde vamos? — Perguntei, me desvencilhando dele e entrando no carro.

— Na onde tudo começou. — Respondeu, me dando mais um selinho antes de fechar a porta.

Seus dedos entrelaçaram nos meus enquanto dirigia. Fiquei tentando lembrar aonde seria o “inicio de tudo” e me senti mal quando revirei minha memória e não achei nada. Encostei a cabeça em seu ombro, esfregando meu nariz em seu pescoço.

— Credo, Leah, que nariz gelado — Reclamou, encolhendo o ombro.

— Eu sei! Estou esquentando ele!

— Espertinha! — Shawn se entortou todo, até conseguir me dar uma mordida na bochecha, me fazendo resmungar e me afastar dele rapidamente.

O olhei com uma braveza fingida e ele sorriu, desmontando minha pose de marrenta.

— Chegamos!

Sai do carro correndo e observei o lugar. Era o parque, em frente à sua casa. E finalmente eu havia me lembrado. O início de tudo. Comecei a rir feito uma retardada ao conseguir me lembrar e mais ainda ao perceber que, próximo a arvore, tinha uma mesa e vários pisca-pisca envolta.

— Se lembra? — Shawn me abraçou por trás e encostou seu queixo em minha cabeça.

— Claro. — Respondi, sentindo uma nostalgia enorme me invadir.

— Eu nunca tinha dado muita importância a esse parque. Mas esses dias em que fiquei longe de você, esses dias em que eu sabia que eu tinha você, mas não podia estar perto, eu passei a pensar em toda a nossa história. E foi aqui que eu percebi que você era minha inspiração. Pra tudo, Leah. — Sua voz parecia carregada de um sentimento que não soube decifrar. Mas era algo bom. Eu podia sentir. — Foi aqui, nesse parque, que nos falamos pela primeira vez. Foi aqui, que percebi que eu te amava. E foi aqui, Leah, que nós nos acertamos. Claro que o acerto foi mais no hotel... — Dei um tapa em seu braço, rindo. — Mas foi aqui.

— Foi aqui, que lutei com todas as minhas forças pra te falar tudo o que eu queria falar quando você voltou, Shawn. Mas eu não consegui dizer.

— Aqui acabou se tornando nosso ponto de encontro, pra tudo. Lembra quando todo o pessoal da escola começou a pegar no meu pé por causa dos Vines? — Shawn foi me empurrando em direção a mesa, ainda abraçados. Balancei a cabeça, concordando. — E ai você chegou, com meu violão nos braços tocando de um jeito que achei que fosse ficar surdo. — Começamos a rir, assim que a lembrança nos invadiu.

— Meu Deus, eu era ridícula.

— Claro que não. Se você soubesse como aquilo me deu forças pra continuar. Quando vi você, tocando e cantando toda desengonçada, sem ligar pra ninguém a nossa volta, me fez perceber que não importava o que os outros falassem, contanto que você estivesse ali. Comigo.

Sentamos na mesa, um de frente pro outro.

Fiquei olhando para ele e lembrando de tudo o que passamos.

Se isso não era amor, eu não sabia o que era.

— Lembra quando eu briguei com você aqui? — Perguntei.

— Ah, por causa da Vicky? — Riu. — Como esquecer? Você acabou com a raça dela!

— Vicky. Até o nome já era de vagabunda. — Semicerrei os olhos.

— Foi nesse dia que tive certeza do que você sentia por mim.

— Só faltava eu esfregar na sua cara, Shawn! Você era muito devagar. Precisei ter um ataque de ciúmes e esfregar a cara da menina na grama pra você entender

Shawn gargalhou, colocando a mão na barriga e balançando a cabeça várias vezes.

— Era mais fácil você ter falado! — Devolveu.

— Mas isso nos teria polpado várias histórias legais. — Sorri, sentindo seus dedos acariciarem os meus por cima da mesa.

— Obrigada, Leah.

Mordi o lábio, o encarando com um amor que não cabia mais em mim.

— Se não fosse por você, eu não teria conseguido seguir o meu sonho. E é por isso que eu virei o mundo de cabeça pra baixo pra estar aqui hoje. Porque eu quero estar aqui por você, pra não deixar você desistir de seguir o seu.

— Não vou... Eu prometo. — Entrelacei meus dedos aos dele. — E no final, vai faltar só o sonho de te ter por perto.

— Leah... — Shawn balbuciou, jogando o tronco pra frente, se aproximando mais de mim. — Só tem uma coisa...

— O que? — Perguntei, preocupada.

— Eu meio que me esqueci da comida... — Soltou um risinho sem graça, passando a destra na nuca.

Comecei a rir.

— Certo. Acho que não tenho opção a não ser ir embora — Falei, me levantando da mesa, mas dando uma última olhada nele. Shawn me encarava com uma feição de pavor, os olhos arregalados. Tirei o celular correndo e bati uma foto dele, antes de continuar: — Estou brincando.

— Ufa, nossa — Soltou, com a mão no coração. — Fiquei até sem ação. Vem cá, você tirou uma foto minha, mocinha???? — Se levantou, tentando pegar o celular da minha mão.

— Claro que não, tirei uma foto da decoração! — Resmunguei, desviando o aparelho dele.

Shawn segurou meus braços e me puxou para perto, colando nossos corpos.

— Não temos outra opção, a não ser... — Sussurrou, levando os lábios até minha orelha, dando um beijinho ali, me fazendo sentir um arrepio correr por todo meu corpo. — Ir para o hotel!

E eu iria recusar?

Lógico que não.