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História Never let me go - Capítulo II


Escrita por: Sury_M

Notas do Autor


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Capítulo 2 - Capítulo II


Fanfic / Fanfiction Never let me go - Capítulo II

No dia seguinte sento-me na mesa onde Zayn está, noto que ele não tira os olhos de algo no refeitório então direciono meu olhar para o mesmo ponto avistando o Dr. Payne conversando com a cozinheira. Sorrio discreto para aproveitar o momento e tirar uma da cara dele.

- Como está sua visão, Zee? – ele nem olha para mim para responder.

- Cada vez mais aguçada. – diz divertido.

- Tem certeza? Você deveria consultar o Dr. Payne para ele checar se você não precisa de óculos. – murmuro fingindo inocência e Zayn acaba rindo enquanto roubo uma colherada de seu iogurte de morango e mel.

Liam Payne é médico geral do instituto, ele checa nosso peso, ajusta a dieta de nossa alimentação, receita antibióticos para resfriados entre outras coisas, mas ele não participa das cirurgias, apenas Dr. Brad o faz com a ajuda das enfermeiras, se a cirurgia é muito delicada ele pede auxílio de médicos de fora do instituto. Acho que o Dr. Payne não é muito a favor das práticas do instituto.

Zayn tem uma queda por ele desde que Liam entrou no instituto há quase dois anos, eu o perturbo sempre que posso depois que descobri. Liam retribuiu o olhar de Zayn acenando para ele o que fez meu amigo engasgar com qualquer coisa que ele tinha na boca. Zayn olha pra mim desesperadamente corado e eu acabo rindo de seu estado.

- Desculpe. – peço tentando controlar o riso.

- Pare com isso, ele vai perceber. – Zayn resmunga olhando desesperado para Liam que voltou a conversar com a cozinheira.

- Acho que ele também gosta de você. – digo sorrindo para ele.

- Não seja ridículo. – Zayn olha novamente para Dr. Payne. – Acha mesmo? – pergunta curioso e eu dou de ombros.

- Eu sempre os pego trocando olhares. Se ele não está flertando com você, então eu não sei o que é flertar.

- Você não sabe o que é flertar. – Zayn costuma ser irritante às vezes, como podem ver.

- Provavelmente. – concordo roubando outra colherada e ele dá um tapa na minha mão antes que eu consiga levar o iogurte a boca. – Egoísta. – resmungo fazendo beicinho. O som agudo de salto clicando no piso ecoa pelo refeitório e eu olho em direção a porta para ver quem entrou.

Natasha serpenteia entre as mesas até se aproximar da minha e pára na minha frente. No mesmo instante que ela pára em nossa mesa eu noto que há algo errado, seus olhos são tristes apesar do sorriso fraco em seu rosto.

- Dr. Brad está o chamando para a sala dele, Harry. – ela murmura e eu franzo a testa. Não me lembro de ter nenhuma consulta marcada com ele hoje.

- Não me lembro de ter consulta marcada. – murmuro confuso.

- Não é uma consulta... – ela murmura e posso ver seus olhos umedecerem cada vez mais. – Chegou a hora, H. - ela diz e eu pisco, 'Chegou a hora', esta é minha sentença de morte, suspiro e automaticamente levanto da cadeira, olho para Zayn que está paralisado olhando para mim, ele pisca, uma, duas vezes até voltar em seu estado racional e de seus olhos, lágrimas começam a transbordar, Zayn levanta e rodeia a mesa me abraçando como um urso, sinto seu soluço em meu pescoço e me sinto fraco e doente, eu o abraço de volta.

- Por favor, por favor, não me deixe também, Harry! – ele diz e sinto que vou chorar junto com ele, passei 12 anos me preparando para esse momento e toda a minha coragem e determinação se esvaíram do meu corpo como gotas de suor saem pelos poros, Zayn não iria aguentar perder mais alguém importante para ele, sou o ultimo que restou. – Não tirem ele de mim também! – sua voz é embargada pelo choro e eu quero confortá-lo, mas não tenho tempo, sou forçado a me separar dele pelos seguranças sem me despedir, olho para trás pela última vez e vejo Zayn nos braços de Liam que tenta confortá-lo e sorrio para a imagem. Ao menos ele não ficará sozinho.

Lembro quando descobri que seria doador de órgãos, eu tinha 6 anos, estava na aula de literatura. Minha professora na época se chamava Mikaela, foi a primeira pessoa que realmente nos viu como pessoas e não como simplesmente experimentos de laboratório. Ela nos olhou nos olhos quando começou a dizer...

- Sabem o que acontece com as crianças quando crescem? – ela pergunta e eu olho para Zack e Zayn que também parecem confusos. – Não, não sabem, por que ninguém sabe. Talvez sejam atores, ou astronautas, ou trabalhem em supermercados, ou ensinem em escolas. – Mikaela estava muito quieta naquele dia e começou a falar no meio de uma tarefa onde todos na sala estavam em silêncio. – Talvez façam qualquer coisa, mas com vocês nós sabemos que não acontecerá. – ela suspira triste e todas as crianças esperam que ela diga algo alegre, mas ela não diz. – Nenhum de vocês serão astronautas ou trabalharam em supermercados. Vocês apenas viveram a vida que foi designada para vocês. Se tornarão adultos, mas por pouco tempo, antes de ficarem velhos... antes mesmo de chegarem a meia idade vocês começarão a doar seus órgão vitais. – não me lembro como foi minha reação, mas tudo parecia em câmera lenta, acho que minha pouca idade me deteve de compreender rápido o que ela nos dizia, ou talvez ou só não queria acreditar. – É pra isso que vocês foram criados. Vocês precisam descobrir o que são e pra que são, é a única maneira de aproveitarem um pouco a vida que resta a vocês.

Mikaela não apareceu no dia seguinte e nem em qualquer outro depois deste.

Eu a agradeço por ter nos avisado, mesmo que não tenha aproveitado como queria a pouca vida que me restava. Seria horrível viver na ignorância até chegar o dia da minha cirurgia. Eu não quero me vangloriar, mas acho que já cheguei tão longe, isso mostra que não sou uma maquina. Mas no final é exaustivo.

Acho que é por isso que passo a maior parte do tempo sem olhar para o futuro, e sim para o passado. Quando eu ainda não sabia o que eu era, quando Zack estava vivo, quando eu era criança.

Lembro-me dos boatos que circulavam pelo instituto nessa época, sobre crianças que fugiram do instituto e não foram permitidas entrar novamente, disseram que elas morriam de fome ao lado do portão. Como eu disse, eram apenas boatos, foram criados para que temêssemos o lado de fora, ninguém nunca tentou fugir. Acabo procurando um meio de fuga nesse momento para não chegar até a sala do Dr. Brad.

Natasha se tornou uma de minhas melhores amigas no instituto, ela era a única enfermeira que aplicava bem injeções e não errava nossas veias ao coletar sangue. Se ela não tivesse apenas 28 anos eu a chamaria de mãe.

Ela nunca ficou tão calada enquanto eu estava ao seu lado e isso parecia me matar aos poucos.

Caminhei ao seu lado enquanto ela rabiscava algo em sua prancheta. Natasha parou e olhou para mim, seu lábio inferior tremendo um pouco, seus olhos tristes e distantes.

- Sinto muito, H. – ela sussurra e eu assinto, não confio em minha voz para falar nesse momento. Entro na sala do doutor e o encontro digitando em seu computador.

- Harry. – ele me olha, seu olhar piedoso e quase paterno.

- Olá, doutor. – pigarreio para testar a voz antes de dizer.

- Você comeu algo hoje?

- Uma colher de iogurte.

- O certo seria não ter comido nada. – ele passa as mãos pelo cabelo ralo. – Natasha prepare-o para a cirurgia. Vou arrumar os equipamentos. – Brad parece perturbado, ele está evitando olhar para mim até sair da sala. A enfermeira me pede para colocar a roupa cirúrgica e assim faço deitando na mesa de operação e olho para o teto até chegarem com a anestesia geral.

Minha garganta se fecha e temo não conseguir respirar, mas lembro que logo isso não será preciso. Noto o vulto de Natasha pela sala, minhas pernas e mãos estão tremendo e meus olhos estão embaçados.

- Não vai demorar muito, H. – ela diz. – Você não vai sentir nada. É como estar sonhando.

Já me disseram como seria na cirurgia, mas Naty continua falando que vai ficar tudo bem, acho que ela está tentando me confortar, mas nem ela está confortada.

- Eu não quero morrer. – as palavras desprendem de meus lábios sem que eu permita. Mordo o lábio inferior para evitar chorar, porém sinto uma lágrima escorrer pela minha bochecha. Natasha se vira e me olha, seu rosto está igual o meu. Ela funga algumas vezes.

Não quero deixar tudo tão difícil para ela, Naty é do tipo que acaba se culpando por coisas que estão fora de seu alcance. – Estou com medo.

- Eu sei, querido. – ela sussurra, sua voz se quebrando ao final. Eu fecho os olhos e tento me acalmar. Brad está demorando demais para voltar e isso me deixa mais nervoso. Só quero que tudo acabe logo. Escuto coisas caindo ao meu redor e abro os olhos assustado. Natasha havia derrubado alguns equipamentos e vinha em minha direção.

- Levanta, H. – ela diz rápido. – Vamos, me bata.

- O quê?! – ela está ficando louca?

- Vou te ajudar a fugir. Agora me bata.

- Não posso. – nem por brincadeira bateria em uma mulher. Ela revira os olhos e estapeia forte sua própria bochecha cortando seu lábio.

- Saia pela porta do fundo do escritório, desça as escadas e não pare, vai chegar à garagem, não deixe que ninguém te veja. Entre em um dos caminhões de suprimentos e fique lá dentro até ele sair daqui. – só consigo piscar enquanto ela me dá um jaleco branco e eu coloco por cima da minha roupa cirúrgica. – Agora vá! Rápido!

Eu começo a correr pelo caminho que ela me indicou, estou descalço e nem me passa pela cabeça uma possível queda nesse piso liso do instituto. Tudo parece vazio até vozes invadirem o corredor, viro em uma sala desativada até as enfermeiras, donas das vozes, passarem. Desço as escadas e elas parecem não ter fim, quando finalmente chego à garagem e entro num dos caminhões o instituto ainda está em silêncio, sinal de que não sabem da minha fuga.

- Preciso fazer a vistoria em seus suprimentos no caminhão. – diz uma voz entediada e eu me encolho temendo ser encontrado.

- Fica pra próxima, Billy. Preciso chegar à cidade em meia hora. – outro homem diz e fecha a porta do caminhão que eu estou escondido atrás de algumas caixas.

- Meu chefe me come se eu deixar isso pra depois de novo.

- Na volta você faz. – o motor liga e todo o caminhão começa a vibrar. Agradeço mentalmente e fecho os olhos esperando que esse homem me tire daqui sem perceber e assim começo a sair aos poucos do lugar que morei minha vida inteira.

Não sei quanto tempo fiquei ali, minhas pernas já doíam pela posição meio sentada, mas preparado para correr a qualquer momento. O caminhão para de repente e eu prendo a respiração esperando.

- Hey, Leonard! Há quanto tempo?! – o homem de dentro do caminhão diz. – Vou recarregar o caminhão com alguns legumes e levar pra HCC. Pode cuidar disso pra mim? – outro homem diz algo, mas não consigo entender. As portas do caminhão se abrem e eu me encolho ainda mais. – Vou no banheiro rapidão, pode ir colocando as caixas na beirada, depois eu ajeito!

Eu espio sobre a caixa e vejo um homem, talvez aquele tal Leonard, colocando duas caixas dentro do caminhão próximo a porta. Espero ele se afastar e digo a mim mesmo: É agora! Corra!

Me levanto e olho para fora e vejo o mesmo homem dentro de uma lojinha pequena recolhendo legumes de costas para mim, olho para a altura considerável do cargueiro do caminhão até o asfalto, pulo mesmo assim. Ignoro a dor no tornozelo e começo a correr cambaleante no inicio até me estabilizar. Não pare agora.

Nem sequer sei onde estou indo, não conheço nada, nunca sai do instituto e estou descalço, mas não paro, não há alguém nesse mundo que me faça parar agora.

Acho que cheguei a uma feira livre, parece um formigueiro, eu paro brevemente pra respirar e noto como estou ofegante, sempre fizemos exercícios físicos no Instituto, mas acho que nunca me esforcei assim, meus pulmões parecem queimar e eu estou lacrimejando. O medo de ser encontrado por alguém da HCC me atinge e eu volto a correr como um cachorro assustado que escapa de casa pela primeira vez.

Noto olhares suspeitos sobre mim e isso me faz correr ainda mais, trombo com alguém bruscamente e caio sentado no asfalto e faço uma careta de dor.

- Hey, calma garoto! – aquela voz! Olho para o dono dela e vejo os olhos azuis voltados para mim com um sorriso simpático. – Se machucou? Espera eu conheço você.... – ele franze a testa tentando se lembrar e logo arregala os olhos.

- Me ajuda, por favor. – peço e acho que sussurrei por que eu mal me escuto.

- Porra! – ele passa as mãos pelo cabelo liso, bagunçando-os. – Harry? – Ele olha para todos os lados tentando ver alguém e por um momento penso que ele vai me entregar, o ar esvai de meus pulmões e eu acho que vou desmaiar. – Vem, vou te tirar daqui. – ele estende a mão para mim e eu agarro, mas não consigo levantar sozinho. Ele me segura pela cintura e tira meu jaleco e coloca no lugar seu casaco marrom escuro e sua touca. Louis me guia pra longe da multidão e eu o acompanho, não tenho forças para tentar fugir mesmo que seja necessário, mas sinto que com ele eu estou seguro.


Notas Finais


Obrigada pelos comentários no capítulo anterior, me digam o q acharam desse, okay?
Beijos!


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