História Never Let You Go - Imagina

Camila’s POV

Senti a luz forte queimar os meus olhos assim que os abri. O ambiente todo branco aumentava a luminosidade do local, me fazendo apertar ainda mais os olhos. Olhei ao redor e enfim notei que eu estava deitada em uma cama, mas não a minha cama e sim a de um quarto de hospital. Foi então que em um dos cantos notei uma Lauren dormindo de forma aparentemente desconfortável em uma cadeira. Parecia exausta. Ao tentar sentar notei que haviam tubos em mim, alguns deles enfiados nas veias do meu braço e o esforço me fez sentir uma agonia sem fim. Eu queria fugir dali. Eu não queria que explicar nada a ninguém e eu queria, com todas as minhas forças, que meus pais não estivessem ali.

Uma enfermeira ao notar que eu estava acordada entrou no quarto, despertando também a Lauren. Enquanto tirava todas aquelas coisas de mim para eu, finalmente, poder ir para casa, ela falou algo sobre manter a uma dieta saudável e comer de 3 em 3 horas. Tanto faz.

Eu e Lauren nos dirigimos até o seu carro e nenhuma palavra foi dita. Eu apenas conseguia olhar para o chão, envergonhada o suficiente para não quebrar aquele silencio. Lauren dirigia séria, sempre olhando para frente e eu apenas encostada na janela do carona, notando que ela estava fazendo o caminho para a sua casa e não para a minha.

- Lauren, meus pais...

- Eles sabem que você está comigo. – me cortou de forma fria, ainda sem me olhar.

- Eles sabem que eu estava no hospital?

- Não. Eles ligaram para o seu celular e eu atendi falando que você estava na minha casa e não pode atender porque estava no banheiro.

- Obrigada por não contar.

- A sorte foi não ter sido nada sério.

E o silencio voltou a tomar conta do carro até ela estacionar em seu prédio. Eu não queria estar ali, eu sabia exatamente o que ia acontecer quando entrássemos naquele apartamento. Mas eu não queria e nem tinha forças para discutir. Assim que entramos Lauren jogou sua bolsa em um canto qualquer da sala e sentou no sofá, escondendo o rosto nas mãos e apoiando o cotovelo em suas pernas. Ficou um tempo nessa posição até passar as mãos pelos cabelos, os colocando para trás e olhou para mim, que ainda estava parada em pé no meio da sala. E foi então que eu vi a preocupação estampada nos seus olhos, que, aos poucos, iam se transformando em lágrimas. Eu preciso parar de faze-la sofrer.

- O médico disse que você desmaiou por passar muito tempo sem comer. Quando fui a última vez que você comeu, Camila?

- Ontem de manhã, eu acho. – ela suspirou e se acomodou no sofá, me mandando sentar ao seu lado.

- Camila o que foi aquela sms?

- Eu só...Nada que você precise se preocupar. – abaixei a cabeça e pedi com todas as forças que ela deixasse isso para lá. Mas é claro que ela não iria.

- Como não devo me preocupar Camila? Como você me manda aquilo do nada, você cai nos meus braços e você quer que eu não me preocupe? Eu não sei se quero ouvir a resposta, mas Camila você ia se matar? – permaneci em silencio. – CAMILA ME RESPONDA. – seu grito me fez estremecer e só então notei que ela já estava em pé na minha frente.

- Eu...Eu pretendia, mas eu não tinha conseguido ainda. – falei quase sussurrando, mas foi o suficiente para que me ouvisse.

- Ainda. – ouvi seu riso irônico e seus passos ficaram impacientes pela sala. – Camila você parou para pensar bem antes de fazer isso? Antes de tomar essa decisão?

- Pensar é a coisa que mais tenho feito.

- E ainda assim você achou que essa era a solução?

- Sim. Seria o melhor para todos.

- SERIA MELHOR PARA QUEM, CAMILA? PELO AMOR DE DEUS. E SE EU NÃO TIVESSE CHEGADO AQUELA HORA? E SE VOCÊ TIVESSE FEITO ISSO? VOCÊ PAROU PARA PENSAR NA REAÇÃO DOS SEUS PAIS AO CHEGAR EM CASA E DAR DE CARA COM AQUELA CENA? Se não pensou antes vamos imaginar agora. Seus pais chegam em casa e Sofia vai correndo ao quarto da irmã mais velha que ela tanto ama para contar como foi o passeio. Ela abre a porta na expectativa de que a irmã iria sorrir quando ela contasse o quanto se divertiu mas o quanto desejava que ela estivesse lá também. Mas ao invés disso, ela encontra um corpo desacordado. Imagina o que todos ao seu redor iam pensar. Imagina a culpa que ia cair nos ombros dos seus pais que pensariam em todas as vezes que brigaram com você, por menor que fosse o motivo. Imagina sua irmã pequena pensando que deveria ter brincado mais com você. Imagina os seus professores, pensando se não deveriam ter te dado uma chance antes de te mandarem para a recuperação. Imagina Dinah e Ally, que perderiam a melhor amiga e se culpariam por não terem notado nada errado. Imagina o Drew, que se culparia por ter terminado com você. – senti meu rosto, que ainda estava baixo, sendo levantado calmamente e notei que ela estava abaixada na minha frente, olhei em seus olhos e notei que chorava na mesma intensidade que eu. – Imagina como eu ficaria ao perder a pessoa que amo. Imagina o quanto me culparia por não ter chegado alguns minutos antes. Imagina como eu ficaria Camila. Por favor, pensa antes de fazer qualquer coisa. Eu sei que a vida é difícil as vezes, eu sei que parece injusto e que o mundo ta conspirando contra você. Mas a pior coisa que você pode fazer é desistir. Você pode achar o contrario, mas você é forte. Você não vai receber nada que não possa aguentar. E vai passar. E você vai agradecer por ter conseguido passar por tudo isso. Mas por favor, não me deixa não. Eu disse que nunca ia te deixar, lembra? Apesar de parecer que não estou cumprindo a promessa, eu estou. Durante esse tempo todo eu estive esperando por você e acho que agora foi a maior prova de que eu não vou te deixar ir. Você merece se sentir a pessoa mais amada do mundo porque você é. Pelo menos por mim.

E lá estava eu de novo. Nos braços dela, lugar que eu nunca deveria ter saído.