História New Hope (Imagine BTS) - 25

(P.O.V. Lara)

Depois de almoçar eu pego uma regata e um short confortáveis, além de um top, uma calzinha e uma toalha e vou para o banheiro. Deixo a roupa na pia e pego a escova de dentes entrando no box.

Saio do banho com apenas um sentimento: tédio. Não quero ler aquele documento chato sobre a conduta da empresa. Começo a andar pela casa e olhar cada detalhe dela, por fim, me aproximo da janela no fim do corredor e olho a paisagem. Crianças brincando no parque e alguns casais passeando.

Olho para cima suspirando e percebo um quadrado com uma alça no teto. Subo no banco da janela e pulo para alcançar a alça, a ponta do meu dedo do meio esbarra nela, mas eu não consigo abrir. Tento mais uma vez e puxo a porta fazendo ela se abrir e liberar uma escada que trava na metade, além de uma nuvem de poeira que me faz espirrar.

Subo a escada com cuidado, por medo dela quebrar e eu me espatifar no chão. O cômodo é uma espécie de sótão empoeirado e cheio de tralha. Tem tapetes, algumas almofadas, quadros cobertos com panos, um baú, e inúmeros livros e cadernos, além de alguns estojos.

Observo toda aquela bagunça, coberta por uma grossa camada de poeira, e me pergunto se o dono de tudo isso abandonou essas coisas ou se esqueceu delas. Respiro fundo pensando no que fazer, e acabo espirrando. Caminho até os livros e começo a olhar os títulos, a maioria estava em coreano, mas tinham alguns em chinês e inglês, e falavam de política, sociologia, filosofia, direito, medicina, e alguns que pareciam ser de poesias... Os cadernos estavam com as linhas cheias de textos em coreano.

Desci pela a escada e peguei as caixas de papelão onde estavam as minhas roupes e joguei-as no sótão, subindo a escada logo em seguida. Guardei os livros e cadernos ali dentro e joguei para o andar de baixo, descendo novamente e guardando no quarto de visitas.

Volto para o sótão e jogo todas as almofadas e tapetes para o andar de baixo, descendo logo em seguida, sinto o suar escorrer e então vou para o meu quarto atrás de um elástico e prendo meu cabelo em um rabo de cavalo.

Começo a levar as almofadas e tapetes para a sala, para depois por no jardim para tirar a poeira e deixar no sol. A campainha toca e eu corro para atender. Assim que abro a porta vejo duas meninas muito lindas, uma com o cabelo na cor azul preso em uma trança que passava por cima do seu ombro e ia quase até a cintura, e a outra com o cabelo preto, solto, na altura dos ombros, a mesma segura um bolo com cobertura de chocolate.

– Boa tarde! – A menina do bolo fala. – Eu sou a Kim Soo Na e essa é a Jung Ma Ri, trouxemos esse bolo para te dar as boas vindas, nós somos vizinhas agora.

 – Boa tarde! – Falo sorrindo. – Meu nome é Lara, prazer em conhecê-las.

– Podemos entrar? – Pergunta Ma Ri.

– Ah! Desculpa. – Falo e abro mais a porta dando espaço. –Entrem, só não reparem na bagunça. Cheguei ontem, estou organizando algumas coisas.

– Dá para perceber. – MaRi fala me deixando envergonhada e então SooNa cutuca ela com o cotovelo.

– Está tudo bem, mudanças são assim mesmo. – SooNa diz sorrindo e caminha até a bancada deixando o bolo.

– Sente-se. – Digo. – Querem beber alguma coisa? Chá, café, água?

– Eu aceito um café bem forte. – Fala MaRi.

– Duvido que ela beba café forte que nem você, MaRi. – Soo fala e MaRi revira os olhos me fazendo rir.

– Na verdade, eu tomo café bem forte, é um costume do país onde eu nasci. – Digo indo por a água para ferver. – Você também vai tomar café ou prefere chá, Soo? – Percebo que encurtei seu nome. – Desculpe, posso te chamar de Soo? Fica mais fácil.

– Tudo bem, eu acho até melhor e eu prefiro um chá. – Diz Soo sorrindo e MaRi a olha.

– Para de sorrir tanto, parece que quer morder a menina. – MaRi fala e dou uma risada leve enquanto Soo faz biquinho.

– Vocês são uma graça. – Falo.

– Nós somos um casal. – MaRi fala beijando o biquinho de Soo que arregala os olhos assustada.

– Você não pode sair contando isso para todo mundo! Seu pai mata a gente se descobrir que você contou! – Soo fala e eu sorrio.

– Vocês combinam tipo o Yin e Yang. – Falo sorrindo.

– Quem é o Yin e quem é o Yang? – Pergunta MaRi sorrindo.

– Não sei qual representa o que, mas ela é a parte boa e alegre da coisa e você é a outra mais quieta e sombria. – Falo e MaRi arqueia uma sobrancelha. – Não que você seja sombria e assustadora é só que... Ah! Que saber? Deixa quieto que eu só tô piorando.

Elas riem e água ferve, passo o café para mim e para a MaRi, e faço uma caneca de chá para a Soo. Pego pratinhos e talheres para cortar e servir o bolo.

– Qual sua sexualidade? – Pergunta MaRi fazendo Soo engasgar e dar uma cotovelada nela. – Que foi?

– Não se pergunta esse tipo de coisa! – Soo fala e MaRi revira os olhos.

– Se eu não tivesse perguntado para você não estaríamos namorando. – MaRi fala e Soo fica vermelha.

– Eu sou heterossexual. – Falo sorrindo.

– Certeza? – Pergunta MaRi.

– Sim. – Respondo e ela nega com a cabeça.

– Que desperdício! Você é tão linda! – MaRi fala e recebe um tapa de Soo que fecha a cara para ela. – Ei! Eu te amo, flor! Mas ela é linda, você tem que concordar.

– Ela é bonita, sim, mas você não tem nada que falar desse jeito. Ela não é um pedaço de carne e eu sou sua esposa, me respeita! – Soo fala fazendo biquinho e MaRi a beija.

– Credo! Vocês são mais doces que esse bolo, acho que estou diabética! – Falo e Soo me mostra língua.

– O que você está fazendo com essas coisas velhas e empoeiradas? Você morava em um porão ou coisa assim? – Pergunta MaRi.

– Senhor! Como você é intrometida! – Soo fala e eu dou risada.

– Na verdade, eu tava explorando a casa e achei um sótão, aí eu fui mexer e encontrei essas coisas, além de livros, quadros e um baú. – Falo. – Pensei me devolver para o dono, mas não tinha nenhum nome então eu vou ficar com as coisas para mim. Tava indo por tudo no quintal para tirar o pó e pegar um sol quando vocês chegaram. Falando nisso, os vizinhos vão se incomodar se eu deixar tudo isso no meu quintal?

– Você fala muito, parece até a Soo. – MaRi diz e Soo enfia uma garfada de bolo na boca dela.

– Cala a boquinha, por favor. – Soo disse fofa e depois me olhou. – Somos suas únicas vizinhas, e não nos importamos com isso.

– Sério? – Pergunto e ela concorda. – Ninguém mais mora nessa rua?

– Não. – MaRi fala. – É um bairro de ricos, mas essas são as menores casas, então eles evitam comprá-las porque não passam a imagem que eles querem. Meu pai comprou a casa ao lado exatamente porque não teríamos vizinhos para ver a “pouca vergonha” que eu e a SooNa fazemos.

– Sorte de vocês, podem se divertir e fazer o barulho que for e ninguém reclama. – Falo e MaRi faz cara maliciosa enquanto Soo tapa o rosto envergonhada.

– Gostei de você. Seus pensamentos são interessantes. – Fala MaRi e eu finjo jogar o cabelo.

– Vocês são duas pervertidas, isso sim! – Fala Soo envergonhada.

– Não posso negar fatos. – Falo e MaRi dá risada. – Esse bolo está delicioso, você que fizeram?

– Fui eu. – Fala Soo. – Minha mãe me ensinou a cozinhar quando eu era novinha.

Continuamos conversando e comendo até ficarmos satisfeitas. Guardo o bolo na geladeira e lavo a louça, enquanto as meninas ficam conversando comigo sentadas na bancada. Termino e tiro o avental, virando de frente para elas.

– A cozinha está arrumada, agora só falta resolver aquele campo de guerra ali. – Falo apontando para a sala. – Obrigada pela visita de vocês, depois que a casa estiver arrumada podemos marcar um dia para vocês virem almoçar ou jantar, o que vocês preferirem.

– Nós podemos te ajudar a limpar essas coisas. – Fala Soo e se vira para MaRi. – Vai buscar o aspirador para ficar mais fácil de limpar os tapetes.

– Mas eu to com preguiça. – MaRi fala.

– Não perguntei, vai logo. – Soo diz empurrando MaRi que sai pela porta.

– Não precisam fazer isso. – Digo.

– Nós não estamos fazendo nada, vai ser um prazer ajudar. – Ela diz sorrindo. – Vamos levar essas coisas lá para fora.

– Certo. – Falo e pego um tapete passando com ele pela porta e esticando ele na grama do jardim.

 – De que país você é? – Pergunta Soo, enquanto tiramos os tapetes da sala.

– Brasil. – Digo.

– Dizem que é muito bonito. – Fala Soo.

– É muito bonito, mas é muito quente. – Falo levando o último dos quatro tapetes para o quintal e MaRi aparece.

– MaRi, abra aquele tapete e comece a aspirar. – Falo Soo e MaRi bate continência sorrindo.

– Sim, senhora! – Fala e Soo ri.

Eu e Soo tiramos as almofadas e batemos elas tirando o pó, enquanto MaRi aspirava os tapetes. Elas me enchem de perguntas e eu acabo contando um resumo de tudo o que aconteceu e de como era a minha vida no Brasil e como vim para na Coreia e aprendi coreano. Elas contaram sobre suas vidas também, e todo aquele trabalho começou a parecer uma seção se terapia.

Jung MaRi foi desertada pelo pai, que é um empresário riquíssimo, depois de assumir seu relacionamento com a Kim SooNa. Ele comprou a casa e dá uma quantia em dinheiro mensalmente porque a mãe dela pediu e porque ele diz que esse dinheiro é para ela se manter longe de escândalos.

Já Kim Soo Na é apoiada pela família que não é rica, mas tem dinheiro suficiente para viver bem. Eles deram uma festa para as duas e o pai dela até fingiu casar as duas. Além de que eles as convidam para jantar ou passar fins de semana na casa deles sempre.

Preciso assumir que fiquei muito feliz em saber que a Soo não é rica, sinto que ela talvez me compreenda melhor por isso, além de eu não precisar me preocupar em ser super educada com ela porque ela não vai exigir tanta etiqueta da minha parte. Obrigada, universo, pelas vizinhas incríveis que você me deu!