História New Perspective - Prólogo

— Zachary Baker, tire já os pés da mesa! — horrorizada, uma Maria Baker encarava o filho estirado no sofá.

Terno amassado. Gravata frouxa. Sapatos apoiados sobre o vidro reluzente da mesa de centro da sala. O rapaz era a imagem do desleixo, brincando com as rendas de uma das almofadas perfeitamente alinhadas de sua mãe. Bonito, não havia como negar. Pele branca, macia, destacada por cabelos negros. Lábios vermelhos, delicados, levemente cheios. Mesmo assim, Zacky não era alguém que usava a beleza como vantagem — ele não precisava disso. Com olhos verdes e lábia dignas do Diabo, ele podia contar mentiras como se falasse do tempo.

Exceto, é claro, para sua mãe.

— Eu preciso mesmo estar aqui? — ele reclamou, entediado, obedecendo a ordem, mas não ajeitando a postura, ou levantando do sofá.

— Claro que precisa! — os olhos de Maria estavam tão arregalados, que Zacky não se surpreenderia que pudessem saltar pra fora das órbitas a qualquer instante. — O chefe do seu pai vem jantar aqui! Isso é…

— A coisa mais importante que já aconteceu com ele. Blá-blá-blá, emprego, blá-blá-blá, promoção, etc, etc. — Zacky suspirou dramaticamente.

Se fosse em qualquer outra situação, ele murmuraria um “foda-se”, subiria até seu quarto, trocaria de roupa e fugiria para uma festa qualquer. Ou seja: voltaria só lá para as quatro da manhã, quando não houvesse mais nenhum riquinho metido a besta em sua casa, ou necessidades de uma falsa etiqueta que ele nunca se dera o trabalho de aprender, de fato. Mas ele não queria arrumar mais problemas com sua mãe no momento, uma vez que ela já estava irritada o bastante com seu boletim de notas -C e podia, a qualquer instante, resolver bancar a mãe preocupada — e Baker realmente não tinha paciência o suficiente para lidar com o melodrama dela.

Então, ele não tinha escolha. Era isso, ou ter sua guitarra confiscada pelo resto do mês. E, ah, se havia uma coisa sem a qual ele não vivia, era sua guitarra! Música era tudo para Zacky, muito mais que as malditas contas algébricas que só fodiam com sua vida desde o ensino fundamental. Ele não tinha qualquer interesse em seguir a carreira do pai. Aliás, Matt é que sempre fora interessado nisso; onde estava o pirralho do seu irmão naquele momento?

Era o que Zacky ia perguntar, no momento em que a campainha tocou. O olhar que Maria lhe deu foi o suficiente para que levantasse, ajeitando a camiseta social, apertando a gravata e batendo o casaco do terno, para afastar a aparência de desleixo. Em questão de segundos, já se encontrava abrindo a porta, “como um perfeito anfitrião”.

O senhor Haner não era exatamente o que ele esperava — um velho barbudo de cabelos ralos e cara emburrada. Na verdade, parecia até bastante novo, ainda de cabelos grisalhos, e porte físico de quem fez muitos exercícios durante a adolescência. Era até… Suportável.

A esposa era mais normal. Uma mulher de meia-idade, cabelos escuros, jeito elegante. Zacky não tinha nada a pensar sobre ela.

Mas o garoto… Ah, o garoto Haner definitivamente fazia parte dos estereótipos que ele odiava! Terno engomadinho, sapatos engraxados, cheiro de perfume importado… Nem um fio arrepiado de cabelo fora de lugar. Ele parecia aquele tipo de cara que nunca precisou fazer porcaria nenhuma na vida, porque nasceu em uma família rica.

E, sim, isso era um motivo bom o bastante para que Zacky tivesse vontade de socar aquele rostinho de traços delicados. Entretanto, como isso só lhe traria problemas, contentou-se por sorrir falsamente.

Aquela seria uma longa noite.