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História Nibi - A assombração da floresta Nara


Escrita por: AyzuLK

Capítulo 19 - A assombração da floresta Nara


Sua mãe costumava dizer que o fruto nunca cai muito longe da árvore, principalmente no que dizia respeito à Naras e sua falta de motivação crônica. Ela dizia que todo gênio tinha uma esquisitice assim, para balancear as coisas, mas que Shikamaru deveria se espelhar menos no seu pai no que dizia respeito à força de vontade.

Shikamaru achava que sua mãe gostava muito de reclamar das coisas, e que ele estava perfeitamente bem do jeito que as coisas eram. Ele tinha oito anos, não deveria estar se preocupando com coisa de gente grande. Ao contrário de Ino, ele não tinha pressa alguma para isso.

Isso não queria dizer que ser criança era também tudo flores, principalmente quando o mandam fazer coisas que achava problemáticas. Cuidar dos cervos com seu velho, pelo menos, ele gostava de fazer: A clareira era um ótimo local para cochilar. Claro, ficou menos divertido quando seu pai deixou de o levar no braço e o fez andar sozinho (mesmo que ele ainda o carregasse de volta quando Shikamaru reclamava o bastante ou demorasse para voltar quando ia sozinho), e acordar cedo era um problema.

Então é, vantagens e desvantagens, mas vida que segue, então ele ia, mas ia reclamando e resmungando, para que seus pais ficassem bem cientes de que não estava feliz com a situação, mesmo que a floresta fosse silenciosa e ótima para cochilar e fugir das 'obrigações como herdeiro do clã' que começavam a ser problemas.

Isso, claro, foi até o dia em que encontrou um yokai na floresta.

Shikamaru havia encontrado primeiro o caminho de selos, e havia ficado curioso, principalmente quando se deparou com nada ao fim dele.

(Curiosidade, um mistério era uma das poucas coisas que motivam um Nara. E vingança também, claro.)

Ele sabia que aquilo não poderia estar certo, e pensou em comentar com seu pai, mas um outro lado seu persistiu em guardar aquilo para si e investigar. E investigando ele se deparou com o fato de que o nada era na verdade uma barreira, um genjutsu feito de selos. E se havia uma barreira, havia algo do outro lado. E Shikamaru iria descobrir o que era.

("Shikamaru está indo sem reclamar." Yoshino comentou, com a mão na cintura. "Isso é estranho, han?" Shikaku apenas deu de ombros e sorriu por trás do pergaminho que lia. "Não está preocupado?" Ele a olhou com uma sobrancelha erguida. A mulher bufou. Aquele homem e seus mistérios. "Você sabe o que está acontecendo, não está? O que tem na floresta?" Ele sorriu e coçou a cabeça. "Algo importante.")

Shikamaru voltou ao lugar por uma semana, todo dia, mas a barreira continuava ali. Sólida como sempre, e agora conseguia compreender melhor os selos. Seu velho havia suspeitosamente o emprestado alguns pergaminhos quando o viu estudando na biblioteca sobre eles.

("Você sabe?" Ele apenas tocou na sua cabeça e foi embora sem dizer nada. Problemático como sempre.).

No sexto dia, apenas algo mudou. Shikamaru estava estudando a barreira quando ela tremeu e começou a cair, finalmente o mostrando o que havia do outro lado.

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Naruto não se considerava uma pessoa ambiciosa; na verdade, ele desejava poucas coisas na vida: trabalhar com seus selos, cuidar de suas plantas e que as pessoas que amava não o deixassem.

Essa última parte era bem mais complicada, e a mais importante, porque tudo o que fazia era por isso: Ele queria ser um shinobi para proteger Kakashi e as pessoas vivas que tinha, ele queria entender o poder de Nibi para proteger as pessoas mortas.

E agora ele iria aprender o jutsu do seu clã para não perder a sua mãe.

Ele sabia que as correntes adamantinas não eram algo fácil de se aprender, e que tinham seu tempo certo. Ele sabia também que se as coisas dessem errado ele poderia danificar seu corpo para o resto da vida (não era como se sua mãe não o lembrasse disso sempre) ou ele poderia perder o controle do seu chakra e as coisas dariam bem errado bem rápido. Mas eles estavam ficando sem tempo. Naruto sentia que logo algo muito ruim iria acontecer se não fizessem alguma coisa. E Naruto não arriscaria perder sua mãe no processo.

Isso não tornava o processo mais agonizante. Observou a pele de seu braço cicatrizando, sabendo que poderia ser bem pior se Matatabi não estivesse o ajudando.

"Naruto..."

Propositalmente não olhou para sua mãe. Seis dias. Seis dias saindo daquela floresta para o apartamento, fugindo de Iruka por não ir para academia, de Shisui que havia retornando de uma missão e o procurado no apartamento, ignorando o aniversário do ataque de Nibi chegando ou o fato de que não havia recebido notícias de Kakashi...Seis e o progresso lento demais. Ele não tinha tempo para aquele passo a passo.

Naruto não sabia o que estava fazendo de errado. Mesmo com sua mãe o ajudando e Tobirama-jiji, mesmo que fosse um jutsu que era uma herança sua.

Se ergueu devagar e olhou para o céu. Não havia muito tempo e teria que voltar. A barreira pelo menos continuava firme.

(E a presença do lado de fora dela também. Naruto deveria saber que era impossível usar aquela floresta sem um Nara ou dois saberem, mas seja quem fossem, não havia feito nada. Naruto, afinal, tinha permissão de um chefe de clã. Mesmo que não de um vivo, mas, detalhes.)

Sentiu o puxão de Matatabi o chamando e suspirou, fechando os olhos. O bijuu não estava exatamente feliz com o que estava fazendo, mas parecia bem ocupado também nos últimos tempos. O cenário mental havia mudado novamente e conseguia ver a vila cada vez mais perto. Eles não sabiam ainda exatamente o que aquilo significava, mas cada coisa a seu tempo.

Olhos iguais se encontraram e se segurou para não se encolher. Matatabi e sua mãe sabiam o fazer se sentir uma criança desobediente como ninguém.

"Nem mesmo comigo aqui, você vai ter chakra o suficiente se continuar desse jeito."

Cruzou os braços e se sentou ao lado do bijuu, absorvendo o calor e o chakra emprestado.

"Eu não sei o que estou fazendo de errado."

"Meu chakra está atrapalhando."

"Mas oka-chan era um jinchuuriki também..."

"Não como você." Naruto ergueu os olhos em curiosidade, o rosto bem perto de uma presa gigante que assustaria qualquer um, menos ele. Tocou a presa de forma ausente e colocou a mão na própria boca, tocando a sua. Abaixou a mão quando notou o que fazia. Matatabi soltou um som que era quase uma risada. "Você não é como sua mãe. Ela não podia fazer o que você faz, ou Mito. Apenas você. E quanto mais evoluir, mais chakra meu vai se misturar com o seu."

Naruto havia pensado nisso. Ele havia pensado nisso muito.

"Eles estão ficando mais tangíveis." Falou suavemente. "Podendo ser vistos, ouvidos...Quase como se..." Se calou, as vozes na rua sussurrando e o chamando de monstro vindo à mente. Balançou a cabeça. "As correntes?"

"Um pequeno choque entre seus dois chakras." O gato abaixou a cabeça e olhou Naruto nos olhos. "Sempre haverá coisas mais fáceis e mais difíceis para você aprender por isso. O que percebe quando usa seu chakra?"

"Ele muda." Franziu o nariz. Como um detector, ele conseguia perceber isso. "O cheiro muda, a cor. Às vezes como maresia, outras como fogo e então ele fica frio."

"Um contraste."

"Então... eu não vou poder aprender?" Naruto sentiu o desespero o tomar. Ele não tinha outra opção. "Se eu não aprender... se não for eu, oka-chan é quem vai usar e..."

"Você é um filhote de humano, não deveria se preocupar com isso."

"Eu não posso perder ela de novo. Ela é minha família, eu amo ela." Naruto olhou o bijuu, perdido. "O que vou fazer?"

Matatabi o encarou e então ergueu a cabeça e olhou em direção a vila. Cada vez mais perto. Procurando algo. E por alguns segundos Naruto sentiu também o que o bijuu alcançava, o que o mantinha ocupado tanto tempo. Um outro tipo de chakra. Quase um cutucão curioso; um chakra diferente, mas também um pouco parecido com Matatabi. Os chakras quase pareciam conversar.

Se Naruto não estivesse tão desesperado, faria um milhão de perguntas.

"O que você vai fazer..." Matatabi o empurrou com a pata levemente. "O que vamos fazer, é o que um Uzumaki faz de melhor, aparentemente: improvisar."

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Quando Kushina se descobriu grávida, uma das primeiras coisas que se perguntou é com quem a criança que esperava iria se parecer mais: Por um lado, ela sonhava com um 'mine me', por outro não havia como uma criança parecida com Minato não ser absolutamente adorável.

Então veio Naruto, com todos os traços Uzumaki em suas cores Namikaze, uma mistura dos dois desde o dedão do pé até o último fio de cabelo... Exceto pela cor dos olhos, a primeira coisa que ela viu dele naquela noite. Os olhos grandes e brilhantes no rosto miúdo.

(Kushina lembrava do silêncio que precedeu seus próprios gritos quando Naruto nasceu. Minato o pegou e não o entregou a Kushina, mesmo enquanto ela o implorava. Não houve o choro sentido de um recém-nascido, só o silêncio que precedeu o caos e a morte que veio em seguida. Ela teve apenas um vislumbre do corpinho imóvel, em meio a confusão até ser arrastada de lá e Nibi ter sido arrancado dela. Quando finalmente teve Naruto em seus braços, os olhos dele estavam abertos e chorando baixo e sem forças, e Kushina havia se sentido tão aliviada, porque por um momento ela pensou... Foi a primeira e última vez em que pode ter seu filho nos braços.)

Nem Minato nem Kushina tinham uma pele tão pálida, ou caninos tão pontiagudos. Ela não contava com Nibi no meio das contas. E como poderia? Mito-Sama havia carregado o bijuu por anos, e nenhum filho havia nascido com nada demais, além de uma pequena estranheza aqui e ali. Kushina nunca ouvia falar de algum deles terem olhos que brilhavam no escuro, ou unhas retráteis.

Kushina não sabia como aquilo havia acontecido, e sinceramente tinha até medo de saber, mas era bem óbvio que Nibi estava bem mais envolvido com o resultado final (muito adorável, diga-se de passagem) da salada Uzumaki-Namikaze do que estava confortável em analisar.

O resultado, claro, ia além dos aspectos físicos: Naruto era um Uzumaki, com traços Namikaze, criado por um Senju e um Uchiha também, com influência de um bijuu, um bando de Anbus com sérios problemas psicológicos e mais todos os fantasmas que resolvia se meter na sua criação quando dava na telha.

E claro, o resultado, é que ela não sabia a quem culpar por ele ser a criatura mais teimosa da face da terra.

Ela ouviu um som exausto e frustrado quando o chakra se dispersou sem criar uma forma, as pupilas alongadas mostrando o quanto ele estava passando do limite do próprio chakra e usando o do bijuu. Já se conseguia observar queimaduras ao longo dos braços dele onde o chakra corrosivo havia vazado, porque mesmo já sendo positivo que fogo não o danificava, chakra corrosivo e concentrado com certeza conseguia.

Naruto passou alguns segundos deitado, a respiração acelerada, até voltar a sentar em posição de lótus e começar a meditar. Conversando com o bijuu, provavelmente. Kushina havia cedido e o ajudado, porque por mais que achasse a ideia absurda, era pior se ele fizesse sem supervisão. Pelo menos evitaria mais danos do que estava acontecendo ou que ele apagasse de novo por exaustão.

Tobirama sentou ao lado dele, oposto a Kushina, que não havia saído do lado do filho desde o começo. O homem havia sido o primeiro a embarcar naquela insanidade, tendo conhecido sobre o jutsu pela proximidade com Mito, que sempre havia ajudado o cunhado em suas pesquisas.

"O quão insana são essas correntes?" Izuna tinha a expressão concentrada, o que mostrava que estava finalmente ficando preocupado. "Ele é um Uzumaki, e tem um bijuu, como ele pode desmaiar por exaustão de chakra? Em todos esses anos treinando com ele, isso nunca aconteceu."

"Muito chakra não quer dizer que seja infinito. E em uma criança, mesmo uma criança que treina a anos como ele, ele pode vazar bem rápido em um jutsu como esse. " Tobirama respondeu, ignorando a expressão do Uchiha quando se meteu. "Se ele não tiver cuidado, os canais podem ser danificados de forma irreversível."

"E ainda você está apoiando isso..."

"Ele vai fazer sem apoio ou não, Uchiha." Tobirama olhou para Naruto, que continuava de olhos fechados. "Ele quer impedir que a mãe dele desapareça por usar chakra demais, ele vai fazer qualquer coisa por isso." Ele olhou Kushina, que não se deu ao trabalho de o encarar, os olhos varrendo a expressão do filho, catalogando os ferimentos se curando onde a pele havia sido arrancada pelo chakra. "E se ele perder controle do bijuu..."

"O corpo dele não aguentaria o chakra." Ela concluiu. "Mesmo que Nibi goste dele."

"Ele está nessa há quase uma semana, talvez seja melhor alguém parar ele." Obito sugeriu quietamente, como se Kushina não estivesse tentando isso. "Com quantos anos Nee-chan conseguiu formar as correntes?"

"Não até ser chunnin." Kushina olhou de forma feia para o fantasma Nara ao seu lado quando ele respondeu. "Não que ela não tenha tentado antes da hora. É preciso ter os canais de chakra desenvolvidos adequadamente e uma quantidade insana dele para se conseguir dar forma ao chakra assim. Apenas Uzumakis, e apenas alguns deles, preenchem os requisitos."

"E ainda assim, sensei." Ela cuspiu o título com veneno. "Quem foi que deu permissão ao meu filho, contra minha autorização, para acessar a floresta Nara e treinar algo que nós dois sabemos que ele ainda não consegue sem danificar o corpo dessa forma?"

Seu antigo sensei suspirou e coçou a cabeça, resmungando alguma coisa como um típico Nara. Kushina nem mesmo sabia que o homem ainda estava por perto até dias atrás, e ele havia aparecido justo para ajudar seu filho a desobedecê-la.

"Namikaze sempre foi amigo de Shikaku." O fantasma comentou, se aproximando e se agachando na frente de Naruto, a expressão pensativa. "Ele dizia que ele era um gênio idiota, nunca duvidou que ele fosse se tornar hokage, apesar de Namikaze não ter um clã, nada além de puro talento e força de vontade. É a maior tragédia até hoje que ele não tenha conseguido alcançar o potencial dele como hokage, talvez as coisas não estivessem como estão agora."

"Sensei..." Kushina tentou manter a raiva, mas era difícil quando ele falava essas coisas. A saudade que sentia de Minato era terrível.

"Você..." Ele a olhou com a expressão que conhecia bem e que por muito tempo achou que seria desdém, até perceber que a forma Nara de dizer 'você é um pé no saco, mas é meu pé no saco'. "A princesa Uzumaki. A refugiada de uma vila destruída, com nada além de um nome e potencial que colocava um alvo nas suas costas. Tudo o que você aprendeu nesta vila, foi por pergaminhos que sobraram da sua identidade, uma identidade que todo mundo queria apagar. Você não tinha ninguém para ajudar, só memórias."

"Não é verdade. " Murmurou sentindo sua garganta arranhar. "Sensei ajudou.... E Minato, Mikoto, Hizashi..." Suspirou, sentindo a derrota vindo. "Qual seu ponto, sensei?"

"Ele é seu filho e de Minato. Como Nidaime-sama falou, ele faria de uma forma ou de outra." O homem a olhou de lado. E então sorriu levemente e então apontou com o dedo. "E não deveriam o subestimar."

Um som surpreso cobriu a clareira. Kushina olhou para Naruto, ainda de olhos fechados e em meditação, duas correntes brotaram de suas costas abruptamente, cercadas por fogo azul de Nibi. Porque Naruto sendo Naruto, nada poderia ser simples, poderia?

Todos os fantasmas se calaram, paralisados. Um som cobriu o ar, quase como uivos do vento, mas algo mais sinistro do que isso. Algo que quase os puxava, os atraia. Algo que os chamava por ser familiar. E perigoso.

"Isso não parece suas correntes..." Obito comentou com a voz frágil.

"É porque não são." Kushina balançou a cabeça, atônica. "Não exatamente..."

O que Naruto havia criado? Conseguia ver, por baixo do fogo do Nibi, que as correntes eram negras. Elas ficaram ali, por alguns segundos, se dissipando aos poucos.

No mesmo momento, Naruto caiu completamente apagado.

A barreira estava dissipada.

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Shikamaru era uma criança preguiçosa, então ele não era de carregar muito; se pudesse não levar o próprio peso ele ficaria muito feliz.

E ainda, naquele dia, ele saiu da floresta em direção a sua casa carregando outra pessoa nas costas pequenas.

Quando seu pai o viu passar pela porta, uma expressão um pouco em pânico, os dois se encararam. Sua mãe parou abruptamente de falar de onde estava pendurada em um banco, também o encarando.

Quando seu pai finalmente se moveu, foi para se ajoelhar silenciosamente na sua frente, removendo o peso que carregava. Sua mãe fez um som estranho ao ver por cima do ombro do seu pai, que estava concentrado com chakra verde nas mãos.

"Exaustão de chakra. Vamos levá-lo para o sofá."

"Isso é..." Ela olhou para seu pai. "Shikaku, o Hokage..."

"Shikamaru o trouxe."

Sua mãe pausou, os dois tendo uma daquelas conversas com o olhar que não compreendia e então fez um som surpreendentemente parecido com uma risada depois de um longo tempo.

"Algo importante'', ela diz. "Manipulador, esse tempo todo..."

Shikamaru finalmente conseguiu falar, ainda confuso com toda a situação e por ter percorrido toda a floresta carregando alguém.

"Ino vai ficar insuportável por estar certa."

Seus pais o olharam em confusão. Shikamaru os ignorou, olhando o rosto desacordado, lembrando das correntes, do fogo azul, do frio na clareira, dos olhos brilhantes que o fitaram por um segundo.

"A floresta Nara é realmente assombrada por Yokais."

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Neji entrou no distrito com o passo mais lento do que o normal, a face estóica que enganava o que estava sentindo. Quem o conhecia bem, poderia ver que na verdade estava preocupado.

"Tadaima."

"Okaeri. O que aconteceu?"

Seu pai, infelizmente, era uma dessas pessoas.

Neji não respondeu, apenas sentando de frente a ele na mesinha e pegando o chá que o esperava. Ele nem precisava dizer, não pela expressão do seu pai ao estudar seu rosto. Neji se escondeu por trás do copo quando o viu sorrir levemente, os olhos ligeiramente apertados pela preocupação. Neji também conhecia seu pai muito bem para perceber isso.

"Ele ainda não apareceu na academia?"

Não por uma semana. E ninguém parecia preocupado, além dele (não que alguém percebesse), um professor substituto e dois outros alunos que ouviu questionando o professor. Uma garota que o viu observando rabiscar selos uma vez, mas sem coragem de se aproximar e outro aluno tão isolado quanto ele, mas por outros motivos.

Neji não havia perguntado nada, mesmo que quisesse. Ele não sabia como. Seu pai parecia ver sua miséria em seu rosto e a entender. Ele havia herdado sua inaptidão social. Ele também não havia o desestimulado quando soube o que acontecia. Talvez fosse o único no clã que não o faria, por algum motivo.

Seu pai, quando era bem menor, costumava comentar o quando Neji parecia com a mãe dele. Ele nunca sabia muito o que pensar sobre isso, sobre a mãe que nunca havia conhecido além das poucas fotos pela casa, mas pelo olhar de seu pai, ele parecia aliviado por isso, por Neji não ser tão parecido com ele.

Para uma criança que idolatrava o pai, era uma coisa que não conseguia compreender.

(E Neji ouviu os rumores, seu pai não podia o proteger de tudo. Eles diziam que seus pais não se amavam, que o casamento havia sido uma conveniência, que seus pais amavam outras pessoas que não podiam ter. Que Neji era fruto de uma relação sem amor. Isso não podia ser verdade, não havia como não ser verdade o carinho e a tristeza de seu pai quando falava sobre ela.)

"Você é muito bom, Neji, como sua mãe." Seu pai dizia, a mão em seu rosto e limpando suas lágrimas raivosas depois de ter visto pela primeira vez alguém (seu próprio tio) usando o selo amaldiçoado de seu pai. Até então ele não entendia a profundidade daquela marca, o que ela significava além de ter que proteger suas primas. Neji se achou bem bobo por ter pensando naquilo como uma honra alguma vez. "Não deixe o rancor tirar isso de você."

Neji tentou, mas então veio o ataque à herdeira do clã, e os comentários sobre o que teria acontecido sem a intervenção que houve. Em como provavelmente seu pai é que teria sofrido as consequências. A casa principal se tornou ainda mais controladora depois disso e Neji começou a ser treinado de forma ainda mais intensa. "Com um bom guarda-costas", alguém da casa secundária falou, a expressão rancorosa. "Um escudo para a incompetência deles."

Ele amava suas primas, de verdade. Hinata era bondosa, Hanabi era uma criança energética que idolatrava Neji. Neji não se importava de ficar ao lado delas, mas sempre que via a expressão do seu pai, aqueles comentários, e aquele selo... Era difícil se manter como seu pai queria. Neji não tinha o coração tão bom quando seu pai achava, mas ele queria ter. Ele queria ser como sua mãe, se seu pai dizia que isso era algo bom.

Claro, isso mudou. Naquele dia, ao chegar em casa, seu pai havia visto algo em seu rosto que os demais não viam nada além de estoicismo. Ele o lia melhor do que ninguém afinal. Não demorou muito para que ele quebrasse e contasse, a respiração quase esbaforida e rosto levemente corado, olhos grandes que só seu pai e suas primas poderiam ver.

Naquele dia, seu pai deu uma leve risada rara, comentando o quando Neji parecia com ele pela primeira vez.

("Parece..." O ouviu sussurrar mais tarde, achava, quando pensou que Neji não estava atento. "Que todo Hyuuga encontra seu Uzumaki.")

Naquele dia mais cedo, Neji havia sido derrotado pela primeira vez na academia. Ele havia ouvido os sons surpresos ao redor, mas tudo era distante, e não só por sua cabeça que havia ido ao chão com mais força do que esperava. Era difícil se ater a qualquer coisa além daquele rosto tão perto do seu, o cabelo caindo fora das amarras, os olhos que não poderiam ser humanos e a expressão distraída.

Ele nem mesmo estava olhando para Neji, e o que o deixaria geralmente ofendido, teve um efeito contrário. Neji estava sempre sendo observado, pelo clã, pela vila. O prodígio Hyuuga, um gênio. Essa era a primeira vez que desejou que alguém olhasse em sua direção e no entanto... ele não o fez.

Naruto Uzumaki (O pária da vila, isolado na academia, que mais faltava aulas do que frequentava, mas ainda assim era o melhor aluno, mesmo que os instrutores tentassem fingir que não. Neji não era estúpido, nem os outros alunos. Alguns só queriam se enganar.) derrotou Neji em meros momentos, se ergueu daquela luta, fez as reverências obrigatórias sob o olhar da classe e saiu sem olhar uma vez para trás.

Neji decidiu que da próxima vez ele olharia.

"Eu gostaria de permissão para ir à vila hoje." Ele falou com falsa causalidade, ignorando o sorriso do seu pai atrás do copo. "Na loja de armas, minhas kunais estão enferrujadas."

"A que comprou semana passada?" Neji não olhou para seu pai, que suspirou. "Tenha cuidado."

"Certo."

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Sasuke era uma criança inteligente, sua mãe sempre o dizia isso.

E por ser inteligente ele sabia que a melhor forma de encontrar seu irmão quando ele estava na vila e desaparecia, era seguir o rastro de seu primo Shisui. Era inevitável, porque Shisui sempre estava roubando o tempo do seu irmão que ele deveria estar com Sasuke. Nada mais justo que Sasuke pegasse de volta esse tempo perturbando seu primo, e no processo poderia se esbarrar com Itachi.

Era um processo lógico.

"Sasuke... Não deveria sair do distrito sozinho."

Sasuke não estava sozinho, estava com Shisui.

"Itachi não está na vila, Sasuke."

Ele chegaria e Shisui saberia onde o encontrar.

Shisui suspirou e desacelerou o passo, se colocando ao seu lado.

"Eu suponho que possa me acompanhar até a delegacia e ver seu pai."

Sasuke quase deu meia-volta com isso, mas se manteve firme. Ignorou a risada e continuou olhando para frente.

E foi quando percebeu o quanto a rua estava movimentada e barulhenta. As pessoas estavam os olhando e cochichando. Não que fosse diferente do que quando saia com sua mãe, mas havia alguma coisa diferente dessa vez, só não sabia o que era.

Franziu o cenho, encarando de volta. Uma mulher sorriu em sua direção e Sasuke desviou os olhos.

Ah, é isso!

Geralmente as pessoas não sorriam assim para eles, principalmente nos últimos tempos.

Sentiu a mão de Shisui em sua cabeça e o olhou de cara rabugenta por isso.

"Não me olhe assim. Quer saber? Eu só vou fazer uma coisa e fico livre hoje, posso treinar com você no lugar de Itachi, o que acha?"

Tentador. Muito tentador.

"Hn."

Era um bom plano, era lógico. Sasuke poderia trabalhar com isso. E Itachi acabaria indo atrás de Shisui e o encontrando lá e treinando com ele também.

Era o plano perfeito.

Até alguém vir atrapalhar.

"Uchiha, tem um momento?"

 


Notas Finais


Shikaku ‘Eu não posso me aproximar do filho de Minato que está treinando escondido na floresta do meu clã, mas nada impede meu filho, ou de eu receber amigos do meu filho’ Nara.

Hizashi: Mais um Hyuuga sofrendo por um Uzumaki para a conta.

Sasuke: Você fez as contas do plano, mas é ruim de matemática.


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