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História Nicest Thing - It's All Over Now, Baby Blue


Escrita por: vausemessy

Notas do Autor


Gente... Tá difícil, super difícil, mas eu to tentando! Espero que vocês não me abandonem!
Beijão <3

Capítulo 34 - It's All Over Now, Baby Blue


  

A situação do aniversário de Piper ainda era indigesta para Alex. Ficar ali, dentro daquele apartamento, rodeada de pessoas que faziam parte da vida “real” de Piper era assustador. Era difícil, até mesmo, pensar em, talvez um dia, conviver com todas aquelas pessoas. Amava Piper, não tinha dúvidas disso, mas ficar com ela definitivamente e, de quebra, ganhar toda aquela nova “família” era algo sobre o qual ela precisava refletir.

Estava organizando a bagunça que ela e Nicky faziam no apartamento quando o interfone tocou, com o porteiro anunciando que a senhora Chapman desejava subir. Alex achou estranho, já que já havia deixado entendido que Piper poderia subir sem precisar se identificar, mas não questionou, só permitiu que ela subisse, estranhando o horário, por mais que Piper gostasse daquelas surpresas.

Quando ouviu a campainha, colocou um sorriso no rosto e foi abrir a porta do jeito que estava, usando uma camiseta larga e um short minúsculo de tecido fino. O sorriso em seu rosto esmoreceu e ela sentiu um arrepio por todo o corpo ao ver que não era Piper ali, mas a sua mãe. Ficou completamente sem ação e palavras, ao passo que Carol Chapman, tranquilamente, levantou os óculos escuros, colocando-os no topo da cabeça, abriu o sorriso cínico e caminhou para dentro do apartamento de Alex. A morena ficou atônita, não sabia o que fazer, como se portar, só fechou a porta devagar e virou-se para ver a figura loira parada no meio de sua sala, olhando-a como se estivesse ali por meio de um convite.

- Eu sei que devem ter várias perguntas passando pela sua cabeça nesse momento, mas não se preocupe, o que eu tenho a dizer é breve, não vou tomar muito do seu tempo – explicou com calma.

- Eu... – Alex passou a mão na cabeça. – Eu não sei o que dizer – olhou para ela com certa perturbação. – Me desculpa mas, o que a senhora está fazendo aqui? – Fez uma careta, mas ainda tentava manter a pose para não pirar completamente na frente daquela mulher.

- Eu... Eu vim lhe dar um aviso – sorriu brevemente e deu um passo para a frente.

Alex ficou estática. Conforme ela se acalmava, entendia perfeitamente o motivo daquela visitinha inesperada.

- Como você conseguiu o meu endereço? – Perguntou, confusa.

- Existem duas coisas que você precisa saber sobre mim, Alexandra Vause. – Alex arqueou as sobrancelhas quando ela falou o seu nome completo. – A primeira é que eu sempre consigo o que quero, pode ser rápido ou não, mas eu sempre consigo – falava olhando nos olhos de Alex. – A segunda é que eu faço tudo pelo bem da minha família, tudo mesmo – deu um sorrisinho.

Alex a olhava séria, quase desafiadora.

- Eu... Eu ainda não entendo porque a senhora está aqui – abriu parcialmente os braços e bateu as mãos na coxa.

- Eu sei quem você é e o que está acontecendo entre você e a Piper – foi direta.

Alex permaneceu com a mesma expressão, não deixou o desespero transparecer, por mais que sentisse seus órgãos derreterem por dentro.

- Eu não sei do que você está falando – deu um sorrisinho nervoso e sentou-se no braço do sofá, sentia que poderia desmaiar a qualquer momento.

- Você sabe do que eu estou falando – foi incisiva, mostrava-se mais ríspida a cada frase. – Eu vi vocês duas se beijando no dia do aniversário dela. Não que precisasse, já que eu conheço a minha filha como a palma da minha mão.

Alex ficou calada e abaixou a cabeça. Contra fatos não havia argumentos.

- Eu não estava bem naquele dia, a Piper tentou me acalmar, a senhora deve ter confundido a nossa proximidade... – Falou sem muita convicção, inventou qualquer história que pudesse colar.

- E a forma de te acalmar é com um beijo? – Perguntou com ironia.

- Ela não...

- Pelo amor de deus! – Falou, impaciente. – Eu sei o que eu vi, eu sei o que está acontecendo, poupe-me dessas desculpinhas baratas! Vocês podem ter sido muito boas e escondido isso por muito tempo, mas colocar diante dos meus olhos e achar que eu não iria perceber... Isso foi muito pretensioso da parte de vocês... – Falava com desprezo, quase com nojo.

Alex ficou em silêncio por alguns segundos. Já havia lidado, na vida, com mulheres muito parecidas com aquela, e ela sabia que bater de frente com elas era, quase sempre, uma péssima ideia.

- E então, o que você pretende fazer? – Alex perguntou séria, com firmeza, queria pelo menos mostrar-se resistente.

- Eu não vou fazer nada, você é quem vai se afastar da minha filha e sumir, desaparecer do mapa – disse firme, porém tranquila.

Alex esboçou um sorriso, aquilo chegava a ser engraçado.

- E o que você vai fazer em relação à sua filha? – Falava com certo tom de ironia na voz. – Mesmo que, supostamente, eu fizesse o que você está pedindo, o que te faz pensar que ela concordaria com isso? – Terminou e percebeu que, mesmo sem querer deixar transparecer, Carol estremeceu com o que ela disse.

- Da Piper cuido eu – continuou com a pose e a impostação impositiva na voz.

- A Piper não é uma criança, você não pode mais tomar decisões por ela – desafiou-a.

- Decisões? – A mulher desarmou a postura um pouco, colocando a mão na cintura e abrindo um sorriso irônico. – Que tipo de decisão você acha que a Piper vai tomar? Tipo... Largar o Larry e ficar com você? – Semicerrou os olhos, ainda falando com ironia.

Alex não respondeu, respirou fundo e desviou o olhar.

- Querida, você sabe como esse tipo de coisa funciona... Você é uma aventura – pausou – mais uma na vida da Piper – balançou a cabeça. – Eu achei que isso tinha parado, mas a Piper tem essa necessidade, ela não consegue ficar muito tempo sem uma diversão, como se fosse um hobby, sabe? – Falava meio pensativa, mas calculadamente para provocar Alex, o que rendeu resultado, já que a morena se sentiu diminuída ao ouvir aquilo. Às vezes, ela pensava em todas aquelas coisas, mas era bem mais difícil ouvir, ainda mais da mãe da pessoa que ela amava.

- Não parece bem um hobby quando... – Começou a falar, mas foi interrompida.

- Poupe-me desse tipo de detalhe – Carol Chapman levantou a mão, ordenando que Alex parasse de falar. – Eu já disse o que tinha a dizer, você já sabe o que tem de fazer, me dê licença – disse e começou a se dirigir até a porta.

- Eu não vou fazer porra nenhuma – Alex, em um acesso de coragem, soltou a frase.

Carol parou no meio do caminho, não falou nada por alguns segundos.

- Você não quer competir comigo – disse na mesma posição, sem olhar para Alex.

- Isso não é uma competição, é a minha vida e a da sua filha, nós somos adultas, você não pode nos impedir de fazer nada.

- Você já ouviu falar da Christine? Não a minha neta, a outra... – Virou-se, com os braços cruzados, dessa vez olhando para Alex.

Alex não respondeu, mas foi suficiente para que Carol Chapman entendesse que ela sabia do que se tratava.

- Você sabe o que aconteceu com ela, não sabe? Exatamente o que eu vim lhe pedir, educadamente, para fazer. Mas ela era mais esperta... Até que era uma boa garota – olhou Alex dos pés à cabeça, avaliativa.

Alex ficou um pouco, mas não muito chocada ao ouvir aquilo. Ela sabia da desconfiança de Piper em relação a haver o dedo de sua mãe em toda aquela história, mas agora era confirmado, e ela não duvidava de até onde ela poderia ir para conseguir o que queria, mesmo que tivesse que passar por cima das vontades e da felicidade da filha.

- A Piper não é mais uma adolescente confusa que se deixa levar pelas circunstâncias, ela é uma mulher – disse nervosa.

A loira sorriu e fez uma expressão de dúvida. – Eu não teria tanta certeza disso, querida. Além do mais, agora ela tem muito mais a perder, você deveria avaliar isso, é uma mulher vivida, sei que não é nem uma boba – ergueu uma sobrancelha.

Alex respirou fundo e levantou-se.

- Eu vou ter que pedir para a senhora se retirar da minha casa.

- Não precisa pedir, eu já fiz o que tinha de fazer aqui.

Alex abriu a porta.

- Espero que você pense bem no que eu falei, e que tenha consciência de como tudo isso pode acabar. Não seja tola, você já sabe o final desse filme – colocou, novamente, os óculos escuros e seguiu até o elevador.

Alex bateu a porta com força e andou até o sofá, sentando-se e abaixando a cabeça, mexendo nervosamente nos cabelos. Aquilo não era nada bom. Nesse ponto de sua relação com Piper, o que realmente não precisavam era de travar uma luta com uma mulher que já havia provado o seu poder anteriormente em uma situação muito similar.

Sentiu as lágrimas molharem seu rosto e se permitiu chorar. Parecia que nada em sua vida era feito para dar certo. Sempre tinha alguma batalha, algum percalço e ela, honestamente, já estava exausta de tudo aquilo.

 

***

Depois do que havia descoberto, Larry estava em transe. Havia saído do consultório com a ideia de quebrar tudo, nem que fosse a casa a própria Piper, por mais que soubesse que jamais seria capaz de encostar um dedo nela ou qualquer outra mulher. Dirigiu sem rumo, chegou a quase sair da cidade até cair em si e perceber que precisava pensar no que faria dali para a frente. Tinha um problema real nas mãos que precisava ser resolvido e não poderia mais fugir. Por mais que o ódio tomasse conta de seu ser, faria as coisas da maneira correta, como deveriam ser feitas.

Decidiu voltar para casa. Ignorou todas as ligações que recebeu, com Piper no topo dos desesperados. Desconfiou que Pete pudesse ter falado alguma coisa, mas o recado que deixara foi consistente, não acreditava que ele pudesse ter comentado nada. Na verdade, já era tarde, bem tarde, e Piper só devia estar preocupada – ou fingindo preocupação – não que ele se importasse. Parou em um bar qualquer e pediu uma garrafa de whisky. Não era de beber muito, muito menos bebidas com aquele teor alcoólico, mas existiam certas dores que só eram curadas com altos teores etílicos.

Quando chegou em casa, no começo da madrugada, já chegou fazendo barulho, tropeçando na mesa de centro da sala. Xingou alguma coisa e seguiu para a cozinha, resmungando. Estava realmente bêbado, nem sabia como tinha conseguido chegar em casa. Tomou cerca de cinco copos cheios de água e jogou-se no sofá, fechando os olhos e sentindo o mundo girar ao seu redor. Sentiu uma presença perto de si e sabia quem era, não quis se dar ao trabalho de abrir os olhos.

- Larry – Piper o chamou com a voz seca, tocando em seu ombro pra lhe acordar.

Ele gemeu e virou-se parcialmente, desvencilhando-se do toque dela.

- Larry, vá para a cama... Você precisa de um banho, na verdade – dizia sem empolgação. Aquela situação ia se repetindo com frequência nos últimos dias e ela sabia que não estava em posição de reclamar.

- Não fala comigo – ele virou o corpo e se deitou encurvado no sofá.

- Larry... – Piper respirou fundo. – O que está acontecendo? Por que você tem agido assim ultimamente? – Piper falou calma.

Larry não respondeu, mas virou-se e a olhou fundo por alguns segundos. Foi pior do que se ele tivesse falado, gritado com ela. Ela desconfiava que ele pudesse saber de algo, mas pelo que conhecia dele, não achava que ele saberia e ficaria em silêncio.

- Senta aqui, por favor – ele pediu, batendo a mão no sofá. Seu humor parecia ter mudado de uma hora para a outra.

Piper sentou-se, receosa, sentiu um frio repentino e todo o seu corpo se arrepiou.

- Você se lembra... – Larry fechou os olhos forçadamente e passou a mão na cabeça – da época em que você estava grávida da Christine? Toda aquela loucura, aquela perturbação... – Ele falava com a voz pesada, embriagada, mas consciente.

- Sim, Larry, eu me lembro da minha gravidez – foi direta.

- Foi uma época difícil para a gente, não foi? – Sorriu um pouco. – Eu esperava o tempo todo por uma bomba, ou pelo momento que você me mandaria ir embora – olhava para baixo. – Eu não achei que nós chegaríamos tão longe, por mais que eu fosse completamente apaixonado por você – olhou para ela, que se manteve com a mesma expressão – ainda sou, na verdade.

- Larry...

- Espera – levantou a palma da mão. – Eu tive medo de te perder naquela época. Eu finalmente tinha você comigo, você tinha a nossa filha dentro de você, mas eu só esperava pelo pior... Era como se eu fosse um impostor, como se eu tivesse roubado você da sua própria vida, da sua felicidade... Eu ainda me sinto assim, mas esse sentimento foi passando com o decorrer dos anos, quando eu percebi que você realmente ficaria comigo, que você era minha, de alguma forma, e que você gostava de mim – ele fixou o olhar no dela.

- Aonde você quer chegar com isso? – Ela disse com a voz trêmula, sem deixar transparecer o nervosismo.

- Foi uma época difícil para mim também, eu sei que não se compara ao que você passou, aos traumas que eu tenho certeza que você ainda carrega, mas era muito difícil para mim! Nós éramos jovens, você apareceu grávida, com um rompimento doloroso... Eu fiz o que um moleque mimado faria, não sei se me arrependo, não sei se é tão condenável assim, não sei se o meios justificam os fins... – Ele divagava incansavelmente, Piper ainda não entendia muito bem o objetivo de tudo aquilo.

- O que você fez? – Perguntou, confusa.

- Eu traí você. Duas vezes. Com duas mulheres diferentes – falou e deu uma pausa, desviando o olhar. – Você conhecia elas, eram da faculdade.

Os dois ficaram em silêncio por longos segundos. Piper não sabia como digerir aquilo. Afastou o pensamento de que aquilo era uma intimação e pensou apenas no ato por si. Sentiu-se magoada, traída na confiança que tinha por ele, e por apenas saber daquilo agora.

- Por que você está me contando isso agora? – Falou de forma fria.

- Não sei – moveu-se e se sentou na mesma posição dela. – Algum dia eu precisava falar. Eu falhei com você, eu assumi um compromisso e não cumpri, eu traí a sua confiança.

- Por que você fez isso?

- Por que eu sou fraco, por que eu era uma garoto estressado, confuso, apaixonado por uma garota que não sentia o mesmo por mim... Era esquisito, eu fui homem, humano.

- E o que você quer que eu faça com essa informação? – Piper disse com certa mágoa.

- Eu não sei. Eu fiz a minha parte, cabe a você decidir o que fazer – olhou-a diretamente pela primeira vez depois da confissão.

Piper abaixou a cabeça e passou as mãos com força na cabeça e nos cabelos.

- Você quer que eu te xingue? Que eu bata em você? Que diga que vou terminar tudo?

- Talvez – ele assentiu.

- Você foi um filho da puta por fazer isso quando eu estava grávida naquela situação, você sabe disso, não sabe? – Olhou para ele com raiva.

- Sim – ele respondeu sem nem pensar.

Piper recostou-se no encosto do sofá, fechando os olhos, era muita coisa para lidar ao mesmo tempo.

- Por que você me contou isso, Larry? – Disse com os olhos fechados e as duas mãos apoiadas na cabeça.

- Um dia eu tinha que contar, aconteceu de ser hoje – falou despreocupado.

- E essa foi a única vez? Nunca aconteceu de novo? – Abriu os olhos e olhou para ele.

- As tentações aconteceram, mas depois eu já tinha muito medo de te perder, de estragar a vida que eu tinha criado com você...

Piper o encarou por alguns segundos e voltou a olhar para cima, para o nada.

- Sabe, eu sempre imaginei que você já tinha me traído. Você é homem, só por isso já seria aceitável pensar nisso, mas, além disso, você é rico, jovem, bonito, vive em lugares diferentes, sozinho, estressado... Por mais que eu nunca tenha desconfiado, de fato, disso, eu tinha em mente que era uma possibilidade muito real... Eu já meio que aceitava internamente, sabe? – Ela falava tranquila, sem o tom de rancor na voz, Larry a ouvia e olhava com atenção.

- Eu não estou magoada por saber disso – ela fez uma careta e balançou a cabeça. – Já era algo esperado. O que me magoa é saber que foi naquela época em específico, sabe? Sem ter relação com a minha filha, que foi a melhor coisa que já me aconteceu, mas aquele foi o pior período da minha vida, eu ia dormir pensando em como seria bom não acordar, em como seria maravilhoso não precisar viver aquela vida, não ser aquela pessoa...

Larry olhou para baixo. Os dois ficaram em profundo silêncio. Larry sentiu-se legitimamente mal por aquilo, até esquecera os motivos daquela confissão repentina. Quando se lembrou, tratou de continuar.

- Me desculpa.

Piper não apresentou reação.

- É a única coisa que eu posso dizer, não tem mais nada a ser feito.

- Eu te perdoo – ela falou, praticamente o interrompendo.

Ele ficou surpreso, não era exatamente o que esperava.

- De verdade?

Ela assentiu com a cabeça.

- Agora, eu preciso voltar a dormir – levantou-se do sofá.

Larry ficou a observando, estático.

- Você não vem? – Ela olhou para ele.

- Você não tem nada a dizer? – Respondeu com outra pergunta.

- O que você quer que eu diga?

- Qualquer coisa, sobre o que nós estávamos falando... – Insistiu.

Ela parou e o olhou, olhou para baixo, mexeu nas próprias mãos. Aquele era o momento, era perfeito, apropriado, talvez fosse a hora de colocar um fim em toda aquela história.

- Não tenho mais nada a dizer – disse olhando nos olhos dele.

Olharam-se nos olhos. Ela sentiu que, de alguma forma, ele sabia.

- Eu preciso ir dormir – ela anunciou e sumiu pelo corredor.

Larry sentiu seu rosto enrubescer de raiva, ódio. As chances estavam sendo dadas e jogadas fora. Talvez tivesse chegado a hora de endurecer esse jogo.

 

***

- O que você está fazendo aqui? – Alex perguntou, um tanto surpresa.

- Eu precisava ver você – Piper entrou no apartamento parecendo estar perturbada com alguma coisa.

- O que aconteceu? – Alex fechou a porta com calma e virou-se para ela.

- A gente pode só ficar juntas um pouquinho? – Piper pediu com aquela carinha que só ela sabia fazer.

Alex abriu os braços e sorriu. Piper se jogava naquele abraço como se ele fosse lhe proteger de qualquer mal. Pelo menos por alguns minutos.

As duas ficaram na cama, deitadas e sem falar nada por alguns bons minutos. Piper estava abraçada à Alex que a envolvia com os braços, fazendo carinho em seus cabelos. Frequentemente, as duas precisavam de momentos como aqueles, nos quais serviam de refúgio para a outra. Estar naquela relação era difícil por si só, e suas vidas individuais também não eram mares de rosas.

- Nós podemos conversar agora? – Alex perguntou baixinho, olhando para Piper.

A loira respirou fundo e se afastou um pouco dela.

- Tem tanta coisa acontecendo... Tantos problemas – falou esfregando as mãos no rosto.

- Que problemas? – Alex perguntou, colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.

- Larry – Piper se afastou e se acomodou no travesseiro.

- O que houve? – Alex perguntou séria, já desconfiada.

- Ele apareceu com um papo muito esquisito ontem, me contou umas coisas do passado... Acho que ele pode estar desconfiado – moveu-se novamente, apoiando a cabeça no braço dobrado.

- Sério? – Alex perguntou sem mostrar muita expectativa, apesar do assunto deixa-la tensa. – O que ele disse para você pensar isso?

- Bom... Ele confessou que me traiu – Alex arregalou os olhos – na época em que eu estava grávida. Disse que foi com duas mulheres, que eu conhecia, mas não tive o interesse de perguntar quem era – contou olhando para baixo, mexendo na pontinha da fronha do travesseiro em que estava apoiada.

- E como você reagiu a isso? – Alex estava curiosa.

Piper ficou calada, pensativa, mas logo respondeu.

- Bom, eu não estou em posição de julgar ninguém, não é? – Falou e sorriu, sem graça. – Eu fiquei chateada, é claro, não pela traição em si, mas pela época em que aconteceu, pela falta de consideração ao momento em que eu estava... – Pausou. Alex não falou nada. – Por outro lado, eu não senti ciúmes, não senti raiva... – Pausou novamente. – Acho que isso diz muito sobre a minha vida nesse momento – ela não olhava para Alex em momento algum.

- Eu sinto muito por... tudo isso – foi a única coisa que Alex conseguiu falar.

Piper assentiu, olhando para o nada.

- Ele me perguntou – voltou a falar – depois de confessar isso, se eu não tinha nada a dizer “sobre esse assunto” – fez aspas com as mãos. – Ele estava bêbado, mas quando nós conversamos sobre isso, parece que toda a bebida evaporou. Foi um momento estranho.

- E o que você falou? – Alex perguntou, curiosa.

- Nada. Não tive coragem – falou e olhou para Alex, finalmente.

Alex desviou o olhar do seu e respirou fundo. Moveu-se na cama e ficou parcialmente sentada.

- Não fica brava comigo – Piper disse, vendo a morena inquieta em sua frente.

- Não estou brava, Piper, nós já conversamos sobre isso – falou impaciente.

- Eu quero resolver tudo isso, você sabe – Piper falou olhando para ela. Alex apenas assentiu.

- Eu sei. Na verdade, eu queria saber mais, você me deixa bem por fora em relação a como pretende resolver tudo isso...

- Alex... – Piper suspirou e passou as mãos no rosto. – Isso é algo que eu pretendo resolver sozinha, ok? No final das contas, esse é um problema meu, que eu procurei, me envolvi... Desculpa, mas é algo que só cabe a mim – falou e abaixou o olhar.

- Ok – Alex respondeu depois de alguns segundos em silêncio – eu entendo e respeito o seu tempo, não estou aqui para te pressionar, mas você sabe que esse problema não é só seu, existem outras pessoas envolvidas nisso...

- Eu estou tentando fazer o meu melhor – Piper a interrompeu.

- Não é o que parece – Alex rebateu rapidamente.

- O que? – Piper ficou surpresa.

- Desculpa, falei sem pensar.

- Sem pensar? Sem querer é o que você quer dizer, não? Não parece ser algo que você não tem pensado – Piper falou já alterada.

- Você não pode controlar os meus pensamentos – Alex disse baixinho, sem olhar para ela.

- Mas eu tenho o direito de saber o que a pessoa com quem eu estou me relacionando pensa de mim, não tenho?

- Piper... – Alex fechou os olhos, respirando fundo, e se sentou na cama.

- Alex?? Olha o que você está falando! – A loira já estava irritada.

- Piper, você não acha, nem um pouquinho, que eu tenho o direito de pensar isso? De ficar incomodada por não saber o que você pretende fazer comigo? Com tudo o que a gente tem vivido? Eu sou uma pessoa, Piper, eu tenho sentimentos e pensamentos, assim como eu tenho medo de qual pode ser o meu destino nessa história! – Alex respondeu no mesmo tom.

- E se eu não falasse sobre a minha conversa com o Larry? Você nunca iria falar sobre isso comigo?

- Eu não sei, Piper! O que eu sei é que o seu marido colocou a faca e o queijo na sua mão e você jogou fora a oportunidade de resolver tudo isso, pelo bem ou pelo mal – a morena falou enraivecida e se levantou da cama.

- E como você acha que eu vou resolver isso? Tem alguma sugestão? – Piper falou quase irônica.

- Vá se foder, Piper! – Alex disse com braveza, logo colocando uma mão na cabeça e a outra na cintura.

Piper riu e olhou para ela. – Então é assim que você acha que as coisas se resolvem? Vê se cresce, Alex!

- Você não deveria ser a pessoa a me dar essa dica, Piper!

- Me diz, Alex: o que você realmente me propõe diante de tudo isso? Você acha que eu deveria largar o Larry e ficar com você, vivendo uma linda e utópica história de amor?

- Nós não estamos vivendo uma história de amor? – Alex perguntou, agora bem mais calma.

Piper respirou, parou. – Nós estamos, Alex, eu te amo muito, você não faz ideia do quanto, mas você precisa entender o meu lado...

- Entender o que, Piper? – Alex encostou-se na parede, cruzando as pernas.

- Você sabe do que eu estou falando.

- Eu quero ouvir você falar.

- Por que? Você sabe que isso me dói, que é um assunto delicado para mim – Piper falou magoada.

- Porque você precisa falar, Piper! Eu sei que dói, eu sei que não é fácil, mas você precisa parar de fingir que está tudo bem, que você lida bem com isso e que não tem nenhum problema! Existe um problema aqui, um problema sério, e eu estou aqui, eu quero ouvir você, quero saber o que dói, o que a gente poderia fazer para melhorar isso, se é isso o que te impede de realmente estar comigo... – Alex terminou de falar e as lágrimas teimosas escorreram por seu rosto.

- Eu não sei o que a gente pode fazer – Piper disse com tristeza, sem a raiva antes presente em sua voz. – Eu realmente não sei. Eu não tenho coragem de te pedir para parar, não tenho o direito... Eu te prometi isso e vou cumprir – subiu o olhar até a morena.

- Se não tivesse isso, se eu vivesse como uma pessoa normal, com uma profissão normal, você teria coragem de abandoná-lo para ficar comigo? – Alex sentou-se ao lado da cama e perguntou.

- Essa é uma pergunta que não tem resposta, Alex – olhou de relance para ela.  – É um cenário totalmente diferente e inimaginável.

- E se eu te dissesse que isso não vai mudar nunca? Que eu pretendo viver assim para sempre?

Piper ficou sem silêncio por um longo tempo.

- Eu não sei se consigo viver dessa forma – falou baixinho. – É muito difícil... – lágrimas singelas começaram a escorrer de seus olhos. – É muito difícil tocar a pessoa que você ama e encontrar marcas de outros toques – Alex a olhou parecendo surpresa, mas não falou nada. – E o pior é saber que não são marcas que foram, de alguma forma, prazerosas a você. Eu quero que você entenda que não é uma questão de possessividade, mas de não ver alegria, não ver brilho nos seus olhos ao fazer isso. Eu não sei se estou pronta para viver integralmente ao lado de alguém que eu vejo em uma eterna guerra interna consigo, eu não sei se estou pronta para lidar e para te ajudar com isso, você entende? – Olhou para Alex com os olhos brilhando de lágrimas, a morena estava na mesma situação.

- É bom saber a sua opinião sincera – Alex disse secando as lágrimas de seu rosto. – Eu não fazia ideia de que tudo isso estava acontecendo – sorriu de nervoso e mais lágrimas escorreram.

- Acho que nós sempre temos algo a descobrir sobre a outra – Piper sorriu em meio às lagrimas e colocou a mão sobre a de Alex em cima da cama.

Alex, sutilmente, retirou a mão dali.

- Na verdade, eu acho que tenho sido muito ingênua, sonhadora, apaixonada... Eu preciso cair um pouco na realidade.

- Alex, não foi isso o que eu quis dizer...

- Eu sei, isso é o que eu estou querendo dizer. Eu também tenho as minhas inseguranças, dúvidas, ressalvas em relação a tudo isso que nós estamos vivendo... – Imediatamente, lembrou-se do que a mãe de Piper havia falado para ela. No fundo, sabia que aquilo fazia sentido. – Você não é a única que se sente insegura em relação a tudo isso.

- Alex... Eu sei que as coisas estão ficando apertadas, que o circo está se fechando, mas nós podemos resolver isso! Eu confio no que nós temos! – Disse olhando nos olhos de Alex.

Alex desviou o olhar e ficou calada.

- Alex, fala alguma coisa! – Piper falou com a voz aguda, aprofundando o choro.

- Nós temos que pensar sobre todas essas coisas que estão acontecendo, não está mais tudo sob controle como costumava estar – disse olhando para baixo, depois olhou para Piper.

- Eu sei! Nós temos que pensar... Nós vamos pensar – disse passando as duas mãos no rosto, suas lágrimas não cessavam.

- A gente não vai conseguir pensar nisso desse jeito, Piper.

- Que jeito?

- Juntas – Alex disse e olhou para Piper de lado, doía falar aquilo. – Eu acho que nós precisamos de um tempo para pensar e resolver as coisas, sabe? Pensar individualmente, pensar na nossa conduta, se nós realmente estamos dispostas a abrir mão de partes importantes da nossa vida uma pela outra... Eu sei que esse não foi o combinado, mas nós duas sabemos que é uma decisão que precisa ser tomada – falava baixo e sem olhar diretamente para Piper, só ouvia suas lágrimas ininterruptas.

- Nós não precisamos de um tempo para fazer isso, Alex! Nós já passamos muito tempo separadas uma da outra! Se você não quiser me ver, seja direta!

- Piper, não é isso! Você sabe muito bem do que eu estou falando! Você sabe que nós não conseguimos nos controlar, eu acho que a gente precisa de um distanciamento para ver como é a nossa vida sem a presença da outra. Você precisa ter certeza do que quer, eu preciso ter certeza do que quero... Não torne isso difícil! Eu não estou dispensando você, se você concluir que quer continuar do jeito que está, tudo bem, eu não vou me opor, mas eu acho que nós precisamos disso, tenho certeza que você vai concordar comigo se aceitar fazer isso! – Alex explicou.

- Por que você está fazendo isso? É só pelo que aconteceu com o Larry? Você está diferente – Piper olhou para ela enquanto parou de chorar por alguns segundos.

- Não é nada, Piper, eu só acho que nós temos que ser adultas e pensar no que nós estamos fazendo com as nossas vidas – disse quase fria, não queria tornar aquilo ainda mais doloroso.

Piper chegou mais perto dela, olhou-a por alguns segundos e começou a passar a mão por seus cabelos, enfiando os dedos entre os fios, foi se aproximando mais e beijou seu braço, subindo desajeitada e beijando seu pescoço, seu maxilar...

Alex fechou os olhos, ela não sabia resistir à Piper. Nunca tinha nem tentado.

- Piper... – Disse tentando, sem fazer muito esforço, afastar a loira.

- Não me deixa sem você, eu não consigo enfrentar tudo isso sozinha – Piper dizia com os lábios encostados em sua pele.

- Eu vou estar aqui quando você estiver pronta – em um ímpeto, levantou-se da cama.

Piper ficou sentada e olhou para ela com os olhos vermelhos. Ela achava aquilo muito estranho. Da última vez que tinha visto Alex, ela não apresentou nenhum sinal de querer aquele “tempo”.

- Se você não me quer aqui, eu vou embora – Piper se levantou de uma vez, secando o rosto e indo para a sala.

- Eu não vou nem responder isso, Piper, você está sendo infantil – disse seguindo a loira, seu coração se partia ao vê-la daquela forma.

- Para de me chamar de infantil! – Piper gritou, rompendo em choro novamente.

Alex não respondeu, não iria brigar agora.

- Tchau – Piper foi seguindo até a porta. Alex acompanhou seus passos e a segurou pelo braço.

- Me desculpa. Eu te amo – disse olhando nos olhos dela. Segurou levemente em sua nuca e lhe deu um beijo singelo, apenas encostando os lábios nos dela. Piper retribuiu.

- Eu também te amo – respondeu com os lábios encostados aos dela. De olhos fechados, afastou-se, abriu a porta e saiu.

Com o clique da porta, Alex caiu no choro. Mais uma vez, Piper continuava sendo o seu alento e a sua dor. 

 

 


Notas Finais


:*


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