Michael Fassbender
Me revirei preguiçosamente entre os lençóis amarrotados, irritado com o barulho que vinha do corredor. Os ecos de vozes, portas batendo e de móveis sendo arrastados estavam me tirando do sério.
Olhei para o relógio sobre o criado-mudo ao lado da cama, do qual marcava somente nove e meia da manhã. Levantei, completamente indignado com a maldita barulheira. Caminhei vagarosamente até o banheiro, erguendo a tampa do vaso. Enquanto fazia o precisava fazer, fechei os olhos, relembrando entre rápidos flashs da madrugada que passei em claro.
Os resquícios da noitada, mais conhecidos como ressaca foram os primeiros a me darem ''bom dia''. Minha cabeça doí como se tivesse sido atingida por um taco de baseball, e meu estômago parecia dar um milhão de voltas. Bufei, me arrastando até a pia. Olhei para o espelho á minha frente, que refletia minha imagem cansada.
Abaixo dos olhos as olheiras pesadas, resultado de uma noite mal dormida. Os cabelos desgrenhados, a barba por fazer há dias, e um hálito de puro álcool que nem mesmo eu podia aguentar.
Depois de fazer minha higiene matinal decidi vestir roupas decentes, que incluía somente uma cueca e uma bermuda. Para quem costuma dormir nu, como eu, esse é o tipo de vestimenta mais formal que conhecemos. Acendi um cigarro, e resolvi, finalmente, ir tirar satisfação pela falta de educação de quem quer que fosse que em pleno domingo achou que seria correto encher o saco dos outros vizinhos com todo aquele barulho.
Ao destrancar a porta me deparei com algumas caixas impedindo minha passagem, caixas essas que chutei ao ver quem era o culpado no fim do corredor.
— Filho da puta. — Murmurei pra mim mesmo, andando até um cara careca gordinho. Soltei a fumaça, encarando-o com as sobrancelhas erguidas. — Ei, você é o dono dessas coisas todas?
O tal cara que, antes estava com a cara enfiada em uma prancheta me olhou assustado, sorrindo gentilmente em seguida. Eu só queria enfiar minha mão na cara daquele baixinho
— S-Sou, por quê? — Rebateu, enfiando o objeto debaixo do braço. — O barulho está te incomodando, não é?
— Bom, sim, meu chapa. — Respondi, como se fosse óbvio. — Não são nem dez da manhã.
— Eu sei, eu realmente sinto muito por isso. É que o pessoal da mudança não pôde vir em outro horário, sabe? Só me restou a parte da manhã. Me desculpe mesmo. — O cara tentou se explicar nervosamente, e admito que quis rir de seu comportamento.
Revirei os olhos, suspirando. Certo, o tom arrependido dele me comoveu.
— Tudo bem, cara. Apenas...Tente pedir pra esse pessoal ser mais silencioso. — Pedi, balançando a mão em rendição.
— Pode deixar comigo. — Ele sorriu mais uma vez, estendendo a mão em minha direção. — Eu sou Tom Schulz, muito prazer.
— Michael, prazer. — Retribui o gesto, acenando com a cabeça. — Você não é daqui, certo?
— Não, na verdade acabei de me mudar da Alemanha com a minha filha. Você sabe, eu me separei e precisava de novos ares...Londres me pareceu o lugar certo para isso. — Contou-me sua vida como um livro aberto que não se importa com quem o lê.
— Eu nasci na Alemanha! — Disse entusiasmado, apagando o cigarro em uma das plantas de decoração do condomínio. Ele riu. — De que parte você veio?
— Berlim, nascido e criado.
Vou admitir, a partir desse momento eu já não o odiava tanto assim.
Por alguns minutos desencadeamos uma conversa animada sobre o continente europeu do qual éramos conterrâneos. Descobri que o gordinho denominado Tom era acionista de uma empresa multi-milionária, além de ser advogado da mesma. Tom também me contou que havia terminado seu casamento de doze anos há alguns meses, e que passou três desses meses lutando pela guarda de sua filha única.
Particularmente não achei certo deixar uma mãe sem sua filha, até que ele revelou o porquê. A tal mulher era usuária de cocaína, e apesar de não ser viciada esse era o tipo de coisa que não dá para ignorar.
Ainda que Tom fosse um cara rico, ele era humilde e completamente pé no chão. Sem contar que, a melhor parte disso tudo era que ele não tinha a menor ideia de quem eu era: um galã de Hollywood. Embora neste momento eu estivesse mais parecendo um sem-teto do que alguém renomado da indústria cinematográfica, ainda sim agradeci por isso.
— Pai, eu não consigo encontrar minha caixa de quadrinhos. — Ao ouvir uma voz feminina vinda da porta do apartamento quinhentos e dois não pude conter o olhar curioso. Uma voz doce, suave. Tão bonita quanto sua dona. — Você a viu?
Deus, aquela era a garota mais bonita que eu já vi em toda a minha maldita vida.
Os cabelos longos e cheio de cachos na ponta lhe caíam sobre os ombros, formando uma linda cachoeira dourada. Seus olhos azuis brilhavam como as águas do oceano, e cara, aquela boca avermelhada e carnuda era maravilhosa.
— Estão no carro, querida. — Tom respondeu, atraindo minha atenção. — Michael, essa é a minha filha, Naomi. Naomi, esse é o nosso vizinho.
Ela estreitou os olhos, arqueou a sobrancelha e abriu um sorriso maravilhoso que fez os pelos de meu corpo se ouriçarem.
— Você não é o Fassbender? — Perguntou, se aproximando. Seu perfume inebriou meus pulmões. Eu observei-a rapidamente, na verdade, a comi com os olhos.
A calça jeans que vestia acentuava perfeitamente suas coxas grossas e seu bumbum. Enquanto a camiseta de Star Wars demarcava sua cintura fina e seu busto farto. Ou estava com muito tesão, ou ainda muito bêbado pra me sentir atraído por uma adolescente de dezessete anos.
— Ahn...Sou sim, prazer. — Sorri de canto, a medindo de cima a baixo.
— Quem? — Tom indagou, confuso com a situação.
— Aquele ator, pai. — Explicou ela, ainda me olhando. Suas órbitas claras me hipnotizavam e eu apenas mordia o lábio, recostado na parede. — Se lembra daquele filme que assistimos, Doze Anos de Escravidão? Então, ele é ator desse filme!
Tom balançou a cabeça.
— Você é um ator famoso? Uau, quanta honra morar no mesmo andar que você! — Exclamou ele, rindo. Eu o acompanhei na risada, sem tirar os olhos daquela garota. — Por que não me disse nada?
— Ah, é como se eu ficasse me gabando. Mas sou um ser humano normal. Não preciso ficar anunciando isso para todo mundo que me conhece. — Ri um tanto sem graça, coçando a barba.
— Você se importaria em autografar um dos meus quadrinhos de X-Men? — A garota me perguntou, sorrindo tão entusiasmada quanto uma criança diante de uma vitrine de doces.
— Naomi! — Tom a repreendeu. — Acredito que o Senhor Fassbender não quer se incomodado com esse tipo de coisa em sua privacidade.
— De forma alguma, Tom. Se você soubesse o que as crianças do terceiro andar me pedem para fazer quando me veem não diria isso. — Esclareci, sorrindo. — Eu autógrafo quantos você quiser, Naomi.
Pronunciar o nome daquela obra vinda dos Deuses Gregos me fez imaginar como seria o gemer. Quase sorri com isso. Eu sei, sou um maldito doente perverso. Sou digno do julgamento alheio e todo esse blá-blá-blá moralista.
— Obrigada. — Naomi sorriu vitoriosamente para Tom, que apenas sorriu de volta. — Pai, eu vou descer pra pegar o que ficou no carro, tudo bem? Foi um prazer, Senhor Fassbender.
— Me chame de Michael, por favor. — Pedi, vendo-a caminhar até o elevador.
— Está bem, Michael. — Naomi sorriu mais uma vez antes de entrar no dito cujo.
— Você tem uma filha linda. — Disse á Tom assim que ficamos a sós, tentando não parecer um quarentão maravilhado pela garotinha que teria como vizinha.
— Ela é maravilhosa, não é? — Tom sorriu, orgulhoso.
Assenti com a cabeça, sorrindo de volta.
— Bem, não vou mais tomar seu tempo. Seja bem vindo ao nosso condomínio, Tom. — Despedi-me, acenando gentilmente para ele.
— Foi um prazer conhecê-lo, Senhor Fassbender. Espero que nos vejamos mais vezes. — Ele sorriu calorosamente, dando tapinhas no meu ombro.
— Eu também. — Sorri e me afastei, voltando para meu apartamento.
Assim que fechei a porta corri para a sacada, que dava direto para a rua, onde estava estacionado o grande caminhão de mudanças e uma Range Rover vermelha, e dali pude avistar Naomi. Sorri, me apoiando no parapeito.
Eu com toda a certeza teria aquela garota somente para mim. E isso era uma promessa.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.