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História Nobody knows - Quandaries


Escrita por: Bjf

Notas do Autor


Hello, people.
Cheio de coisas pra fazer, então não posso me demorar.
Além disso, só escrevi o cap. 42 da última semana pra cá, então hj é dia de produzir. Nem que eu tenha de colocar a imaginação numa coleira e tratar a inspiração a chicotada, vou domá-las!
Capítulo grandinho pra satisfazê-los pelas minhas ocasionais demoras. Simples, mas eu gostei bastante (assunto sério, mas sem complicações). É meio que o passo inicial pras verdades virem a tona.
Kisses pra todo mundo

Capítulo 41 - Quandaries


Louis POV:

Menos de duas semanas de férias e eu já estava ficando entediado. Não era desse jeito que deviam ser as férias. Supostamente, eu esperara um semestre por esse tempo, e agora era assim? Horas passadas olhando para o tempo, sem nada pra fazer ou lugar pra ir. Bom, não que isso fosse novidade, em geral nossas férias só servem pra criarmos uma nova rotina, mais parada do que a normal. Mas eu não esperava que dessa vez fosse assim também. Afinal, eu agora tinha amigos de verdade e um namorado.

Apostar nesses dois fatores não tinha sido uma coisa boa, no fim das contas. À exceção de Zayn, todos os meus amigos tinham viajado, me deixando sozinho, e pareciam não ter tempo pra pelo menos dar um alô ou mandar uma mensagem para o coitado abandonado aqui. Os únicos que se lembravam de mim eram Liam e meu namorado, o que já era esperado. Os pais de Liam tinham decidido antecipar a viagem, de modo que eu não só não o teria no Natal como também na semana antecedente; quanto a Niall, tinha me dito que talvez voltasse a tempo de comemorar comigo – ele ficaria uma semana com a mãe, e na outra viajaria com o pai e o irmão. Tudo bem... eu já estava acostumado a isso, afinal a maior parte das pessoas estava sempre em outro canto. Desvantagens de fazer aniversário um dia antes de Cristo.

Eu também tinha recebido uma mensagem de Harry, e confesso que fiquei surpreso por isso. Minha relação com ele, se é que podíamos chamar assim, era algo um tanto caótico; parecíamos uma espécie de amigos coloridos às escondidas: em geral, só amizade, e quando ninguém estava por perto, algo a mais.

O mais estranho é que tínhamos realmente nos tornado amigos. Quando estávamos todos juntos, em geral eu e ele éramos os que mais faziam palhaçadas, muitas delas em conjunto. Por instantes, parecia que éramos meros amigos, mas bastava um olhar mais profundo, um sorriso malicioso, e a situação mudava, trazendo uma tensão sexual tão intensa que eu sinceramente não sabia como ninguém havia percebido ainda. Acho que o fato de agirmos como uma dupla de idiotas impedia os outros de pensar em nós dois juntos, talvez.

Dobrei as pernas sobre a cadeira e me aconcheguei sobre elas, aproveitando pra arrumar o casaco. Aquela cadeira na varanda de casa tinha se tornado meu canto pra pensar em relacionamentos. Ultimamente, bastava minha mãe me ver ali pra decidir que o que ia dizer não era tão urgente e que podíamos conversar num outro momento. Ela sabia que eu nunca fui alguém muito decidido, e ao se tratar de “assuntos amorosos”, como ela dizia, isso só piorava.

O que mais me intrigava em toda essa situação é que desde Harry eu não vinha ficando com mais ninguém – além do meu namorado, claro. Não sei se porque o sexo era coisa de outro mundo ou se era o peso na consciência que estava se tornando maior do que eu podia suportar, mas de alguma forma Styles tinha se tornado meu “amante oficial”. Eu não sentia que precisava de algo além, e isso era novo pra mim.

Se alguém soubesse tudo o que eu fazia – ou a metade, que seja –, com certeza ia dizer que sou uma puta classe A, o que era verdade, mas eu não gostava disso. Eu passava horas me martirizando por cada vez que traía Niall, prometia milhares de mudanças e me comprometia a ser eternamente fiel, mas era mais forte que eu. Simplesmente. Às vezes eu achava que tinha algum tipo de doença, não sei; algum distúrbio sexual aliado a uma espécie de psicopatia que me tornavam um ninfomaníaco que ignorava os sentimentos alheios em busca da própria satisfação. Exceto pelo fato de que psicopatas não se arrependem.

Eu sentia falta de Niall. Isso era o que mais me matava; eu o traía, mas ainda gostava dele. Como eu podia ser tão baixo, tão cruel, tão vil, ao ponto de gostar de alguém e ainda assim traí-lo sem pestanejar, debaixo do nariz dele, e o que era pior, com um amigo dele? Ele e Harry também tinham se aproximado, e isso só me colocava em circunstâncias ainda piores; eu não enxergava saída alguma agora. Por vezes pensei em terminar com o loiro, mas isso me causava um desconforto tão grande que eu tinha logo de descartar a ideia. Outra agravante é que agora, sempre que eu pensava em deixar Niall, não era pra ficar sozinho, como eu merecia; eu sempre pensava em Harry.

Definitivamente eu precisava tomar um rumo, isso era certo. Assim que todos chegassem de viagem, eu falaria com Liam; ele ia me ajudar a me entender um pouco, isso se não ficasse com nojo de mim ao descobrir a pessoa horrível que eu era. Depois falaria com Harry; não sei exatamente o que conversaríamos, mas precisávamos esclarecer o que havia ou poderia haver entre nós. E então, se eu chegasse à conclusão de que não podia manter meu namoro, teria de falar com Niall.

Subitamente, comecei a achar que não faria mal ficar sozinho nas férias por mais meio ano.

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Niall POV:

Aquele era um dos meus locais preferidos em Mullingar: a pequena praça em frente à catedral que minha mãe costumava freqüentar desde... sempre, eu acho; inúmeras foram as vezes em que fugi pra cá quando estava muito chato ficar na igreja. Passear por ali era pedir pra ser assaltado pela nostalgia, mas eu gostava disso; apesar de tudo o que eu já tinha passado por ali por conta da minha seuxalidade, o que era muito mais mal visto do que em cidades como Londres, também havia muitas coisas boas a lembrar. Eu fazia o possível pra me lembrar só das melhores.

Deparei-me com um conhecido canto escondido atrás de umas árvores; à noite, não havendo postes de luz próximos daquela parte da praça, era quase impossível enxergar alguém ali atrás. Foi onde dei meu primeiro beijo de verdade, o primeiro beijo em um garoto, aos 12 anos. Em frente à igreja onde minha mãe fervorosamente rezara por uma “cura” para o filho – ainda que ela não dissesse que era esse o motivo de ter começado a freqüentar o local muito mais vezes do que antes de eu lhe contar minhas preferências. Ironia, não?

Fotografei o lugar, tentando fazer caber tanto a praça quanto a catedral na foto, e enviei pra Louis, junto da frase “Só faltou você pra paisagem ficar perfeita” como legenda. Sentei-me num dos bancos esperando resposta, mas não houve nenhuma; provavelmente ele não estava com o celular em mãos no momento. Guardei o meu também.

Aquele gesto, aliado à calmaria do lugar, foi o bastante pra me fazer pensar em meu relacionamento com Louis. Estava prestes a fazer cinco meses que nos conhecíamos, e quase quatro que estávamos namorando; não era meu relacionamento mais duradouro, mas certamente era o melhor que eu já tinha vivido. Louis era engraçado e carinhoso, e um doce quando colocava a ironia em off; estar perto dele alegrava meu dia. Eu insisti que ele se assumisse, esperei que ele tivesse coragem, pra que pudéssemos oficializar o namoro; eu nunca tinha feito isso por ninguém. Eu me julgava muito bem resolvido, e não costumava gastar meu tempo com pessoas indecisas.

Mas ultimamente indecisão vinha sendo minha maior companheira. Eu não sabia mais se gostava de Louis tanto quanto antes, se tinha me dado conta de que na verdade meu sentimento por ele era menor do que eu achara, ou se eu tinha me apegado rápido demais porque estava carente; não sabia se eu estava gostando de outro alguém, ou se na verdade toda essa confusão era por causa de uma mera atração física, mais intensa do que deveria, mas ainda assim passageira.

O motivo de toda a minha dúvida: Josh. O garoto impetuoso e despreocupado que eu conhecera há tão pouco tempo e que simplesmente não saía da minha cabeça. Sempre com um sorriso no rosto e levando tudo na brincadeira, foi tão fácil me aproximar dele que quando percebi não tinha só me aproximado... tinha me apegado.

Eu vinha conversando com ele mais frequentemente do que com meu namorado; assuntos inocentes, de amigos, nada de mais, mas que fluíam com uma facilidade que me assustava; era tão fácil conversar com ele. E em toda conversa sempre havia momentos em que eu escrevia coisas de um teor um tanto diferente – com ambiguidade, malícia ou mesmo algum flerte – e hesitava vários momentos com o dedo sobre a tecla de envio, até apagar as indiscrições digitadas, enquanto aquietava minha imaginação e tentava me concentrar no que ele escrevia.

Toda essa comunicação via celular tinha começado depois da minha mensagem dizendo a ele que tentaria não sentir saudades. Ridículo, eu sei; por um momento, me senti um perfeito idiota, e fiquei morrendo de medo de como ele interpretaria aquilo, me repreendendo pela idiotice. Mas quando ele respondeu, e depois de sentir o suor escorrendo pela minha testa abri a mensagem, fiquei extasiado. Duas simples palavras quase me fizeram hiperventilar: Eu também.

Um misto de alegria e culpa me assolavam sempre que eu pensava nisso. Uma coisa que eu não podia suportar era traição, e ainda que eu não estivesse realmente traindo Louis, sentia como se estivesse. Eu não podia continuar com isso. Precisava me decidir entre tentar algo com Josh ou simplesmente deixá-lo de lado e continuar com Louis. O mais certo a fazer seria terminar meu namoro antes de qualquer coisa, pedir um tempo, sei lá; mas eu já tinha ficado sozinho por tanto tempo que não me sentia capaz de arriscar uma relação estável por qualquer coisa. Eu precisava ao menos saber o que realmente queria, e se teria chances com Josh, caso fosse ele minha decisão.

Senti a temperatura cair, e fitei o céu em busca de evidências de neve, mas até o momento não era possível ver nada; talvez fosse hora de ir embora, antes de ser pego de surpresa. Levantei-me e pus as mãos nos bolsos do casaco, começando a caminhar. Enquanto pensava sobre me decidir assim que voltasse de viagem, um impulso em procurar por respostas o mais rápido possível surgiu. Eu não gostava de ficar enrolando; sempre que pensava em adiar algo, uma agitação dentro de mim me impelia a agir de imediato. Peguei o celular novamente e disquei o número de Zayn, que eu já sabia de cor. Ele era a única pessoa com a qual eu podia conversar sobre isso, e também a melhor, já que conhecia Josh e acompanhava meu namoro desde o começo.

– Vas happenin’, Irish boy! – Ele me atendeu, com mais entusiasmo do que eu esperava.

– Hey, dude. Quanta alegria logo de manhã. Aconteceu algo? – Perguntei intrigado.

– Hmm... nada de mais. Só com saudades de você, cara. – Era sério isso?

– Quem é você e o que fez com meu amigo? – Tentei soar sério, mas o tom de riso em minha voz era perceptível.

– Por quê? O que eu disse de errado?  – Ele nem parecia se dar conta do que eu estava insinuando. Tive que explicar.

– O Zayn que eu conheço não demonstra sentimentos assim tão facilmente. Nem fica alegre logo após acordar. – Brinquei. – Tem alguma coisa “especial” acontecendo? – Ouvi-o engasgar do outro lado.

– Nope. – Ele disse, simplesmente, depois de uma pausa intrigante.

– Sei... – falei, desconfiado. – E como está tudo por aí? – Não seria fácil fazê-lo admitir qualquer coisa por telefone, então deixei aquilo de lado.

– Parado. Procurei algum emprego de temporada pra matar o tempo, mas não consegui nada ainda.

– Tem visto os garotos?

– Vi Louis uma vez essa semana. A gente se esbarrou no shopping; estávamos ambos de babá, então meio que unimos forças. – Ele riu. – Foi uma tarde agradável, ainda que eu tenha ficado meio surdo com a gritaria de seis garotas histéricas pedindo coisas diferentes ao mesmo tempo, sem parar. Combinamos de repetir a dose no próximo final de semana; as meninas se adoraram, e, bem, somos só eu e ele por aqui, já que fomos abandonados. – Ele fez uma voz manhosa, dando uma de coitado.

– Ahh, Zayn, pode parar. Mas que bom que você e Louis estão se dando bem. Digo, não que vocês não se deem bem normalmente. É só que... você sabe, vocês dois nunca foram realmente próximos e tal. – Tentei me explicar, sem muito sucesso. A verdade é que eu achava que eles eram meros colegas e que só frequentavam os mesmos lugares por causa do restante de nós.

– Sei, eu entendi. Nós nunca fomos best friends; digamos que você tem culpa no cartório. Você é meu melhor amigo, ele é seu namorado; passamos muito tempo juntos, não tem como não ficarmos próximos. Eu só não gostava muito dele no começo; ele parecia extremamente fresco e ficava me secando. – Ele riu, e o acompanhei; eu fingia não ver, mas era verdade. – Ainda acho ele fresco, mas ninguém é perfeito.

– E quanto a Liam? – Quis saber, afinal ele ia ficar fora menos tempo que eu.

– Os pais dele adiantaram a viagem. E a estenderam também. – Ele não parecia feliz ao dizer aquilo. – Ele só deve voltar depois do Natal... E quanto a você? Até quando vai nos deixar sozinhos?

– Não sei. Saio daqui em dois dias, mas ainda vou viajar com meu pai e Greg. Tudo vai depender deles, mas talvez voltemos antes do Natal.

– Hmm. – Ele não disse mais nada, então achei que era hora de começar a tratar daquilo que tinha me feito ligar.

– Zayn... preciso conversar sobre algo. Eu queria falar cara a cara, mas não vou aguentar esperar.

– Que foi? – Ele perguntou preocupado.

– Calma, não é nenhum caso de vida ou morte. É só... – suspirei –, preciso de uns conselhos, ou só desabafar, não sei; de qualquer modo, você é a única pessoa em quem consigo pensar pra conversar.

– Claro, Ni. Estou aqui pra isso. – Ele falava baixo agora, parecendo querer me confortar.

– É sobre Louis. Bom, não sobre ele, ou só sobre ele; é sobre mim também, e sobre mais alguém.

– Hã? Calma Niall, isso tá meio confuso. É sobre quem, afinal de contas?

– Josh. – Falei, finalmente, e ele ficou mudo do outro lado, mas sei que compreendeu.

– Ah... – ele disse, reticente; ele era sempre assim ao falar sobre Devine, sempre parecendo dizer menos do que queria. – Agora entendi. O que tem ele?

– Eu não paro de pensar nele, Zayn. – Confessei. – Tenho conversado com ele mais do que com Louis, espero as mensagens dele mais do que as do meu namorado, e eu não sei o que fazer. Megan disse que é normal sentir atração por outra pessoa mesmo estando em um relacionamento, mas e quando você pensa mais nessa pessoa do que no seu namorado? – Fechei a boca, me permitindo respirar, esperando que ele processasse o que eu tinha contado e me desse algum conselho revelador.

– Você tem conversado com ele? – Ele parecia confuso. – Desde quando?

– Desde que... – aquilo era meio constrangedor, mas agora que tinha me proposto a falar, não ia parar –, desde que mandei uma mensagem pra ele dizendo que ia tentar não sentir saudades.

– Você o que? – Agora ele parecia surpreso. – Quando foi isso, Niall?

– No dia em que ele e Harry viajaram.

– Ouch... discrição nunca foi a sua praia, não é? – Ele riu fraco.

– Não é a primeira vez que você diz isso. – Ri também.

– E sobre o que vocês conversam?

– Nada em especial; só bobagens mesmo.

– Você disse que pensa mais nele do que em Louis...

– Aham.

– De quem você está com mais saudades? – Ele perguntou, do nada.

– Não sei... – eu estava sendo sincero; ao menos achava que sim.

– Hum... Sabe, Niall, desde o dia em que vocês se conheceram ficou meio na cara que rolou um clima. – Senti minhas bochechas corarem ao lembrar aquele dia. – Mas imagino que você não quer por em risco seu namoro sem ter certeza do que sente.

– Não mesmo. – Acho que essa era minha única certeza.

– Então, porque não experimenta ficar sem conversar com nenhum dos dois até voltar? – Eu já ia protestar, mas ele começou a explicar. – Assim você descobre de quem sente mais falta. Quero dizer, você tá confuso; acho que o melhor modo de esclarecer as coisas é afastando aquilo que te deixa confuso, ou seja, os dois.

– Faz sentido... – murmurei.

– Claro que faz. Sou especialista nisso. – Ele riu nasalado. – Mas você sabe que pode estar trocando o certo pelo duvidoso; digo, duplamente.

– Como assim?

– Bom, você já tem algo firme com Louis, e não sabe se pode ter algo assim com Josh. E você sabe que Louis é gay, mas não pode dizer o mesmo de Josh.

– Megan disse que ele não parava de olhar pra mim no dia do nosso churrasco. – Argumentei; ele não respondeu àquilo. Ouvi-o suspirar.

– Niall... Josh não é alguém tão... simples quanto parece. As pessoas o conhecem e pensam que ele é bem resolvido e descomplicado, mas ele é mais difícil de lidar do que ele próprio imagina.

– O que te faz dizer isso, Zayn? – Perguntei, realmente curioso. Como ele podia afirmar aquilo com tanta certeza?

– Digamos que... – ele hesitou – eu já tenha visto esse lado dele.

– Ainda não entendi, Zayn. O que foi que aconteceu entre vocês, hein? – A conversa dos dois no dia em que conheci Josh voltou a rondar minha mente.

– Algo parecido ao que você quer que aconteça entre você e ele... – ele disse, e arregalei os olhos, ainda que aquilo não tivesse nenhum efeito, já que eu não estava cara a cara com Zayn.

– Vocês namoraram? – Eu praticamente gritei.

– Não! – Ele se apressou em negar.  – Não chegou a tanto. Nós só... nos beijamos. Naquela festa no começo do semestre, quando você me apresentou a Louis.

– E o que aconteceu depois? – Ainda estava difícil engolir que Zayn tinha ficado com um homem naquela época, porque naquele tempo eu ainda tinha uma queda por ele, o que me trazia uma desconfortável sensação de oportunidade perdida. Mas no momento eu precisava saber a história toda.

– Tentei conversar com ele, mas ele me dispensou sem nem ao menos escutar o que eu tinha a dizer. Era a primeira vez que aquilo acontecia comigo, e com ele, e eu estava confuso, mas achei que poderíamos entender o que aconteceu juntos e seguir em frente, fosse como fosse. – Ele fez uma pequena pausa, como se querendo dizer “como amigos ou algo a mais”. – Mas ele nem quis saber. Depois disso, só voltamos a nos falar naquele dia no restaurante, quando você o conheceu.

– Só um minuto, Zayn. Preciso processar tudo isso. – Falei, atônito, e ele não disse nada; ele parecia ter confessado aquilo a contragosto, então devia estar meio constrangido.

Zayn e Josh tinham se beijado! Certo, era a primeira vez para ambos, eles nunca tinham sentido atração por um cara antes, e ficaram confusos. Mas enquanto meu amigo quis conversar e compreender o que aconteceu, como adulto, Josh, que parecia tão de boa com tudo, o tratou mal e não quis conversar; pior, ainda cortou o contato com ele por meses. Ok, isso era definitivamente preocupante – pra mim, pelo menos.

Enquanto pensava nas possibilidades de uma investida minha ser mal recebida por Josh, me dei conta de outra coisa.

– Zayn, você gosta de Josh?

Silêncio. Cheguei a achar que ele tivesse desligado o telefone.

– Não... – ele disse, melancólico. – Não mais. – Certo, isso não soou convincente.

– Mesmo? Não quero competir com meu melhor amigo por um cara que nem sabe o que quer. – Tentei sorrir pra amenizar a tensão, mas não obtive sucesso.

– Não se preocupe, Niall, não vamos competir. Eu superei. Não acho que poderíamos nos aproximar de novo se eu não tivesse deixado isso pra trás; e estou te aconselhando sobre ele, não estou? – Ele riu nasalado.

– É... Será que eu tenho chance, Zayn?

– Eu não sei, Ni. Só te digo uma coisa: você não está falando como quem estivesse realmente em dúvida, sabe? Soa mais como se você já tivesse se decidido, mas não quer admitir pra si mesmo.

Aquilo me atingiu tão profundamente, que comecei a pensar que ele poderia estar certo. Então outra coisa me ocorreu.

– Zayn?

– Hmm?

– Depois de Josh, hã,,,, como você encara sua sexualidade agora? Digo, você sentiu atração ou coisa do tipo por outro cara?

Novamente, ele demorou vários segundos antes de atender. Quase chamei seu nome de novo; ele parecia imerso em pensamentos.

– Já. – Ele disse, num quase sussurro. Mais uma vez meu amigo me surpreendia com segredos sobre sua vida amorosa. Eu imediatamente quis perguntar quem, mesmo já tendo meu palpite, mas primeiro pensei em outra coisa: se isso aconteceu com Zayn, porque não poderia acontecer com Josh? Afinal, ele tinha se arrependido, pedido desculpas, e estava tentando se aproximar de Zayn novamente; ele parecia ter entendido os próprios sentimentos. Mas e se tudo isso significasse que ele tinha percebido que gostava de Zayn, e agora queria tentar de novo? Eu não teria chance, nesse caso.

– Precisamos conversar sério quando eu voltar, Malik. – Falei. – Não acredito que você possa esconder tanta coisa de mim. Se eu que sou seu melhor amigo não sei dessas coisas, pra quem você diz isso?

– Pra ninguém? – Ele disse, numa pergunta que não esperava resposta, só ressaltando a obviedade daquilo. Uma obviedade que só ele via.

– Você não pode esconder tudo pra si. Eu sou gay, você podia muito bem ter contado isso pra mim! – Falei, mais alto do que precisava. Ele começou a rir.

– Tudo bem, Niall. Prometo contar todos os meus dilemas adolescentes gays quando você voltar; você vai se surpreender com quanta coisa eu tenho a dizer. – Ele fez graça.

– Idiota. Estou falando sério.

– Certo. Mas então, “falando sério” – ele imitou meu sotaque, muito mal, diga-se de passagem –, eu tenho mesmo algo a dizer, nesse sentido.

– Seu novo objeto de desejo masculino? – Digo, rindo; minha vez de fazer graça.

– Digamos que sim.

– Liam? – Arrisco, antes que ele desligue; ele percebe o riso em minha voz, e demora a responder. Então o ouço suspirar, o que só confirma minhas suspeitas.

– Talvez. – Ele dá uma de misterioso, como sempre; claro que não me convence.

– Não adianta, Zayn, você se entregou. É Liam. – Digo, não aceitando negação, já rindo abertamente.

– Tudo bem, irlandês, você me pegou. – Ele admite, e mesmo já tendo praticamente certeza, fico novamente surpreso.

– Sinceramente, acho que você tem todas as chances. – Atiço o moreno, esperando pra ver sua reação.

– Mesmo? – Ele pergunta, e acho fofo todo o seu desespero por uma confirmação. É mais do que eu esperava.

– Zayn, sempre tão esperto e agora cego pelo amor? – Eu zombo; sempre quis ser eu a tirar sarro dele e não o contrário. – Está na cara de vocês dois. Eu já vinha desconfiando antes de você tocar no assunto, e sinceramente sempre desconfiei de Payne; não era a toa que eu tinha ciúmes dele com Louis.

– Sei que vou soar como uma garota... mas você não imagina como isso mexeu comigo agora. Mal posso esperar pela sua volta pra conversarmos direito, Ni.

– E pela dele? – Brinco de novo.

– Com certeza. – O modo como ele fala é tão inocente que consigo visualizar o sorriso infantil em seu rosto. – Até mais, irlandês.

– Até mais, Malik.

Desliguei o celular. Só agora percebia os flocos de neve caindo, dançando no ar por conta do vento suave, a grama já esbranquiçada, uma fina camada de gelo escorregadio se formando sobre o asfalto. Apresso o passo, voltando a colocar as mãos nos bolsos do casaco, caminhando pra casa. Pensando em como eu faria pra por meus pensamentos e meu coração em ordem, depois daquele bombardeio de informações, e ao mesmo tempo dar uma de conselheiro amoroso e cupido.



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