História Nós do passado - Capítulo final

Dias se passaram desde o incidente estranho do acampamento, e querendo ou não toda aquela historia acabou mexendo muito comigo. Agora toda vez que vou dormir sonho com o antigo espírito da floresta tentando me dizer algo, eu tento a todo custo ouvir o que é, mas não consigo. É como se meus ouvidos não funcionassem nesse sonho, e sempre que tento explicar isso a ele eu acordo. Eu deveria ja estar acostumada mas não consigo deixar de me sentir um pouco assustada e até com um pouco de medo 

- Star? você está ai? 

- A, oi pônei, me desculpa eu estava pensando longe 

- Eu estou vendo, vê se tenta não ficar pensando muito em não sei lá o que, isso parece estar te deixando com olheiras amiga- Pego a tela do meu telefone e fico observando meu rosto por um tempo, e era verdade, eu estava começando a ficar com olheiras. Olheiras feias e cinzas - Se continuar assim você vai ficar doente

- Não exagera pônei, ninguém fica doente por pensar de mais-Digo deixando meu de lado 

- Sei 

Depois do incidente da cabana os diretores da escola decidiram que seria interessante se tirássemos a semana de férias para apaziguarmos a nossa cabeça. Acho que ele sabia como isso tinha nos afetado, de certa forma

- Cara que tédio - Cabeça pônei diz enquanto mexia angustiada em seu celular - Não temos nada de legal pra fazer por aqui? que saco 

- Você entediada? hahaha, nunca pensei que iria ver isso - Ela me olha com um olhar ' bravo' e revira os olhos para o outro lado - E se fossemos dar uma passada no cinema? ou então fazer algumas compras no shooping ? 

- Eu to zerada amiga, e minha mãe já foi trabalhar também, então não tenho como pedir dinheiro pra ela 

- Bem, digamos que eu tenho um pouco depositado na minha conta, não é muito pra fazer AS COMPRAS, mas acho que é o suficiente pra nos divertirmos juntas no shooping, ou algo assim- Ela se vira pra mim e sorri 

- Certo então, hoje as compras vão ser por sua conta! - Ela pula de onde estava sentada e sai para o nosso quarto - Já volto - Vejo a mesma pegando a toalha e fechando a porta do quarto. Vou para lá também e aproveito para pegar a minha, me dirigindo para o banheiro próximo a sala em seguida 

Depois de um banho rápido me visto com uma calça jeans clara e minha blusa favorita verde musgo com detalhes de corações rosa, coloco uma sapatilha preta e faço uma maquiagem básica em meu rosto, coloco brincos de corações negros e por fim um batom mate de cor nude 

- Amiga você tá uma gata! - Ouço pônei dizer não muito longe 

- Obrigada - Digo entre risos- Vê se não demora se não eu posso acabar mudando de ideia - Pônei bufa e rapidamente cola as duas mãos na cintura, em sinal de protesto, mas ela logo as retira assim que eu saio do quarto 

- Ta - 20 minutos depois ela aparece já vestida e com seu celular em mãos- Vamos? 

- Vamos - Pônei pediu um uber e sem muita demora ele chegou para nos buscar. Em poucos minutos nós chegamos ao nosso destino - Muito obrigada pelo serviço!- Nós duas o agradecemos enquanto o pagávamos e depois saímos para fazer as nossas compras 

Nós passamos pelas nossas lojas favoritas de roupas e fizemos uma lista de qual roupas iriamos comprar na próxima vez que fossemos lá, passamos pelo cinema para ver se havia algum filme passando e resolvemos assistir ao filme do '' Little Stitch'', depois passamos no setor de jogos para jogar uma partida juntas em um joguinho de luta e depois de perder algumas pra Pônei, resolvi que estavamos com fome e que seria bom irmos comer alguma coisa

- Tem algo em mente amiga? 

- Acho que uma batata recheada me faria bem 

- Eu vou querer uma também - Nós fizemos os nossos pedidos e fomos nos sentar em uma mesa para comer

Enquanto degustava de minha batata fiquei observando a decoração do shooping, o natal estava chegando então provavelmente teria alguma coisa natalina ali. Porém eu estava muito enganada. A todo canto que eu olhava aparecia uma ilustração de um avião caindo, algumas pessoas mortas no chão e um xiado estranho que era muito difícil não ouvir. Eu olhei para as lanchonetes e percebi que em uma delas, onde havia uma televisão, estava passando uma reportagem sobre um acidente de um avião que deixara inumeras pessoas feridas e até algumas mortas devido a queda, eu me aproximei mais daquele aparelho e percebi que uma das vitimas da queda do avião era eu

- O que? - Sinto meus olhos se encherem de lagrimas e começo a ouvir uma voz estranha me chamar

- Star! 

Tudo fica escuro e em seguida uma luz clara invade a minha visão, e em pouco tempo, a imagem borrada de duas pessoas começam a aparecer perto de mim

- O Meu Deus, você acordou ! - Era uma mulher loira de olhos azuis e um homem loiro quase careca que também tinha olhos azuis, ambos estavam chorando enquanto seguravam as minhas mãos com cuidado - Minha querida, nós ficamos tão preocupados com você - A mulher dizia em prantos 

- Mãe? Pai? o que estão fazendo aqui? - Conforme minhas vistas se acostumam com a claridade me percebo em um lugar totalmente diferente do shooping - Que lugar é esse? onde estou? - Tudo ao redor era branco, a janela era branca, as paredes, o chão, até mesmo a cama onde eu estava era branca e isso era muito estranho, eu não deveria estar ali certo?. Meus pais se entre olharam e respiraram fundo 

- Meu bem, nós estamos em um hospital - Meu pai disse- Quando você foi fazer a sua viajem de intercâmbio uma das turbinas do avião em que você estava parou de funcionar por algum motivo e o avião caiu - Minha mão volta a chorar e acabo chorando também 

- Eu não entendo, eu estava até agora a pouco coom a cabeça pônei no shooping, nós estavamos comendo batatas recheadas e derrepente..

- Você estava com coma minha querida- Ele diz com os olhos marejadas - Você ficou mais de um ano adormecida nesse hospital - Eu olho mais uma vez para aquele lugar e então começo a entender. Aquele quarto era mesmo um quarto de hospital, tudo que eu vivenciei desde a minha viajem era apenas um sonho 

- Eu não consigo acreditar que todo esse tempo eu estava sonhando, parecia tudo tão real! - Digo em prantos e sinto meus pais me envolverem em um abraço - Eu não sei o que dizer, sinto muito ! 

- Esta tudo bem meu amor, agora está tudo bem , o importante é que você está conosco agora- Minha mãe diz enquanto afaga meus cabelos - Esta tudo bem 

~*****~

Assim que os médicos viram que eu estava acordada ele nos disse que em alguns dias eu poderia receber alta e voltar para minha casa, e saber disso me deixou feliz, meus pais claramente também ficaram. Quando meus pais saíram o médico me mostrou em uma pequena televisão como foi o acidente do avião que eu estava e como foi um milagre eu ter sobrevivido a queda, pois pelo que entendi, eu e a aeromoça de olhos verdes fomos as únicas sobreviventes do acidente

- Ela ainda está viva? - Pergunto passando a mão pelo meu ralo cabelo. Antes da viajem meu cabelo era longo e bonito, mas devido a queda os médicos tiveram que raspar ele pra fazer algumas cirurgias de restauração craniana, mesmo já tendo se passando mais de um ano e  ele já ter crescido até a altura de meus ouvidos, eu ainda consigo sentir as cicatrizes na minha cabeça 

- Sim, ela ficou em coma assim como você desde o momento em que chegou , mas infelizmente ainda não deu vestígios de acordar- Começo a me lembrar de como ela era gentil com os passageiros e acabo me lembrando de Marco 

- Essa mulher, ela tem um filho ? 

- Sim- O médico me responde com um olhar surpreso- mas porquê a pergunta? 

- Não é nada, eu só achei que ela tivesse uma família, visto que ela usava um anel da ultima vez que eu vi ela na viagem - Ele se senta na boda da minha cama e fica em silêncio por alguns segundos - Você se lembra de mais alguma coisa antes do acidente acontecer ? - Fecho meus olhos por um momento e busco lembrar de mais alguma coisa antes do acidente acontecer, e então algumas lembranças começam a surgir

- Eu estava sentada do lado de uma das janelas e tinha colocado os meus fones de ouvido pra ver se o tempo passava mais rápido, em seguida eu acho que acabei dormindo, e eu tenho um sono pesado, então eu acho que não consegui ver muita coisa. Eu não consigo me lembrar para falar a verdade - Digo enquanto mexo em meu cabelo mais uma vez, estava sentindo falta do comprimento antigo dele. O médico acena que sim com sua cabeça e sai rumo a porta

- Muito bem Star, eu vou ter que sair um pouco, se quiser fique a vontade pra dormir, depois eu volto - Ele sai do meu quarto e apaga a luz . Eu me remexo na cama em busca de uma posição confortável para dormir mas é impossível, eu não tenho coragem de dormir. Depois de saber da noticia do acidente, desde então, por mais cansada e sonolenta que me sinta sinto um medo terrível de dormir e não acordar por um longo tempo novamente. Isso não pode acontecer, de novo não. Sinto meu coração palpitar e uma subida falta de ar me atingir, tento controlar meus batimentos respirando fundo mas isso não ajuda muito, então eu me levando da cama e caio ao  chão no primeiro passo que dou. Após mais de um ano sem me mover meu corpo com certeza já não é mais o mesmo, e eu preciso mudar isso, não posso ser dependente de uma cadeira de rodas, eu não quero isso pra mim

- Vamos lá..- Eu me seguro em um corrimão que tinha em uma das paredes e tento me levantar com sucesso, e um passo de cada vez, lentamente, ando até a porta. Eu sinceramente não sei pra onde ir, mas de uma coisa eu sei, eu não posso ficar sozinha, não agora que sinto que minha hora está prestes a chegar. Abro a porta lentamente e saio de meu quarto

Assim como meu quarto os corredores eram brancos e isso apenas me dava mais a sensação de que iria morrer, e a medida em que passava pelo corredor, mais solitária me sentia. Vou caminhando ao meu lento passo até encontrar uma porta aberta, eu me aproximo para ver seu interior e noto que dentro dessa sala está um quarto idêntico ao que eu estava, e sobre a cama uma mulher de cabelos castanhos com boa parte do seu corpo enfaixado estava deitada, eu entro dentro da sala e me sento ao lado do leito da mulher 

- Oi - Digo ainda me sentindo um pouco nervosa- Eu me chamo Star, e preciso muito de uma companhia - Observo o peito da mulher subindo e descendo, ela parece estar em um sono tranquilo- Desculpe por entrar assim, posso ficar com você um pouco? eu realmente estou com medo de morrer - Digo enquanto passo as mãos pelos meus braços, eu não consigo sentir eles. Sinto meu coração bater ainda mais rápido e sinto meus olhos marejarem - Por favor alguém me ajuda! 

- Quem é você ? o que você está fazendo aqui? - Perto da porta aberta estava parado um menino que aparentava ser um pouco mais velho do que eu, seus cabelos eram castanhos chocolate assim como o da mulher ao meu lado, e seus olhos eram castanhos também, ao lado de sua boca tinha uma pequena pinta e ele parecia bem assustado ao me ver 

- Eu..eu estava sozinha e estou com medo de morrer, eu precisava muito de companhia então caminhei até esse quarto, estou incomodando ? - Pergunto enquanto  tento secar meu rosto e o rapaz fecha a porta - Me desculpa - Me encolho na cadeira e olho para o chão. Eu só preciso ficar com alguém, só isso 

- Me desculpe- Ele para em minha frente e me estende sua mão- Eu acho que acabei sendo rude com você, desculpe por isso. Eu me chamo Marco Diaz, sou o filho dessa mulher que está deitada ao seu lado, e você se chama? 

- Star...- Estendo minha mão até a dele e nós apertamos a mão um do outro em um cumprimento - Marco

- Sim? 

- Sua mãe era a aeromoça que estava dentro de um avião que caiu ano passado? 

- Sim, foi um milagre ela sobreviver ..

- Eu também estava no avião aquele dia..- Ele me olha surpreso e fica parado sem se mover por um bom tempo- Eu confesso de não me lembrar de muita coisa, mas me lembro do rosto de sua mãe lá, ela era bem gentil 

- Sim, ela é uma boa pessoa..- Ele se senta na cadeira que estava logo a minha frente e solta um longo suspiro- Você sempre visita ela quando não tem ninguem aqui?

- Não, não, eu nem sabia que ela era a aeromoça, eu vim mais por estar precisando de companhia mesmo, estava sentindo o meu coração acelerado e estava com dificuldade pra respirar, parecia que eu ia morrer, então eu fiquei com medo e vim até aqui 

- Você está se sentindo melhor? 

- Sim, estou me sentindo melhor - Marco sorri e um flesh de memórias em que tivemos juntos começa a passar em minha mente, e sem notar acabo sentindo uma lágrima cair 

- O que foi? está se sentindo ruim de novo? quer que eu chame uma enfermeira? - ele questiona enquanto se levanta e eu nego com minha cabeça

- Não precisa, é só que, eu me sinto muito feliz em te ver - digo deixando cair outro lágrima- nós passamos por muita coisa juntos e eu até que gosto de você Marco

- Como assim? eu não estou entendendo 

- É claro que você não entende, tudo se passou na minha cabeça mesmo 

- Como assim? 

- Eu estive em coma até noite passada Marco, desde o acidente de avião eu estive em coma

- Entendo...- Parece que a cada minuto que passamos juntos, mais sinto-me acalmar, e mais surpreso ele fica 

- Durante esse tempo, muita coisa aconteceu aqui- Digo apontando para minha cabeça, eu contei a ele sobre o momento em que cheguei na cidade e fui recepcionada pela minha melhor amiga e a mãe dela, de como eu o conheci, da aventura que tivemos no acampamento assombrado e das decepções amorosas da minha melhor amiga e em como nós tentamos ajudar ela a superar tudo aquilo - Parecia tão real, tão verdadeiro que...chega a ser estranho acordar e ver que nada disso foi verdade entende? - Marco olha pro chão e fica cabisbaixo por um tempo, até que o ouço fungar - Você está chorando ? 

- É, eu estou - Ele responde com um sorriso - eu sei que é estranho, mas eu não consigo deixar de me sentir emotivo com essa história. Nós nunca nos vimos ate  o momento e mesmo assim eu estive presente nos seus sonhos, você esteve no mesmo voo que a minha mãe e... e eu acho que isso significa algo, de alguma forma - Ele enxuga suas lágrimas e volta a sorrir . Ele olha pra sua mãe e fica em silêncio. Nós ficamos assim, calados, até que o som de alguém abrindo a porta nos surpreende 

- Star? eu estive te procurando feito um loca nesse hospital! - Uma enfermeira fala aliviada enquanto abria a porta mais ainda- Achei ela senhor- O médico de antes surge e sorri 

- Então você está aqui Star, que susto você nos deu- Ele suspira aparentemente aliviado e pede para que eu voltasse com eles- Tem uma pessoa esperando por você no seu quarto, ela diz ser a sua melhor amiga e estava roendo as unhas de preocupação - Imediatamente me lembro de pônei e dou o meu melhor para me levantar, e com um pouco da ajuda de Marco consigo alcançar os dois na porta

- Obrigada- Digo a ele e o mesmo sorri, a enfermeira me ajuda durante o restante do processo e enfim chegamos ao meu quarto

Pônei estava totalmente diferente do que eu me lembrava, seu cabelo estava liso e curto em um corte moderno, seu corpo estava mais magro, porém saudável e ela estava usando uma roupa formal 

- Star! - Ela se joga em mim e me da um abraço forte assim que me vê. Ao menos esse jeito dela não mudou. Eu retribuo o seu abraço a ambas começamos a chorar - Eu estava quase ficando louca de preocupação! você não pode ficar saindo do seu quarto em pleno despertar amiga! assim você nos mata do coração - Ela diz enquanto me apertava ainda mais e eu lhe dou uns tapinhas nas costas - Desculpa, acho que exagerei 

- Está tudo bem - Digo entre risos- É muito bom te ver de novo amiga - Nós nos abraçamos de novo e assim ficamos por um bom tempo 

A partir daquele dia o médico me deu alta e me recomendou um processo de reabilitação pro meu corpo voltar a se movimentar normalmente e eu e meus pais apoiamos a ideia. Eu comecei o processo de reabilitação de movimentos no próprio hospital com a ajuda de alguns enfermeiros e rapidamente voltei a andar com mais fluidez. Voltei pra escola depois de mais algumas semanas e lá reencontrei Marco 

Com o passar do tempo Marco e eu ficamos muito amigos, e depois de alguns anos ele me pediu em namoro, e é claro que eu aceitei! , a mãe dele acordou do seu coma um tempo depois e isso foi como uma bomba de alegria pra nós. Eu conversei com ela sobre o acidente do avião assim que possível e ela me explicou o que tinha acontecido enquanto eu estava dormindo com os meus fones de ouvido. Ela disse que tinha me visto acordar na hora do tumulto e que uma mala tinha caído e batido em minha cabeça bem na hora, e como o meu cinto estava solto eu estava meio que começando a querer flutuar até o teto, então ela correu em até mim e colocou o cinto ao redor do meu corpo, ela tentou fazer isso com outros passageiros que também haviam desmaiado mas era tarde de mais. Eu a agradeci muito pois graças a ela eu ainda estou viva, e a cada dia que se passa mais eu me sinto feliz por viver, mesmo tendo alguns dias mais dificeis do que outros, eu sou muito grata pela vida que tenho

Cinco anos depois Marco me pediu em casamento e eu aceitei. Hoje estamos comemorando 2 anos de casados e já estamos pensando na possibilidade de ter uma criança. Eu já deixei bem claro pra ele que se for menina ela se chamará Esmeralda, mas ele teima em chamar ela de Saphira, então, depois de muita discussão nós decidimos que se tivermos um filho homem ele quem vai escolher o nome e se tivermos uma filha menina eu quem escolherei, e assim está de bom agrado para mim

Não há mais nada que eu possa querer do que isso, acho que finalmente estou conseguindo construir a felicidade que eu sempre quis, e o melhor de tudo isso é que não é um sonho, mas sim real

Fim