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História Nós e o gato - Capítulo 12


Escrita por: Corujinha1

Capítulo 12 - Capítulo 12


XII

            Alex se sentia um pouco hipócrita enquanto tentava convencer Leo de que o primeiro beijo deles não tinha sido grande coisa. Foi uma grande coisa para ele. Naquele dia seu cérebro fez hora extra para processar tudo que estava acontecendo: o fato dele estar sendo beijado inesperadamente, da outra pessoa ser alguém que ele nunca viu dessa maneira, pelo menos até onde percebia. Quando decidiu não resistir a Leo, Alex percebeu que não tinha estado naquele tipo de situação em quase um ano, ele era a própria encarnação do meme “Meu Deus, será que eu ainda sei beijar?”. Por sorte, ele não precisou se preocupar por muito tempo, pois Leo parecia saber muito bem pelos dois. Mais tarde naquele dia ele pensou em como o mundo era um lugar totalmente injusto e sem nenhum equilíbrio. Como a mesma pessoa podia ser gentil, atraente, carismático, atlético, inteligente, amante de gatos e ainda beijar bem?

            Agora, repetindo a dose, uma pequena parte da mente de Alex resgatava esse pensamento, enquanto todo o resto era absorvida pelo momento. Bocas que segundos antes proferiam palavras cortantes, agora presas em uma dança de desejos insaciáveis línguas alternando entre suaves toques e o enlace completo, deslizando e procurando novos sabores, respirações pesadas e entrecortadas lutando para manter o fôlego enquanto nenhum dos dois pretendia abrir mão daquele momento primeiro.

            Alex sentia as mãos de Leo deslizando suavemente em suas costas. Seu abraço era firme o suficiente para Alex sentir-se seguro até mesmo à beira de um abismo. Em retorno ele traçava seus dedos pelo cabelo de Leo, enrolando as mechas em pequenos e curtos cachos, em seguida suas mãos desceram aos macios lóbulos de suas orelhas e, curiosamente, um deles era furado. Em seu pescoço a artéria pulsava furiosamente, como se tentasse escapar de sua prisão de carne e pele. Finalmente, Leo pressionou seus lábios nos de Alex uma última vez antes de afastar o rosto para olhar em seus olhos.

            - Acho que eu não preciso me desculpar por esse.

            - Sem mais desculpas, de nenhum dos lados.

            Determinado a ter uma conversa apropriada, Alex pensou que não fazia sentido fazer isso de pé. Ele se acomodou no sofá enquanto Leo se colocava à sua frente, e durante um tempo eles só olharam um para o outro sem dizer nada. Quando finalmente se sentiu pronto, Alex perguntou:

            - Então, por que você me beijou?

            - Tecnicamente não foi você quem me beijou?

            Alex gesticulou com a mão dispensando o comentário.

            - Eu estava apenas devolvendo o favor da última vez, e é sobre essa última vez que eu quero saber. Até onde eu sei, foi onde nossos dias ruins começaram.

            Leo deixou seus olhos vagarem, alternando o foco entre Alex e o ambiente que os cercava, tudo era familiar como naquele dia, então ele esperava que isso ajudasse a levar sua mente um pouco de volta no tempo. Ele não tinha nenhuma intenção de esconder algo de Alex novamente, mas por mais que espremesse seu cérebro até a última gota, não conseguia encontrar as palavras certas para explicar-lhe tudo que queria.

E tudo isso estava estampado em seu rosto para Alex ver. Ele tocou a têmpora de Leo levemente com os dedos, do lado esquerdo.

- Relaxa. Você vai acabar explodindo desse jeito. Eu sei que ainda está tudo aí, e não estou com pressa nenhuma, não estou esperando um discurso ou algo do tipo. Só quero que você diga exatamente o que está na sua mente agora. Comunicação é uma via de mão dupla, lembra? Eu vou entender.

  Minutos depois de proferir bravamente essas palavras, Alex se encontrou desconsertado ao cair do topo de sua inconsciente arrogância. Quando se dispôs s ouvir Leo, estava preparado para guiar e dar conselho, esperava por dramas e inseguranças de um adolescente, sentimentos que ele, na sabedoria de seus setes anos de vantagem, já teria superado. Mas ele se viu sendo tragado pelas palavras do garoto mais jovem. Cada situação da rotina dos dois até aquele dia, descrita por Leo e significada por ele de maneira terna e especial, fazia seu coração perder uma batida. E toda vez que Alex a recuperava, seu ritmo cardíaco acelerava um pouco. Se aquele era o comportamento reservado aos jovens, Alex não passava de uma criança.

Ficar sentado ali apenas ouvindo tudo era como um infinito “Parabéns para você”, voltado para ele, que não sabia como reagir, só que elevado à milésima potência. Na tentativa de manter a calma, Alex focou em respirar. Inspirar e expirar lentamente. Mas todo o oxigênio obtido parecia servir apenas para alimentar aquela estranha chama em seu peito, que espalhava calor por todo seu corpo. Quando a situação atingiu seu ápice Alex nem podia se dar ao luxo de esconder sua vergonha com as mãos, porque Leo estava brincando com elas distraidamente enquanto divagava por seus sentimentos. Só havia um lugar para se esconder, e ele seguiu o impulso.

Leo tinha finalmente encontrado o fio condutor de suas palavras quando sentiu o súbito impacto. De repente o peso do corpo de Alex estava sobre ele. O rapaz tinha jogado seus braços em volta de Leo e apoiado a cabeça entre seu ombro e pescoço, de forma a esconder seu rosto. Seu cabelo fazia cócegas no queixo dele.

- Hã...eu fiz alguma coisa errada? É pra eu parar?

- Não! Não agora. Só continua o que você estava falando.

Depois de hesitar por um momento, Leo pousou suas mãos nas costas de Alex, abraçando-o de volta. E continuou falando, agora mais baixo já que mesmo sussurros seriam capazes de alcançá-lo, dada sua proximidade. Era uma posição diferente para os dois, mas confortável, aconchegante. Os olhos de Alex sentiam agora o peso das lágrimas derramadas e, sem os óculos, a luz forte da lâmpada machucava seus olhos. Ele os fechou por um momento. Tinham sido dias mais duros do que ele percebera, e exaustão física e mental daquela noite agora cobrava seu preço. As palavras de Leo em seus ouvidos se tornavam cada vez mais distantes umas das outras e difíceis de compreender, em certo ponto ele deixou de tentar e apenas acompanhou a cadência de sua voz.

E por fim o silêncio.



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