História Nós e o gato - Capítulo 19

XIX

Eles não tinham se beijado assim desde a noite anterior. No intervalo de 24horas o sofá de Alex tinha passado de palco da afetuosa declaração de Leo a testemunha de um enlace apaixonado e banhado em eros entre os dois. Antes eles foram parados apenas pela necessidade de esclarecer os maus entendidos entre eles, mas agora não havia esse tipo de urgência. Quão longe eles iriam antes de parar. E... por que parar?

Suas respirações pesadas em sincronia, as mãos de Leo pairavam perigosamente perto do cós do short de Alex enquanto ele empurrava seu corpo para baixo entre as almofadas. Alex não se importava com o peso extra sobre si e continuava puxando Leo para perto, pressionando seus corpos juntos ao ponto de não conseguir diferenciar seus batimentos cardíacos dos dele. Na boca do namorado ele ainda podia sentir o doce do brigadeiro de mais cedo e traços picantes dos temperos do jantar, mas acima de tudo isso ele tinha um sabor próprio indescritível, como um afrodisíaco que deixava sua língua viva e seus lábios famintos por sempre mais. Ele estremeceu quando sentiu os dedos de Leo por dentro de sua blusa, diretamente em sua pele, subindo. Era como se algo vibrasse dentro dele.

Gradualmente, acontecimentos externos foram alcançando os sentidos de Alex através do torpor de prazer. Algo realmente estava vibrando, atrás dele, em alguma brecha do sofá. A muito custo ele conseguiu separar sua boca da de Leo.

- Espera, espera, espera!

Com o pouco espaço que conseguiu, arrastou-se em uma posição meio sentada e tateou atrás de si até encontrar seu celular. O número era desconhecido, mas a voz era familiar quando ele atendeu ainda com a voz meio trêmula:

- Oi, Marcus.

Boa parte do sucesso da linha de trabalho de Alex dependia da divulgação certa e de bons contatos. Marcus, um colega dos tempos de faculdade, era um desses contatos. E para ele chegar ao ponto de ligar o assunto devia ser sério, pois ele sabia que Alex já era parte da geração que se comunica apenas por mensagens e só tolera telefonemas em casos extremos.

Era difícil se concentrar na conversa com a respiração de Leo fazendo cócegas em sua barriga, já que o garoto tinha achado aquele um ótimo lugar para apoiar a cabeça e ficar desenhando círculos invisíveis com os dedos em sua pele exposta. Eventualmente Alex precisou levantar para verificar algo em seu e-mail. Da sala Leo conseguiu vê-lo no quarto concentrado no celular e no notebook ao mesmo tempo, e assim ele soube que o clima de segundos atrás estava morto. De volta à sala, Alex encontrou Leo sentado com Tiger no colo:

- Trabalho? – Leo perguntou, mais para puxar assunto, pois já imaginava a resposta.

- Sim. E esse é um dos grandes, mas também parece interessante. E felizmente, no meu caso, mais trabalho significa mais dinheiro. Estou bem empolgado.

Isso Leo conseguia ver. Sentado ao seu lado no sofá, Alex não conseguia aquietar os pés ou as mãos, como se estivesse ansioso para entrar logo em ação. Leo entendeu a deixa da vida, os desafios de namorar um adulto de verdade.

- Eu já vou indo.

- Mas já?

- Sim, não quero te atrapalhar.

- Você não...

- Tudo bem, eu volto amanhã. Nem vai dar tempo de você sentir minha falta.

Ele passou Tiger para o colo de Alex. Antes de sair ele o beijou mais uma vez, dessa vez um beijo de boa noite na testa, pois Leo sabia onde outro beijo como o de antes os levaria.