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História Nos Vemos na Próxima Vida - O Instrutor


Escrita por: PequenaRed

Notas do Autor


Eu sei que era pra sair apenas amanhã, mas por causa de um certo alguém eu decidi postar mais cedo.
Capítulo dedicado à Roberta e à Nani, que foram quem mais me incentivaram a postar.
Boa Leitura.

Capítulo 2 - O Instrutor


Capítulo 1 -
          O Instrutor

 

  Minha mente está embaçada.

  Agora a pouco eu estava no carro com meus tios. Minha tia falando animadamente sobre o jardim que ela e meu tio começaram a fazer. Ela dizia sobre os planos de colocar crisântemos em uma área com um pequeno cercadinho branco, plantar uma macieira bem no centro do jardim enquanto meu tio perguntava onde ela colocaria as orquídeas que eles encomendaram com a floricultura.

  - Você morreu, garoto.

  Estou em uma sala pequena de paredes cor de vinho e à minha frente há um homem enorme e moreno vestindo terno preto, óculos escuros e segurando um enorme tablet. Atrás dele há uma porta de madeira escura.

  - Alex Jase Teiner, correto? Você morreu em um acidente de carro.

  Eu morri?

  - Esse é seu nome, não é? – Ele arqueia uma sobrancelha.

  - Ahn?

  - Alex Jase Teiner é você?

  - Ah, s-sim. Onde estou?

  - Esse é o DPVEA, Departamento Pós Vida de Encaminhamento de Almas. Você morre e vem para cá, bem simples. Aqui – Ele me estende uma plaqueta de madeira com o número 17062 pintado com tinta preta – Alguém vai te chamar na próxima sala por esse número. Você vai lá, responde algumas perguntas básicas e então vão te dizer o que fazer.

  Ele olha por cima do meu ombro.

  - Agora vamos, passe, não tenho o dia inteiro.

  Ele dá passagem e faz sinal para que eu siga adiante.

  Isso por acaso é algum tipo de brincadeira?

  Depois da porta há uma sala relativamente grande, com cadeiras de estofado cinza-claro e, mais à frente, uma fileira de mesas de escritório com uma pessoa de cada lado. Do outro lado da sala há duas portas similares àquela da sala-cor-de-vinho, com um homem no meio usando terno preto e óculos escuros.

  Sento em uma das cadeiras e olho mais envolta. Até que não há tantas cadeiras ocupadas.

  É realmente aqui que se vem quando morre? Uma sala de espera?

  Nenhum dos meus tios está aqui, então se for verdade devem ter sobrevivido. Mesmo se estiverem vivos não é garantido que estejam bem, mas do mesmo jeito prefiro nunca mais chegar a vê-los a encontrá-los em um lugar como este.

  Como deve estar o motorista do outro carro? Acho que até consigo imaginá-lo passando pela porta de madeira escura, me vendo e dizendo “desculpa ter te matado, cara, não foi a intenção”.

  Eu não me lembro do acidente. Lembro-me de estar no carro com meus tios, mas não de um acidente. Será que isso é mesmo verdade?

  Lágrimas silenciosas brotam em meus olhos, seco-as rapidamente com a manga da camisa, mas logo elas começam a cair sem controle e então estou a soluços, pensando em como devem estar todos.

  Não pode ser real...

  O que será que vai acontecer agora? Eu morri, o que vem depois da morte?

  Parece que ninguém à minha volta está prestando atenção em meu choro, alguns estão com o olhar perdido, outros simplesmente com a cabeça baixa e uma mulher chora escandalosamente do outro lado da sala.

  Mais um número é chamado. Um senhor levanta-se e vai a passos lentos até a mesa conversar com o homem que o chamou.

  Mais pensamentos me bombardeiam. O que acontecerá com cada um nessa sala? Será que é como dizem nas religiões; iremos para um local depois dependendo do que fizemos enquanto vivos ou isso não tem importância nenhuma e vamos todos ao mesmo lugar?

  Da quinta mesa uma mulher de meia idade levanta-se e anda em direção às duas portas, parando em frente ao homem de terno. Eles conversam alguma coisa e ela vai pela porta da esquerda. Ela já é a terceira pessoa que vejo passar pela porta esquerda, então para onde ela leva?

  Fico mais uma meia hora olhando as pessoas ao redor tentando diversas vezes e sem sucesso lembrar-me do tal acidente. Nesse ponto já havia parado de chorar e também passei a acreditar no que o homem de terno me disse no começo.

  Estou morto – Repito a mim mesmo. – Não tem como isso ser uma pegadinha, de jeito nenhum. Ninguém se daria ao trabalho de fazer algo desse tipo para ser só uma pegadinha.

  Depois alguns outros, um número é chamado e demoro um pouco para notar que é o meu. 

  Vou em direção à mesa onde a mulher me chamou. Enquanto ela não consegue tirar os olhos da tela do computador eu não consigo tirar os olhos do excesso de maquiagem que ela usa.

  - Nome – Diz com sua voz estridente.

  - Eh... Alex.

  Ela pigarreia.

  - Nome completo.

  - Alex Jase Teiner.

  - Causa da morte.

  - Acidente de carro, eu acho...

  Ela digita algo no computador, ajeita os óculos que desceram quase até a ponte de seu nariz pontudo e em seguida começa a ler em voz alta.

  - Alex J. Teiner, aqui está sua ficha. Nasceu em 26/05/1997... Morreu com 17 anos em 29/06/2014... Foi abandonado 03/02/1998... morou com os tios pelo resto da vida... Estudou a vida inteira no colégio público Albe III, cursando apenas até metade do segundo semestre do segundo ano do ensino médio... – Suas expressões lendo a tal “ficha” me deixaram ainda mais nervoso. – Aqui diz que tem um assunto pendente – Arqueia a sobrancelha e sobre novamente os óculos de armação fina.

  - C-como assim?

  - Como vou saber? – Pergunta como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. – O sistema oculta para manter a privacidade. Diz aqui que são coisas que você queria dizer ou perguntar a algumas pessoas. Quatro coisas.

  - Ai não diz mais nada? Pra quem eu queria dizer ou o que perguntar?

  - Olha aqui,não se lembra de nada que queria dizer ou falar antes de morrer?

  Nada vem à minha cabeça, por mais que eu pense. Parece aquele tipo de coisa que só chega à sua mente quando não está pensando seriamente sobre aquilo. É tipo quando dizem “Fale sobre você” e você não consegue pensar em nada, como se não conhecesse a si próprio.

  - Não lembro...

  - Você ainda vai ter tempo pra descobrir isso ai.

  Em seguida faz algumas perguntas simples, do tipo “Dia do nascimento?” ou “Idade?”  (mesmo ela tendo murmurado antes ao ler aquela “ficha”) e ainda “Lembra algo do acidente?”. Ao questionar o porquê dessas perguntas ela apenas diz:

  - Protocolo.

  Poucas perguntas depois e algumas outras subidas de óculos e arqueamentos de sobrancelha a mulher fala por fim:

  - Vá para aquelas portas e pegue a da esquerda. Se aquele segurança perguntar, você tem assuntos pendentes.

  Eu ouvi claramente quando ela falou para ir, mas por algum motivo eu continuo parado pensando no que eu precisei tanto fazer pra ter que vir parar em um local como esse após morrer.

  Ela pisca os olhos com cílios falsos e sombra azul em excesso.

  - Ande, garoto, pare de gastar meu tempo.

  De súbito levanto da cadeira, fazendo o som de seus pés metálicos arrastando no piso ecoarem pelo local por um instante.

  - Desculpe.

  Rapidamente levanto e hesitante vou às duas portas, olhando para trás. Já havia outra pessoa encaminhando-se para falar com a mulher com maquiagem exagerada.

  Aproximo-me e o homem de preto ali me pergunta:

  - Reencarnação ou Assunto Pendente?

  - Assunto Pendente.

  Ele indica a porta da esquerda com o polegar.

  Então é isso que a porta esquerda significa, afinal.

  - Siga o corredor e entre na porta com a placa... – Ele checa algo em um tablet parecido com o que o homem da sala cor de vinho tem – 3A. Fale com o homem gordo, baixo e calvo; o nome dele é Estevans. Ele vai ter explicar um pouco melhor a situação.

  Adentro o corredor cinzento, longo e apertado, atento às plaquinhas nas portas.

  - 3A, é aqui...

  A porta da sala 3A é cinza, tal como aquelas que se veem normalmente em escritórios, com aquelas divisórias finas de um material que se assimila ao plástico.

  Bato na porta.

  - Entre!

  Giro a maçaneta e adentro a salinha, deparando-me com um homem baixo, gordo e calvo que bate com a descrição do homem de preto. Ele usa roupa social, está deveras suado e tem rugas como alguém que está na maior parte do tempo sorrindo.

  A sala é pequena, tem um quadro branco, uma mesa, duas cadeiras e uma mesinha menor com copos de plástico, duas garrafas térmicas e uma garrafa d’água de dois litros já quase pela metade.

  - Aceita um copo d’água? Um café?

  Nego com a cabeça.

  - Eu vou pegar um copo d’água pra mim. – Ele vai até a mesinha e pega a garrafa de plástico transparente. – Vamos começar nos apresentando. O meu nome é Estevans, e o seu?

  - Alex.

  Após encher o seu copo aperta minha mão com a sua e tenho que repetir para mim mesmo que o úmido deve da água e não dele.

  - Então, Alex, você sabe o porquê de estar aqui?

  - Mais ou menos...

  - Conte-me o que sabe, então.

  - Me disseram que eu morri em um acidente de carro, mas eu não me lembro de acidente nenhum. Uma mulher com maquiagem estranha e óculos me disse que eu tenho quatro coisas pra falar ou pra perguntar e que por isso eu tenho “assuntos pendentes”.

  - Então você sabe o porquê de estar aqui. Pela descrição você infelizmente deve ter falado com a Susan. Eu sei que não é legal receber essa notícia, garoto, ainda mais quando é dada de forma tão dura quanto é dada aqui, mas acho que não tem jeito fácil de dizer isso. Tem alguma ideia do que queria perguntar ou dizer?

  - Pra falar a verdade, não muita. Só me disseram que são quatro coisas.

  - Desse jeito fica difícil. Normalmente quando é só uma coisa fica registrado para quem é.

  - Como eles sabem meu nome? E onde eu estudava, minha idade, minha família...

  Estevans pega de cima da mesa um lencinho e seca o suor da testa.

  - Quando alguém nasce começa a uma nova ficha aqui. Tudo que acontece com a pessoa vai parar lá e as coisas mais importantes ficam destacadas em negrito pra ficar mais fácil de achar o que precisa. Quando alguém morre aquela ficha recebe a última informação e então não pode adicionar mais nada sobre o alguém ali. Claro que dá pra retirar algo se houver assunto pendente; quando você o resolve ele some da sua ficha e você reencarna, arquivando a ficha para sempre. Ai sim não é mais possível fazer alteração nenhuma. Como no seu caso é mais de um assunto pendente, o número vai diminuindo cada vez que você resolve um. Antigamente não havia computadores aqui, consegue imaginar? Era mil vezes mais complicado verificar a ficha de alguém. Eu também já conheci uma garota com trinta assuntos pendentes. Foi o maior trabalhão, ela demorou quase cinco anos pra completar todos.

  - E como eu vou tratar esse assunto pendente?

  - Então, garoto, você vai ganhar um instrutor para responder às suas perguntas, dizer como você pode resolver esse assunto, te ajudar e tudo o mais. Aquela garota precisou de dois instrutores, mas no seu caso é só um mesmo.

  Ele bota a mão no bolso e tira um cartãozinho.

  - Qualquer coisa vá até esse endereço e a gente conversa. Se tiver algum problema com o instrutor me avise e eu chamarei outro para ficar no lugar dele, mas duvido que aconteça alguma coisa assim, ele é bem legal, confie.

  - Tudo bem, mas eu tenho algumas perguntas...

  - Já sei exatamente qual instrutor chamar, acho que vocês vão se entender bem, ele tinha mais ou menos a sua idade quando morreu. Ele vai te apresentar o lugar e vai te explicar um pouco melhor como as coisas acontecem, já que você vai ficar vivendo aqui mesmo que temporariamente. Você e seu instrutor dividirão o apartamento dele por enquanto.

  - Espera, eu...

  Ele sai apressadamente e me deixa falando sozinho.

  Que sujeito estranho...

  Depois de uns 20 minutos ele entra novamente na sala acompanhado de um garoto alto de cabelos bem vermelhos, olhos castanho-escuros e pele clara, que veste uma camiseta branca, calça jeans preta e tênis branco.

  - Desculpe a demora. Alex, esse é Isaac. Você vai ficar no apartamento dele e ele te ajudará em relação aos seus assuntos pendentes.

  Isaac estende o braço e sorri.

  - Espero nos darmos bem. Eu sou Isaac.

  Aperto sua mão e apresento-me:

  - Eu sou Alex.

  - Vem, vou te mostrar onde fica o meu apartamento.

  Olho para Estevans, mas ele apenas faz um aceno com a mão indicando para eu seguir o garoto de cabelos vermelhos.

  E então saímos da sala e continuamos a andar pelo longo e estreito corredor cinzento.


Notas Finais


Já dá pra saber mais ou menos qual é um desses "assuntos", não é? (cara, que clichê da minha parte, estou decepcionada comigo mesma por fazer isso)
Desculpem a minha falta de criatividade para títulos de capítulos.
Segunda-feira que vem tem o próximo Cap.


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