História Nossa Relação - Hoje não, Sasuke

Ok, não é tão estranho vê-lo no meu corredor. Mais ou menos. São raras as vezes que ele vem aqui, mas ainda assim vem. Mesmo assim, não pude deixar de esbugalhar os olhos em surpresa porque realmente não esperava por isso logo naquele momento.

— O que está fazendo aqui?— perguntei com tom incrédulo. Segurei a toalha em volta do meu corpo para que a mesma permanecesse firme. Sua cara de pouco amigos fazia uma combinação assustadora com o sorriso sem humor.

Ficamos nos encarando por longos segundos. Seus cabelos negros estavam bagunçados como de costume, seu corpo musculoso estava coberto por uma camisa preta por baixo de uma jaqueta também escura.

Quando Sasuke nada respondeu, revirei os olhos e passei por ele. Estava sem paciência e sem tempo para isso. Segui para o quarto que dividia com Ino, constatando que ela não estava no comodo no momento. Atrás de mim, vinha os passos pesados de Sasuke, que me seguiu, mesmo que eu não tenha pedido isso. Virei-me no meio do comodo a tempo de vê-lo fechar a porta e girar o trinco.

Antes, a ideia de estar trancada em um quarto junto com Sasuke Uchiha me enchia de excitação e ansiedade. Para falar a verdade, qualquer garota em sã consciência ficaria empolgada. Mas hoje, o sentimento que me dominou ao vê-lo girar o trinco e virar-se para mim com um sorriso prepotente foi o aborrecimento.

— Quem te deu permissão para entrar aqui?

Sasuke franziu a testa e arqueou uma sobrancelha. Seu olhar me analisou da cabeça aos pés como se tentasse comprovar que eu realmente era eu.

— Aconteceu alguma coisa que eu não estou sabendo, Sakura?— perguntou passivamente.

Quis colocar as mãos na cintura mas tinha que continuar mantendo a toalha seguramente presa ao corpo. Porém, não deixei de lhe lançar um olhar incrédulo.

— Por que está perguntando isso?

Observei atentamente seu maxilar ficar rígido e seus braços se cruzando sob o largo peitoral.

— Você...tem andado estranha, ultimamente.

— Como assim? — perguntei sem conseguir compreender direito sua fala.

— Você sabe do que estou falando. — ele me fitou com olhos cerrados.

Eu logo entendi. Soltei um riso desdenhoso.

— Você realmente se acha muito. Eu te recusei ontem e agora pensa que tem algo de errado comigo.

— Devo estar certo. — ele levantou a voz. — Afinal, quando foi a última vez que você descartou a chance de dormir comigo? Ah, sim, isso nunca aconteceu. — completou sarcasticamente. — Então não me culpe por desconfiar das suas recentes atitudes.

Com um enorme esforço, engoli a irritação e tentei me controlar. Caminhei até minha cama e sentei na beirada do colchão. O quarto era pequeno, mas aconchegante. O criado mudo ficava entre as duas camas e na parede oposta havia um guarda-roupa com portas de correr que eu dividia com Ino. As paredes eram pitadas de um tom leve de rosa.

— Ontem, realmente não dava para encontrar você. — Fixei meus olhos nos deles e sorri com ironia. — Eu também tenho meus compromissos, sabe.

Vi com satisfação seu rosto se contorcer ao perceber que estava usando contra ele a mesma frase que o mesmo certa vez me dissera.

Em seguida, sua face suavizou, me surpreendendo com o sorriso dissimulado que tomou os lábios dele.

— Eu bem que desconfiei que você só estava querendo me dar o troco. Mesmo assim, não é típico de você agir de forma tão infantil.

Fechei a cara e o fuzilei com o olhar.

— Quando é que você vai entender que o mundo não gira ao seu redor? Acredite se quiser, mas minha escolha ontem, não teve nada a ver com você. — declarei. E era a mais pura verdade, ontem minha noite foi totalmente focada em um certo ruivo. Foi por causa dele que não estava disponível para Sasuke. O que até me surpreende, o fato de que eu preferi ficar com Sasori, um garoto que acabei de conhecer. A situação também é inusitada para mim. Mas, de certa forma, me sentia mais leve, mais independente. Como se finalmente tivesse entendido que não preciso de Sasuke como achei que precisava.

— Então, tem a ver com quem?— ele perguntou com tom rude.

O encarei com hesitação. Não sabia bem o que deveria responder. Não era uma opção abrir o jogo com Sasuke sobre Sasori, afinal ainda não havia nada concreto entre eu e o ruivo. Além disso, eu não tenho que dar satisfação alguma para o Uchiha, nada disso é da sua conta.

A melhor saída é ser sarcástica. Inclinei a cabeça e o fitei com a testa franzida.

— Por acaso, você está com ciumes, Sasuke?

O moreno jogou a cabeça para trás e riu com desprezo, de uma forma que me deixou envergonhada.

— Não viaja, garota. — ele esbravejou grosseiramente.

Fechei a cara. Irritada, me levantei e caminhei com passados pesados até o armário.

— O que você quer de mim, Sasuke? — abri a porta do guarda-roupa e comecei a remexer nas peças de roupas, tentando me distrair, evitando olhar para ele. — Tá bravinho porque levou um não na cara ontem? É melhor ir aceitando a ideia de que não estarei disponível sempre que você quiser. Até agora, tudo correu como você queria. Sinto lhe dizer que não será mais assim.

— Posso saber o que causou essa repentina mudança?— escutei ele perguntar.

Parei para pensar. Realmente houve uma mudança nos meus sentimentos sobre Sasuke. Algo quase imperceptível mas eu conseguia notar, conseguia sentir. Vinha lá do fundo, bem do fundo de mim, e posso concluir que está crescendo mais a cada dia. É a revolta. A fadinga. A desesperança. Ressentimento.

 Encarei Sasuke lentamente.

— É que eu estou começando a achar...eu estou começando a entender que isso não é certo.

Sasuke me fitou com seriedade e vi  o brilho em seus olhos ônix cintilarem.

— Você não achou errado antes de me dar.

Cerrei os punhos com uma louca vontade de soca-lo.

— Eu não aguento mais isso! As coisas que você fala... eu to cheia. — gritei em alto tom, fazendo-o arregalar os olhos. — Será que eu não mereço respeito algum, na sua opinião? Quer saber?! Eu não preciso disso, existe um outro alguém que me trata bem melhor. Um “melhor” que talvez eu nem mereça mas mesmo assim eu prefiro ele.

Depois da minha explosão, Sasuke ficou estático sem nada dizer, o semblante indecifrável. Enquanto ele processava o que eu acabara de dizer, juntei umas roupas apressadamente e peguei meu kit maquiagem.

Estava indo em direção a porta quando o senti segurar meu braço com força.

— A onde você vai?  Ainda não terminamos... — disse em tom provocante, seu corpo colando no meu e o halito quente batendo em meu rosto.

 Bufei com aborrecimento.

 — Você ainda não entendeu...

 —Não entendi o quê?

 Ele aproximou seu rosto, os lábios vindo na direção dos meus. Por um instante, quase me perdi. Mas antes de sua boca me tocar, uma rosto veio em minha mente. Virei o rosto.

— Eu não quero você hoje. — declarei, me afastando. Depois do vácuo, Sasuke me encarou com os olhos cerrados e as narinas dilatando de irritação. Mas não me importei com sua frustração. Fui até a porta e abri o trinco.

— Por que está fazendo isso, Sakura?— ele questionou iradamente.

“Porque preciso me arrumar para ir ao encontro de Sasori. Não é você que vai me impedir.” Foi o que pensei, mas em voz alta, eu apenas disse:

— Não é da sua conta.— Respondei antes de sair do quarto e abandona-lo sozinho para me trocar no banheiro.