História Nossa Relação - Novos sentimentos

Quando me aproximei, percebi que a porta já estava aberta. Entrei e aguardei seus olhos pousarem em mim, mas isso não aconteceu pois ele estava dormindo. Sasori cochilava tranquilamente, o peito subia e descia lentamente conforme respirava. O cabelo bagunçado contrastava com o travesseiro branco. A expressão serena em seu rosto quase me fez derreter de deslumbramento. Eu sabia que ele era bonito, mas em nenhuma das vezes que o fitei, sua beleza me encantou tanto. Deve ser porque ele aparenta estar mais saudável, o tratamento intensivo durante o fim de semana parece ter feito bem a ele. Ou porque ele parecia um anjo dormindo.

“ Que diabos estou fazendo?” me xinguei quando percebi que passei tempo demais admirando-o. Resolvi parar de agir como uma boba e me aproximei de seu leito para acordá-lo. A última coisa que queria era interromper seu sono, mas infelizmente era necessário.

 Ainda um pouco hesitante, cutuquei seu braço de leve.

 — Ei, Sasori...— falei suavemente. Seus olhos se abriram devagar, as pálpebras semi-cerradas.— Preciso que acorde. — pedi delicadamente.

— Sakura...— ele sussurrou baixo, fazendo-me estremecer. Ele não parecia totalmente desperto, como me identificou tão rápido?

 De repente ele se sobressaltou, como se tivesse enfim despertando, os olhos esbugalhados me encarando, assustados.

  — Calma, sou eu. Desculpa, não queria assustar você.

  — Não...— coçou os olhos. — Eu devo me desculpar. Acabei pegando no sono. — disse, sua voz estava rouca, mas ao mesmo tempo ele conseguia falar com suavidade.

— Deixa disso. Você não só pode, como deve descansar bastante. Eu sinto muito por ter que interrompe-lo.

— Se é assim, está mais que desculpada. — ele encerrou o que seria uma longa discussão sobre pedidos e mais pedidos de desculpas. Fixou os olhos gentis em mim e sorriu. — Eu jamais ficaria bravo com você.

Sei que minhas bochechas coraram porque logo em seguida o sorriso de Sasori murchou e vi seu rosto inteiro se avermelhar. Tive certeza que ele se lembrou da última vez que nos vimos, assim como eu. Seu constrangimento ficou evidente quando ele abriu a boca mas logo fechou. Sasori estava procurando algo para dizer mas não conseguia.

A fim de acabar com seu embaraço, deixando minha própria vergonha de lado, resolvi mudar de assunto.

 — Você parece melhor.

 — Hmm? Ah, sim. O tratamento está tendo um efeito melhor agora.

 — Que bom, fico feliz.

Comecei a andar pelo quarto, ajeitando os preparativos para a aplicação do antibiótico. A medicação passou a ser injetada diretamente em sua veia, o que era mais trabalhoso, porém trazia resultados melhores. Esterilizei minhas mãos, organizei os equipamentos precisos e o soro.

Enquanto arrumava tudo, ele perguntou como foi meu fim de semana. Recapitulei mentalmente tudo o que aconteceu sábado e domingo. Quando acordei pela manhã na cama de Sasuke, o mesmo havia saído para ir trabalhar. Eu sabia que ,sempre que Sasuke vai para o escritório em pleno sábado, era porque algo urgente precisava ser resolvido na firma de sua familia. Deduzi que ele devia ter recebido uma ligação de seu pai "mandão" enquanto eu ainda dormia.

Acordei e Sasuke não estava mais lá. Fiquei triste por alguns minutos até perceber o bilhete em cima do criado-mudo, com um frasco de comprimidos para a ressaca. Na carta, ele explicou que teve que ir trabalhar e me mandava tomar o remédio. Obedeci, pois era raro Sasuke ser tão atencioso. Geralmente, ele não gostava de se explicar muito.

Fui embora de seu apartamento trancando a porta com a chave reserva que ele deixou para mim. Cheguei em casa e dormi. Tirei os dois dias para relaxar, apenas em casa.

Falei isso para Sasori- tirando a parte sobre o Sasuke- e o mesmo me chamou de sem graça. De brincadeira, resmunguei que era melhor isso do que passar o fim de semana em um hospital. Ele fingiu ficar magoado com minha provocação.

E de repente o clima ficou mais leve, nós dois conversando e trocando provocações. Houve um momento em que eu, com a seringa em mão, ameacei furar sua veia errado, de proposito. Sasori quase chorou de rir.

Durante a aplicação, ficamos em silêncio pois precisava manter a atenção em realmente não furar errado seu braço.

 Quando terminei, disse que ele era um bom menino por não deixar cair nenhuma lágrima. Ele replicou dizendo que merecia uma recompensa por isso. Subitamente, fiquei tensa. Devo ter corado pois Sasori ficou sério.

— Sakura, sobre o que aconteceu semana passada — limpou a garganta, desviando os olhos. — Preciso me desculpar por ter te causado aquele constrangimento.

Forcei um sorriso, mesmo que ele estivesse evitando me olhar.

— Não se preocupe. Eu fiquei até lisonjeada.— ainda bem que ele não estava vendo meu rosto ferver de vergonha.— Isso é natural.

— Não devia ter acontecido. — torceu a boca com certo desdém.

— Mas...

 — Se você puder esquecer, eu ficarei extremamente grato.

Abaixei o olhar, sentindo uma ponta de decepção. Não que eu esperasse que ele admitisse que eu era irresistível e que não conseguiu se controlar. Mas não esperava que ele ficasse tão enojado ao sentir-se excitado por mim. Tem algo de errado comigo?

— Eu esqueço completamente, se é isso que você quer.

Passei todo o resto do expediente me sentindo patética.

♦ 

Os dias da semana foram se passando e uma transformação tomou meu ser. Sasori e eu conversávamos normalmente. Eu ia ao seu quarto duas vezes por dia agora que o tratamento se intensificou. Me peguei sentindo-me feliz todas as vezes que dava o horário de vê-lo. Ele era tão engraçado. E gentil. E bonito.

Comecei a pensar nele várias vezes durante o dia. Sempre que lembrava dele, um sorriso brotava meu rosto. Era involuntário e eu não conseguia evitar. Sem falar que venho sonhando com cabelos rebeldes ruivos.

Achei que estava enlouquecendo. Mas não era isso que estava acontecendo. Seria bem menos complicado se fosse.

Certa noite, deitei a cabeça em meu travesseiro e a imagem de seu rosto apareceu em minha mente assim que fechei os olhos. Suspirei, sentindo uma emoção profunda. Foi então que percebi.

Não sei ao certo quando foi que aconteceu. Não sei qual foi dia. Talvez, foi na primeira vez em que coloquei meus olhos nele. Talvez, foi quando ele perguntou meu nome. Talvez foi depois do episódio embaraçoso. Ou quando o vi dormindo de forma tão linda.

Não sei quando começou, mas desde certo momento, venho gostando de Sasori cada dia mais.

Queria saber qual foi o momento exato que me apaixonei pelo meu paciente.