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História Nosso Futuro - O Eu Verdadeiro


Escrita por: ellebrocca

Capítulo 10 - O Eu Verdadeiro


Capítulo Dez

 

Pov’s Tsunade.

 

São duas da manhã, e estou encarando o teto do meu quarto há mais de meia hora. Meus pais devem estar dormindo, então estarei livre para iniciar meu pedido de resgate. Depois do café da tarde eu e minha família ficamos conversando a tarde toda, como se eu nunca tivesse saído de casa. Eu espero todos irem dormir para ter a certeza de que eu não seria interrompida, pois pretendo invocar Katsuyu. Sinto a presença do meu chakra, então tenho a sensação positiva de que vou conseguir ter mais contato com ela.

Estou sentada em minha cama de casal, com as pernas dobradas, uma posição confortável. Mordo meu polegar e esfrego meu sangue na minha outra mão realizando os selos do jutsu de invocação.

— Kuchiyoce no jutsu.

Bato com a mão de sangue no meu colchão e trago Katsuyu para esse futuro.

— Tsunade-sama! É tão bom revê-la!

— Digo o mesmo. Me desculpe não ter te invocado antes, meu chakra se esgotou rápido por causa do efeito do artefato. Acho que meu corpo sofreu mutações durante a viagem. — Explico para ela.

— Quer dizer que a senhora está fraca?

— Ainda posso usar jutsus, então acredito que só não estou com meu chakra ativo a todo momento. Nada com o que se preocupar. Conseguiu avisar todos sobre mim?

— Sim! Naruto e Sakura estão trabalhando junto de Shikamaru, isso está ocorrendo desde o momento em que a senhora veio para este lugar. Em breve vamos resgata-la do sujeito que a sequestrou.

— Sequestro? Do que está falando?

— A senhora não foi sequestrada? — Katsuyu me pergunta alarmada.

— Claro que não! Eu estou bem.

— Mas... Da outra vez... A senhora parecia assustada, e eu acabei deduzindo que você estava em cativeiro...

— Ah sim, aquele dia. — Coloco a mão em minha testa pela confusão que causei. — As coisas foram interpretadas da maneira errada, eu não fui sequestrada, muito pelo contrário, estou com a minha família.

— Família? Do que a senhora está falando?

Contei tudo para Katsuyu sobre a viagem no tempo e sobre as reencarnações de parentes e inimigos que tive no passado. Ela não conseguiu se pronunciar por vários segundos, imagino o quanto a cabeça dela deve estar processando.

— Então, aquele artefato que o Shikamaru e o Naruto estão estudando é um objeto de viajem no tempo dos Otsutsukis?

— Exato. Sempre achei que viagens no tempo davam acesso somente ao passado, mas parece que há possibilidades de ir para o futuro, que foi o que ocorreu no meu caso. Você precisa dizer isso para os garotos, assim que eles ativarem o artefato poderei retornar para casa.

— A senhora tem certeza de que está bem? Parece aflita. — Katsuyu percebe meu semblante.

— É que aconteceu muitas coisas nesses quatro dias. Estou convivendo com pessoas que amei um dia e depois perdi, e isso me deixou um pouco... Abatida. É uma sensação de saudade muito forte, sabe?

Coloco a mão em meu peito por causa das fisgadas angustiantes que estão me incomodando.

— Entendo. Além da sua família, quem mais está com a senhora?

Eu queria falar para Katsuyu sobre Jiraiya ter reencarnado nesse futuro, mas ela pode contar para o Naruto, e conhecendo aquele garoto ele vai querer vir pra cá e as coisas podem sair do controle.

— Até agora só encontrei meus parentes e o Madara, que inclusive é o meu avô nessa vida. Eu vou manter contato com você sempre que eu puder, por ora, passe todas essas informações para o Shikamaru.

— Claro, vou dizer cada detalhe.

Faço Katsuyu retornar para Konoha, por estar tarde eu estava exausta e precisava dormir um pouco. Eu pretendia dormir até o meio dia, mas acordei com Nawaki pulando na minha cama como se ele fosse uma criança de dez anos logo às oito da manhã.

— Acorda, dorminhoca! Vamos para a piscina!

— Nawaki, sai da minha cama! — O empurro para fora da cama, mas acabo usando a minha força bruta e ele é jogado exageradamente para fora, ficando de cabeça pra baixo com as pernas levantadas na parede. — Por Kami, você está bem?!

Me levanto para socorrê-lo e Nawaki começa a rir.

— Caramba, você praticou artes marciais enquanto esteve em Paris?

— Não, exatamente. — Digo preocupada com o grande hematoma que ficou em seu pescoço por causa da queda. — Eu te machuquei.

— Não foi nada, sempre tive ossos de ferro... AÍ! — Ele exclama de dor assim que tenta se ajeitar.

— Eu já volto.

Vou até a cozinha para pegar gelo e cubro os pequenos blocos cristalinos em um pano para deixar no inchaço de Nawaki, mas eu pretendia fazer outra coisa. O pano com gelo era só um disfarce para meu irmão não ver eu usando ninjutsu médico. Retorno para o meu quarto e peço para Nawaki se sentar na minha cama, e então início o processo. Esfrego o pano em seu hematoma atrás do pescoço, e com cuidado para Nawaki não ver eu concentro meu chakra na minha mão livre e curo a ferida dele em menos de um minuto.

— Como se sente? — Pergunto retirando o pano com gelo de seu pescoço.

— Bem melhor, nem parece que me machuquei. — Nawaki esfrega sua mão em seu pescoço e percebe que não há mais nenhum hematoma. — O que? Cadê o inchaço? Como você fez isso?

— Aprendi alguns truques em Paris. — Respondo com um ar misterioso.

Por minha sorte mamãe aparece no meu quarto usando um maiô preto e com seus cabelos loiros platinados soltos, e ela parecia apressada.

— Ainda estão no quarto? Vistam alguma coisa descente para a piscina e desçam, seu avô preparou o café no jardim. — Ela anuncia.

Nawaki corre até seu quarto para se arrumar e procuro por algo no meu guarda-roupa, que na verdade não é exatamente meu, mas nesse fim de semana tenho meus privilégios. Além das roupas de luxo que ficaram guardadas pela minha reencarnação havia também vários modelos de biquínis e maiôs de grife, mas por ser eu escolhi algo mais simples e charmoso. Coloquei um biquíni azul e envolvi minha cintura com uma canga de praia para não me deixar muito exposta.

A piscina ficava atrás da casa próximo do jardim onde eu e minha família tomamos chás e café ontem à tarde, e Nawaki já estava dando diversas cambalhotas quando cheguei. Madara e Elias estavam sentados nas cadeiras lendo seus livros favoritos, e mais para o centro estava uma pequena mesa de vidro com o café da manhã pronto.

— Por Deus, Tsuna, você colocou silicone?! — Mamãe pego nos meus seios para descobrir se eles eram de verdade, e eu fiquei vermelha como um tomate.

— Mãe! Para com isso! — Me afasto envergonhada.

— Seus seios não eram tão enormes, porque não me disse que havia colocado silicone?

— Eles são naturais, mãe.

— Deixa de ser escandalosa, meu amor. Não está vendo que a Tsu está bastante intimidada? — Papai tenta afastar mamãe de mim, e eu o agradeço mentalmente.

— Não há o porque dela ficar intimidada, estamos só nós aqui. — Mamãe me puxa para a mesa do café e me serve uma xícara. — Me diga, querida, o que está achando do final de semana?

— Está sendo maravilhoso. — Aceito a xícara de café da mamãe e me aqueço com a temperatura quente descendo em minha garganta.

— Você está feliz conosco? — Mamãe parecia indecisa.

— Claro que estou. Por que tem dúvidas disso?

— Acho que você não se lembra ainda, mas na última vez em que você esteve conosco tivemos uma briga feia, e no dia seguinte você havia partido para Paris.

Me lembrei da história que Jiraiya me contou, meu outro eu se desentendeu com ele e também com a própria família. Isso explica o fato de todos terem me recebido com indignação e afeto quando Nawaki me trouxe ontem de manhã, deu para ver o quanto eles ficaram incomodados, mas mesmo assim me receberam com amor e carinho. Eles nunca deixaram de me amar.

— Fiquei sabendo disso... Pelo Madara. — Corrijo para mamãe não me perguntar de quem eu ouvi a história. — Mas seja lá o que eu tenha dito a vocês, não era verdade. Sempre os amei, e não houve nenhum momento em que eu guardei rancor.

Mamãe se emocionou comigo e me abraçou. Ela ficou aliviada, e pude sentir toda a dor que ela guardou se retirando dela, deixando seu corpo e espírito mais leve.

— É bom ter minha filha de volta. — Ela murmura em meu ouvido grata.

Nawaki joga água em nós duas e eu tiro minha canga para pular na piscina e me vingar dele. Nosso dia se resumiu a isso, alegria e diversão. No final da tarde mamãe e papai prepararam uma janta maravilhosa, e eu fiquei na sala aprendendo a usar o celular de Nawaki, e fiquei espantada com o quanto a tecnologia estava avançada. Aprendi a usar o Wi-Fi, a pesquisar no Google e até mesmo ver vídeos aleatórios em um tal de Youtube. Fiquei meia hora mexendo no celular, e agora eu entendo porque as pessoas de hoje em dia são viciadas nesse aparelho, ele é fascinante. Acho que a coisa mais extraordinária que conheci foi o Tiktok, tem tantos vídeos criativos e engraçados que chego a ficar de boca aberta.

— Se divertindo? — Madara senta ao meu lado segurando uma taça de vinho.

— Isso é viciante. — Comento sem desgrudar os olhos do celular de Nawaki.

— Concordo, mas tome cuidado. A internet hoje em dia pode ser perigosa.

— Eu posso pesquisar qualquer coisa na internet?

— Claro, ela foi feita justamente pra isso.

— Querido, me ajude com o bolo? — Elias chama Madara para a cozinha.

— Estou indo.

Madara vai até a cozinha para ajudar meu avô a terminar o bolo que ele havia feito e fico isolada naquela enorme sala perto da lareira, e as vezes fico observando em silêncio meus pais e meus avós na cozinha terminando de organizar o jantar. Mamãe e papai ficavam dançando aleatoriamente pela cozinha e as vezes se beijavam, Madara e Elias ficavam se cutucando entre risos e se abraçavam. Vendo o quanto eles espalhavam o amor me fez lembrar de Jiraiya, e uma grande saudade bateu.

Fico me perguntando o que deve ter acontecido com ele? Jiraiya me viu parar um caminhão com a mão apenas, nós brigamos por causa de seus desenhos que transmitem suas lembranças do passado, e mesmo assim ainda sinto falta dele, mesmo depois do nosso desentendimento. Nossa noite de amor foi maravilhosa, e inesquecível. Eu daria tudo para poder sentir o calor dele outra vez.

Faltava dez minutos para as nove horas, e a campainha de casa soou por toda a sala.

— Eu atendo. — Madara se antecipou e foi até a porta de entrada. Fiquei apreciando a lareira queimado até ouvir a voz da pessoa que veio nos visitar. — Não esperava te ver aqui.

— Nem eu. — Ouço Jiraiya dizer.

Dou um pulo na poltrona ao saber que ele estava aqui, mas mesmo que eu queira falar com ele também estou com medo de encara-lo depois de tudo que ele presenciou. Me aproximo com cautela até o corredor para ouvir a conversa de ambos.

— Quer entrar? — Convida Madara.

— Eu não pretendo demorar, só quero falar com a Tsunade. — Diz Jiraiya.

— Não sei se é uma boa ideia, Jiraiya. Ela está bem próxima da família e está sendo bem tratada. Se ela saber que você está aqui pode causar uma confusão.

— Só preciso de dez minutos com ela. Por favor, é importante.

— Melhor você esperar um pouco...

— Tudo bem, tio. — Saio do meu “esconderijo” pegando Madara e Jiraiya de surpresa. — Dez minutos será um ótimo tempo até o jantar ficar pronto. Termine de ajudar o vovô com o bolo.

Jiraiya me olhava atentamente, como se ele estivesse me estudando. Madara leva seu olhar de Jiraiya até mim e se aproxima do meu ouvido.

— Tem certeza de que está pronta para falar com ele? — Ele sussurra para somente eu ouvir.

— Não. Mas não posso fugir pra sempre. — Murmuro encarando Jiraiya por cima do ombro de Madara.

— Vou estar na cozinha, qualquer coisa me chame.

Madara segue o corredor até desaparecer, deixando somente eu e Jiraiya a sós. Meu coração acelera na medida que me aproximo da porta até ficar cara a cara com ele, em poucos metros de distância de seu corpo. Jiraiya usava uma calça moletom com as bordas sujas de tinta e uma fina camiseta vermelha com um casaco de couro por cima. Seu cabelo estava bagunçado, mesmo estando preso em um rabo de cavalo, e só de analisá-lo consigo ver que ele saiu de seu apartamento às pressas e colocou as primeiras roupas que viu pela frente.

— Oi. — Tento iniciar algum assunto, mas deixo as coisas mais constrangedoras.

— Oi. — Ele devolve meu cumprimento no mesmo tom fraco.

— Foi muita coincidência você aparecer agora, eu estava pensando em você a poucos minutos. — Digo deixando meus sentimentos tomarem controle.

— E eu fiquei pensando em você o fim de semana inteiro.

Meu coração quase salta pela boca com sua declaração, e um misto de ansiedade toma conta do meu corpo, e a vontade que eu tenho é de pular em seus braços, mas me contenho.

— Jiraiya, eu...

Ele enrola seus dedos nos fios de cabelo da minha nuca e me puxa para um beijo ardente e profundo. Automaticamente envolvo seu pescoço com meus braços e o deixo abraçar meu quadril com seu braço livre, e finalmente nossos corpos se unem saciando a vontade que eu tive de sentir o calor dele. Sua língua explora minha boca, me deixando sentir o gosto de pasta de dente e chocolate com menta, só ele para ter esses gostos exóticos. Eu só não entendo como que ele me beijou sendo que há várias perguntas em sua mente em relação a mim, pensei que ele iria me encher com um monte de suas dúvidas, mas não. Ao invés disso, ele apenas desejava me ter.

Sua mão que estava presa em meus cabelos agora desliza para o meu rosto e pousa em meu queixo, e em seguida ele nos afasta com alguns milímetros de distância somente.

— Me desculpe... — Ele arfa com um ar arrependido. — Eu precisava disso para ter a certeza de que você não era fruto da minha imaginação.

— E por que eu seria?

— Porque você não é desse mundo.

Ele descobriu! Me afasto dele para processar o que eu acabei de ouvir, e minhas pernas tremem. Nawaki aparece poucos segundos depois e cumprimente Jiraiya.

— Olha só quem resolveu dar as caras. — Diz Nawaki e Jiraiya devolve o cumprimento de soco.

— Como você está Nawaki? — Pergunta Jiraiya.

— Com fome. A mamãe e o papai estão te chamando, o jantar está pronto. — Informa meu irmão. — Quer jantar com a gente? — Ele convida Jiraiya.

— Acho que não, não fui convidado...

— Para de falar besteira, você já é da família! — Nawaki puxa Jiraiya e nos empurra até a sala de jantar.

A mesa era enorme, todos já estavam sentados, e mamãe se levantou imediatamente quando Jiraiya apareceu comigo e com Nawaki.

— Por céus, é você Jiraiya? Como você cresceu! — Mamãe o abraça.

— É um prazer revê-la, Sra. Senju.

— Sem formalidades, pode me chamar de Masako. — Pede mamãe levando Jiraiya para um lugar da mesa, que por “coincidência” ficava ao lado do meu lugar. — Fico feliz que tenha vindo jantar conosco, sempre há lugar pra mais um.

— Você se tornou um homem entanto, Jiraiya. Seu show foi incrível. — Elogia papai.

— Verdade! Eu vi tudo na TV, e a sua guitarra é fantástica! Onde a comprou? — Pergunta Nawaki.

— Eu ganhei de aniversário. — Responde Jiraiya.

— Fiquei encantada com a sua voz, você cantou muito bem. — Mamãe o elogia servindo-se de um copo de suco.

— Obrigado.

O jantar inteiro meus pais ficaram conversando com Jiraiya, e eu fiquei prestando atenção em silêncio. Descobri que eles o conhecem desde pequeno devido ao Madara que cuidou dele depois que a mãe de Jiraiya foi internada, uma notícia que me deixou chocada. Parece que a última vez que mamãe e papai viram Jiraiya foi quando ele tinha dezesseis anos, depois disso eles apenas ouviam sobre sua história através do meu outro eu por causa da amizade deles.

No final do almoço eu fui para a sacada do meu quarto, precisei pegar um pouco de ar, e a vista de Tokyo me ajudou a ter mais tranquilidade. Escuto passos vindo em minha direção, e nem precisei me virar para saber quem era.

— Vim lhe avisar que a sobremesa está sendo servida. — Jiraiya se junta a mim na sacada.

— Estou cheia, então vou dispensar por ora.

— Seu avô vai ficar louco.

Sorrio para o nada ao imaginar meu avô tendo um ataque simplesmente por eu não querer comer seu bolo de chocolate agora, mas tenho certeza de que Jiraiya não veio aqui só para me avisar da sobremesa.

— Vamos direto ao assunto. O que realmente você veio fazer aqui? — Pergunto me encostando no ferro da sacada para poder encara-ló melhor.

— Eu descobri algumas coisas nesse fim de semana, andei pesquisando. Não tenho a certeza se o que eu descobri é verdade, mas creio que você possa me dizer.

— O que você descobriu?

— Não quero ter esse assunto aqui. Preciso que volte comigo para o apartamento.

— Agora? Mas, a minha família...

— Por favor. — Jiraiya segura em minha mão, e fico assustada em senti-lo tremer. Ele está apavorado com algo, mas está escondendo todos os seus medos dentro de seus olhos. — Volte comigo.

Nawaki entra no meu quarto e já suspeito que ele esteja aqui para me avisar da sobremesa.

— Vocês vão ficar aqui de namorico ou vão comer a sobremesa? Porque se for o contrário eu vou desaparecer com aquele bolo. — Diz Nawaki ansioso para comer a sobremesa inteira.

— Nawaki... — O chamo ainda olhando nos olhos de Jiraiya. — Diga para a mamãe e o papai que estou de saída, e que não vou ficar pra sobremesa.

— O que? Onde você vai?

— Preciso resolver uns assuntos. Mando notícias depois.

— Você que sabe, vou avisar a mamãe. Mas vê se mantém contato.

— Eu prometo.

Preparo algumas roupas que estavam no meu guarda-roupa dentro de uma pequena mala, já que terei que ficar mais alguns dias com Jiraiya. O conduzo até a saída e me despeço da minha família, e tentei ir embora o mais rápido possível, pois meu avô parecia saltar chamas pelas narinas e minha mãe queria encher minha cabeça com perguntas relacionadas a Jiraiya, e já não basta as perguntas que terei que responder dele mesmo.

Jiraiya chama um táxi para nós, e seguimos a viajem em um silêncio desconfortável. O único barulho que quebrou nosso silêncio foi o som de nossos sapatos subindo as escadas de seu apartamento, e por fim, cá estou eu, de volta ao lugar onde tudo começou. Seu apartamento continuava o mesmo, a única diferença era que seu estúdio estava com a porta aberta.

— Venha comigo. — Jiraiya segura na minha mão e me leva até seu estúdio, e ele não disse mais nenhuma palavra depois disso.

Comecei a sentir um frio na barriga. Quando entrei em seu estúdio me deparei com vários desenhos rabiscados no chão, parece que um tornado passou por aqui. Jiraiya havia feito mais pinturas, o que explica sua calça cheia de tinta, ele estava pintando antes de ir me procurar. Seu diário estava aberto em cima da mesa ao lado de um grande livro que não consigo descobrir sobre o tipo de história que ele deve contar. Ele realmente andou pesquisando bastante nesse fim de semana.

— Jiraiya, me conte logo o que aconteceu com você nesse fim de semana?

Ele anda pelo estúdio com as mãos no bolso, analisando seus desenhos atentamente com os olhos, e em seguida ele para no centro da sala e olha para mim extremamente sério.

— Você não é a minha Tsunade. — No momento em que ele diz isso meu coração se parte, mas continuo mantendo minha postura, por mais que eu saiba que nossa conversa será bem complicada. — Eu quero saber quem é você, e de onde veio.

Engulo seco antes de começar a me pronunciar.

— Meu nome é Tsunade Senju, pertenço a uma aldeia do passado chamada Konoha, e vim para Tokyo através de um artefato criado por uma Deusa. Eu sou a princ...

— Princesa das Lesmas e Sannin Lendária. — Completa Jiraiya me fazendo arrepiar-se. — A mulher cujo as habilidades salvou milhares de pessoas durante as primeiras guerras, e que, segundo a lenda foi a primeira mulher a ocupar um cargo no governo como Hokage.

— Então você já sabe. Como descobriu?

— Eu sempre soube, mas tentei ignorar as informações com o decorrer dos anos. — Jiraiya pega um de seus desenhos que estavam no chão e o segura em mãos. — Desde pequeno eu sonho com coisas que eu nunca vi nessa vida, mas eu sentia que eu já vivenciei aquilo. Eu consegui conter os sonhos quando completei vinte anos, mas meus pesadelos retornaram quando você apareceu. De alguma maneira, você influenciou nas minhas lembranças e fez com que eu voltasse a ter os pesadelos outra vez, e a única forma de me conter foi através das pinturas.

— Você disse lembranças? Por que acha que são lembranças?

— Você deveria me dizer, já que tem as respostas. Me diga, Princesa das Lesmas, o que eu sou?

Meus olhos ardem e sinto as lágrimas vindo com força.

— Você é Jiraiya. Meu companheiro de equipe e um dos maiores ninjas que já existiram. Você foi um herói de guerra que se sacrificou para proteger aqueles que amava. — Uma lágrima desce sem piedade em meu rosto.

— Isso não é possível... — Jiraiya estava prestes a chorar também, ele sabe que estou falando a verdade mas não quer admitir. — Prove o que está dizendo. Me prove que você é quem diz ser!

Mordo meu lábio inferior para impedir de mais lágrimas virem à tona e não encontrei outro jeito de mostrá-lo a verdade se não me afetar. Observo o estúdio ao meu redor e vejo uma tesoura de ponta fina em cima da mesa ao lado de um pote de pincéis, e ela é a ferramenta perfeita. Ando até a mesa para pegar o objeto e então rasgo o meu pulso com a tesoura sentindo minha carne sendo aberta e o sangue jorra de minhas veias.

— O que está fazendo?! — Exclama Jiraiya apavorado.

— Você não queria uma prova? Aqui está ela. — Concentro meu ninjutsu médico em minha mão e o uso para curar o corte no meu pulso, e Jiraiya testemunha com seus olhos cada tecido da minha pele se restaurar como se nunca ouvisse qualquer corte.

Jiraiya cai de joelhos devido ao choque pela cena que presenciou e finalmente suas lágrimas deslizam pelas suas bochechas. Me ajoelhei na frente dele e segurei em seu rosto, limpando suas lágrimas com meus polegares.

— Você está bem? — Pergunto aflita por vê-lo angustiando diante de tantas informações.

— Eu devo ter ficado louco... Igual a minha mãe. — Ele suspira entre o choro. — Por que isso está acontecendo comigo?

— Isso é real. — Ergo seu rosto para que ele pudesse olhar nos meus olhos. — Eu sei o quanto isso deve estar sendo difícil pra você, e eu sinto muito ter escondido a verdade. Eu fiquei com medo de mostrar meus dons porque isso não é normal nesse mundo, e o julgamento seria grande.

— A Kyuubi... Os sapos, Konoha... Todos eles são reais?

— Sim, assim como eu e você. Fomos os Sannins que o folclore conta para as crianças hoje em dia. Você morreu e reencarnou, Jiraiya...

— Eu preciso me lembrar... — Ele sussurra com seus olhos fechados para impedir de mais lágrimas saírem. — Por favor, me faça lembrar.

— Tenho medo do que pode acontecer com você se recuperar suas lembranças. É muita coisa para ingerir, Jiraiya, você deve ter tido muitas vidas antes dessa, e isso pode prejudicá-lo...

— Eu vou enlouquecer se as minhas lembranças continuarem bloqueadas. Se for para surtar em saber quem realmente sou, então eu prefiro correr o risco. — Ele abre seus olhos, me permitindo ver seus globos negros brilhando por causa das lágrimas. — Me ajude, Tsunade. Você é a única que pode me fazer lembrar.

Ele disse que eu fui a responsável por seus pesadelos retornarem, sou o único acesso de seu passado. Acho que se eu fundir meu chakra em sua mente talvez isso abra um acesso para suas memórias. Jiraiya ainda tem um pouco de chakra, mesmo esse não sendo poderoso como antigamente, mas já é alguma coisa.

— Eu vou tentar.

Seguro em seu rosto e junto nossas testas, e outra vez Jiraiya fecha seus olhos e nossas respirações se cruzam. Meus dedos sobem até sua cabeça e se prendem em seus fios platinados, e foco em levar todo o meu chakra em minhas mãos. Como as lembranças de Jiraiya estão bloqueadas a etapa é parecida com um Genjutsu, eu preciso fazê-lo “acordar”, e eu tenho o jutsu preparado. Coragem, Tsunade.

— Liberar!

Ao pronunciar o jutsu seguro a cabeça de Jiraiya com força, pois ele começou a tremer e grunhir. Seus olhos continuam fechados, mas estou preocupada, parece que ele está sentindo dor. Fui pega de surpresa quando ele me empurra para trás e em seguida seu corpo começa a se debater no chão, e Jiraiya grita sem parar como se estivesse sendo torturado.

— JIRAIYA! — Tento acorda-lo, mas ele não abre os olhos e continua gritando enquanto se debate no chão.

Começo a chorar desesperada, e me arrependo de ter usado meu chakra para liberar suas memórias. É tudo culpa minha. Jiraiya rola para um lado, depois rola para o outro, com suas mãos na cabeça como se tentasse impedir de alguém tortura-lo e por fim ele para. Sua respiração estava ofegante, seu corpo inteiro relaxou e depois disso o escritório ficou em silêncio total.

— Jiraiya? — Seguro seu rosto, sua expressão estava plena. — Jiraiya, está me ouvindo?... Jiraiya!

Escuto a porta do apartamento se abrir e ouço passos vindo até o estúdio. Quem será que entrou? Madara aparece na minha frente, e não sei se fico apavorada ou aliviada com sua presença.

— Por Deus, o que aconteceu com ele?! — Madara larga uma sacola que trouxe consigo e se ajoelha ao lado de Jiraiya para checar seu pulso.

— Eu... Nós... — Gaguejo descontrolada.

— Ele está bem, só está inconsciente. — Analisa Madara me acalmando. — Vá até a cozinha e molhe um pano na água gelada, o corpo dele está quente demais e precisa de uma temperatura mais fria.

— Certo.

Madara pega Jiraiya em seu colo, com uma certa dificuldade já que ele é um pouco mais másculo do que Madara, mas meu tio consegue se conter e levá-lo para o quarto. Vou até a cozinha como Madara me pediu e pego o primeiro pano que vejo na minha frente e o molho na água gelada da torneira, e em seguida vou direto para o quarto de Jiraiya.

Coloco o pano úmido em sua testa quente, e agora eu preciso esperar até ele acordar.

— O que veio fazer aqui? — Pergunto para o meu tio.

— Eu vim trazer o bolo que seu avô fez, ele insistiu para eu vir aqui. — Madara me mostra a sacola com um pote onde deve estar um grande pedaço do bolo que meu avô fez. — Será que você pode me contar porque vocês dois estavam naquele estúdio, e porque o Jiraiya desmaiou?

— Ele estava me contando sobre a vida dele, estávamos apenas acertando as coisas. Talvez ele tenha tido uma crise de ansiedade por estar desabafando comigo e acabou desmaiando. — Nem mesmo eu acreditei que inventei essa história de última hora, mas ela foi bem convincente.

— Não duvido que esteja dizendo a verdade, o Jiraiya nunca teve coragem para dizer a alguém sobre sua vida, eu fui a única pessoa que ele conseguiu se abrir. — Diz Madara abrindo a gaveta da pequena cômoda ao lado da cama de Jiraiya.

— Espere, não olhe...! — Tento alerta-ló sobre os pacotes abertos de camisinha, mas pareceu que ele não se importou.

— Todo mundo transa, Tsunade. Eu só não espero que uma dessas camisinhas tenham sido usadas em você. — Diz Madara me olhando com uma expressão desconfiada e acabo engolindo seco. Tenho quase certeza que ruborizei e uma gota de suor escorreu na minha testa. — Eu sabia. — Madara pega uma caixa de remédios não usada. — Ele nem tomou os remédios que eu indiquei. Que homem atentado.

— Que pílulas são essas?

— São para controlar a deficiência mental dele. Jiraiya herdou a doença da mãe, e para ele não ser internado e seguir com uma vida normal comecei a dar esses remédios para ele desde a infância. Tenho certeza que os sonhos dele retornaram porque ele parou de tomá-los...

— O Jiraiya não é doente! — Tento defendê-lo.

— Você não o conhece como eu, querida. Ninguém consegue entender o que se passa na cabeça dele, até mesmo eu que fui “pai” e médico particular dele não consegui decifrar seus piores medos, como você vai conseguir entendê-lo se o largou para se casar com um homem violento?

Fico em silêncio. Não posso falar a verdade para Madara, ele não é como Jiraiya. Apenas confirmei com o meu silêncio e Madara entendeu o que eu quis transparecer.

— Depois nós conversamos a respeito disso, melhor deixá-lo descansar. Mande uma mensagem para o seu avô agradecendo pelo bolo, se não ele vai surtar.

— Mando, sim.

Acompanho Madara até a saída e ele me dá um beijo na bochecha como despedida, e espero ele descer um terço da escada para fechar a porta. Ao me virar levo um pequeno susto ao ver Jiraiya em pé no meio da sala, e ele parecia estar sonhando acordado.

— Jiraiya? Você está bem?

 Me aproximo com cautela, tenho medo dele voltar a se debater como antes, mas ao invés disso ele apenas olhou para mim e demonstrou tranquilidade e exaustão. E nada mais conseguiu me fazer arrepiar e sentir um calafrio percorrendo minhas veias assim que ele se pronunciou.

— Eu me lembro de tudo.
 

 

Continua...

 



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