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História Notes (Lésbica) - Desaguar.


Escrita por: Lesbicahfuturista

Capítulo 60 - Desaguar.


Capítulo Sexagésimo.

 

Dias depois.

 

Visto por Eduarda.

 

Passei o dia todo no escritório resolvendo nossas coisas, Carlos e eu tivemos uma reunião logo cedo, depois meu dia foi preenchido com ligações, e-mails, desenhos e projetos. Eu estava ansiosa, parecia estar até tonta, saí por volta das 17:30 do prédio e fui direto para o supermercado, enchi o carrinho e guardei os produtos no carro, Lua, Ícaro e Maria Flor  estavam em casa com Rafaela, Ana e Fernanda, mamãe havia ido embora há dois dias. No caminho de casa coloquei um podcast para ouvir, mas não estava entendendo nada, desliguei o som. Quando entrei com o Jeep no nosso terreno fui recepcionada por Sol e Godoia, peguei algumas sacolas e subi para a cozinha.

 

- Cadê meus bebês? Mamãe chegou. - Gritei e já ouvi o gritinho de Anna Lua lá de cima, ela desceu, agarrou minha cintura, abracei-a e perguntei sobre o seu dia, depois fui pegar mais sacolas no carro e percebi que o portão estava aberto. Me xinguei mentalmente. 

- Sol! Godoia! - Chamei com um grito seguido de um assovio. Na garagem somente Sol apareceu, dei uma corrida para a parte de trás da casa e não vi Godoia. Xinguei baixinho, fugiu, pensei, Maia ficaria para morrer se soubesse de um episódio desses aqui em casa, ela era doida pelo Sol, mas Godoia e ela tinham uma cumplicidade, uma conexão escancarada para quem quisesse ver. Voltei para dentro de casa e chamei a Rafaela.

 

- Rafa, Godoia fugiu, eu vou ter que dar uma volta de carro pra encontrar essa cachorra.

- Sério? Quer que eu vá também?

- Não, só fica de olho na Lua aqui em casa.

- A Doia fugiu, mãe?

- Fugiu, minha filha, mas mamãe vai procurar.

- Pode ir sem pressa. Quer dizer com pressa né, será que ela sabe voltar para a casa? - Rafa.

- Não tenho nem noção, ela nunca fugiu.

 

Fechei o porta malas e em um instante já estava na rua. Olhava atenta para os lados e gritava por ela. Liguei na portaria e avisei ao pessoal sobre seu sumiço, meu medo era dela se embrenhar para alguma parte da mata e não conseguir voltar, minha nuca começou a doer de tensão. Eu já estava passando pela segunda rua abaixo da nossa, quando meu celular começou a tocar, era Otto, pensei em recusar a chamada já que não estava com muito tempo para conversar, mas achei melhor atender e falar isso eu mesma, depois retornava a ligação para ele. 

 

- Oi, Otto, então não estou com muito tempo para falar agora, a Godoia fugiu, a Maia está para chegar, meu Deus a Maia ama essa cachorra.

- Então é que eu vim buscar a Flor para brincar com o Felipe no parquinho e nós achamos o que eu pensei ser a Godoia.

- Ah não brinca comigo Otto, sério mesmo? Onde vocês estão?

- No parquinho mesmo, perto da casa da Flor.

- Eu estou chegando. Obrigada, Otto.

- Por nada, Duda, estamos te esperando.

 

Dirigi até o parquinho e deixei o carro no estacionamento. E lá estavam eles, Otto com as crianças e Godoia. 

- Eu não acredito que ela chegou até aqui, eu deixei o portão aberto por uns 10 minutos. - Cheguei falando.

- O Felipe e a Flor que a reconheceram e chamaram por ela. - Otto.

- Olá, crianças, Otto, nossa muito obrigada por ligar, eu fiquei doida. E vocês dois são muito espertos, graças a vocês ela não está perdida por aí. - Falei para Flor e Felipe.

- Eu imagino. - Otto disse.

- A tia Maia já chegou? - Flor perguntou.

- Ainda não, minha princesa. - Falei segurando Godoia no chão. 

- Eu estou com saudades dela. - Felipe disse.

- Bom, eu também, querido. Quando ela chegar vamos fazer uma festa para comemorarmos, tudo bem?

- Sim! - Os dois disseram juntos.

- Pessoal eu vou lá, vou dar um banho na Lulu e vou pegar a tia Mai no aeroporto mais tarde. Depois vocês dois tratem de ir brincar com a Lua lá em casa.

- Tchau, tia Duda, tchau Godoia. - Flor.

- Tchau Godoia, tchau tia Duda. - Felipe.

- Boa noite, Duda, até mais. Tchau Godoia, estamos indo também, crianças. - Otto. Voltei para casa e lembrei de fechar o portão dessa vez. Guardei o restante das compras e pedi três pizzas, estava sem tempo para cozinhar e pizza sempre era uma boa pedida.

 

She, Harry Styles tocava no carro, eu me mantinha na velocidade de 100 km/h, as pistas estavam vazias devido ao horário, cantava a música no repeat, e várias cenas passavam pela minha cabeça, dei seta para direita e entrei em uma rua, mais uma vez indiquei que entraria para a direita e rodei com o carro um pouco para achar uma vaga, estacionei. Lá estava eu mais uma vez no aeroporto, dessa vez sozinha, dirigi de madrugada para encontrar Maia, ela insistiu que não precisava, que poderia pegar um táxi, mas eu não aguentaria saber que o primeiro lugar que ela estaria quando chegasse ao Brasil seria em um carro qualquer e não nos meus braços. Estava uma noite fria e eu usava cachecol, uma jaqueta North Face com um suéter por baixo, jeans e tênis. Já havia me sentado, lanchado, andado e visto vitrines. Cheguei um pouco mais cedo, esse era meu mal, não conseguia sair no horário para ir em certos lugares, sempre chegava mais cedo, me sentia segura assim, um hábito incorrigível que tenho comigo, às 4 da manhã o telão mostrou que o avião havia pousado, eu estava em pé perto do terminal de desembarque. Estava nervosa, se não fosse pelo tempo frio eu estaria suando mais do que aparentava, tive vontade de tirar a jaqueta, mas fiquei com preguiça de ter de segurá-la. Já eram 4:20 horas e nada, eu encarava meu relógio de pulso de 1 em um segundo, olhava as horas e no mesmo instante já não sabia mais que horas eram. Desviei meu pensamento me sentindo uma daquelas pessoas dos programas de reencontros, sorri com o pensamento bobo. Às 4:26 um cachecol xadrez se destacou diante dos meus olhos, encarei aquele sorriso único em meio a multidão, meu coração parecia querer sair da caixa torácica, era Maia. Corri e abracei-a, pulei em seus braços na verdade, e ela me agarrou, segurei seus cabelos e senti seu cheiro.

 

- Eu não aguentava mais, não aguentaria mais um dia sem te ter comigo. - Maia disse alisando minhas bochechas.

-  Eu, eu, você está aqui. - Falei me confundindo com as palavras.

- Eu estou, mi lobita, com você. - Ela disse e entrelacei nossas mãos.

- Vem vou te levar para nossa casa. - Falei pegando uma mala dela. - Com fome?

- De milkshake e batatinhas vale? - Falou sorrindo.

- Todas as batatinhas e milkshakes do mundo para o meu amor.

- E esse dedo? - Perguntou apontando com a cabeça.

- Bonzinho já. Consigo mexer e fazer ele ter as várias utilidades de um dedo.

- Depois vou ver isso.

 

Andamos pelo aeroporto e chegamos até o estacionamento, destravei o S60 e colocamos as malas no porta malas. 

 

- Quer que eu dirija? Descansei no voo.

- Você nunca descansa no voo de volta, Mai. - Falei dando um tapinha na sua bunda.

- Ah não estou um caquinho, mas também não estou aquela maravilha, só queria dirigir um pouco. 

- Então dirige até no Mc Donald 's, pra casa eu levo o carro. - Entramos no carro e fomos rumo à lanchonete.

 

No banco do carona eu imaginava nós duas subindo para o nosso quarto, entrando para tomar um banho, fodendo loucamente no banheiro, eu lavaria seu cabelo com ela me mordendo, falando sacanagens uma para outra terminando deitadas exaustas e nuas na cama, nosso sexo de pós viagem sempre foi incrível, estava ansiosa por isso. Pousei a mão na sua coxa e ela sorriu.

 

- Eu mal consigo respirar de ansiedade de ver as crianças. - Ela disse mordendo o hambúrguer, estávamos sentadas na mesa.

- Eles estão tão grandes, tão espertos, e temos que olhar a guitarra da Lulu esse mês, a gente estava só te esperando.

- Amanhã mesmo podemos ir. Que cor mesmo ela queria?

- Verdinho piscina. - Falei entre aspas.

- E sua mãe não quis ficar mais?

- Ela disse que queria deixar a casa toda para nós, falei que era besteira, mas sabe como ela é, já tinha colocado na cabeça.

- Eu quero logo uma festa, de preferência com o Edu nela.

- Ele também está que não se aguenta de tanta saudade de você, mas ninguém me supera nesse ranking. - Falei cheirando seu ombro.

- Eu te amo, obrigada por ter me ajudado nessa.

- Não tem pelo o que agradecer, não tem mesmo, carinho.

- Você não quer mesmo um hambúrguer nem para a viagem? 

- Não mesmo, comi te esperando no aeroporto.

- Se sentiu em um episódio de chegadas e partidas? Porque eu me senti. - Falou sorrindo.

- Com toda certeza. - Falei gargalhando. - Pensei em comprar até um balão pra você e investir no personagem.

- Eu ia amar um balão. Então vamos?

- Sim. - Disse pegando em sua mão. Desejamos boa noite para os garotos do caixa e voltamos para o carro. 

Estávamos a cerca de 25 minutos de casa, liguei o carro e manobrei para sairmos do estacionamento, Maia colocou a mão em minha coxa, mas notei depois de uns minutos que ela estava calada, Fade Into You, Mazzy Star tocava no som do carro, olhei para o lado e a peguei cochilando, a madrugada estava calma, eu voltava devagar pela estrada e a melodia da música favorecia o clima para um cochilo, cantei sozinha baixinho e no final me peguei deixando algumas lágrimas caírem do rosto, era uma música bonita. Se eu estivesse sozinha, pareceria a cena de drama perfeita, dirigindo sozinha pela madrugada pensando na garota dos meus sonhos ao som de uma música triste. Chegamos em casa e decidi deixar as malas no carro mesmo.

- Carinho, chegamos. - Falei quatro vezes até que ela despertasse.

- Uai, Du. - Disse confusa.

- Oi, chegamos. Vem, vamos entrar. - Pensei em pegá-la no colo, mas estava sem muito espaço pelo jeito que estacionei. - Bem-vinda de volta ao lar, meu amor.

- É tão bom estar de volta, sentir essa casa. - Falou se sentando na cadeira perto da porta e apoiando a cabeça aos joelhos.

- O que foi? - Falei me abaixando e passando a mão por seus cabelos.

- Nunca me senti tão cansada assim, é como se eu estivesse acumulando esse cansaço por todo esse tempo e agora que voltei ele viesse de uma vez. 

- Vamos subir pra descansar. -  Tive uma instantânea quebra de expectativa ao vê-la desse jeito, pelo visto não seria hoje que iriamos transar até o amanhecer. Levantei seu rosto e encarei suas olheiras profundas, ela parecia exausta. Coloquei minha mão ao redor de sua cintura e subimos as escadas em silêncio e lentamente. Passamos nos quartos das crianças, ela deu um beijo em cada um e seguimos para o nosso quarto.

- Quer que eu lave o cabelo? - Perguntei quando terminei de tirar suas calças.

- Por favor. - Disse com a cabeça em meu ombro. 

A banheira ainda demoraria uns sete minutos para encher, fiz um coque e entrei com ela na ducha, ela escovou os dentes e passou a esponja pelo corpo para se livrar do suor. Entramos na banheira e lavei seu cabelo com ela escorada em meu peito. O cheiro do seu condicionador entrou pelas minhas narinas e isso fez eu me sentir bem. Ela entrelaçou nossas mãos em cima da sua barriga e segundos depois começou a chorar.

- Ei, carinho? - A chamei.

- Eu senti tanta falta disso, eu mal tive tempo de sentir outra coisa, eu me afundei em saudade Du, eu não sabia que precisava tanto estar aqui.

- Eu senti tanto a sua falta, meu amor. - Falei segurando-a firme em meus braços, eu senti tanta a falta dela, mas fui eu quem ficou, ela foi embora sozinha, e Maia detestava estar sozinha, detestava isso desde pequena, eu sabia disso, sabia o quanto era difícil para ela. Me senti de certa forma egoísta por pensar tanto em sexo e associar isso a sua chegada. Ela chorava por alívio, mas também por cansaço, há tempos ela não ficava dessa maneira.

- Não gosto de me sentir assim. De te dar trabalho. - Falou baixinho e engasgado.

- Para com isso, Mai, sou sua esposa se eu não puder te cuidar eu não sei mais o que posso fazer. Você está aqui agora, estou aqui. Fiz uma massagem em suas costas e saímos da banheira, vestimos nossos roupões e nos secamos, peguei o secador e bati em seus cabelos rapidinho.

- Aqui, sem capuz. - Falei entregando o moletom nas suas mãos, dormir com moletom de capuz a incomodava, eu sempre ria dessas manias dela. - Ela me beijou e se deitou calma na cama, peguei nossos cobertores e me deitei ao seu lado, ela escondeu a cabeça no travesseiro fazendo charme, beijei seu pescoço e ela deixou o travesseiro de lado e se aninhou em meu peito, sob a luz de um abajur e escutando o canto do vento do lado de fora de nossa janela eu a vi dormir, estávamos a sós era bom ouvir sua respiração tão próxima de mim. Senti minha camisa úmida na altura do seu rosto e percebi que ela havia babado, achei engraçado, não a tirei da posição, apenas me ajeitei e apaguei a luz gostava do seu peso sobre mim. Uma onda de alívio me bateu só de saber que eu acordaria e a teria na cama comigo, que voltaria a escutá-la cantar sozinha e para as crianças pela casa afora, que aquela cadeira do escritório seria preenchida de novo no final das noites de terça-feira e quinta-feira. Maia era minha amarra e minha liberdade, meu delírio e minha sanidade era a mulher que eu amava era bom amá-la de perto.

 



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