Capítulo Vigésimo Primeiro.
Visto por Maia...
- Você quer alguma coisa? - Renata entra no quarto e me pergunta.
- Morrer e se possível bem rápido.
- Onde você foi mais cedo? - Pergunta, trancando à porta. A encaro por um minuto. - Vai Ma, diz pra mim.
- Eu fui pra casa da Duda e eu estraguei tudo.
- Conta mais.
- Ficamos de boa por horas e horas e no final eu contei o que aconteceu, agora ela me odeia.
- Não odeia não, a Eduarda te ama e você a ama.
- Eu juro, juro que se à Duda não me perdoar, eu vou matar à Alice, eu mato aquela menina, Renata, eu juro.
- Ei, nada de homicídio, mocinha. Posso fazer alguma coisa pra você comer?
- Sem fome.
- Ok, vou fazer mesmo assim.
- Eu vou com você.
Vamos pra cozinha, na sala, Alice e Carlos estão vendo TV. Pego um suco, não estou afim de comer nada. Começo a tossir e espirrar, ganhei um resfriado por andar descalça na chuva.
- Aliceeee, remédios, onde estão?? - Renata grita.
- Vou pegar, é remédio pra que? - Alice diz vindo em nossa direção.
- Tudo. - Renata.
- Eu prefiro morrer do que tomar remédio
dessa aí. - Falo e entro pro quarto.
Visto por Duda...
- O meu amor, vem dormir com mãe hoje, o que você acha? Mamãe ficaria mais calma. - Minha mãe fala depois de um tempo me abraçando.
- Mãe, eu vou chorar à noite inteira, não rola.
- Quem disse que mamãe se importa? Vem comigo.
Me sinto simplesmente quebrada, em pedaços e justamente a pessoa que eu preciso que junte meus cacos é o motivo de eu estar assim.
Levanto-me, minha mãe quase me carrega e eu gosto disso. Qualquer carinho nesse momento é lucro.
Tomo banho no banheiro do quarto dela e já caio na cama.
- Amanhã tem algo importante? - Me pergunta.
- Na escola? Nada.
- Nenhuma prova?
- Nada.
- Fique em casa, se quiser.
- Tudo bem.
Edu chega no quarto, já pulando na cama.
- Mana? Me empresta o celular?
- Pra que você quer meu celular, gente pequena?
- Ligar pra Maia.
Você percebe que o mundo está de sacanagem com a sua cara, quando até seu irmão de quatro anos, tenta te lembrar do acontecido.
- Pra que isso agora? - Pergunto.
- O tênis legal, tá lá na sala.
- Tênis da Maia?
- É, tênis da Maia, por que ela não levou o tênis? A gente precisa ligar pra ela pegar os tênis.
Mas é uma jumenta mesmo, esqueceu os tênis aqui em casa. Tudo isso é a cara dela, os esquecimentos, toda a perda de foco, tudo.
Converso com meu irmão até uma onda de sono me atingir, então fecho os olhos e peço mentalmente que a mesma, traga-me sonhos e leve meus problemas.
Visto por Maia...
Eu simplesmente estou morrendo pelos cantos, não fui pra aula, não conseguiria fazer nada com tantos pensamentos na mente.
Dormi, tomei um banho e agora estou aqui, vegetando na cama, mandei mais de um milhão de mensagens pra Eduarda, liguei dois milhões de vezes e a cada "sua chamada está sendo encaminhada para a caixa postal" é como se eu levasse um tiro, a Duda é muito sensível pra tudo, mas desde que eu me mudei, o que ela tem de sobra é insegurança, agora não consigo parar de pensar que eu a desapontei.
Nesse exato momento, observo a cama que está na minha frente, Renata e sua perfeição até pra arrumar a cama, a garota é extremamente detalhista.
- Meu bem, eu saí você estava nessa cama, eu volto e você está nessa cama? - Renata chega falando.
- Não atendeu, não respondeu mensagem.
- Eita paixão. Calma, dê um tempo pra ela pensar.
- Eu quero sair daqui.
- Quer ir na pizzaria? Eu vou com você.
- Eu quero parar de morar aqui.
- Mai, foi só um beijo que causou uma confusão, calma.
- Ame alguém intensamente, pense nessa pessoa durante todo o dia, agora pense nessa pessoa dando um beijo em outra pessoa. Eu à quebrei, eu me quebrei, junto.
- Eu não consigo amar, você sabe muito bem, não sou de namorar, amo meus amigos e já acho muito.
A encaro. E ela me dá um beijo na testa.
Cinco dias depois...
Visto por Duda...
São quase dezesseis da tarde, enquanto cuido do meu irmão meu celular toca loucamente na cozinha.
Corro e o atendo, sem mesmo ler o registro do contato.
- Diga. - Falo.
- Eduarda?
- Sou eu.
- Eduarda aqui é a Alice, desculpa, eu sei o que você deve estar pensando, mas me escuta.
- Não tenho nada pra falar com você.
- Preciso do número da mãe da Maia.
Ela se tropeça nas palavras, fala rápido demais.
- Pra que precisa disso?
- A Maia pegou um resfriado, e nunca que melhorava, ela faltou todos os dias dessa semana e hoje o meu irmão a encontrou desmaiada na sala.
- Vou te passar o número.
Me passou pela cabeça que talvez elas poderiam estar zoando com minha cara, tipo "a boboca acreditou", "olha que idiota", mas me passou também, o fato de ser verdade. Então passei logo o número. Uma preocupação se aloja em meu peito afinal, eu a amo.
- Eduarda, mais uma coisa, eu sou a errada disso tudo, eu a beijei, eu induz eu também estava bêbada, totalmente chapada, peço perdão, ela sente muito por isso todos os dias, me arrependi, não é culpa dela e não é justo ela pagar por um erro meu, perdão mesmo, foi só um beijo, que ela nunca quis.
- Não quero nada de você, Alice, não quero nem te perdoar.
- Ela chora toda noite e não para, ela não tá comendo direito e fica repetindo coisas como "ela não me responde", "ela não me atende".
- Ela está bem? Agora?
- Acabou de acordar, disse que queria voltar pra casa, por um tempo. Por isso vamos ligar pra Luíza.
Não dou respostas. Apenas continuo na linha.
- Olha, esquece tudo e me escuta, agora, eu posso dormir tranquilo, sabendo das coisas que fiz, já fiz piores, mas dormir tranquilo, não quer dizer que eu me orgulhe, não queira acordar e perceber que o vazio te tomou e que sua alma está carregando muita tristeza pra querer amar.
- Eu a amo tanto, nós nos amamos muito, por quê você fez isso com a gente?
- Fiz porque sou idiota, eu fiz isso, porque não tenho nada a perder, a menina que eu amo, amei, de verdade, morreu na minha frente, sei que não é motivo, não tenho passe livre para sair beijando sua namorada e nem ninguém.
Paro por um segundo, chego a sentir pena, Alice sempre me pareceu um tanto aquela menina perfeita da família perfeita, o espelho da perfeição pode esconder coisas horríveis por trás de um reflexo.
- Eu sinto muito. - Digo.
- Se sente, mesmo, não desiste dela, eu deixo você acabar comigo, o problema sou eu, mas volte falar com ela.
- Ligue para Luíza, avisa ela sobre tudo, eu me resolvo, Alice, nunca pensei que fosse dizer isso, mas obrigada.
- Conversa com a menina.
- Tudo bem, tchau.
- Tchau.
Me sento no sofá e jogo qualquer jogo bobo de corrida no Xbox, com meu irmão.
Mas que dinossauros Maia, tinha que inventar de ficar doente logo agora? À Maia é completamente dodóizinha, ela é mais dengosa que eu, carente que só vendo e quando fica doente, isso multiplica.
Seria mentira eu falasse que não ligo pra ela, que não me preocupo, estamos quase há dois anos juntas.
Acesso o rolo da câmera e encaro uma de nossas primeiras fotos, isso basta para uma sessão de choro.
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