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História Nothing - I Found


Escrita por: myblacktea

Notas do Autor


I Found – Amber Run

Capítulo 5 - I Found


Deitou a cabeça no ombro de Camila no caminho de volta para o hotel e deixou-se ser arrastada pela mão ao caminhar nos corredores.

O ambiente não estava mais tenso como pensou que ficaria, mas o fantasma do medo instintivo ainda fazia as batidas de seu coração mais aceleradas. Estava alerta a qualquer mínimo movimento dos dedos entrelaçados nos seus e teve de respirar fundo algumas vezes para não ter um ataque de ansiedade.

Talvez seja o fato da noite ainda não ter acabado, mas ainda sentia-se mais leve que o normal. Por mais que já não estivesse no estado de espírito planejado, seu reflexo ainda positivo conseguiu evitar toda a carga normal de pensamentos e preocupações a atingindo. Só hoje.

- Você precisa sair mais com a gente. – Camila comentou, procurando o cartão para abrir a porta.

- Falando assim parece que nunca saio. – riu, apoiando o queixo no ombro a sua frente.

- Normani não concorda, mas Dinah tem quase certeza de que, ás vezes, parece... – preparou o território ao abrir a porta. – Parece que você evita a gente.

Lauren estreitou os olhos para o olhar tímido da mais nova, lendo a incerteza em admitir a confidencia.

- E o que você pensa? – perguntou ao invés de simplesmente responder, casualmente soltando o toque da cubana para tirar os sapatos.

- Penso que faz sentido... – foi sincera. – Mas consigo ver o quanto está cansada quando recusa. Por isso acabo não insistindo.

Permaneceu quieta e se aliviou ao perceber o conforto no silencio.

Seu objetivo nunca foi evitar as amigas, mas negar que isso poderia ser uma das conseqüências de suas escolhas – conscientes ou não – seria não admitir uma verdade. E não daria conta de esconder mais uma de si mesmo.

- Queria ter usado meu arquinho novo. – ouviu ao passar a blusa do pijama pela cabeça.

- E porque não usou? – Lauren franziu o cenho, dobrando as roupas na cama.

- Hoje estava planejando ser sexy. – apontou para a saia que ainda vestia.

- E quem disse que não pode ser sexy usando arquinho?

- Lauren – pegou o acessório ainda com a etiqueta. –, tem um laço vermelho com bolinhas brancas.

- E daí? – continuou no mesmo tom, encolhendo os ombros. – Dá pra ser sexy e fofo ao mesmo tempo.

Camila rodou o objeto nos dedos.

- É uma combinação estranha.

- Que pode dar muito certo.

- Ou muito errado.

- Vamos tentar, então. – sugeriu, fechando as portas do armário.

- Ah, não. – bufou, assistindo Lauren se aproximar. – Não começa.

- Temos que tirar a conclusão final. – justificou e Camila não conseguiu não sorrir junto. – Me dá.

Entregou o arquinho para dona dos olhos verdes, que riu da falsa expressão entediada.

Por mais que Camila ainda esteja se acostumando a externalizar esses assuntos que só existiam em sua cabeça – já que nunca viu alguém disposto a discuti-los –, gostava de ter a atenção de Lauren. Gostava de ouvir seus discursos, percebendo que já havia pensado em coisas parecidas, e enxergar a preocupação legitima nos olhos verdes.

Lauren ajeitou o acessório com delicadeza na cabeça da mais nova.

- É – balançou a cabeça. –, foi o que pensei.

- O quê? – a cubana perguntou.

- Deu muito certo.

Sentiu a euforia das borboletas na barriga e precisou fechar a boca entreaberta para impedi-las de fazer o caminho inverso.

Por um momento achou graça do desespero na busca de palavras para traduzir sensações muito maiores que o significado pronto das linguagens, materiais ou abstratas, em sua cabeça. A mistura de frio e quente – que não resultava em nenhuma outra palavra exata – não fazia sentido nas definições da comunicação social, mas a sensação era tão real quanto a contradição física de sentir a boca seca e as palmas suadas.

Sempre, desde pequena, olhou para as meninas de sua escola, sentindo aquela sensação estranha ao observá-las arrumar o cabelo ou cruzar as pernas. Mas isso era intenso demais para sua inexperiência.

Lauren não se moveu. E, lembrando da tensão palpável que sua surpresa de antes a causou, não se moveria.

A lembrança da risada em seu pescoço, os dedos dos seus, as costas em seu peito... tudo a invadiu de uma vez e a palavra certa era embriaguez.

Encaixou seus lábios no inferior de Lauren, sentindo um choque muito maior que aquele no elevador.

Não soube explicar como teve coragem de seguir o impulso, muito menos como conseguiu transformar uma sensação tão violenta no movimento mais gracioso de sua vida.

Não conseguiu descrever a intensidade do toque ao sentir os dedos quentes em seu pescoço e aquele era o sinal para inclinar-se mais para o beijo, quando Lauren abriu a boca.

A combinação de chocolate e sorvete nunca foi tão maravilhosa, misturada a algo que sua falta de experiência não sabia ser gosto de beijo ou de Lauren.

Abraçou o quadril do mesmo jeito que o fez na doceria, gentil e cheio de intenções.

O arrastar de unhas em seu coro cabeludo a distraia da concentração em intercalar seus instintos com a liderança da boca de Lauren, o medo de errar apitando em todos os lugares onde não era tocada.

- Queria ter feito isso a muito tempo. – Camila ouviu-se sussurrar antes de voltar para a boca que já a esperava.

 

Abriu os olhos para a rosto perigosamente próximo, os ombros subindo e descendo no ritmo suave do sono e os cabelos bagunçados.

Perdeu as contas do numero de vezes que acordou precisando se afastar de um dos abraços ou simples toques que a mais nova parecia calcular dormindo, mas aquele não era mais um dia.

Fechou os olhos novamente, na esperança de voltar para o estado de inconsciência, mas sabia ser impossível.

A lembrança do inocente aperto na cintura enquanto os lábios moviam atrapalhadamente contra os seus, a sensação dos finos fios de cabelo entre os dedos ao puxá-la mais perto como se facilitasse a exótica caricia das línguas.

Identificou um murmúrio, ilustrando a ideia do sono inquieto da mais nova e uma mão adentrou suas costas por baixo da blusa larga, a respiração ainda mais perto.

Se a Cabello já não estivesse acordada, acordaria agora com o volume alto do coração batendo no peito de Lauren.

Não tinha ideia do que fazer.

Se ignorasse os beijos e olhares que enfeitaram seu caminho para uma noite tranqüila sem pesadelos, precisaria explicar o motivo a Camila. Se seguisse a vontade instintiva de acordá-la com um bom dia sussurrado entre mais beijos, precisaria explicar o motivo a si mesmo.

- Lern? – o sussurro bateu entre seus olhos.

Poderia correr uma maratona com a onda de ansiedade que lhe invadiu. O ar faltou nos pulmões, mas preferia morrer asfixiada ao ter de enfrentar todos os problemas que a mais nova parecia não ver.

Seu lugar na competição saltou para fazer peso na negatividade mortal que a fazia sentir-se um passarinho carregando uma ancora. Toda a expectativa que a família escondia por trás do discurso compreensivo de “tudo bem perder”, a falta de certeza no futuro, a instabilidade que sua mente não foi feita para comportar mas ninguém notava.

Ninguém notava que estava despencando em si mesmo, quebrando as próprias paredes, chutando o próprio peito e furando os próprios olhos. Como ninguém notava?

Sentiu dedos em seu cabelo e o abraço apertar ainda mais. Seu coração contra o pijama infantil que Camila demorou a admitir ser seu preferido.

A horrível sensação de estar realmente disposta a assoprar a única vela de esperança – que sentia queimar ao estar com Camila – com a desculpa de prezar o próprio bem era tão contraditório que nem o seu cérebro aceitou.

Costumava pensar que a naturalidade trazida por Camila era dolorosa, mas agora percebia que a dor física era só mais uma das programações de sua mente.

Doía. Doía e ardia. Doía mais, ardia e queimava.

- Laur?

Abriu os olhos e o formigamento cessou.

- Hm? – atuou um olhar sonolento e confuso.

- Tudo bem? – pareceu preocupada.

- Sim. – respondeu quase em outra pergunta.

Não pode exigir que leiam sua mente – principalmente quando você mesmo não dá nenhuma brecha para –, por isso ninguém notava.

- É que... parecia tensa ou algo assim. – tentou explicar.

Assistiu o peso da cabeça da Cabello afundar no travesseiro, os olhos pequenos na combinação de sono e preguiça. E o sorriso fraco nos lábios de Lauren foi uma mera conseqüência.

As questões pareciam tão simples, mas as repostas eram tão complexas.

Deixar-se ser levada por Camila era tão fácil quanto se distrair na praia e perceber que a maré lhe afastou de onde pensava ainda estar imóvel, mas seu espírito gelava só de pensar nas justificativas que sua cabeça apontaria.

É só não pensar.

Você fez isso ontem.

Fez isso ontem e hoje a costumeira carga negativa precisava deixar-la morta para conseguir anular o quão bem estava, já que até seu estado neutro era feliz.

A única coisa errada na situação era o medo onipresente insistindo que esse sentimento não é real. Chegava a ser cômico a falta de sentido.

Agora, aceitar e não soltar a mão de Camila tinha um ar confortável de piada interna. De segredo. E não evitou a arrogância branca ao ter certeza de ser confidente do maior segredo da banda.

Nunca foi tão fácil ignorar os questionamentos sobre si mesmo dentro do cenário de brincadeira com que Camila se expressava, as ironias ainda mais engraçadas por serem verdades.

Lauren adotou Camila como um termômetro. Se as palavras da mais nova fizessem muito sentido, seria o sinal de que estava voltando a enlouquecer. Quanto menos coerência, mais fácil. E nunca foi tão fácil ignorar a sensação de que tudo poderia – e provavelmente iria – acabar muito mal.

O estresse do show já não a atingia tanto, até porque Simon sempre frisava os pontos que seguravam os pés no chão.

Sabiam que não iriam ganhar e não estavam realmente surpresas quando seu nome foi chamado na eliminação final.

Percebeu que nada era por acaso, quando se trata de televisão. Tudo é planejado e muito bem conversado antes de ser dito, por mais natural que as falas soem. E, quando Simon declarou publicamente não ser o fim, acreditou, porque já havia aceitado – assim como todas as meninas – o convite de começar uma carreira independente do resultado final.

- Esse programa tem um bom histórico de “terceiros lugares”. – Camila comentou como se precisasse consolar o grupo de uma derrota não existente. 


Notas Finais




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