História Nothing Less - Byun Baekhyun - Capítulo 1

Baekhyun 

O bolo de aniversário de Rosé está nas minhas mãos, pronto para ser levado lá para baixo. S/n está de pé ao lado da porta, acenando em despedida para suas amigas. Fico observando quando S/n enfia as meias com estampa de pizza em um par de tênis branco. 

"Está pronta?" Coloco o bolo sobre a mesinha vermelha da entrada, e ela assente com a cabeça.

Ela está bem silenciosa desde a nossa conversa no banheiro, e não sei bem como puxar papo. Concordei que não tentaria dar um jeito nela, que não insistiria em descobrir seus segredos ou ajudá-la a lidar com sua bagagem emocional. Ela me avisou várias vezes que não vai fazer bem para mim, que não pode ser o que eu preciso que seja.

Como pode ser, se eu nem tenho ideia do que preciso?

Só sei que gosto da companhia dela e quero conhecê-la melhor. Por mim, tudo bem ir devagar; os melhores presentes, em geral, são os que costumam levar mais tempo para ser desembrulhados.

Pego o bolo, vou até o elevador e aperto o botão em silêncio. O barulho do mecanismo impulsionando a cabine para cima é o único ruído no corredor.

Quando entramos, S/n se afasta o máximo possível dentro do elevador pequeno. Eu lhe dou espaço e tento não retribuir seu olhar quando ela se vira na minha direção. Consigo sentir seus olhos em mim, mas dá para ver que hoje S/n está a fim de conversa.

Sinto os braços vazios, apesar de estar carregando um bolo, como se estivesse faltando alguma coisa neles. S/n, talvez? A cada segundo com ela, me sinto menos no controle do meu próprio corpo.

S/n leva os dedos à ponta da trança nos cabelos, e nossos olhares se cruzam. O elevador não se moveu desde que entramos. Não sei há quanto tempo estamos aqui; talvez alguns minutos, não é possível que tenham se passado apenas uns poucos segundos.

Seus olhos permanecem fixos nos meus, me analisando, tentando descobrir alguma coisa.

Não sou eu que sou cheio de segredos, sinto vontade de dizer.

Penso em Taeyeon e no tempo que passamos juntos ontem à noite. Penso na vergonha e na culpa que senti quando não consegui... comparecer. Penso em como me senti quando encontrei o banheiro vazio e descobri que minha ex tinha ido embora pela escada de incêndio. Isso foi ontem mesmo, e aqui estou eu com S/n, querendo mais proximidade com ela.

Acho que tenho meus segredos também.

"Isso não funciona não?", S/n pergunta, e por um momento entro em pânico, achando que ela está falando do meu pau.

Quando percebo que está falando do elevador, sinto vontade de rir.

"Sei lá." Aperto mais uma vez o botão do térreo. Em resposta, o elevador apita, e a porta se abre e depois se fecha. A cabine começa a se mover, e eu encolho os ombros. Será que me esqueci de acionar o botão? Não sei.

Quando chegamos lá embaixo, espero S/n sair do elevador primeiro. Seu cotovelo roça meu braço, e chego mais para o lado, para abrir espaço. Minha pele está quente, e desejo por um momento ser capaz de viver em uma outra realidade. Uma dimensão em que eu posso tocar em S/n, abraça-lá. Nesse mundo, S/n confiaria em mim, e conpartilharia comigo coisas que ninguém mais poderia ver. Ela poderia rir sem hesitação, e não tentaria se esconder.

A cada passo silencioso dentro do meu prédio, esse mundo imaginário se desfaz mais um pouco.

"Não comprei mais nenhum presente pra Rosé", lembro em voz alta.

S/N se vira e diminui o passo até eu alcançá-la. "Tenho certeza de que esse bolo feito em casa e a sua lembrança já são suficientes." Ela respira fundo. "Eu adoraria um presente assim." Em seguida, ela continua andando.

Quando S/n diz essas coisas, fico ainda mais confuso.

"Mas você não gosta de aniversários, né?", pergunto, na esperança de obter alguma explicação, apesar de não alimentar expectativas quanto a isso. O aniversário de S/n é na semana que vem, mas ela me obrigou a prometer que não faria nada para marcar a data.

Ela anda me obrigando a prometer um monte de coisas ultimamente. Só a conheço há algumas semanas, e já fiz promessas demais.

"Não." S/n abre a porta do prédio e a mantém aberta para permitir minha passagem.

Em vez de perguntar o motivo, decido falar sobre a minha lembrança de aniversário favorita. "Quando eu era mais novo, minha mãe sempre fazia o maior carnaval quando chegava meu aniversário. A semana inteira era de comemoração. Ela preparava meus pratos favoritos, e me deixava dormir tarde todas as noites."

S/n me dá uma encarada.

Estamos quase na porta da loja. Um casal passa de mãos dadas, o que me deixa com vontade de saber se S/n já teve um relacionamento sério. O fato de eu não saber nada sobre essa mulher me deixa maluco. Ela tem vinte e cinco anos. Em algum momento, deve ter namorado.

"Ela fazia uns cupcakes assados em casquinhas de sorvete e levava lá pra escola. Achava que com isso as outras crianças iriam gostar de mim, mas em vez disso só me zoavam ainda mais." Eu me lembro do primeiro ano do ensino médio, quando ninguém nem encostou nos bolinhos confeitados que ela fez.

Ninguém a não ser Taeyeon e Chen. Nós três comemos o máximo de bolinhos que conseguimos no caminho para casa, para minha mãe pensar que todo mundo na sala tinha adorado o presente e comemorado meu aniversário comigo.

Quando chegamos ao nosso quarteirão, só tinham sobrado cinco. Acabamos deixando os restantes em um toco de árvore perto da entrada do Ponto, um terreno arborizado que servia de abrigo para viciados em drogas e pessoas sem sorte na vida — com o estômago sempre vazio, assim como suas vidas —, e preferimos pensar que alimentamos pelo menos cinco dessas pessoas naquela noite.

"Eu teria comido um." O olhar de S/n está distante. Ela não explica o motivo para detestar o próprio aniversário, e nem espero que faça isso. Não foi por essa razão que compartilhei essa história do meu passado.

S/n abre a porta da loja, e a sineta toca. Eu a sigo lá para dentro, e abro um sorriso quando Rosé olha para nós, vê o bolo e faz força para não sorrir também.