História Nothing Without You - This is what makes us girls

O local deveria estar completamente vazio se não fossem os dois corpos unidos sob a arquibancada do centro esportivo do colégio Middletown. 

Aquele já se tornara um dos lugares favoritos do casal recém-formado que encontrava-se ali sempre que havia alguma aula considerada desinteressante por uma das partes. 

Daquela vez, fora o rapaz quem havia insistido, quase implorado, para que a garota cedesse ao seu desejo que deveria ser realizado naquele instante. Para Noah Thompson, aquele relacionamento - o qual já durava cerca de três meses - girava em torno de si mesmo e esse era um fato que ficava cada vez mais óbvio para Angeline Moore, a qual rezava por uma oportunidade de livrar-se do garoto que um dia já fora seu melhor amigo. 

Porém, lá estava ela, mais uma vez dando prazer aquele que muitas vezes a tratara como um objeto. Angeline jogava os cabelos ruivos para trás, fazendo-os roçarem em sua cintura ao fazer isso, simulando mais um orgasmo - o que, infelizmente, tornara-se um hábito quando se tratava de Noah. O garoto sob ela logo rendeu-se à sensação de êxtase que o dominara, segurando a garota pela cintura e tirando-a de cima de si, ajeitando apressadamente a calça jeans assim que conseguira alcançar seu ápice. Angeline, por outro lado, permanecera sentada sobre a grama durante alguns segundos, perguntando-se quando se permitira envolver-se com alguém tão frígido. Ou melhor, quando Noah tornara-se tão indiferente?!

- É melhor se vestir logo, - ele disse, tirando a ruiva de seus pensamentos - a última coisa que queremos é que nos descubram aqui, não é? 

   - Sim... - ela hesitou um pouco, arrumando a saia xadrez que havia sido levantada até a cintura e a roupa íntima que fora apenas posta de lado - Você tem razão. 
     A garota levantou-se sozinha, abotoando a camisa branca e ajeitando o cabelo o máximo que pôde. Pela primeira vez, sentia-se enojada pelo que acabara de fazer. Nos primeiros meses, tudo era ótimo, aqueles pequenos momentos eram verdadeiramente prazerosos, mas algo havia mudado. Noah havia mudado e passara a tratá-la como uma garota qualquer, cuja única serventia era o sexo descompromissado sempre que ele desejasse. 
   - Acho que já vou indo, preciso encontrar a June... - ela murmurou, apanhando a mochila azul que fora jogada no chão e colocando-a sobre o ombro direito. 

   - Espera, nos veremos hoje na festa do seu pai? - ele perguntou, também levantando-se, abotoando a calça. 
    A garota apenas fez que sim com a cabeça, logo dando as costas para o namorado: 
   - Ótimo, chegarei lá por volta das 21h. - ele disse, recebendo de Angeline apenas um pouco mais de seu silêncio desconcertante. 
    Ela apenas deixou o local sem dizer uma única palavra, arrumando-se o máximo que  podia. Há apenas alguns meses antes, aquele era o lugar favorito do casal. Correr até o campo de futebol americano e esconder-se sob as arquibancadas de madeira fazia com que uma adrenalina de pura excitação corresse em suas veias, mas agora nada daquilo parecia fazer sentido para ela. O simples fato de estar com Noah a machucava, pois ela sabia que os sentimentos que já cultivara pelo rapaz haviam morrido e foram tristemente substituídos por pena e compaixão. 
   No entanto, Angeline agora sabia o que deveria fazer, estava mais claro do que jamais estivera: terminar com Noah - por mais difícil que pudesse lhe parecer naquele instante - seria a atitude mais sensata que poderia tomar. Não poderia sequer cogitar a possibilidade de permanecer com um rapaz que a trata como objeto de puro prazer sexual. Seria deprimente demais. 
       A garota foi até o banheiro feminino, onde deveria encontrar June Thompson, sua melhor amiga e, infelizmente, irmã mais nova de Noah. Deveria esperar até o sinal tocar e todas as outras turmas serem liberadas. 
   Felizmente, a ruiva não esperara tanto tempo assim, em questão de poucos minutos - o suficiente apenas para ela ir até o espelho e retocar o batom vermelho que sempre usava - o som estridente fora anunciado e junto com ele o som dos passos dos estudantes apressados para ir embora. 
    Algumas garotas entraram e saíram do banheiro e nenhuma delas era June. Enquanto Angeline arrumava-se em frente ao espelho, a ideia de que sua amiga havia esquecido de seu compromisso aumentava cada vez mais em seus pensamentos. Ela já tinha colocado a mochila novamente no ombro direito e estava pronta para ir embora quando sua melhor amiga surgiu apressada na porta do banheiro, sorrindo para ela enquanto arrumava o cabelo loiro curto. 
   - Angeline, desculpa a demora! - ela parecia sem fôlego, suas bochechas estavam vermelhas e sua fala estava mais pesada - Tentei vir assim que pude, mas... 

  - O Sr. Cole quis conversar com você... como sempre. - a ruiva riu, já sabendo a típica desculpa que sua amiga sempre usava. 

   - É sério, aquele cara deve me amar! - a loira riu, jogando a mochila sobre a pia e olhando-se no espelho para corrigir algum defeito em sua maquiagem. 
       Angeline riu enquanto observava a amiga ajeitar-se de uma maneira desengonçada graças aos seus óculos. Elas eram melhores amigas desde que podia se lembrar, conheciam-se desde os 7 anos e, desde então, estudavam juntas. Na verdade, faziam tudo juntas, principalmente quando o assunto era arranjar confusão. 
  - Então, como andam as coisas com o Noah? - June perguntou, ainda encarando o próprio reflexo no espelho. 
   A ruiva respirou fundo, olhando em qualquer direção que evitasse o olhar curioso de sua melhor amiga. Não queria falar sobre isso naquele momento, não enquanto ainda não tinha certeza de como agiria sobre isso. 
 - Já trouxe sua roupa para a festa? - ela tentou mudar de assunto, sorrindo fracamente para a garota em sua frente. 

 - Sim, está na minha mochila, mas por que você está evitando esse assunto? - dessa vez, a loira virou-se para encarar Angeline - O que o idiota do meu irmão fez? 

 - Vamos falar sobre isso no caminho até minha casa? - perguntou, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha como sempre fazia quando ficava nervosa. 

   - Claro, vamos nessa! 
      As duas saíram rapidamente em direção à saída da escola, evitando qualquer colega de sala que pudesse atrasá-las, não demorando muito para já estarem no caminho para a mansão dos Moore, onde aconteceria a festa da família de Angeline. 
  - Por que diabos você dispensou o motorista mesmo? - June perguntou, visivelmente cansada com o trajeto que as duas faziam a pé - Sempre soube que você era masoquista, mas não a esse ponto. 

  - Não é tão longe assim, June. 
  Angeline estava terrivelmente calada, falando nada mais que o necessário, não sabia o que dizer sobre Noah. Temia que qualquer palavra, por mais verdadeira que fosse, pudesse colocar sua amizade com June em risco. 
  - Bem, o que aconteceu entre você e o Noah? - vendo o silêncio e o desconforto de sua melhor amiga, a loira continuou - Angeline, pode confiar em mim! Sei que ele é meu irmão, mas posso reconhecer que ele é um completo idiota. 

  - Sério? Foi você quem mais apoiou o começo desse namoro, quase enlouqueceu quando tentei terminar com ele uns meses atrás... 
       A garota podia lembrar-se perfeitamente do ocorrido. Ela contara para a melhor amiga que pretendia terminar o namoro com o garoto e, como resposta, teve uma June desesperada e a beira de um ataque de nervos implorando para que ela repensasse sua decisão. 
 - Sei disso, sei disso... - June levantou as mãos em sinal de rendição, respirando fundo logo em seguida - E peço perdão por isso. Reconheço que eu errei me metendo no relacionamento de vocês e admito que passei a observar vocês dois desde então. Você tinha razão quando decidiu terminar com ele, Noah é um tremendo babaca. 

 - E você só notou isso agora? - Angeline brincou, sorrindo para a amiga como se tentasse tranquilizá-la. 

  - Sim, e me desculpe se é tarde demais. Sinto que a obriguei a continuar nesse relacionamento e nem sei se isso a faz feliz... 
    A ruiva sorriu com sinceridade pela primeira vez em muito tempo. Agora que possuía o apoio de June mais uma vez, sabia que poderia fazer o que tanto desejava, sabia que teria alguém para abraçá-la e que depois faria tudo parecer melhor: 
  - É ótimo saber isso, porque - ela fez uma pequena pausa, olhando para os próprios pés e depois para a melhor amiga novamente - eu decidi terminar com o Noah esta noite.