História Nova vida - Agora é um adeus - Part 2

Pedi um carro que chegou logo em seguida. Não vi ninguém antes de sair, eles devem estar arrumando suas coisas.

Chegando ao meu destino o motorista fala – Sinceramente, quase não aceitei a corrida quando vi que era no Cemitério Goulart Family.

- Por que?

- Normalmente jovens gostam de fazer trotes quando se trata de cemitérios, e ainda mais esse horário.

- Quem dera que fosse um trote – Paguei o motorista e saí.

Havia um casal de idosos vendendo flores na entrada, comprei dois buquês de rosas brancas. Chegando em suas lápides vi minha avó, chorando sobre o tumulto de minha mãe, se é difícil para eu que sou filha que irá para ela que é mãe. Ela me olhou como se tivesse visto um fantasma, e em seguida vi uma lágrima escorrer, ela se aproximou.

- Você se parece tanto com ela quando era mais novo – Disse acariciando meu rosto com carinho – E tem os olhos do seu pai, apesar desse seu jeito de olhar ser como o da sua mãe, ela era tão bonita e jovem.

- ...ela era.

- Eu vou te deixar sozinha para se despedir.

Ela se foi, não consegui dizer uma palavra de consolo para conforta-la.

Me aproximei para colocar os buquês em lápides – Mãe, como pode ver eu cortei o cabelo, espero que esteja feliz, o papai deve estar feliz. Pai o senhor gosta que eu aprenda coisas novas, recentemente quase aprendi a cozinhar, na verdade eu só cortei uns temperos, mas deve contar, certo? E aprendi um pouco sobre rosa branca, sabia que ela é uma híbrida e tem uma origem desconhecida, e ela significa pureza e inocência, era colocada nos túmulos de mulheres que morriam virgens por não terem malícia. Contudo esse não é o único significado ela também quer dizer charme, jovialidade e humildade, ela me lembra vocês espero que gostem.

Eu respirei fundo e não consegui conter minha lágrimas, eu sinto tanto a falta de vocês – E-eu queria me desculpar por não ter coragem de ficar sozinha, sei que vocês queriam que eu fosse forte e independente, mas não estou pronta e espero que entendam, e por favor me perdoem pelo que eu fiz depois que se foram, prometo que numa mais vou tirar notas ruins, e vou dar duro como sempre para que vocês voltem a ter orgulho de mim – Não consegui mais conter minhas lágrimas e fiquei chorando até minha avó me abraçar bem forte.

- Vai ficar tudo bem, eu estou aqui! – Nunca pensei que minha avó me consolaria desse jeito. Quando eu finalmente terminei de chorar, minha avó pegou um lenço do bolso de seu casaco para secar minhas lágrimas – Seus pais sempre tiveram orgulho de quem você é, e eu também, se eu tivesse cuidado de você na época...

Ela me tirou do cemitério assim que me acalmei, me levou para um restaurante e fez o pedido por nós duas, o garçom logo serviu os pratos e o vinho.

- A sua mãe reagiu a perda do seu avô quase da mesma forma que você, ela tinha acabado de entrar na faculdade e começou a se destruir, se negava a dizer que estava mal mesmo quando era tão transparente nos seus olhos, ela não chorava ou sorria, acabou transformando sua dor em raiva.

- Como ela voltou a si?

- Ela conheceu o seu pai, e achei que ela ia explodir de tanto chorar...

- Chorar? Eu não entendi.

- Chorar, você só supera a perda, vivendo ela, seu pai ajudou ela a superar e com o tempo se apaixonaram um pelo outro.

- Eles eram incríveis, espero conhecer alguém como o meu pai, que me ajude e me apoie.

- Você vai...

Terminamos de comer, minha avó pediu a conta.

- Eu quero te dizer é que vou melhorar, vou tentar ser menos rígida para te proteger.

- O que quer dizer com isso?

- Quero que more comigo, sua tia sempre gostou muito de você, mas ela vai se casar em breve e vai precisar de privacidade.

Uma pena que são noivos de mentira, mas eu não posso contar isso, se bem que é provável que ele peça a mão dela mais cedo ou mais tarde.

- Não precisa, eu quero ficar com a minha tia, se ela quiser privacidade ou parecer incomodada, eu saio – Me levantei.

Minha avó puxou minha mão – Eu não quis dizer que você vai incomodar, quero que você more comigo, posso até me mudar pra sua casa e você pode voltar para sua vida antiga com os seus amigos.

- Eu agradeço sua oferta, mas não tenho interesse em voltar para minha vida antiga, a pessoa que eu era não é quem sou agora – Soltei sua mão.

- Não vá, por favor se sente, você não quer ficar por aqui, não tem problema, quero fazer parte da sua vida e vou comprar uma casa perto do apartamento da sua tia, se sinta a vontade para me visitar e eu vou lhe visitar pelo menos três vezes na semana.

- Por que? Eu não entendo.

- O que você não entende?

- Por que agora? E antes? A senhora não aguentava passar um segundo perto de mim, e agora quer fazer parte da minha vida?

- Eu não sei como desculpar minhas ações naquela época, eu achei que queria ser como eu, então sempre fui intensa sem considerar sua cidade, você era tão sozinha e sempre encarava tudo, tinha mais força de vontade que todas as alunas que eu já tive, eu vi tanto potencial...

- Aí eu desisti, e aí você ficou decepcionada comigo.

- Eu não entendia o motivo, até que seu pai falou que eu estava sendo dura demais com você, sobre o tanto de pressão que o seu corpo sofria, e então me senti péssima. Não levei em consideração que você era apenas uma criança o que sentia, não por estar decepcionada com você e sim comigo!

- Por que não falou comigo?

- Eu tinha vergonha e nem sabia como me desculpar...

- Eu sempre pensei que você me achava fraca ou decepcionante.

- Quando eu soube do estado que seu corpo se encontrava, não teria pegado tão pesado, eu fiquei com tanta vergonha do que eu fiz que nem conseguia encarar sua mãe, seu pai e você.

- Eu nunca guardei mágoa daquela época, mas isso não explica o motivo de você ter sido tão rígida quando ficou lá na casa titia.

- Falando sério, você realmente precisa arrumar essa coluna, sua mãe e sua tia sempre tiveram à postura perfeita e eu sou o motivo disso, sobre as suas roupas, você sempre se vestiu bem, mas do nada começou a se vestir como se estivesse sem vida, sinceramente te fiz um favor.

- Minha postura não é tão ruim, e eu não me visto tão mal!

- Você terá problemas na coluna se continuar se curvando desse jeito, e hoje em especial você está muito bonita e bem arrumada.

Ela pagou a conta e se ofereceu para me levar em casa, onde já estavam todos me esperando com suas coisas arrumadas. Minha avó se apresentou para os meus amigos e até tentei ser simpática.

Logo a tia Martha chegou e arrumou as coisas que eu resolvi levar dos meus pais, a titia insistiu que eu fosse junto com eles, mas eu não podia ir ainda. Porque eu ainda não vive o luto como deveria.