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História Nove Meses - Invisible String


Escrita por: julietamlx

Capítulo 56 - Invisible String


Fanfic / Fanfiction Nove Meses - Invisible String

Camilo fechou os olhos e assoprou as três velas brancas que haviam sido colocadas sobre o bolo enfeitado. Julieta, que o observava sendo amparado por Aurélio para que alcançasse a mesa, sorriu quando o filho exclamou:

- O que devo pedir?

- O que você quiser – Aurélio disse.

- Quero uma bola nova – Camilo gritou, soltando-se do colo de Aurélio e pulando no chão, em busca do brinquedo que agarrou com as duas mãos, correndo com ele pela sala.

Julieta riu e balançou a cabeça, enquanto Aurélio cortava uma fatia de bolo.

- Parece delicioso – Ema comentou.

- Espero mesmo que esteja – Julieta disse, rindo e estendendo um prato para a menina, que o passou para o rapaz que parecia acanhado ao seu lado.

Julieta, entendendo que o olhar de Aurélio o amedrontava, enviou ao marido um suspiro de reprovação, que ele ignorou.

- Três anos – Ema exclamou. – Dá para acreditar que Camilo está completando três anos? Parece que foi ontem que ele chegou nessa casa. Era tão pequeno... Hoje já reclama se tento pegá-lo no colo.

O rapaz sorriu, encantado com o discurso. Julieta, que tentava contornar o comportamento ríspido de Aurélio, aproximou-se.

- É muito bom finalmente conhecê-lo, Ernesto. Ema fala tanto em você.

Ema corou, mas sorriu.

- Ernesto é um companheiro de trabalho muito dedicado.

- Não duvido – Julieta replicou, carinhosa.

- Eu fico contente de finalmente conhecer a família de Ema – Ernesto disse. – Ela também fala muito de vocês.

Aurélio estava silencioso, tinha um semblante sério e não fazia questão de participar da conversa, apesar do olhar reprovador de Julieta e o de súplica de Ema.

- Vocês têm um belo sítio – Ernesto continuou. – Ema disse que o senhor cria cavalos aqui. Vi um belo potro no estábulo.

Aurélio deu de ombros e não respondeu. Sem graça, Ema encarou Julieta, como quem pede socorro.

- Aurélio começou a criá-los faz pouco mais de um ano – ela disse. – Tem sido um negócio rentável... E, além do mais, temos verdadeira adoração por esses animais.

- Consigo imaginar – Ernesto respondeu.

Constrangida com o silêncio do pai, Ema tentou sorrir, enquanto servia ao amigo outro pedaço de bolo. Julieta, com um suspiro, balançou a cabeça, e forçou um sorriso ao voltar a encarar os dois jovens.

- Bem, peço licença a vocês – ela disse. – Fiquem à vontade. Ema, sirva-o com mais bolo.

Ema assentiu e suspirou ao vê-la pegando Aurélio pela mão com firmeza e caminhando com ele até o quarto.

Ao fechar a porta atrás de si, Julieta o encarou, furiosa.

- O que há com você, Aurélio? – ela perguntou.

Ele deu de ombros e se fez de desentendido.

- Não sei do que você está falando.

- Você deveria se envergonhar pela forma como está tratando esse rapaz.

- Não o destratei – Aurélio se defendeu.

- Oh, não se faça de bobo – Julieta bufou.

Ele ficou por alguns segundos em silêncio, mas logo se rendeu. Dando de ombros com desdém, fechou a cara.

- Ele é um italiano, Julieta. Parece um anarquista.

Julieta abafou um sorriso pela preocupação paternal que escorria pelos lábios de Aurélio e esforçou-se para manter o olhar zangado.

- Não seja intolerante. Você sequer o conhece para saber sobre suas convicções políticas.

- Ema é muito menina para saber se defender. Não quero que ela se iluda com um baderneiro que não está interessado em compromisso.

- Você está sendo preconceituoso. E antiquado. 

- Estou apenas querendo defender minha filha.

- Sua atitude é muito bonita, querido – Julieta disse, por fim, soltando um suspiro. – Mas você não pode julgar alguém dessa forma. E precisa confiar nas decisões e julgamentos de Ema.

- Ema ainda é muito jovem para entender certas coisas da vida.

- Ema é uma mulher extremamente inteligente e perspicaz. Você a criou bem, deveria confiar nisso.

Aurélio suspirou.

- Nela eu confio, Julieta, não confio nos outros. Não quero que minha filha sofra, que faça escolhas erradas, que se decepcione.

Julieta finalmente sorriu e se aproximou, tocando nos braços de Aurélio em uma carícia suave.

- Você não poderá evitar que sua filha se machuque, mas pode deixá-la saber que estará aqui, se ela precisar de colo.

Aurélio abaixou o olhar.

- Ema é muito nova...

- Ela está apaixonada – Julieta disse, com um sorriso de contentamento. – É evidente. Você certamente notou.

Aurélio concordou, com sofreguidão.

- Não acho que seja apropriado – ele insistiu. – Esse rapaz... Ele me parece ter a cabeça nas nuvens.

- E o que fará? Impedirá Ema de se relacionar?

Aurélio não respondeu e Julieta se irritou, afastando-se do carinho que lhe oferecia.

- Você está sendo teimoso.

- Só estou preocupado – ele rebateu, balançando a cabeça. – Olha o que aconteceu com você. Tudo o que passou nas mãos daquele homem... – A frase saiu áspera e Julieta sentiu-se tremer. Fazia muito tempo que não mencionavam Osório e, mesmo que ela ainda o recordasse, agora sem tanta dor e temor, ouvir, em voz alta, uma menção sobre o próprio passado, a desconsertava. Aurélio notou prontamente que, mesmo que ela não parecesse totalmente abalada, seu semblante mudava. – Sinto muito – ele disse com pressa. – Não deveria ter dito isso...

Ela deu de ombros.

- É justamente por olhar para mim mesma e para o meu passado que tento te fazer entender – Julieta disse, com uma voz cansada, que o fez se sentir culpado. – Meus pais não me deram escolha, Aurélio. Eles me impuseram um casamento que eu não queria. Essa imposição nos afastou, nos distanciou de uma forma inimaginável. Mesmo quando ainda estavam aqui, eu não pude recorrer a eles ao me deparar com o pesadelo que passou a ser minha vida. – Com um suspiro, ela o encarou. Aurélio, que havia se aproximado, segurava em suas mãos quentes. – Você precisa dar a Ema o direito de escolher e a confiança de que estará aqui se ela precisar. Você não pode garantir que suas escolhas serão as melhores e que ela nunca cometerá erros, mas pode prometer estar aqui, se tudo desmoronar. Isso é tudo o que ela precisa.

Aurélio assentiu, depois de refletir brevemente. Era impressionante como Julieta sempre o fazia entender seus deslizes e o ajudava a remendá-los da melhor forma. Com um sorriso, aproximou-se, fazendo seus lábios tocarem uma das bochechas da mulher, que sorriu.

- E se esse rapaz nos delatar? – Aurélio perguntou, ao voltar a encará-la. – Nós não o conhecemos...

Ela sabia ao que ele se referia. Mesmo depois de anos, Aurélio ainda sentia medo de que aquela felicidade absoluta e quase surreal na qual se encontravam fosse dissipada se seu paradeiro fosse revelado a seu antigo carrasco. Julieta, que ia à cidade com frequência, e passou a adotar um penteado diferente do sofisticado que usava ao ser a senhora Bittencourt e usava agora vestidos claros, simples, feitos por ela mesma, à mão, com a ajuda de Ema, nunca havia sido reconhecida e sempre tomava cuidado para não topar com um de seus antigos conhecidos. Aurélio sabia que seria impossível que qualquer pessoa relacionasse aquela mulher tão simples à outra tão excêntrica, que se recusava a tirar o não-convencional negro, mas, mesmo assim, vez ou outra, a advertia se seus temores, a acompanhava em suas saídas e se recusava a receber visitas.

- Ele me parece um bom rapaz. – Foi o que Julieta disse.

- Seria um risco... – Aurélio advertiu.

Julieta balançou a cabeça com um sorriso, enquanto tocava o rosto bronzeado do homem com a ponta dos dedos.

- Ema merece uma vida normal. Não temos o direito de poupá-la das alegrias da juventude por temores que não são dela.

Aurélio apertou os olhos, abaixando a cabeça. Julieta soube que o havia convencido e sorriu, aproximando-se para beijá-lo nos lábios.

- Você sabe que estou certa, não é?

Ele assentiu, suspirando.

- Você não existe.

- Existo, sim – Julieta rebateu, roçando seus lábios nos dele e deixando seus braços envolvê-lo. – Promete se comportar melhor?

Aurélio sentiu que ela mordia seus lábios com provocação e gemeu, apertando a cintura da esposa.

- Oh, Julieta.

Ela sorriu satisfeita e, com cuidado, fez suas mãos deslizarem até as calças do homem e alisou ousadamente sua intimidade por cima do tecido. Aurélio tremeu e soltou um grito inaudível.

- Prometo recompensá-lo – ela sussurrou.

- Você... É... Impossível... – ele murmurou.

Ao voltarem para a sala, Julieta sorriu em direção à Ema, que parecia receosa. Aurélio, que segurava a mão da mulher, forçou um sorriso ao se aproximar dos dois jovens.

- Ernesto, não é? – ele disse, depois de respirar fundo e ser fulminado leve e discretamente pelo olhar de Julieta. – Então... Você trabalha com Ema, certo?

Ernesto sorriu e respondeu rapidamente. Ema, surpresa, puxou Julieta para um canto da sala, onde Camilo brincava no chão.

- Oh, Julieta! O que você fez?

Julieta abafou um sorriso.

- O convenci de que seu comportamento estava sendo vexatório.

Ema alargou o sorriso, soltando um gritinho animado. Sem se conter, jogou-se nos braços de Julieta, abraçando-a com força e beijando seu rosto freneticamente. Julieta riu.

Ao voltarem a se aproximar dos dois, as duas mulheres se encararam com cumplicidade. Julieta, entrelaçando suas mãos na da de Aurélio, sorriu, aprovando a nova postura, discretamente.

- Você precisa levá-lo para conhecer a estufa – Aurélio sugeriu, encarando a filha, que mal acreditava na mudança de comportamento do pai. – Ernesto disse que aprecia o cultivo de flores também.

- Claro – Ema concordou, encantada.

- Soube que a senhora tem um talento especial para as rosas – Ernesto disse, encarando Julieta.

- As rosas de Julieta são a principal atração da floricultura da cidade – Ema contou. – Ela tem estado atarefada para manter o estoque sempre cheio. A dona contou que, assim que chegam na loja, as pessoas fazem fila para escolher os melhores botões.  

- É algo que sempre amei – Julieta disse, com um sorriso. – Mas confesso que nunca imaginei que isso pudesse se tornar um trabalho. 

- É compreensível que as pessoas as adorem. Aquelas flores na entrada do sítio me fascinaram. Não vivo em um sítio, mas em uma casa pequena na cidade. Mesmo assim, eu e meus irmãos, com quem moro, fazemos questão de manter a casa bem florida, porque achamos que deixaria nossa mãe mais contente. Se puder me dar algumas dicas para deixar as roseiras tão viçosas como as suas, serei muito grato.

Julieta sorriu, apreciando o tom do rapaz. Discretamente, encarou Aurélio, como quem dizia “eu tinha razão”. Ele desviou o olhar e puxou para si, enlaçando a sua cintura com carinho.

- Os quadros são lindos – Ernesto apontou, quando, depois de uma tarde agradável, era acompanhado até a porta.

- São de Julieta – Ema explicou, encarando-a com um sorriso orgulhoso. – Ela não é uma artista maravilhosa?

Quando Ema fechou a porta, com um sorriso cauteloso e dizendo que iria acompanhá-lo até a estrada, Aurélio lhe lançou olhar paternal e preocupado, que fez Julieta sorrir e segurá-lo pelas mãos.

- Sua filha é uma menina responsável – Julieta disse, acalmando-o.

Ele a abraçou pela cintura e beijou seu rosto.

- Achei que isso demoraria alguns anos para acontecer.

- Isso? – Julieta perguntou com um semblante risonho.

- Ema começar a se interessar por rapazes – Aurélio explicou, com uma careta.

Julieta riu, jogando a cabeça para trás, como sempre fazia ao soltar uma gargalhada.

- Você está com ciúmes.

- Não estou – Aurélio respondeu, fechando a cara. Ao notar que ele a soltaria, Julieta segurou as mãos dele, obrigando-o a apertá-la. Ele a encarou e foi incapaz de se afastar.

- Amo você, Aurélio – ela disse, com um sorriso, depois de beijá-lo nos lábios. – Amo você mesmo quando usa essa capa de homem protetor das cavernas.

- Homem das cavernas? – ele perguntou, tentando parecer ofendido.

Ela sorriu e aproximou seus lábios dos dele.

- Sim. Não precisamos de sua proteção – ela insistiu, passando a língua pelos lábios do homem, fazendo-o suspirar.

- Sei que não – ele disse, sentindo o sangue ferver. Julieta sorriu e mordiscou provocativamente sua boca.

- Mas queremos você por perto – ela acrescentou, sorrindo.

Ele também sorriu e piscou, com os olhos brilhantes de desejo. Antes que seus lábios se tocassem para aplacar a ânsia que os tomava, a voz de Camilo os separou.

- Mãe! Olha esse dinossauro!

Julieta sorriu diante do olhar sôfrego de Aurélio e afastou-se, abaixando-se na direção dos olhos do filho, que segurava nas mãos uma réplica de plástico do animal extinto. Ele o mostrava com satisfação.

- Ernesto acertou em cheio no presente – ela disse, encantada com os olhos vidrados da criança sobre o brinquedo. Camilo tinha cabelos louros ralos e olhos verdes. Era um menino magro e ágil, cheio de energia e tinha um humor impressionante para uma criança.

- Gostei muito desse – ele disse, mostrando outro brinquedo. – Podemos criar bichos assim aqui na fazenda?

Aurélio riu, abaixando-se também e segurando o menino, que se empoleirou em seu colo, agarrando seu pescoço.

- Você quer criar dinossauros aqui?

- Poderíamos colocá-los nos estábulos. Juntos com os cavalos – Camilo sugeriu com empolgação.

- Vou pensar nisso – Aurélio respondeu, sorrindo.

Julieta riu, balançando a cabeça. Aurélio nunca o desencorajava e ela o desaprovou em várias ocasiões, por considerar que ele mimava muito a criança. Aurélio, prontamente, ignorava as reclamações, fingindo absorvê-las até que Julieta se afastasse.

- Obrigado, pai – Camilo gritou, correndo com os brinquedos nas mãos e imitando sons que fizeram Julieta sorrir.

A segunda palavra de Camilo havia sido pai e ele a pronunciou, depois de, ao tentar fazê-lo dormir, Aurélio lera um conto infantil comprado por Ema, em que as estruturas familiares eram explicadas de forma simples e lúdica. Quando Aurélio contou sobre o pai do pequeno cachorro, personagem principal do conto, Camilo alargou um sorriso quase ainda sem dentes e proferiu a palavra, encarando-o com tanto amor, que Julieta, que os observava da porta, chorou silenciosamente. Não havia outro título para o homem que o havia cuidado desde antes de que nascesse e ela encorajou o filho a chamá-lo assim, apesar de, ao conversarem, terem decidido que contariam, assim que Camilo fosse um pouco mais velho, que, embora Aurélio fosse seu pai mais do que qualquer outro, biologicamente, havia Osório, de quem pretendia ocultar o detalhes sórdidos e dolorosos. Ema o tratava como irmão e o menino, assim que obteve mais vocabulário, começou a chamá-la também dessa forma.

- Preciso ir – Julieta disse, ao se levantar e sentir que Aurélio enlaçava sua cintura. – Tem certeza que pode cuidar dele?

- Você ainda pergunta?

Ela sorriu, ao sentir os lábios do homem tocando seu rosto.

- Mas você tem mesmo que ir? – ele perguntou, com um suspiro. – Podemos ir juntos amanhã. Ema não estará trabalhando e poderá ficar com Camilo.

- Não, Aurélio – Julieta disse, ao encará-lo. – Preciso levar os novos arranjos para Ana. Temos muitas encomendas. Além disso, preciso fazer as compras.

- Ema pode...

- Aurélio – ela o silenciou, com um olhar irritado que ele entendeu e, com um suspiro, a beijou. – Aproveite para descansar – ela sugeriu, sorrindo.

- Descansar? – ele perguntou, com a testa franzida, fazendo silêncio para que ambos ouvissem os gritos de Camilo, que brincava com muita exaltação. Julieta riu e Aurélio voltou a beijá-la, observando-a com o mesmo encantamento com o que a viu pela primeira vez. – Estou tão orgulhoso – ele admitiu, inesperadamente. – Não me surpreende que as pessoas amem tanto suas rosas.

- Me sinto tão feliz trabalhando – ela confessou. – Isso tudo graças a você.

- Não, Julieta. É graças a você – ele rebateu, agora sério.

Ela sorriu. Ignorando os gritos do filho, aproximou-se para beijá-lo nos lábios. Aurélio correspondeu, sentindo-se flutuar. Suas línguas se tocaram com calor e seus corpos, que se colaram, tremeram de um desejo que nascia sempre com facilidade. Ela sorriu ao separar-se.

- Eu preciso ir.

- Tudo bem – Aurélio respondeu, suspirando conformado. – Volte logo, sim?

Julieta assentiu e deu um último e rápido beijo, antes de afastar-se.

- Eu sempre volto.



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