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História Novembro - Em frente ao chafariz


Escrita por: Caroli_cunha

Notas do Autor


Oioioi meus linduus!
Prontos para mais um capítulo?
Boa leitura!

Capítulo 30 - Em frente ao chafariz


Fanfic / Fanfiction Novembro - Em frente ao chafariz

Para falar assim, tão seguro, você deve ter ficado com bastante gente!

A voz maravilhada de Flávio soava lá na sala, enquanto eu preparava alguns aperitivos para nós. Tinha a leve impressão de que ele queria aprender macetes comigo, por isso perguntava tanta coisa.

—Bastante!—confirmei, sem conseguir contar quantas pessoas. Cheguei até a sala, com a bandeja na mão.—Eu beijei pela primeira vez aos… Nove anos!

Ele ficou chocado, e eu sorri de sua inocência. Parecia uma criança, quando falávamos sobre amor e sexo.

—Você deve ter beijado tarde, acertei?—deduzi  me sentando ao seu lado e ele riu, avermelhando as bochechas.

—Eu já tinha dezoito!—dessa vez eu é que fiquei chocado.—E ainda fui empurrado, porque não queria!

—Mas Flávio, por que você é devagar assim? Você tem medo, ou realmente não sente as “necessidades”? Seus pais nunca conversaram com você sobre isso?—perguntei, afinal estava curioso.

—Ah...—pensou um pouco.—Pra falar a verdade, eu quase não sinto atração! Eu gosto de estar rodeado de pessoas, mas pra fazer o bem. Nunca fui muito de sair também, ficava mais em casa, estudando. Quando saía era sozinho, porque também não tenho muitos amigos, e para lugares onde só tem velhinho e casais já maduros, que são museus, exposições de arte, orquestras… Essas coisas de gente velha e séria!—reconheceu, e eu fiquei pensando, intrigado.

—Será que nas vidas passadas você era um senhor rico e culto?—brinquei.

—Solitário, você quer dizer, né?—falou logo, rindo comigo.

—Então… Você nunca sentiu tesão em ninguém?—ele parou e me olhou de canto, quase esboçando um sorriso sacana, disfarçado pela inocência.

—Não exagera, Rapha!—caímos na risada.—Rapha, você já se apaixonou?

—Lógico!—estranhei a pergunta, ele ajeitou os óculos na face.

—Estou falando de se apaixonar mesmo, tipo… Sentir borboletas no estômago, as pernas ficam bambas, você treme, sua frio e quando a pessoa se aproxima… Você parece não conseguir enxergar mais nada, porque aquele ser, com certeza, é a coisa mais linda e doce do mundo!—falava encantado, e eu fui ficando com nojo.

Ele olhou para mim, se despertando do transe.

—Já?

—Então… Acho que eu nunca me apaixonei!

Continuei rindo, afinal, era tudo uma brincadeira entre primos. Porém, ele pareceu não gostar muito da resposta, ficando meio sério.

—E o Spencer?

—O que tem ele?

—Você não é apaixonado por ele?!—arregalou os olhos. Para ele, tudo era perfeito como nos contos de fadas.

—Claro que sou.—dei de ombros, ele acenou com a cabeça.—Então é assim que você se sente sobre o professor? Borboletas no estômago…

—É… Mais ou menos isso!—estreitou os olhos num riso envergonhado.

—É, então tá na hora de se mexer, antes que passe!—o incentivei, e ele finalmente concordou.

Bolamos um plano mirabolante para ele finalmente conseguir ficar com o professor, e eu fiquei contando as horas pra chegar segunda-feira para ele pôr em prática.

Para quem ia chegar antes das seis, já eram quase dez da noite quando Spencer chegou. Trazendo algumas sacolas de roupas que as amigas compraram para ele. Cumprimentou nós dois e foi para o quarto, mimando o cachorro como sempre, afinal para Dólar ele tinha tempo, para mim é que não.

Deixei Flavinho na sala e fui atrás dele no quarto, cheguei até a porta e fiquei o assistindo tirar as peças das sacolas e analisar uma por uma, antes de pendurar nos cabides.

—Vai ficar aí me observando?—me assustei com sua habilidade de me perceber ali, mesmo sem olhar para trás.

—Por que comprou roupas novas?—entrei no quarto, olhando melhor as peças.

Era realmente uma mais bonita que a outra, daquelas que basta olhar e imaginar que a pessoa é gay, pois eram muito estilosas para um hétero. Não compreendi o porquê de tal mudança.

—São para o meu primeiro dia no curso...—fiquei mais surpreso.—E para o meu aniversário de dezoito.

E eu bobo, pensando que essa coisa de estudar era só uma ideia, um objetivo para o próximo semestre. Não, já estava tudo pronto e começava amanhã.

—Você nunca se importou com "moda"!

—Amor, eu não posso ser o único maltrapilho da turma!—não entendo a necessidade de parecer agradável aos olhos alheios.

—E vai fazer festa de aniversário…

—Minha mãe vai fazer a nossa festa, não tem como comemorar o aniversário de um gêmeo e do outro não!—fazia sentido, claro, mas eu não queria aceitar.

—Vai ser na casa dela?—já imaginei o churrascão no quintal da frente.

—No salão.

—O que?!—Spencer nunca teve uma festa no salão, nunca quis sequer ter festinha.

—Raphael, eu acho melhor você acordar logo desse transe, porque​ já tá me irritando!—confessou, suspirando de exaustão mental.

—Então eu não posso sentir ciúme do meu namorado?!

—Não, e também não pode ficar agindo igual bichinha! Faz o seguinte, volta pra academia, vai crescer esses músculos, volta pro futebol, pra faculdade, sei lá… Faz alguma coisa da sua vida, mas volta a me tratar do jeito que era antes! Você tá muito estranho!—perdeu de verdade a paciência comigo.

—Bichinha, eu?! A gente já tá juntos a cinco anos, eu tenho direito sobre você!—me irritei também, e começamos a brigar sem nos darmos conta de que meu primo estava ouvindo.

—Você não tem, não! Eu não sou sua propriedade!—gritou comigo, com um desprezo na voz que nunca havia usado.

—Você é sim, Spencer! Você é meu até eu dizer que não é mais!—gritei, o segurando pelo braço, impedindo de fugir para fora do quarto.

—Como é que é?!

Estávamos no começo de maio, sendo o aniversário dele em vinte e sete de junho. O meu, em abril, eu passei em coma no hospital, e ele não comprou presente nem bolo pra mim, quando tive alta. Tudo bem, era a mãe que queria fazer festa, mas Spencer nunca quis participar dessas coisas, agora além de querer, ainda comprou roupa nova pra chamar atenção, um mês antes do evento. Por que do nada ele queria chamar atenção?!

A verdade é que eu não entendia nada, não sabia controlar meu ciúme, não queria admitir que estava agindo exagerado e que  ele provavelmente só estava seguindo conselhos da psicóloga para sair daquela possível depressão. Ele nunca me contaria o que falava com a profissional nas seções, mas creio que recebia bons conselhos.

—É isso mesmo, eu decido se você vai nessa festa ou não! E se retrucar muito, nem estudar mais você vai!—impus, cruzando os braços e assumindo uma postura dominante. E pela primeira vez, ele não esboçou medo, ficando totalmente relaxado.

—Ué… Que eu saiba, não tem uma coleira no meu pescoço, nem algemas nos meus pulsos!—observou, sarcástico.—Nem sequer uma aliança eu uso!

—Pois eu vou comprar uma, bem grande pra você!

—Compra, ué! Não significa nada!—deu de ombros.

Nossa, meu sangue ferveu de raiva. Larguei a camisa nova dele e fui com tudo atrás daquele baixinho metido, o agarrando firme pelo braço, o trazendo de volta e jogando contra a parede. Armei o punho para dar-lhe um soco, quando Flávio apareceu na porta do quarto, com os olhos arregalados.

—Ei!—correu e tirou o garoto da minha mão, tocando meu peito cuidadosamente.—Tá louco, Rapha?!

—Não se mete, Flávio!—dei-lhe um empurrão, não com toda a minha força, mas o peguei despreparado e fraquinho, ele se desequilibrou e bateu com o corpo na porta, que se fechou numa batida estrondosa.

Na mesma hora, me arrependi. Eu não queria realmente agredir ninguém, só queria impor respeito, ou medo, que fosse. O Spencer estava precisando. Com o braço marcado pelo meu aperto, este se aproximou de Flávio todo preocupado, tentei fazer o mesmo, mas ele pediu distância ou calma com um gesto, se reerguendo.

—Desculpa, Flávio! Foi sem querer...—lamentei, envergonhado.

—Gente, vocês não podem brigar assim! Vocês são um casal, tem que ter respeito, compreensão… Não dá pra brigar feio igual vocês estavam, tocando um no outro!—aconselhou como um pai faria, me senti dez anos mais novo que ele.

—Eu sei...—cocei a nuca, todo arrependido.

Ultimamente, andava me arrependendo mais rápido do que antes, talvez eu estivesse mudando um pouco esse meu jeito revoltado.

—Sinto muito por você ter participado disso, Flávio! A gente realmente tentou evitar, mas...—Spencer falou me olhando de canto, massageando o ombro de Flávio.

—Não se preocupem com a minha presença. É o relacionamento de vocês que merece uma atenção especial agora, revejam tudo isso aí porque não é normal!—incentivou.

Spencer se sentou no chão, encostado a cama, cobriu o rosto e começou a chorar. Olhei para Flávio, que balançava a cabeça reprovando nós dois, mas no sentido de pena. Pena do nosso relacionamento, que eu finalmente percebi que mais nos trazia dores de cabeça do que prazer.

Abaixei-me perto dele, que chorava magoado como quase nunca fazia. Muito frequentemente, ele me xingava, gritava, me expulsava de casa e me deixava uma pilha de nervos. Mas chorar era raro, somente quando não aguentava mais a pressão.

Spencer parecia inocente para os de fora, mas a verdade é que ele conseguia muito me tirar do sério, num nível que eu passava a não me reconhecer.

Papai sempre me aconselhou a não me entregar demais a minha mulher, pois assim que ela percebesse, tomaria o controle de toda a minha vida, do meu cartão de crédito e da minha dignidade. Provavelmente papai nunca saberá, mas não são só as mulheres que fazem isso.

Tentei tocar seu braço, procurando as palavras na mente, pois nem sabia o que dizer.

—Spen?—chamei sua atenção, num tom terno.—Não chora, minha cenourinha!

Olhei querendo rir do apelido, e Flávio já ria também, achando fofo, mas Spencer estava machucado demais para brincadeiras. Descobriu o rosto e olhou para mim, todo vermelho, com uma expressão exausta.

—Eu não aguento mais brigar com você!—resmungou, perdendo a voz para o cochicho, devido ao choro.

Eu só me segurei por causa do ego.

—Eu também não…

—Então parem!—gritou Flávio, como se fosse óbvio.

—Você quer… terminar?—doeu muito dar-lhe tal opção, mas se fosse o que ele queria, eu teria de aceitar.

Eu o amava, como nunca amei ninguém. Mas tinha que admitir que do jeito que ia não dava mais pra continuar, ou melhorávamos, ou deixávamos livres um ao outro.

Encurralado, ele se calou chorando mais ainda, me deixando pensar o que quisesse.

Por fim, logo pela manhã, Flavinho foi para a aula de anatomia e nós seguimos para o shopping. Entramos numa loja de joias e escolhemos uma aliança prateada, grossa na medida certa, gravada com nossos nomes para todo mundo saber que somos donos um do outro. Se ele achava antes que nada significava ter aliança, eu provava agora que significava sim, grande coisa.

Fomos comer alguma coisa na praça de alimentação e em uma hora, as gravações ficaram prontas, então​ voltamos para retirar. A moça me entregou a caixinha, paguei e o puxei pela mão até o chafariz no centro do piso térreo. Sentamos na aba do chafariz, eu abri a caixinha, peguei sua mão e pus a aliança,todo emocionado pois nunca havia feito isso antes. Pois é, cinco anos de namoro e nunca usamos aliança. Até agora, claro. Meio sério, ele pegou minha mão e fez o mesmo.

Esperei que ele fosse odiar, afinal, ficou bem mais visível do que imaginávamos.

Olhando a mão direita, com o novo detalhe, ele sorriu orgulhoso e me olhou, com um sorriso de orelha a orelha, tão feliz que até me surpreendeu. Puxou minha nuca e me deu um beijo apaixonado, em público, provando o quanto me ama.

Agora sim, fui para a academia e Spencer para o curso.


Notas Finais


Gente, o que vocês acham que vai rolar no próximo capítulo?
Doce ou azedo?
;)


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