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História Novembro - Me ensina?


Escrita por: Caroli_cunha

Notas do Autor


Boa leituraaa!

Capítulo 60 - Me ensina?


Fanfic / Fanfiction Novembro - Me ensina?

Segunda-feira​, sete horas da manhã, estava eu na recepção do escritório Teller. Quase dormindo em cima do braço, solitário e desanimado. Meus olhos pesados foram fechando e fechando, ouvi um sino bem longe e em seguida um “ Bom dia! ”, que me fez pular num susto.

— Bom dia, doutor! — Eduardo, todo animado passou para sua sala.

Disfarcei o sono como pude e comecei a trabalhar, então ele deixou suas coisas na sala e veio até a mesa de canto, foi quando lembrei que não fiz o café.

Aliás, quem disse que dá para beber o café que eu faço?

— Ué, não tem café, Raphael? — Perguntou-me sério.

Heitor havia me orientado antes que, além de atrasos, o chefe odiava não poder tomar seu cafezinho de manhã. E logo no primeiro dia sozinho, foi justamente onde errei.

— Eu esqueci, doutor! — Errei novamente ao admitir. — Vou providenciar agora!

— Faça isso. — Eu ia me levantando, quando ele olhou para mim e fez cara estranha. — Sua camisa está um pouquinho amassada?

Eu havia ido de ônibus e, no transporte lotado, descuidei desse detalhe. Resultado: dois pontos negativos para Raphael. Como não respondi, ele suspirou e voltou para sua sala.

E pensar que esse era o dia 1 numa escala de 30…

Já que não sei fazer café, aproveitei que o chefe fechou a porta de sua sala e saí rapidinho. Eu tinha o menor tempo possível para descer até o térreo, comprar o café dele, subir novamente e fingir que nem saí. Loucura, sim, mas era isso ou demonstrar de cara que sou inferior ao secretário dele.

Desci correndo pelas escadas, quando cheguei à lanchonete, surpresa. Uma fila de mais de quinze pessoas só para fazer os pedidos para viagem. Saí do prédio e atravessei a rua correndo por entre os carros, até a cafeteria do outro quarteirão. Essa mais vazia, cheguei ao balcão e pedi um café com açúcar, então percebi que outro senhor estava na frente e eu lhe roubei a fila.

Desculpei-me pelo vexame e corri de volta para meu posto. Hoje o dia não estava bom para mim.

Quando cheguei, o telefone estava tocando e tive que atender com o copo térmico na mão. Era uma amiga do doutor, que sempre ligava e nós logo a transferíamos para sua sala. Livrei-me da chata e fui preparar a bebida como se eu houvesse feito, pus na bandeja e levei.

Porém, antes de bater na porta, acabei ouvindo um pouco da conversa, bem ao fundo, onde ele disse:

Não, ele é provisório, meu secretário está de férias e ele está me dando uma forcinha… Imagina que eu dispensaria meu docinho? De maneira nenhuma, Suzana! Esse é o filho de um amigo meu, eu devia uns favores para ele e… Bem, ele é meio atrapalhado, mas vamos ver como se sai!

Como assim “docinho”? “Meu docinho”. Quem ele pensa que é, pra chamar Heitor de docinho?  Tudo bem dizer que eu sou meio atrapalhado, mas ficar de gracinha com ele, já é abusar demais. Eu vou fazer esse velho se enxergar, e não vai demorar.

Bati e entrei devagar, tentando disfarçar minha insatisfação após ouvir o modo como ele se referia a pessoa da minha paixão, embora ainda não tivéssemos nada.

Falando no telefone estava, falando continuou. Eu pus a bandeja com o café e alguns biscoitos sobre a mesa e ele deu uma piscadela para mim em forma de agradecimento, voltando a gargalhar com a amiga no telefone. E aliás, o que um homem casado tem para rir com outra mulher no horário de trabalho?

Mal voltei para o balcão e o telefone​ já começou a tocar, passando assim o resto do dia, quase sem me dar trégua.

Cheguei em casa me sentindo exausto, meus pais ainda se encontravam na empresa. Imagino que tinham muito o que fazer, depois daquele terrível assalto que sofreram e agora lutavam para recuperar tudo, inclusive os clientes. Tomei um banho para relaxar e esquecer os desaforos que tive de ouvir o dia inteiro, me isolei no quarto e fiquei deitado na cama, olhando para o meu retrato em pintura, que eu havia pendurado na parede de frente para a cama.

Para quem estava de fora, eu já havia superado bem o término e estava seguindo minha vida, porém só quem me visse olhando para aquele quadro saberia o quanto meu coração dói de imaginar que nunca mais vou poder vê-lo pintando, desenhando, cozinhando, brincando com o cachorro, que agora é só dele. Até isso ele me tirou. Não entendo como conseguiu acabar com cinco anos de relacionamento num piscar de olhos, sem remorso ou arrependimento. Como conseguiu usar meu corpo e depois me descartar, com tanta frieza que jamais imaginei caber naquele coração.

Argh, esquece.

Eu não imaginava como meus pais iriam conseguir suprir uma falha tão grande com apenas um mês de salário de secretário, afinal, eu só trabalharia enquanto Heitor estivesse de férias. O que eles estavam pensando?

Falando nele, meu celular vibrou com uma mensagem do mesmo, me perguntando como foi meu primeiro dia sozinho. Na mesma hora, respondi e começamos a conversar, contei a história do café e ele reagiu com um emoji assustado.

Heitor: Eu não acredito que você esqueceu do cafezinho do doutor!

Eu: Ah, ele vai ficar bem!

Zombei por ver como ele paparicava o chefe, isso me irritava muito, mas meu ego nunca permitiria que eu admitisse.

Heitor: Vê se não esquece mais desse detalhe, é importante!

Eu: Acredite, deixar ele tomar meu café será pior do que não tomar nada *risos*

Heitor: Não é grande coisa, apenas duas medidas de pó para cada copo d’água, pouco açúcar e está pronto! Pede pra sua mãe te ensinar a fazer, é tão fácil!

Mamãe não sabia nem sequer pôr a água para ferver, imagine fazer um café prestável. Porém, eu conhecia uma pessoa que tinha boas mãos para isso e outras coisas na cozinha, uma pena ele não querer nem olhar na minha cara, como se eu houvesse feito algo errado, quando antes dizia me amar da forma como sou.

Eu: Posso até tentar, mas nunca vou fazer bem como você!

Não podia evitar de cantá-lo de alguma forma, pois, ou ele não percebia minhas intenções, ou fingia-se de inocente. Às vezes, eu tinha a impressão de que aquele beijo que demos, não significou nada para ele, ou talvez eu tenha anulado seu significado ao agir com tanta pressa naquela noite em sua casa. Por outro lado, penso que poderia ter rolado mais coisas no almoço de domingo, mas a presença de seus amigos nos atrapalhou. De qualquer forma, eu estava disposto a insistir nessa relação e viver outras experiências na minha vida. Ele tinha que querer.

Eu: Você podia me dar umas aulinhas, né bebê?

Empurrei a conversa para o lado mais pessoal e íntimo, ele levou quase dez minutos para responder.

Heitor: Sim...

Sim?! É isso?!  Eu esperei que ele respondesse algo como “Sim, venha amanhã! Vou estar te esperando...” De repente “Ansiosamente”. Acho que ele não entendeu em que sentido eu falei, vamos simplificar.

Eu: Posso ir aí amanhã, depois do trabalho?

Praticamente me entreguei de bandeja para ele, que demorou mais longos minutos sem visualizar a mensagem, mesmo aparecendo online a maior parte do tempo. Devia estar conversando com várias outras pessoas, amigos? Ou tinha alguém muito mais interessante em sua lista de contatos?

Alguém bateu na porta do meu quarto e abriu, era mamãe me chamando para o jantar. Reuni-me com meus pais naquela mesa enorme de jantar, ambos calados, comida requentada, afinal não tínhamos mais uma cozinheira para fazer tudo fresquinho na hora. Aquele silêncio matador. Olhei para papai, que mexia na comida com o garfo, o tempo todo com o olhar baixo, uma expressão séria, nem havia tirado o terno ainda.

Quando voltei, peguei mamãe me olhando fixamente, também séria. Disfarçou com um sorrisinho simpático e continuou comendo. Pelo visto, eu não era o único chateado naquela mesa, mas preferi manter o silêncio. E nada de Heitor me responder, parece que queria me matar de ansiedade.

Mamãe começou a resmungar um gospel, fingindo não perceber a cara do marido para ela, que era das piores. Algo havia acontecido entre eles, com certeza.

Ouvi meu celular apitar com uma nova mensagem, ainda mastigando, respondi sem perceber já estar com um leve sorriso bobo no rosto.

Heitor: Vou estar ocupado amanhã... Sexta é melhor, não tenho aula!

— Não se mexe em celular enquanto está jantando, filho! Que falta de educação! — Levantei o olhar e vi papai me encarando com reprovação, num olhar tão firme que até murchou meu sorriso.

— Está conversando com alguém, é? — Mamãe teve uma abordagem diferente, sorrindo curiosa para mim.

— Sim... Mas já parei, relaxa! — Eu disse para papai.

— É a moça daquela vez? — Ela insistiu, empolgada. Papai a repreendeu com o olhar, não sei o que havia dado nele, mas estava nos cascos. — E quando você vai apresentá-la para nós? — Ela logo assumiu que a pessoa com quem eu falava era minha namorada.

— Hm... Espero que demore um pouco! — Disse papai, a esposa o olhou brava.

— Escuta, de que lado você está, Giorgio?! — Ele bebericou a água na taça e deu de ombros.

— Onde já se viu, acabou de sair de um relacionamento, já está querendo entrar em outro?! — Lá vem o sermão nosso de cada dia. — É por isso que não dá em nada, fica uma eternidade “namorando”, que também nunca via namorado dormir na mesma cama igual marido, depois terminam, aí vai cada um para seu lado como se nada tivesse acontecido... Quando menos se espera, lá está ele com outra pessoa, dizendo que ama e tudo o mais... Casamento que é bom, ninguém quer propor, né?

— Giorgio, menos! — Ela o repreendeu e eu disfarcei o leve sorriso de satisfação. Papai já estava me irritando. — Por que você não a convida para almoçar aqui, nesse fim de semana?

— Ixi... Não sei se é uma boa ideia, mãe! — Imagina, expor Heitor ao que expus Spencer anteriormente. Foi um erro, não conseguimos mudar nada, antes sermos julgados por mais gente da família.

Papai soltou um riso sarcástico, negando com a cabeça. Farto de medir as palavras, bateu com as mãos na mesa, indignado.

— Carmina, parece que você não conhece o filho que tem, né?

— Claro que conheço! Oras, do que está dizendo, querido? — Quando ele abriu a boca para confessar algo que de alguma maneira desconhecida sabia, eu o interrompi, antes que me ferrasse mais do que já estou.

— Tudo bem, mãe! Eu vou falar com ela sobre isso, tá? — Forcei um sorriso e a mesma me acompanhou, concordando.

Fim de papo.



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