História O acordo - Sasunaru - Capítulo 17

Naruto pov

Mais um dia sendo acordado pelo despertador, afinal isso faz parte da minha rotina a qual eu poderia me enjoar muito fácil se algumas coisas na minha vida não estivesse acontecendo, como o fato de estar apaixonado por um emo. 

Hoje é terça-feira e bem… não acordei com um ânimo daquelas, a semana ainda está começando e temos longos dias de aula pela frente. E não quer dizer que só porque eu estudo e me empenho que gosto de ir para o colégio, eu até gosto mas tem dias que se eu pudesse eu faltava sem dúvidas! 

Reunindo um pouquinho de forças eu levantei da cama e esfreguei os olhos para tentar espantar o sono. Estava cansado, Sasuke e eu ficamos até tarde assistindo muitos filmes… 

Eu gostei de passar esse tempo com ele, além de "aturar" o meu gosto para filmes, ficamos bem… próximos, posso assim dizer. Eu tomei a coragem de me aproximar e me acomodar ao lado dele, apoiando minha cabeça no seu ombro, pode não ser uma aproximação tão grande assim, mas já é um começo, não? 

Além do mais,  não consigo esquecer do nosso quase beijo ontem a noite, eu poderia ter quebrado os poucos centímetros que nos distanciavam e tê-lo beijado sim, mas queria o deixar um pouco irritado. É engraçado ver o Sasuke todo nervosinho, ainda mais quando o motivo foi eu e minha negação em lhe dar um beijo. Confesso que inflou muito o meu orgulho. 

– Não estou tão ruim assim… – Falei me olhando no espelho. A voz repleta de sono e o rosto amassado me fizeram suspirar – Ok, eu tô horrível. – ri da minha própria desgraça. 

A fim de ficar com uma aparência no mínimo agradável, lavei o rosto, escovei os dentes, arrumei o cabelo e por último coloquei as lentes… um momento que requer muito da minha paciência e boa vontade, mas para o bem da minha aparência eu sacrifico um pouco de tempo e concentração. 

Antes de sair do quarto eu arrumei minha mochila rapidamente, por sorte as aulas que terão hoje são quase as mesmas de ontem, então não tive muita dificuldade para organizar os livros. 

No caminho para a escada percebi que o quarto do Sasuke ainda estava fechado, provavelmente o moreno ainda dormia ou estava se arrumando, então aproveitei para adiantar um café da manhã assim ambos não atrasaremos para o colégio. 

– Hm… o que temos aqui? 

Agachei e abri o armário à procura do que eu poderia preparar. E bom, tem muita coisa… isso graças a minha mãe que antes de viajar fez compras e lotou os armários e a dispensa. Assim Sasuke e eu não precisamos nos preocupar em gastar com comida, embora tenhamos feito isso ontem ao pedir pizza. Não tenho culpa se estava cansado demais para cozinhar. 

Como eu não estou no meu melhor ánimo no momento decidi fazer sanduíches, além de ser um prato gostoso é rápido e fácil. 

Então peguei a geleia e a pasta de amendoim na geladeira. Sei bem que nenhum desses dois faz mal para o Sasuke por que ele mesmo já comentou que não tinha alergia a nada quando Sakura um dia tocou no assunto. Sendo assim, pude fazer os sanduíches sem me preocupar se algum de nós dois iríamos passar mal depois ou não. 

Com o auxílio de uma faca, passei a geleia nos quatro pães de forma que havia pegado no armário, antes de passar a pasta de amendoim. Juntei os pães e terminei os dois sanduíches. Porém fiquei alguns segundos olhando, peguei a faca de novo e tirei as bordas, deixando os sanduíches em perfeitos quadradinhos sem cascas. Sorri satisfeito com o resultado e deixei a faca na pia. 

Pode ser um pouco paranóico isso que eu faço, mas eu sou muito perfeccionista e aquelas casquinhas me irritam profundamente, sempre tirei e sempre vou tirar. 

Enquanto pegava a jarra de suco na geladeira escutei passos se aproximando e então olhei para trás, avistando Sasuke com uma feição de sono e já arrumado para o colégio. O moreno está vestindo roupas simples, mas bonitas, uma blusa cinza escuro com uma estampa casual e uma calça jeans preta para acompanhar. Está bonito… 

– Bom dia – Falei meio baixo (afinal ainda é de manhã) e terminei de colocar um pouco de suco no meu copo. 

– Bom dia… – Respondeu com a voz rouca de sono.

– Eu já fiz o café – disse colocando os dois sanduíches em pratos diferentes. 

– Sério? O que você fez? – Perguntou. 

– Estava com preguiça então fiz algo rápido… – Já fui logo avisando – Aqui, sanduíches de geleia com pasta de amendoim, você gosta? 

– Uhum – Ele concordou. Coloquei o prato e o copo de suco que tinha preparado na mesa, ou melhor na frente dele e depois peguei o meu antes de me sentar. 

– Me acostumaria facilmente com isso… – Reparei o sorriso escárnio em seu rosto e ri. Ele se referiu ao modo que eu o servi, deixando a comida bem na frente dele, enquanto o mesmo não precisou fazer nada. 

– Então acho melhor não ir se acostumando não – devolvi o sorriso, de maneira mais reservada e debochada – Se não vai acabar passando fome enquanto estiver aqui. 

Sasuke soltou um sorriso divertido e resolveu comer de uma vez. Fiquei o observando comer em silêncio, mas a curiosidade falou mais alto. 

– O sanduíche é do seu agrado? – Claramente minha pergunta saiu irônica, mas não sei se ele viu como tal. 

Dei a primeira mordida no meu sanduíche esperando uma resposta. 

– Hm… dá para o gasto – Ele por fim respondeu, dando de ombros. 

No momento eu travei. Na verdade, buscava palavras para descrever a audácia dele de falar mal do sanduíche que eu fiz bem na minha frente! Como assim "dá para o gasto"? Eu fiquei indignado e meus lábios entreabertos deixavam isso claro. 

Sasuke por sua vez continuou a comer como se não tivesse falado nada. 

Fechei os olhos absorvendo todo aquele desaforo e me levantei, tentando manter a calma. Fui em direção a pia e comecei a organizar a pouca bagunça que eu fiz ao preparar os sanduíches, os mesmo que aparentam não agradar o paladar requintado do burguês Uchiha! 

Grande idiota! 

Como se não bastasse, ouvi sua risadinha que me fez bufar. Como alguém consegue ser tão mal educado a esse nível? Porque claramente Sasuke Uchiha é! Ninguém em sã consciência falaria mal da comida do outro na frente dele, não faz o menor sentido! 

Eu continuei a xingar o Uchiha mentalmente enquanto esfregava a louça com toda a força possível. Porém, tive que acabar com todas as minhas reclamações quando senti e vi um par de braços rodearem a minha cintura e um rosto se afundar na curvatura do meu pescoço. 

Dando conta do jeito que ele me abraçava foi impossível não corar. 

– Você sabe que eu estava brincando, né? – Ele me apertou um pouco mais contra si e um arrepio percorreu meu corpo. Amaldiçoei a mim e a ele por isso – Você é um ótimo cozinheiro – Completou depositando um beijo na pele exposta do meu pescoço e isso foi o suficiente para que eu ficasse da cor de um pimentão. 

Antes de que eu pudesse ter alguma reação ele terminou de tampar o pote de geleia que eu tinha largado em cima da bancada por estar imóvel. Tudo isso com os braços ainda em roda de mim. 

– Você fez o café, pode deixar que arrumo a bagunça. Prometo que isso eu sei fazer direito – Riu. 

Eu me virei rapidamente para olhá-lo, porém eu não constatei que ficaríamos a centímetros de distância e que qualquer movimento resultaria em um beijo acidental. Senti seu olhar desviar dos meus olhos e descer para a minha boca, eu podia morrer naquele momento. 

– T-tá – Minha voz saiu falha. Droga! 

Ele esbanjou um sorriso de lado e deu passagem para que eu voltasse à mesa. Assim eu fiz e continuei a comer meu sanduíche, sentindo minhas bochechas queimarem. 

Odeio agir que nem besta por conta dessas aproximações, não importa que eu esteja irritado ao ponto de querer matá-lo! Se ele chegar perto de mim desse jeito, ainda mais com outra intenção, conseguirá facilmente quebrar todas as minhas barreiras, não importa o meu humor no momento. 

Odeio ser tão fraco em relação a você… 

••• 

Terminamos o café da manhã e como ele prometeu no meio daquela cena constrangedora, Sasuke lavou os pratos e eu guardei a geleia, a pasta de amendoim e o pão de forma. 

Juntos conseguimos deixar tudo limpo antes de partir para o colégio.

Eu não consegui esconder o rubor das minhas bochechas nem depois de sair de casa. É clara a minha vergonha, afinal eu não estou nada acostumado com esses gestos mais carinhosos e não estava preparado para ficar tão perto dele a ponto de um beijo. 

Os olhos cor ônix e a miséria distância entre nós foram o suficiente para que eu sentisse borboletas na minha barriga, meu corpo paralisasse e eu ficasse levemente hipnotizado. Sasuke é bonito e eu tenho consciência disso, mas ele consegue ser perfeito em todos os quesitos e eu mentiria se não dissesse que tenho um pouco de inveja daquele sorriso, que particularmente eu acho lindo. Por ele ser um garoto sério acho que posso ter uma grande sorte de vê-lo sorrir em algumas ocasiões. 

– Nerd, tudo bem? 

Pisquei os olhos e sacudi a cabeça para voltar a realidade e só aí percebi que estava o encarando como um psicopata. Meu deus, alguém pode me matar? 

– Sim, eu estou. Por que? – Desviei o olhar rapidamente. 

– Hm… é que você estava me encarando – Falou e eu pude ver o sorriso travesso que nascia nos lábios finos – E eu posso jurar que tinha um certo brilho nos seus olhos… 

Engoli em seco mas continuei a atuar uma normalidade. 

– O que você está querendo insinuar? – Cerrei os olhos tentando conter meu nervosismo – Que eu estava te admirando? – perguntei automaticamente.

– Você estava me admirando? – Ele riu e eu fiquei em silêncio, apenas processando a minha vergonha – Você está muito apaixonado por mim. 

Grunhi irritado. 

– Larga de ser idiota, eu não estava te admirando coisa nenhuma! Não se ache! – Cruzei os braços. 

– Ah não? – sorriu ladino – Então por que você… 

– Olha, chegamos no colégio! – O cortei rapidamente, agradecendo a Kami por estarmos em frente ao portão. Não tenho mais nenhum argumento para essa discussão.

Percorri o olhar por todo o pátio e sorri abertamente ao ver nossos amigos mais ao fundo conversando. 

– Olha lá, nossos amigos, vamos!

Não dei chances para que ele questionasse e simplesmente o puxei junto comigo. Sasuke bufou. 

– Oi pessoal – Cheguei próximo de todos e larguei o Uchiha irritado imediatamente. 

– E aí, Naruto – Shikamaru veio até mim e fizemos nosso toquinho casual. 

– Oi Sasuke – Hinata abraçou o moreno como sempre e o mesmo retribuiu – Oi Naru, como vai? – Ela veio até mim com os braços abertos e eu a acolhi em um abraço também. 

– Vou bem Hina, obrigado – Sorri gentilmente. Apesar dela saber de muita coisa, eu já estou envergonhado o suficiente para ter alguma reação. 

– Vocês estudaram para a prova? – Gaara perguntou.

– Um pouco – Suigetsu falou enquanto cumprimentava Sasuke com um toquinho que somente os dois tinham – Sou bom em geografia, não acho que tiro uma nota ruim. 

– Eu dei uma boa revisada no conteúdo. Tirei seis na minha última prova e minha mãe não gostou nem um pouco – Kiba balançou a cabeça e fez uma careta, provavelmente querendo esquecer da bronca que deve ter levado da mãe.

– Eu fiquei esse final de semana estudando, por mais que a geografia seja mais fácil que as outras matérias eu dei uma revisada em todas. – Sasuke falou normalmente e eu não pude deixar de me surpreender.

Então ele continuou estudando mesmo sem mim? Claro que eu não duvido da capacidade dele, mas pensei que sem um bom sermão ele poderia fraquejar, pelo visto estava errado. 

– Tenho certeza que você vai se sair bem – falei não contendo o sorriso orgulhoso.

– Obrigado… – Ele pareceu meio atordoado, mas sorriu. 

– Naruto meu querido, preciso conversar com você rapidinho antes do sinal tocar – Sakura interrompeu a conversa me puxando pela camisa – Nos vemos na sala gente! – avisou dando um sorriso para o grupo antes de me puxar para fora dali. 

Fui puxado pelos corredores até o quartinho de limpeza, que é onde ela sempre me puxa quando tem uma fofoca para contar ou quer conversar em particular. Assim que ela fechou a porta, passou a me olhar com os braços cruzados. 

– Estou esperando você começar a me contar tudo! Desembucha! – Bateu o pé no chão, impaciente. 

– Tá ok! – Levantei as mãos, em sinal de rendição e soltei uma risadinha – Por onde você quer que eu comece, hm? 

– Quero que você comece me dizendo por que estava chorando ontem – Seu tom amenizou, mas ela continuou firme – Aquela conversa do cisco não colou nem um pouco. 

Tive que rir da minha ingenuidade, claro que aquela desculpa esfarrapada não iria ser o suficiente para Sakura, ela me conhece mais do que ninguém para acreditar em uma bobagem assim. 

– Bom… – Comecei já indo direto ao ponto, não tem o porquê guardar isso mais – Depois que eu saí da quadra e fui para o banheiro, encontrei o Sasuke e a Hinata conversando no corredor, eu iria passar direto é claro. Mas ouvi meu nome então decidi me esconder e escutar. 

– Não sabia que você era bisbilhoteiro – Repreendeu e eu revirei os olhos. 

– Eu disse que citaram meu nome então decidi ouvir. Você me conhece! Se eu não fosse o motivo do assunto, não escutaria conversa dos outros. 

– Tá, tá! – contentou-se balançando as mãos para que continuasse a contar. 

Respirei fundo. 

– Eu fiquei ouvindo eles por um tempinho até escutar o Sasuke dizer que aquele selinho foi um erro e que eu não passava do mesmo nerd de sempre – falei, embora ainda me sentisse um pouco ruim por lembrar de uma coisa que me afetou bastante… 

Sakura arregalou os olhos, mas eu continuei a falar sem deixar ela colocar algum argumento em pauta como eu sabia que ela faria. 

– Eu não pensei que ouvir aquilo iria me fazer tão mal… eu me senti magoado, foi horrível ter escutado aquilo. Então eu saí correndo de lá sem escutar o resto da conversa, não queria mais ouvir nada do tipo e quando eu cheguei na sala só percebi que estava chorando quando você me falou. Por isso inventei uma desculpa, não queria te preocupar. 

Vi que Sakura tinha um misto de tristeza e irritação no olhar. 

– Então foi por isso que você estava chorando… – sua fala saiu mais como uma confirmação a si mesma. Ela fechou os olhos e cerrou a mão em um punho – Como aquele hipócrita teve a audácia de te beijar e ainda por cima dizer que foi um erro! 

– Calma, Saky – Tentei tranquilizá-la. Sei que deveria ter contado antes e uma notícia assim basicamente foi um impacto, mas ela não tem motivos para ficar brava com ele, não agora – Lembra que eu falei que não escutei o restante?  

– Hm – Ela permaneceu imparcial. 

– Então, parece que os dois continuaram conversando e a Hinata esclareceu a mente dele. 

– Como assim? 

Sorri vendo que a carranca dela passou para uma feição repleta de confusão e curiosidade. 

– Ontem o Sasuke me chamou para conversar, mas eu ainda estava magoado com tudo que tinha ouvido então tentei me afastar. Porém ele insistiu e eu acabei cedendo. Fomos até a salinha onde ficam os materiais para a educação física e lá eu simplesmente explodi e joguei toda a mágoa que tinha guardado em cima dele… – Desviei o olhar lembrando da parte horrível da conversa. Apesar de termos saído de lá bem, eu me senti horrível em ter que relembrar de tudo. 

– E ele? – Sakura perguntou, instigando cada vez mais para que continuasse. 

– Bom… – senti minhas bochechas esquentarem – Ele começou a… confessar para mim. 

– Espera, oi? Confessou o que? – Se aproximou, ainda com os braços cruzados.

Estava claro que ela queria fazer uma certa pressão para que eu contasse. Tive que respirar fundo e tentar controlar a minha vergonha. 

– Por Kami Naruto! Fala logo! – Suplicou. 

– Que ele gosta de mim – Falei de uma vez, tendo que tampar meu rosto pela clara vergonha que eu estava passando. 

A salinha caiu no silêncio, eu com meu rosto vermelho de vergonha e a Sakura atônita no lugar. Fiquei alguns segundos esperando ela dizer alguma coisa, mas nada. 

– Sakura? – Chamei balançando seu braço. 

– Meu Deus! – Ela arregalou os olhos e eu assustei. Como que a garota dorme e acorda do nada assim? 

Então, toda aquela expressão durona da Haruno se esvaiu dando lugar a um sorriso. 

– Então quer dizer que "O grande Uchiha" está boiolinha por você e até se declarou? – Perguntou desacreditada. 

– Bom… boiolinha eu… basicamente – Eu não soube muito bem o que responder. 

– Meu deus, eu não creio! – Sorriu de ponta a ponta – E depois? O que aconteceu? – Ela segurou meu ombros e olhou diretamente nos meus olhos. 

– Bom… – soltei uma risada vendo toda a sua euforia, mas continuei a falar – Eu duvidei do que ele disse, afinal não entrava na minha cabeça que isso fosse possível. Eu tentei sair da sala depois disso, mas ele me impediu e… me puxou para um beijo… – falei a última parte em um tom baixo, claramente constrangido em ter que contar tudo isso mas não tinha escapatória hora ou outra ela iria saber. 

– Espera… – Vi um brilho nascer nos olhos dela – Você quer dizer um selinho, ou um beijo mesmo? – Perguntou, eufórica demais por sinal. 

Engoli em seco antes de responder. 

– Um beijo… 

Minha resposta foi o suficiente, seus olhos se arregalaram e ela deu um gritinho estridente que eu tive que tapar com a minha mão. 

– Dá para não fazer escândalo? – Pedi, embora estivesse com a maior vergonha de estar ali no momento, não queria que mais ninguém soubesse por enquanto. Só que do jeito que ela é, todos que passavam no corredor ficaram sabendo se eu não impedisse. 

– Aí deixa de ser chato! – Ela tirou minha mão de sua boca e sorriu – E depois do beijo, o que rolou? 

Soltei o ar desacreditado e suspirei. 

– Eu acreditei nele e falei o que eu sentia… 

– E o que você sente? – novamente, a curiosidade em primeiro lugar. 

– Eu… – Cocei a nuca – Estou apaixonado por aquele idiota – Por mais que minha fala tivesse saído baixa, ela escutou e sorriu satisfeita. 

– Caralho! – Soltou o ar – Agora sim eu acredito em fadas, duendes, essas coisas impossíveis! – Riu. 

O sinal bateu, cortando todo o barato da garota e foi a minha vez de rir. 

– Vem, vamos para a sala – Abri a porta deixando ela sair primeiro. Ela e o seu tédio por ter que estudar. 

•••

As duas primeiras aulas foram extensas e cansativas e como se não fosse o suficiente ainda tivemos a prova de geografia na terceira aula. Me senti um pouco mal por não ter estudado ontem, podia ter ajudado o Sasuke e a mim mesmo se tivesse ao menos revisado a matéria, mas me esqueci completamente e passamos a tarde assistindo filmes, não que eu ache isso ruim, claro. 

Terminei a prova facilmente, a matéria não estava tão difícil como eu pensei então fiquei mais tranquilo, principalmente quando vi Sasuke largar a caneta na mesa e dar um sorriso discreto, que eu descobri. Fiquei com receio de que ele não conseguisse finalizar a prova, sei que ele fica muito nervoso, mas aparentemente não precisei me preocupar tanto, seu sorriso foi mais do que o suficiente para que eu relaxasse. Não quero que ele arrume problemas com o pai de novo. 

Porém, agora no intervalo tive que me orgulhar novamente, fizemos a prova de física ontem e a professora decidiu falar as notas de uma vez e Sasuke conseguiu tirar 10! 

– Dez? – Hinata praticamente dava pulinhos, orgulhosa e feliz pela nota do melhor amigo. 

– Caramba, parabéns! – Suigetsu exclamou batendo levemente nas costas do moreno, que por sua vez não gostou da brincadeira mas agradeceu. 

– Meu aluno é eficiente, parabéns – Brinquei arrancando risadas de toda a roda – Eu sabia que você ia se sair bem, sua mãe e seu irmão vão ficar orgulhosos. 

– Obrigado e espero que sim… – Sasuke sorriu. 

– Naruto, você não tem um horário na sua agenda para me ajudar nos estudos também? – Kiba perguntou em um tom brincalhão e todos riram. 

– Me desculpe… – Decidi entrar na brincadeira – Mas já gasto todo o meu estoque de paciência com o Sasuke – apontei para o mesmo e sorri de forma afrontosa. 

O Uchiha me olhou de boca aberta, surpreso pela minha audácia eu imagino, mas foi a situação perfeita para eu me vingar do seu comentário sobre o meu café da manhã. 

Mordi o lábio contendo o máximo para não rir da cara que ele estava. 

– O que disse, loiro oxigenado? – Perguntou entre dentes. 

– Nada não, gângster... – Devolvi o apelido. Já não me aguentando mais segurar, gargalhei alto sendo acompanhado por todos da roda. 

Esse com certeza foi o melhor apelido que já criei! 

Sasuke fechou os olhos e soltou um sorrisinho antes de se aproximar sorrateiramente, aproveitando da algazarra à nossa volta para chegar bem próximo do meu ouvido. O ato me surpreendeu, claro, mas não pode deixar de sentir um frio na espinha quando ele falou, bem baixo e ameaçador: 

– Vai ter volta, Nerd. 

Ele se afastou e engoli em seco visualizando seu sorriso. 

Ok, talvez eu esteja ferrado… 

••• 

Educação física… a única aula que mais odeio em toda a minha vida! Eu nunca me dei bem com esportes, já falei sobre isso. Sou uma pessoa lenta demais quando o assunto é reflexo, sem dizer que não tenho agilidade nem velocidade o suficiente para acompanhar os jogos, sou um verdadeiro fracasso em campo! 

As únicas vezes em que me dou bem é quando não podemos usar a quadra e a aula tem que ser escrita, aí sim eu consigo me sentir em paz, mas hoje vamos ter que jogar e para a minha infelicidade a quadra está em perfeito estado. 

– Muito bem galera, bora, hoje vamos jogar vôlei! – Guy, nosso professor, anunciou batendo palmas, na intenção de chamar a atenção de todos os alunos – Juntem aqui, vou escolher os times! 

Por um momento me senti aliviado por não ser queimada, não queria sair com um olho roxo da escola novamente. Mesmo assim, nunca fui bom em vôlei, óbvio! 

– Hoje eu que vou escolher os times, primeiro os meninos e depois as meninas, ok? – Sua pergunta foi praticamente retórica.

Todos sabiam que ele não voltaria atrás e embora houvesse murmurinhos nada satisfeitos da turma, todos concordam. Ninguém gosta quando o Guy-sensei escolhe os times, além de não poder ir com seu amigo ele sempre coloca pessoas bem aleatórias.

– Primeiro os meninos – Orientou. 

As garotas comemoram animadamente por não serem  as primeiras a jogar, enquanto eu me afogava no meu próprio poço do desânimo. 

– Guy-sensei! – Corri até o treinador – Posso ficar sentado hoje? Sabe eu estou passando meio mal… – fingi um sorriso inocente. Eu não quero mesmo participar! 

– De novo Naruto? – Guy reclamou – Não é a primeira vez que você me vem com desculpas, precisa participar se não quiser ficar de recuperação justo em educação física! – Repreendeu. 

Suspirei alto. 

– Eu sei Guy-sensei… mas sabe que esportes não é muito minha área… 

– Naruto, sem desculpas. Vá para junto dos seus colegas, vou escolher o time – Ele se afastou chamando a atenção dos garotos. 

Soltei um suspiro frustrado e me juntei a eles, mesmo que a contra gosto. 

Como o universo me ama muito, meu time era composto por garotos que eu nunca cheguei a conversar, apenas Kiba e Shikamaru que eram meus conhecidos e para a minha grande "sorte" todo o resto dos meus amigos estava no time adversário, inclusive k Sasuke. 

– Tirem par ou ímpar para escolher o lado da rede ou a bola – Guy avisou. 

Shikamaru que estava próximo a rede tirou par ou ímpar com o Sasuke, que também aproveitou da pouca distância para resolver de uma vez. 

Infelizmente ou felizmente, não sei muito bem em que posição devo estar aqui, Shikamaru perdeu e voltou para perto do nosso time.

Sasuke decidiu ficar do mesmo lado que Guy havia o colocado para não dificultar. Seu time começou com a bola e ele sacou assim que Guy-sensei apitou dando início a desgr- quer dizer, ao jogo. 

O saque de Sasuke passou perfeitamente por cima da rede e Shikamaru que estava mais próximo dela conseguiu rebater e marcar um ponto para nós. 

– Ponto para o time da direita! – Guy exclamou apontando para nós, logo escrevemos na sua prancheta o placar. 

[...] 

Minutos se passaram e eu me sentia cada vez mais um estorvo ali no meio. Por minha causa e da minha lerdeza o time adversário já estava com 4 pontos na frente, isso porque errei milhares de saques e não consegui rebater quando a bola veio na minha direção. 

– Porra Naruto, joga direito! – Um garoto do nosso time exclamou, visivelmente irritado por eu não ter conseguido tocar a bola para o outro lado, dando um ponto de graça para o time do Sasuke. 

– Deixa ele cara, todo mundo erra! – E mais uma vez Shikamaru estava lá, me defendendo de comentários idiotas que os outros garotos falavam sempre nos jogos. 

– Obrigado, Shika… – Agradeci baixinho, totalmente desanimado. 

É assim que me sinto, desanimado e um completo estorvo na hora dos jogos! É humilhante ter que ficar sendo julgado por fazer algo que claramente você não tem experiência alguma e mesmo insistindo para não participar Guy-sensei sempre me empurra para a maldita quadra! 

[...] 

A educação física finalmente acabou e nosso time acabou perdendo, por culpa minha e dos meus erros idiotas. Kiba e Shikamaru não demonstraram ficar frustrados comigo, claro que não eles são meus amigos e acima de tudo muito mais legais. Porém o restante do time está irado e eu sinto que a qualquer momento um deles pode pular em cima de mim de raiva, mas se for analisar bem, eles tem razão de estarem assim… fui um franguinho no campo, como eles mesmo dizem. 

– Porra era só ele fazer a porra do toque! – O mesmo garoto de mais cedo falou. 

– Né mano! Pra piorar o saque dele é horrível, como que o Guy-sensei deixa? – Outro completou. 

– Mandou muito bem Naruto! – O garoto falou, com sarcasmo e raiva na voz. Ele passou do meu lado, esbarrando em mim de propósito e tudo que eu fiz foi suspirar em exaustão.

– Mesmo virando um popularzinho ainda continua o mesmo frouxo! – Outro do time falou revirando os olhos. 

– Caralho, você pretende perder até quando? – Um dos garotos, de cabelo escuro e arrepiado veio até mim, me ameaçando com a sua própria altura e força que obviamente são o dobro da minha. 

Engoli em seco vendo ele se aproximar cada vez mais, dando passos pesados com o punho cerrado com força. 

– Dá pra calar a boca? – Sasuke apareceu na minha frente, praticamente barrando a passagem do moreno. 

– Qual é Uchiha, esse franguinho ferrou com o meu time! – O garoto moreno falou apontando para mim. 

– E daí? Deixa ele em paz porra… – Sasuke suspirou. Eu sei que ele já está irritado, sou eu a pessoa que mais o irritou no mundo! Como não iria saber reconhecer um sinal de estresse? 

– Fala sério Sasuke – O garoto riu nasalado – Vai ficar do ladinho do Nerd agora? Que idiotice… 

– Cala a merda da boca? Não quero me estressar com você – Sasuke falou e eu percebi o tom irritado de sua voz. Meu olhar desceu até sua mão, a qual já estava cerrada em um punho e então voltei a olhá-lo um pouco espantado, por mais que não tivesse muitas visão a não ser suas costas. 

– Vai se doer pelo Nerd? – O acastanhado riu ironicamente – Pelo amor de deus Sasuke, pensei que você fosse melhor do que… 

Um segundo, esse foi o tempo que o Sasuke levou para agarrar o de fios castanhos pelo colarinho e o elevar centímetros do chão. 

Todos do vestiário ficaram surpresos, mas nenhum teve coragem de se aproximar. 

– Vou esclarecer duas coisas para você – Sasuke falou e da onde eu estava pude ver um sorrisinho cínico crescer nos lábios do Uchiha – Quem chama ele de Nerd sou eu, então não ouse usar esse apelido. Segundo, se você falar mais alguma merda e tentar fazer alguma coisa com ele, eu juro que arrebento você. 

Do mesmo jeito que foi puxado, Sasuke o largou, fazendo-o cair no chão, com brutalidade. O vestiário caiu no silêncio e esperou o Sasuke sair para começarem os murmurinhos. 

Eu fiquei ali, pasmo com a situação. Eu não imaginei que o Sasuke chegaria a ser tão violento com alguém assim por conta de comentários idiotas. 

Ao sair do meu transe engoli em seco, juntei minhas coisas rapidamente e saí do vestiário à procura do moreno. Por sorte não o encontrei tão longe. 

– Sasuke! – Chamei correndo até ele pelo corredor.

Ele virou para trás e esperou que eu o alcançasse. 

– O que foi aquilo? – Perguntei imediatamente. 

– Só um aviso, ele estava enchendo o saco – Respondeu normalmente. 

– Não precisava fazer aquilo! Você ameaçou ele! – Acusei em repreensão. Não quero que ele arranje brigas. 

– Não precisava mas eu quis fazer, ok? – Deu de ombros. 

– Ele tinha razão de estar bravo comigo, eu fui horrível no jogo… 

– Não tinha não – Ele negou bufando – Aquele babaca não precisava ser tão arrogante só porque seu time perdeu. 

– Mas- 

– Sem mas, Naruto. – revirou os olhos – Eles não podem te tratar daquele jeito e eu não vou deixar.

– T-ta – Suspirei. Parece que não tem outro jeito a não ser aceitar, mas de certa forma eu me surpreendi com tudo isso. Não sabia que Sasuke ficaria tão irritado com uma pessoa que falou rudemente comigo. Isso… foi até que bom de se ver… 

•••

Sasuke pov 

A minha manhã foi estressante, além das duas primeiras aulas estressantes tivemos prova na terceira, de geografia. No começo eu fiquei um pouco receoso mas decidi confiar em mim mesmo dessa vez. E resolveu por que eu consegui responder as questões com tranquilidade e respondi tudo com uma certeza gratificante. 

Ter estudado no final de semana nunca foi tão útil assim. 

Ainda recebi a ótima notícia de ter tirado 10 na prova de física. Fiquei nervoso à toa, mas ao menos ganhei uma boa nota. 

Agora, já na casa do loiro, Naruto e eu estamos estudando um pouco para mais uma prova amanhã.

Ele fez almoço e confesso que a comida dele é ótima, só perde para a minha mãe, é claro. A brincadeira de hoje de manhã não sai da minha cabeça, achei engraçado quando ele caiu na minha brincadeira e ficou emburradinho, claro que eu aproveitei a oportunidade lhe abraçando por trás e não me arrependo nem um pouco disso. A sensação do abraço e o rosto envergonhado dele foram mais do que o suficiente. 

Porém, tem algo que vem me incomodando desde que saímos da escola. Aqueles garotos idiotas, sinceramente eu não suportei ter que ficar ouvindo o desaforo daqueles idiotas. Naruto não é bom nos esportes, mas e daí? Ele não precisa ser esculachado por causa disso toda hora. 

Eu sei a sensação de ser xingado e menosprezado, se por uma pessoa já é horrível imagina para o Naruto que tem que ouvir tudo aquilo de todos os garotos do time? 

Não lidei as coisas como deveria, deixei-me agir pela raiva que sentia dos garotos naquele momento e por mais que eu tenha ameaçado só um acho que o recado foi para todos, assim eu espero.

Agora por consequência disso, nosso estudo está sendo o maior tédio. Naruto está triste e eu vejo isso por mais que ele tente disfarçar na hora de explicar a matéria. 

– Aí você…

– Chega – Tirei o livro da sua mão e coloquei do outro lado da mesa. 

– Ei! – Protestou – O que está fazendo? 

– Você está assim por causa da aula de educação física, não é? – Perguntei olhando para as safiras azuis com seriedade. 

– Assim como? – Ele desviou o olhar. 

– Assim! – Apontei para ele mesmo – Você está desanimado e triste, algo que claramente você não é! – Acusei vendo ele me olhar espantado – Então me diz, é por causa da educação física? – perguntei o óbvio, mas queria que ele fosse sincero comigo. 

Sei que ele está chateado por conta da educação física, afinal quem não ficaria magoado com comentários do tipo dirigidos a si? E olha que não é de hoje que ele escuta isso.

Naruto ficou um tempo em silêncio, até respirar fundo e decidiu falar. 

– Sim… é por causa disso – Finalmente confessou. As mãos se apertaram em apreensão – Eu fui horrível no jogo como sempre, não consigo fazer nada a não ser atrapalhar. 

– Naruto, não dá para ser perfeito em tudo – Ri da minha própria comparação – Qual seria a graça da vida se soubéssemos tudo? E os desafios? 

– Sei que fui um estorvo Sasuke… – Ele falou baixo, abaixando a cabeça em seguida. 

– Naruto, você não foi um estorvo. Se eles fossem bons mesmo como dizem ser teriam ganhado com ou sem sua ajuda – Falei tentando soar da maneira mais firme possível, ele tem que acreditar. 

– Mas eu deveria ter ajudado, não atrapalhado! – Retrucou – Tsc… eu queria ser bom nos esportes ao menos. 

– E se eu te ensinar, hm? – propus. 

Sempre fui bom nos esportes, mesmo que inconsequentemente. Naruto me ajudou bastante e ensinar ele a jogar seria divertido com certeza. 

– Sério? – Ele ergueu a cabeça. 

– Se você quiser, sim – Reforcei. 

Ele sorriu. 

– Sim eu quero, mas… não sei se vou conseguir aprender – E ali sua insegurança falava mais alto novamente. 

– Porra Naruto! – exclamei – Se eu tirei 10 na prova você também consegue aprender a jogar! 

O loiro riu e revirou os olhos. 

– E então? – instiguei ainda esperando uma resposta. 

– Tudo bem, eu aceito. – Sorriu. 

– Ótimo. Mas tem uma condição – Levantei o indicador. 

– Condição? 

– Sim – confirmei – Não quero que você fique aguentando mais o desaforo daqueles idiotas, ok? 

– Ok… – Aceitou revirando os olhos. 

– Ótimo – Antes que ele voltasse a pegar o livro segurei seu queixo e o trouxe para mais perto, conseguindo finalmente roubar um selinho dele, o mesmo durou cerca de cinco segundos. Eu o soltei e sorri vendo as bochechas dele já coradas.