História O acordo - Hello, New York!

A vida é tão frágil, o ser humano em si é extremamente frágil, parecemos ser fortes como aço, vivemos como se fossemos feitos de titânio, mas um vírus microscópio já é capaz de nos eliminar, às vezes nos perdemos dentro de nossos histórias e passamos a acreditar que somos invencíveis, que nada pode nos parar, e é quando a vida do nada decide nos mostrar por mero capricho que somos muito mais frágeis do que um dia sonhamos.

Nos últimos tempos eu estava agindo como alguém inatingível, nada poderia me parar até eu atingir meu objetivo, foi quando eu senti aquela bala atravessar minha pele, se alojar na minha costela, e me fazer sangrar como nunca antes, aquilo me rasgou com uma facilidade tão grande que me lembrou que eu era de papel, e no fundo, todos não somos?

Meros origamis de papel andando por ai, tentando disfarçar o nosso verdadeiro material, nos passando por gigantes de aço, até que a vida se encarrega de te molhar, rasgar, perfurar... Muitas vezes só para te lembrar que não importa o que você faça nesse mundo, no fim das contas você ainda será frágil, essa palavra me marcou de um jeito único que nunca vou conseguir descrever, à propósito, foi a primeira palavra que eu li quando abri os olhos, uma caixa com os dizeres “cuidado, frágil” em uma fita.

Quando enfim minha visão voltou ao normal eu percebi que não estava mais na cidade, pelo contrário, eu estava longe de lá, em um quarto de hospital, um hospital bem sofisticado aliás, não conseguia entender o que se passava, até que uma enfermeira se aproximou de mim.

- Glad you woke up, are you feeling better? – a enfermeira perguntou sorrindo.

- você está falando em inglês comigo? – Naruto franziu as sobrancelhas.

- Can you remember what happened? – a enfermeira começou a checar os sinais vitais do loiro - Do you know where it is?

Eu estava assustado, aquilo só podia significar que eu realmente estava muito longe de casa, meus batimentos aceleraram, eu não havia visto o Itachi e nem ninguém que estava lá naquela noite, eu estava entrando em pânico quando ouvi uma voz muito familiar, que me alegrou de certo modo.

- vai ficar tudo bem agora, - Hinata entrou no quarto sorrindo – bem vindo de volta à Nova York!

- o que? – Naruto se surpreendeu.

- você não tem jeito mesmo, - Hinata se aproximou – foi só ficar longe de nós que se meteu em confusão hein!

- Hinata, - o loiro se sentou na cama – o que você está fazendo aqui e o que eu estou fazendo aqui?

- olha, você não vai acreditar! – a garota sorriu.

- impossível, - Naruto se abraçou – você não faz ideia das coisas que aconteceram comigo, qualquer história bizarra vai parecer normal pra mim...

- na verdade eu faço ideia sim, - a garota ficou séria – pouco tempo depois que você foi embora, eu comecei a advogar no escritório da família do Sasori, então acredite em mim, estou a par de tudo que vem acontecendo...

- mas como? – o loiro arregalou os olhos.

- há um tempo o comportamento dele havia mudado, - Hinata explicou – ele estava distante, faltando às reuniões e coisas do tipo, foi quando um dia do nada ele me passou todos os casos que estavam sobre a sua guarda, ele disse que iria viajar para ajudar um amigo com um caso muito maior, eu não me preocupei na hora, achei que era só uma desculpa pra ir atrás do noivo dele, uma pessoa tão desprezível, tão imatura, ele me dava nos nervos!

- eu bem sei... – Naruto suspirou.

- mas ele voltou depois de poucos dias, o que não costumava ser normal, ele passava horas a fio dentro do seu escritório com um caso único, eu acreditava que fosse algo grande, ele ligava para contatos importantes, recebia arquivos, e-mails, tudo era sigiloso, ninguém sabia do que se tratava, foi quando os telefonemas começaram, ameaças escritas, chegaram a quebrar o carro dele como forma de aviso, todos ficamos muito preocupados, mas ele não explicava o que estava acontecendo, até o dia do incêndio, quando eu fui vê-lo no hospital ele me pediu para cuidar de todos os arquivos do caso, pois eles não podiam ser violados, nem cair nas mãos erradas, eu peguei e guardei onde ninguém poderia pegar, mas como ele estava inconsciente eu li o caso, afim de saber mais sobre aquilo que vinha acontecendo, - a garota carinhosamente passou a mão no rosto do loiro – coitadinho, você deve ter sofrido tanto...

- eu? – Naruto não entendeu.

- é... – Hinata estranhou.

- precisa levar um tiro para rever os velhos amigos! – Shisui entrou no quarto – o bom filho à casa torna! Se sente melhor?

- acho que sim, - Naruto disse abraçando o amigo – que saudade!

- está tentando me matar do coração?! – Shisui sorriu – quase morro quando soube!

- é? – o loiro disse sorrindo – nossa esse mundo é muito pequeno, eu fiquei surpreso quando encontrei com o Kakashi, e agora rever vocês dois, não tenho nem palavras pra descrever...

- pode dizer que eu fiquei mais bonita! – Hinata sorriu.

- alguém sabe do Itachi? – Naruto perguntou.

Eles se entreolharam, demoraram para me responder, eu temi o pior.

- ele está bem? – Naruto questionou mais uma vez.

- depende do que você chama bem, - Shisui riu – ele não tomou um tiro se é o que você quer saber...

- e onde ele está?

- na editora, - Hinata explicou – o pai dele o convocou assim que soube que ele estava na cidade, e como você estava acordando e desmaiando à todo instante, ele acabou não indo nos primeiros dias, só que não deu mais pra adiar...

- primeiros dias? – Naruto ficou confuso.

- você não percebeu né? – Shisui pareceu preocupado.

- o que? – Naruto estava ficando assustado.

- você perdeu muito sangue, - Hinata explicou – então teve pequenos intervalos de consciência, mas foi preciso muitas transfusões, fora isso, as cirurgias que você passou...

- há quanto tempo eu estou aqui?! – O loiro estava ficando desesperado.

- três dias... – Shisui respondeu.

Eu já li várias frases e reflexões sobre o passado, e é um fato que não se pode morar lá, mas uma coisa que geralmente as pessoas não contam, o passado não está morto, ele pode voltar sim, e assombrar seu presente, ele é inconstante, e se reflete grandemente nas suas atitudes do presente, eu estava muito feliz em rever a Hinata e o Shisui, pessoas extremamente especiais pra mim, que marcar meu passado de forma muito positiva, mas naquele momento eu fiquei com um frio na barriga, porque no passado havia uma pessoa que nos ligava, e bom, essa pessoa eu definitivamente não queria ver.

- em breve você poderá ter alta, - Hinata comemorou – eles só estavam esperando você ficar plenamente consciente, vai ter que dormir aqui hoje, mas amanhã já poderá ir pra casa, e nossa eu mal posso esperar para andar pelas ruas agitadas de New York com você novamente!

- será como nos velhos tempo! – Shisui sorriu.

- melhor tempos? – Kakashi entrou no quarto sorrindo – se for nostalgia é comigo mesmo!

Eu não pude deixar de perceber que Shisui ficou claramente sem graça com a presença de Kakashi, ele evitava o olhar diretamente, ao contrario de Kakashi, que o encarava constantemente.

- não é mesmo! – Hinata sorriu – já vou puxar uma lista dos bares mais badalados do momento, o Shikamaru ficou muito feliz em saber que você estava aqui, e preocupado... Ai meu Deus! Eu nem avisei que você já estava bem! – a garota pegou o celular e foi saindo – vou fazer isso agora mesmo!

- é muito bom te ver bem, - Kakashi se aproximou – foi um susto e tanto!

- nem me fale, – Naruto suspirou – sinto como se tivesse parado de ler um livro e perdido a página!

- calma, - Kakashi riu – não aconteceu muita coisa depois, acertaram você, eu fiz uns telefonemas, viemos de helicóptero pra cá, no caminho o Sasuke e o Deidara quase se mataram, então é melhor nem comentar sobre a discussão na casa do Itachi...

- você ouviu também? – Naruto se surpreendeu.

- num raio de 100 km era possível ouvir aqueles dois, - Kakashi continuou – mesmo puto da vida, o Itachi não soltou sua mão em nenhum momento, apenas quando você entrou na sala de cirurgia...

- eu esperava encontra-lo aqui... – Naruto suspirou.

- até porque é o que as pessoas fazem quando se amam, - Shisui disse em tom sério – ficam até o fim uma do lado da outra, não existe esse papo de prioridades...

- até porque pra garantir que tudo ficasse bem ele teve que se afastar por um tempo, - Kakashi respondeu um tanto irritado – espero que você reconheça isso, que tudo que ele faz é pensando em você...

- pois se eu fosse você eu cortava isso de agora, - Shisui continuou – porque se ele não está aqui agora imagina daqui há uns anos, em momentos importantes? Ou melhor o que ele vai chamar de importante...

- ainda bem que você é uma pessoa madura não é mesmo? – Kakashi provocou – e sabe que o mundo não gira em torno de você...

- eu vou ver se a Hinata precisa de ajuda! – Shisui saiu batendo o pé.

De olhos arregalados eu estava, de olhos arregalados eu fiquei, Kakashi passou as mãos no rosto respirando fundo, ele ficou visivelmente nervoso, depois de uns instantes ele me disse mais calmo.

- consegui falar com o Menma, ele está bem...

- ele sabe de alguma coisa à respeito? – Naruto perguntou preocupado.

- não muito, - Kakashi suspirou – só tem hipóteses, até então, é a única coisa que nós temos também, ele acha que foi uma resposta à invasão na prefeitura...

- e você discorda?

- até onde você confia no Menma, Naruto?

- como assim?

- acha seguro confiarmos 100% nele? – Kakashi parecia preocupado.

- eu penso que sim, - Naruto respondeu sério – ele é só uma vítima, assim como tantas outras, por que?

- nada, - Kakashi Deu os ombros – só me preocupa um pouco...

- e o Konohamaru? – o loiro estava preocupado.

- está aflito, as pessoas daquela cidade acham que nos desentendemos entre nós e atiramos uns nos outros, - Kakashi reprovou com a cabeça – foi muito difícil acalmar seu pai, mas tentamos esclarecer...

- e ele?

- te quer o mais longe possível de todos nós...

- o que é compreensível...

- Naruto, vamos aproveitar esse tempo que teremos por aqui para agilizar as coisas, aquele homem não pode ficar à solta, ele é insano!

- eu sei disso...

- descanse agora, - Kakashi fez um sinal para a enfermeira entrar – precisamos que você fique bem logo para sair daqui...

Ela aplicou algo em mim, e meus olhos ficaram pesados instantaneamente, eu não sonhei, nem mesmo dormia de fato, era como se meu corpo tivesse desligado, era como dormir, mas estando acordado, eu me sentia pensando imóvel, de olhos fechados, eu não sei quanto tempo passou, mas ouvi a porta abrir, um perfume amadeirado tomou conta do ambiente, tinha um fundo de hortelã, nunca havia sentido algo igual, mas era inesquecível.

Como qualquer pessoa eu pensei que se tratava de um médico, mas eu comecei a me assustar quando os passos pararam, o perfume estava mais forte, então provavelmente ele estava perto de mim, e ele ficou assim por um bom tempo, sem falar nada, eu ouvia sua respiração calma, que foi se agitando com o tempo, até ficar ofegante, enfim eu senti o calor da sua mão contornar meu rosto, meu coração acelerou, eu não fazia ideia do que ia acontecer comigo, foi quando eu senti sua mão apertar meu rosto com raiva, e sua voz rouca se gravou na minha cabeça.

- você não compensa nem a viagem! – a voz rouca sussurrou no ouvido do loiro – eu pagava para vez seus olhos azuis ficarem vermelhos de tanto chorarem, eu ainda vou ver isso! – disse em tom ameaçador.

Ele se afastou, perfume ficou levemente mais fraco, mas ainda se fazia presente no ambiente, por cerca de uma hora eu fiquei ali assustado, trêmulo, com medo daquele homem voltar, quando ouvi a porta abrir novamente eu fiquei estático, me sentia tão vulnerável, ouvir uma cadeira e se arrastar e enfim senti suas doces mãos segurarem as minhas e ali ficar, eu sabia que se tratava dele, eu lembrei daquele toque, num instante todas as lembranças voltaram, o desespero de Itachi ao me socorrer, suas lágrimas escorrerem em meu rosto, e suas mãos apertarem as minhas, e não soltarem.