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História O Amor É Um Jogo - 17. O monstro de olhos verdes


Escrita por: LeD_Fanfics

Capítulo 17 - 17. O monstro de olhos verdes


Emma entrou e bateu a porta do Fusca. Havia terminado mais um plantão no MET e se sentia meio exausta. Antes que desse partida no carro, o celular em seu bolso vibrou, fazendo-a pegá-lo num gesto automático. Um sorriso pintou sua expressão cansada ao constatar que era uma nova mensagem de Regina. Abriu com certa ansiedade, passando o olhar pela tela do aparelho.

"Encontre-me, dentro de uma hora, no Motel Fazenda Paradise que fica na Rodovia B1, Km 08. Quando chegar, procure o quarto 801 e bata na porta. Venha vestida de "cowgirl" e traga um chapéu e uma estrela de Xerife."

Sacudiu levemente a cabeça enquanto um ar malicioso estampava-lhe o rosto. A advogada ligara mais cedo para saber de que horas a policial ficaria livre do trabalho e, logo, lhe ocorreu que Regina estava aprontando alguma coisa.

"Não há limites para a criatividade dessa mulher!" — considerou, girando a chave na ignição, para percorrer a distância que a separava de casa.

Com o carro já em movimento, ela suspirou, mas seu semblante rapidamente ficou sério. Até quando esses encontros casuais seriam suficientes? O sexo com Regina era perfeito, as fantasias excitantes e instigantes. Adorou cada minuto que passaram no motel, no hotel, na cabana no meio do mato, no galpão abandonado, dentro do carro no estacionamento do campinho depois do jogo contra as bombeiras, e, finalmente, na floresta, quando Regina mostrou que podia confiar nela a ponto de revelar uma fantasia tão secreta.

Não restava dúvida de que não seria diferente no Motel Fazenda. E, no fundo, era isso mesmo que a incomodava: não ser diferente. Naquele dia, um jantar agradável, um bom vinho e uma conversa despretensiosa sobre como fora o dia e quais os seus planos para o futuro, com sua playlist de canções românticas dos Beatles tocando baixinho, seria o melhor programa para ela. Gostaria de ter mais momentos como aquele no Hyde Park. Gostaria de conhecer melhor a mulher com quem saía há semanas sem que soubesse quase nada além do sobrenome e da profissão.

Emma suspirou novamente. Tinha aceitado os termos da advogada no início, mas não esperava que fosse se envolver tão rápido. Se ela admitisse a possibilidade de estar apaixonada, era quase certo que Regina fugiria, e nem mesmo tinha certeza dos seus próprios sentimentos ainda.

— Por que a vida às vezes tem que ser tão difícil? — Pensou alto.

Só então percebeu que Freddie Mercury cantava no som do carro, fazendo coro com a sua pergunta. Uma das suas canções preferidas do Queen já alcançava o refrão:

Yeah yeah, it's a hard life

(Sim, sim, é uma vida difícil)

To be true lovers together

(Para ser verdadeiros amantes)

To love and live forever in each others hearts

(Para amar e viver pra sempre no coração um do outro)

It's a long hard fight,

(É uma longa e árdua luta,)

To learn to care for each other

(Aprender a se importar um com o outro,)

To trust in one another right from the star,

(Confiar um no outro desde o começo,)

When you're in love.

(Quando se está apaixonado.)

Acompanhou a música, cantando junto, até que se lembrou do problema prático que tinha em mãos: onde conseguiria uma roupa de cowgirl àquela hora?

Poderia usar uma camisa preta de botão guardada em seu armário e uma calça jeans qualquer, porém a questão seria o chapéu e as botas.

— Acho que David pode me ajudar com isso. — murmurou para si, quando chegava ao apartamento. David era fanático por filmes de faroeste, principalmente os de John Wayne.

Entrou e foi direto vasculhar o armário, logo encontrando a camisa e a calça que procurava. Tomou uma ducha rápida e vestiu as peças, depois pegou sua mochila e as chaves de "Henry", que ficaram um breve tempo jogadas em cima do sofá da sala.

Antes de seguir para o encontro, Emma guiou o veículo até o apartamento do irmão, a poucos quarteirões do seu. Estacionou rente à calçada e subiu apressada, usando a chave reserva que David sempre deixava com ela.

Mary estava na cozinha e fez um gesto saudando a cunhada quando a viu. Não havia nada estranho em Emma ter chegado sem avisar. Ela e o resto da turma costumavam ir à casa do jovem casal com frequência.

— Que bom que você veio, Emma. Estou preparando um risoto maravilhoso! — Maggie disse com animação antes de voltar sua atenção às panelas novamente.

Emma aproximou-se da cunhada, abraçando-a pela cintura e deixando um beijo afetuoso em seu rosto, recebendo um sorriso de volta. Dando uma rápida espiada no que ela fazia, lamentou:

— Isso realmente está com uma aparência ótima, Maggie! Mas, infelizmente, eu não vou poder ficar. Tenho um compromisso. Onde David está? — a policial perguntou, afastando-se para pegar uma maçã da fruteira sobre uma bancada.

O cheiro delicioso da comida fez seu estômago lembrá-la que na ânsia de encontrar Regina, a quem não via há dias, esqueceu-se de comer algo em casa.

— Ele está no quarto. — Mary fez um gesto de cabeça, levemente desapontada com o fato de não terem uma convidada para o jantar.

Emma deu algumas mordidas na maçã antes de descartá-la no lixo da cozinha e seguiu pelo corredor em busca do quarto. Abriu a porta sem bater quando o alcançou.

— Emma, isso é jeito de entrar? — David assustou-se. Acabara de sair do banho e só teve tempo de tapar as "partes" com as mãos.

Emma riu, cobrindo os olhos. Depois disse o que a levara até ali:

— Desculpa, Davie, mas preciso de umas botas e do seu chapéu de cowboy. — Explicou com um sorriso divertido.

— Hum... Pode olhar agora! — ele falou, já com uma toalha enrolada na cintura. — As botas e o chapéu estão na segunda porta da direita. — Apontou na direção do armário. — Pode pegar. — Ficou curioso: — Mas pra quê você precisa disso, hein? — apertou os olhos.

— Halloween. — Emma brincou, esticando o braço para conseguir pegar as peças no compartimento de cima.

— Em Setembro!?

— É uma prévia.

— Sei... Isso é alguma sacanagem, né? — o rapaz permaneceu de pé, observando a irmã sentar-se na cama para calçar as botas.

— Droga! Ficam sobrando um pouco. — Emma exclamou, fugindo do assunto.

— Claro que ficam sobrando, bobinha. Calço dois números acima do seu. — David cruzou os braços.

— Vai assim mesmo. — a loira colocou o chapéu, que, ao contrário das botas, ajustou-se bem. — Como estou? — questionou segurando o chapéu com uma mão e colocando a outra na cintura, fazendo pose.

— Uma cowgirl perfeita!

— Ótimo... Essa é a intenção.

David lançou-lhe um olhar ainda mais curioso.

— Não fique me olhando assim. Controle sua curiosidade, porque não direi nada agora. — Emma falou indo em direção à porta.

O homem sorriu e desejou boa sorte. Sabia que a irmã jamais diria o que iria fazer vestida daquele jeito, caso as suas suspeitas estivessem certas. Emma era a pessoa mais discreta que conhecia quanto aos seus envolvimentos, sexuais ou amorosos.

Deixando o apartamento, ela seguiu pela rodovia e logo chegou numa estrada rural e tranquila, cercada por pequenas propriedades e verdes plantações. Não teria dificuldade em achar o Motel Fazenda. Já conhecia o lugar, pois passara um final de semana ali quando ainda namorava com Mulan.

Ao chegar no destino, procurou uma vaga e estacionou. Antes de sair do carro, prendeu a estrela no bolso esquerdo da camisa, só descendo do veículo após verificar as horas. Estava cinco minutos adiantada, então andou tranquilamente até o quarto, passando por um caminho escuro, iluminado apenas pela luz que escapava de alguns poucos quartos ocupados.

Bateu à porta do 801 e enfiou as mãos nos bolsos enquanto esperava, balançando sobre os próprios pés. Ouviu passos sobre o assoalho de madeira do quarto. Logo depois a porta foi aberta.

Regina apareceu, linda como sempre, vestida como uma dama de saloon, com direito a cinta-liga, espartilho, luvas e saia de babados

"Uau!" — Emma abafou a exclamação ainda na garganta. "Como ela fica ainda mais deliciosa parecendo uma prostituta do velho oeste!"

A policial prendeu o fôlego e seus olhos captaram a postura sensual do corpo da outra. A advogada deixou a perna direita meio dobrada para a frente, encostando na porta o braço esquerdo erguido. Ela mordia o canto do lábio, ao passo que lhe lançava um olhar sedutor.

— Xerife Swan, há quanto tempo! Pensei que não voltaria a visitar o meu humilde saloon. — Disse num tom arrastado e provocante.

Emma manteve a expressão séria, compondo a personagem. Entrou, estudando o ambiente: havia uma mesa e duas cadeiras feitas de madeira rústica em um canto, além de uma mesinha de cabeceira do mesmo material, colocada perto da cama. No chão e em cima da mesa, velas aromáticas queimavam, perfumando o quarto com um cheiro afrodisíaco de canela. A luz estava apagada. As pequenas chamas tremulantes eram as únicas responsáveis pela iluminação do lugar.

Emma virou-se e voltou a encarar a morena que permanecia na mesma posição de antes.

— Feche a porta! — a "Xerife" ordenou de um jeito autoritário.

Os lábios carnudos de Regina exibiram um sorriso charmoso que alcançou os olhos.

— Você não é uma mulher de muitas palavras... — sussurrou, empurrando a porta devagar com o próprio corpo para trancá-la, antes de se aproximar lentamente e colar o corpo ao de Emma. Regina ergueu a perna para roçar a panturrilha sedutoramente na da outra mulher. — Mas eu realmente prefiro você calada. Afinal, imagino que não veio aqui para conversar.

A loira desceu seus olhos até os seios fartos da advogada, prensados no espartilho preto, quase saltando para fora da peça com detalhes em renda. Envolveu a cintura de Regina e puxou-a mais para si, beijando-a apaixonadamente e metendo a língua, sem cerimônias, por entre os lábios carnudos e muito suculentos.

— Hum... — a "prostituta" gemeu baixinho, depois do beijo e aproximou a boca do ouvido de Emma. — Você vai me foder, Xerife Swan? — provocou num tom de voz excitado.

A policial olhou brevemente para os lados, antes de sorrir de canto.

— Eu não vejo nenhuma outra vadia aqui, além de você!

ººº

Pouco a pouco, os olhos verdes se abriram para encontrar a escuridão no quarto. O cheiro de canela permanecia tomando o ar. Só um fraco feixe de luz escapava por baixo da porta do banheiro.

O barulho do chuveiro deixava claro que a loira estava sozinha na cama. Recordava que havia adormecido logo depois da segunda vez que ela e a advogada gozaram juntas. O cansativo dia de trabalho acabou cobrando seu preço.

Seu corpo estava exausto de prazer e ela ainda podia sentir o cheiro de Regina lhe impregnando a pele. Mexeu-se na cama no mesmo instante em que um foco de luz na mesinha ao lado atraiu seu olhar: era a tela de um smartphone acendendo.

Sentou-se, semiacordada. Só depois verificou que o celular não era o seu, mas o de Regina. Mesmo assim o alcançou, querendo saber as horas. Logo, reparou que havia um ícone alertando para uma mensagem recebida de alguém que se chamava Lily Page.

Não sabia quanto tempo havia dormido, mas viu que já passava da meia-noite. Portanto, muito tarde para tratar-se de assunto relacionado a trabalho. Estranhamente, sentiu seu coração bater mais apressado no peito. Depois, a curiosidade tornou-se senhora da situação.

Emma respirou fundo e girou o rosto para verificar se a porta do banheiro permanecia fechada. Prestando atenção, observou que o chuveiro continuava ligado. Voltou-se para o aparelho em suas mãos e, com alguma vacilação, desenhou um "R" na tela para tentar desbloqueá-lo. Como nada aconteceu, tentou o "M". No entanto, o celular continuou travado. Franziu o cenho, pensando em outro padrão de letra que Regina poderia usar como bloqueio de tela.

Parou por um momento, refletindo que não tinha o direito de invadir a privacidade da outra mulher assim. Essa atitude era reprovável sob vários aspectos. Porém, quando ia desistir, colocando o celular de volta em seu lugar, uma nova mensagem da tal Lily chegou e Emma percebeu a proteção de tela do aparelho: a foto de um garotinho de cabelos castanhos, olhos esverdeados e sorriso tímido.

"Só acho irônico que o seu carro tenha o mesmo nome do meu filho." — Lembrou do que Regina dissera no segundo encontro delas. — "Henry, claro."

Deixando de lado os freios morais, Emma desenhou com a ponta do dedo um "H" na superfície de amoled. Imediatamente, a tela foi liberada. Dedicando outro olhar de esguelha para o banheiro, sem perder mais tempo, abriu a mensagem:

"Estava aqui pensando na noite de ontem... Ainda não acredito que aconteceu."

Franziu o cenho, antes de ler a outra:

"Minha cama está com o seu cheiro. Espero que você volte antes dele sair, porque já estou me acostumando."

A policial engoliu em seco, sentindo seus olhos arderem. O sangue passou a correr mais rápido e quente, bombeando com vigor seu coração. O lado racional dizia que não devia se sentir assim: traída, enganada... afinal, elas tinham apenas sexo casual. Mas seu lado passional, estimulado por um ciúme que não tinha sido despertado até então, dizia justamente o contrário.

Saiu do duelo silencioso ao perceber que o barulho do chuveiro cessara. Travou a tela e deixou o celular novamente sobre a mesinha de cabeceira. Segundos depois, Regina voltou para o quarto, enrolada em uma toalha branca, usando outra para enxugar o cabelo.

— Pensei que você ainda estivesse dormindo. — a advogada comentou em tom calmo ao notar que Emma tinha despertado. — Por que não foi tomar banho comigo? — aproximou-se, exalando um perfume de lavanda.

Aquele cheiro embrulhou o estômago de Emma, ao imaginar que possivelmente era o mesmo que Regina tinha deixado na cama da outra.

Os olhos verdes não fitavam a advogada, permaneciam fixos no smartphone sobre a mesinha. A raiva a consumia em silêncio.

Quando Regina sentou em seu colo, rodeando-lhe o pescoço com os braços, a policial deixou que o monstro de olhos verdes que a devorava viesse à tona:

— Quem é Lily Page?


Notas Finais


✓ O título do capítulo - O monstro de olhos verdes - é uma referência a Shakespeare, da peça Otelo: o Mouro de Veneza, obra em que os ciúmes do protagonista ocupam o centro da trama

✓ Os padrões "R" e "H" ainda não existem (acreditamos) para senha de bloqueio de celular, mas usamos da licença poética nesse capítulo e os tornamos possíveis, ;)

✓Música citada no capítulo:
It's a hard life (Freddie Mercury), interpretada pelo Queen.


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