Pensei que seria estranho ficarmos sozinhos por um tempo, mas não foi. Ele continuava me perguntando sobre os assuntos mais aleatórios. Perguntava-me sobre o meu curso, sobre como consegui uma bolsa na academia de dança, sobre a personalidade de Victor, o dono da academia e sobre como foi minha aula com Sungdeuk. Eu respondia as perguntas com entusiasmo, sempre detalhando tudo.
Quando chegamos a minha faculdade, estacionei o carro próximo ao prédio em que faria a prova e fomos para a sala. Pensei que não chamaríamos tanta atenção, mas Namjoon era muito alto e suas roupas eram muito diferentes das usadas no Brasil.
Enquanto íamos até a sala, revisávamos as frases que eu havia ensinado a ele. Namjoon ficou esperando do lado de fora da sala enquanto eu fazia a prova. Pra sorte dele, eu era o tipo de pessoa que demorava cerca de 30min pra fazer uma prova. Minha teoria era que se nesses 30 minutos eu já tivesse escrito tudo o que sabia, então não havia mais muito que fazer.
Entreguei a prova com 37min e saí da sala. Namjoon estava sentado em um banco do outro lado do corredor, com os fones no ouvido e mexendo no celular. Chequei minhas notificações e vi eu tinha um tweet do perfil deles. Eu já imaginava o que era: ele havia postado um print de uma das musicas que estava ouvindo. Bingo!
Fui até ele, sorrindo.
— Vou começar a baixar essas músicas que você posta pra ver se são realmente boas. — Disse, sorrindo.
— Você vai se surpreender. — Disse, piscando o olho esquerdo pra mim.
Vi um dos meus colegas passar e me cumprimentar com um sorriso e acenei com a mão para ele. Alguns metros de distancia e ele ainda olhava para trás, com certeza curioso por me ver falar outro idioma. Até consigo imaginar o que ele estava pensando: “Não sabia que a Manu sabia falar japonês.”. Pensar isso me fez rir, já que pra maioria dos brasileiros os asiáticos eram “todos iguais, tudo japonês”, era o que a maioria pensava.
Fomos até a academia e revisei a arte com o Tiago. Namjoon gostou, ele achava que daria certo. Ouvi-o perguntar ao Tiago “Onde fica o banheiro masculino?” em português e sorri orgulhosa. Decidimos que teríamos que ter alguns dançarinos dentro da sala junto com os meninos, porque as kpopprs provavelmente ficariam curiosas ao ouvir música coreana rolando e iriam querer ir até a sala. Seria um pouco difícil esconder os meninos, mas eu estava disposta a dar o meu máximo para conseguir.
Passamos na padaria próxima á academia e compramos lanche. Pedi um sanduíche e uma coca para o Tiago, pois sabia que a essa hora ele estaria com fome e fomos comer na academia. Namjoon e eu também pedimos sanduíche e nos sentamos em uma das mesas para comer.
Tiago, meu melhor amigo, olhava para nós com curiosidade.
— Tem alguma coisa rolando aqui, né? — Perguntou ele em português.
Olhei para ele cuidadosamente, pensando se conseguiria mentir para ele, que me conhecia tão bem.
— Como assim? — Perguntei, usando todo o meu olhar de inocência.
Namjoon nos olhava curioso e sorri, desculpando-me por não traduzir pra ele. Não poderia, ele ficaria envergonhado.
— Não se faça de sonsa, Manu, eu te conheço. — Acusou Tiago, rindo. — Ele realmente não entende nada do que falamos?
— Eu só ensinei a ele algumas frases pra ele conseguir se virar sozinho. — Expliquei. — Ele provavelmente não entendeu nenhuma palavra que dissemos até agora.
Tiago olhou pra ele, provavelmente avaliando-o.
— Sabe, eu sempre escuto você falando deles, te vejo ensaiando as músicas deles, me forçando a assistir aos vídeos deles... — Ele riu ao dizer essa última frase. — Mas eu nunca iria imaginar que veria um deles assim pessoalmente e que me sentaria pra comer com ele.
Traduzi para Namjoon essa parte, fazendo com que parecesse um resumo de tudo que havíamos falado em português até agora.
— Sério que você o obriga a assistir aos nossos vídeos? — Perguntou Namjoon.
— Eu obrigo várias pessoas. — Admiti, envergonhada.
Ficamos conversando por mais um tempo, eu exercendo meu papel de Google Translate, e depois fomos para casa.
Passei o resto do meu dia estudando para as duas provas que teria no dia seguinte. Traduzi as perguntas e eles se revezavam para me ajudar a estudar, lendo as perguntas das minhas listas de exercícios.
Aquela é, até hoje, uma memória doce que guardo comigo. Guardo com carinho as memórias dos 7 ajudando-me a estudar.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.