História O avesso dos ponteiros - Recado do tempo

Karma foi a primeira a despertar, não por conta dos alarmes que ela configurou na noite anterior e sim pela sensação das mãos de Amy apertando levemente o lado de seu quadril, a respiração tranquila e seu pescoço peito também não ajudava a melhorar a situação. Os gestos inconscientes da loira estavam deixando o corpo de Karma aquecido, fazendo sua mente relembrar dos sonhos a muito esquecidos onde ela dividia a cama de uma forma não muito amigável com Amy.

- Respire, só respire e saia da cama – Karma falava para si.

De forma suave Karma retirou o as mãos de Amy do próprio corpo e saiu da cama para o banheiro, depois de lavar o rosto ela notou que ainda eram 5:00 da manhã tempo de sobra para preparar um café da manhã dos campeões.

Amy rolou antes de acordar e logo percebeu que estava sozinha em uma cama desconhecida causando um momento de confusão que só durou o tempo do próprio estomago dar sinal de vida e seus ouvidos escutarem uma voz conhecida cantarolando ao longe. Um sorriso satisfeito se espalhou pelo rosto de Amy, com estresse dos preparativos do casamento suas noites tinham algumas horas de sono a menos e conseguir dormir tranquilamente uma noite a faziam se sentir mais relaxada e estranhamente feliz, claro que ela não iria atribuir isso a presença de Karma por mais que sua mente estivesse flutuando nessa direção.

- Você já está acordada, ainda é cedo – Karma disse suavemente da entrada do quarto.

- Ainda é cedo?

- Bem, se você não notou os despertadores ainda não tocaram – Karma apontou divertida para o aparelho ao lado da cama enquanto caminhava para a mesma.

Amy olhou o relógio que ainda marcava 5:30 e riu para si mesma por não ter percebido isso antes e rolando para o lado em seguida dando a Karma um espaço maior para sentar. Karma por sua vez tinha outra ideia em mente, ela tinha voltado ao quarto para tomar uma ducha rápida e trocar de roupas antes que a amiga acordasse, mas ao se deparar com a imagem de Amy confortavelmente deitada em seus lençóis sentiu seu coração acelerar mais uma vez e decidiu que o banho poderia esperar.

- Eu fiz café da manhã – Karma falou deitando na cama de lado para encarar o rosto da outra mulher.

- Você não precisava se preocupar, eu poderia muito bem ter comido no aeroporto.

- Nós duas sabemos que comida de aeroporto não é gostosa e eu não quero que sua noiva pense que estou cuidando mal de você – Karma disse com um meio sorriso.

Amy se encolheu um pouco com a declaração, Greta não sabia do pequeno encontro que estava acontecendo e sua consciência praticamente gritava em sua cabeça para não comentar isso com nenhuma das mulheres.

- Ainda bem que sempre tenho alguém para se preocupar com o meu bem-estar – Amy disse afundando mais um pouco nos travesseiros.

Karma riu com o gesto e se aproximou para envolver o corpo de Amy em um abraço. Na noite anterior e durante a madrugada elas fizeram isso milhares de vezes, mas com todo o álcool envolvido Karma não sabia se os gestos afetuosos foram derivados do vinho então ela arriscou, sentindo o corpo da amiga ficar tenso de surpresa por um minuto e depois relaxar.

- Obrigado por ter passado a noite – Karma disse contra os cabelos de Amy.

- Obrigado por cuidar de mim – Amy se afastou para encarar a ruiva enquanto agradecia a atitude da amiga de não deixar ela voltar para casa depois de ter bebido.

Era a primeira vez que elas ficavam nessa posição depois que voltaram a ter contato e a proximidade só ajudava a intensificar a tensão que existia entre elas. Karma encarava a amiga como se fosse a primeira vez que realmente a via, se perdendo na profundidade dos olhos verdes da outra e sentindo inclinar-se mais em direção ao rosto de Amy.

Amy sentiu o coração acelerar ao perceber que o rosto de Karma estava cada vez mais próximo do seu, ela sabia que deveria se afastar por conta de Greta, mas seu corpo se recusava a se mover, querendo saber até onde a amiga iria Amy continuo com os olhos travados nos dá ruiva.

Não demorou muito tempo para que Karma estive descansando a testa contra de Amy, respirando o ar dela enquanto a ponta do próprio nariz escovava o da amiga. Por um momento Karma deixou-se encarar os lábios de Amy antes de voltar a encontrar seus olhos, percebendo suas pupilas dilatadas e a respiração rasa.

- Karma...

Amy tentou falar, mas foi interrompida por um sinal sonoro ao longe. Karma se viu soltando um suspiro que não conseguia decidir se era de alivio ou de frustação, mas antes de se afastar para ir desligar o alarme do forno Karma beijou Amy no canto dos lábios e saiu da cama. Quando a ruiva saiu do quarto Amy soltou a respiração que nem sabia que estava prendendo e tentou não pensar no que poderia ter acontecido se elas não tivessem sido interrompidas.

O café da manhã passou de forma silenciosa, ambas as mulheres concentradas na comida e com receio de encarar os olhos da outra. Ao terminarem Amy pediu licença e foi trocar de roupa enquanto Karma tirava a mesa, não demorou muito e a loira estava de volta observando a outra mulher na pia da cozinha.

- Karma?

- Wow...você se trocou rápido – Karma comentou surpresa com a velocidade de Amy.

- Eu não quero me atrasar para o voo – Amy disse encolhendo os ombros.

- Você tem razão – Karma se afastou da pia – Vou acompanhar você até o carro.

- De pijama? – Amy ergueu uma sobrancelha enquanto descia o olhar pelo corpo da amiga, sentindo o rosto esquentar um pouco no processo.

- Me dê um segundo que...

- Não precisa, Karms. Basta me acompanhar até a porta.

Karma concordou com a cabeça e acompanhou a amiga até a porta do apartamento, onde depois de abrir a porta elas ficaram sem encarando sem saber ao certo o que fazer. Sem querer deixar a situação mais estranha do que ela era, Amy puxou Karma para um abraço agradecendo mais uma vez pela noite divertida e pelo café da manhã.

- Você é sempre bem-vinda aqui – Karma disse com um sorriso caloroso – Tenha uma boa viagem.

Karma desejou beijando o rosto de Amy de forma demorada e quando ela se afastou Amy estava com o rosto vermelho. Elas se afastaram um tanto perdida nas sensações estranhas do estomago, sorrindo uma última vez Karma voltou para seu apartamento.

*

Mais uma noite de apresentações começava para Karma e tudo que ela conseguia era na forma como Amy segurava seu quadril quando ela acordou pela manhã, em como ela quase beijou a amiga e em como em nenhum momento ela lembrou que Greta existia e que era noiva de Amy. As noites de sábado eram mais tranquilas que as de sexta, a noite era compartilhada com mais dois cantores que se apresentavam em sequência.

- Sua apresentação dessa noite foi cativante Karma – Mark comentou tomando um assento ao lado da mulher no balcão do bar.

- Você achou?

- Achei, você sabe quando as músicas saem do violão como se você cantasse para alguém especial?

- Acho que não – Karma respondeu confusa.

- Parecia que você estava cantando para alguém em especial, como ontem quando sua amiga chegou – Mark explicou – Eu notei a mudança na sua apresentação nas ultimas músicas e acabei vendo você sair daqui acompanhada, então deduzi que era a sua antiga melhor amiga. Eu costumava tocar da mesma forma para minha esposa quando ela ainda estava viva.

- Eu não sabia que você era...Mark eu...

- Não precisa se preocupar com isso, já faz um tempo e pouca gente sabe – Mark interrompeu o discurso – Você me lembrou do meu antigo eu naquele palco hoje, foi realmente bom sentir isso de novo.

Karma sorriu um pouco sem jeito com as informações, já estava sendo estranho o suficiente lidar com todas os pensamentos sobre Amy que surgiam do nada desde cedo e começavam a fazer Karma sentir que seus sentimentos pela amiga poderiam estar começando a mudar.

- As coisas deram certo ontem? – Mark perguntou arrancando Karma de seu devaneio.

- Em grande parte sim.

- E o que não deu certo? – Mark continuou a conversa – Se não for muita intromissão da minha parte, claro.

- Eu não sei...as coisas ficaram um pouco intensas hoje de manhã e nós tivemos uma história complicada quando éramos amigas, o que acabou nos afastando – Karma disse sem querer entrar nos detalhes – E depois que ela deixou meu apartamento não recebi mais nenhum sinal de vida da parte dela.

- Por que você não manda uma mensagem para ela?

Uma simples pergunta fez Karma se sentir a pessoa mais boba do mundo, não importava o que quase tinha acontecido pela manhã o que importava era que elas não haviam cruzado essa linha.

- Você tem razão – Karma sorriu para Mark.

- Você vai fazer isso agora? – Mark soou animado.

- Não...eu vou para casa, minha apresentação já acabou e eu preciso descansar – Karma sorriu divertida com a reação do homem – Mas obrigado pela ideia.

Mark sorriu e observou Karma sair apressada do local, ele conseguia sentir que havia mais história por trás de todo o nervosismo na noite anterior e da apresentação de horas atrás, mas não cabia a ele se intrometer na vida alheia.

‘Como foi o voo?’

A mensagem foi a primeira coisa que Karma fez ao entrar no prédio que morava, ela não esperava que Amy respondesse rápido por conta do horário, mas foi surpreendida com um celular vibrando com a resposta da amiga.

‘Muito tranquilo, o dia pelo contrário foi cansativo’

Não era a resposta que Karma esperava, mas foi o suficiente para acalmar suas paranoias e sem querer forçar mais uma situação ela foi se preparar para dormir, já era tarde e amanhã seria um novo dia para colocar as coisas de volta aos trilhos.