História O barulho do silêncio - Sob a sombra do silêncio

Monica que ainda sorria, mirou os olhos dele com tanta intensidade que pode sentir seus pelos do braço se arrepiarem. Ele tornou a se aproximar e dessa vez não foi aos poucos, rapidamente a agarrou pela cintura e a beijou intensamente como se selasse toda aquela vontade incumbida. Com uma mão em seu cabelo e outra a apertando para mais próximo de si, Monica sentiu–se aconchegada e apenas entregou–se levando suas duas mãos para seu ombro, dando continuidade ao enlaço.

 A loira, que observava de longe atenta, apenas mirou o celular na direção da cena, tirou algumas fotos, e tornou a guardá–lo, ela já imaginava que aquilo ocorria, mas daquele momento em diante ela tinha provas.

––

– Que saudade – Ele pronunciou delicadamente as palavras com um sorriso no rosto, assim que os lábios se soltaram.

A menina respirava um tanto ofegante quando tornou a olhá–lo carinhosamente, concordando num gesto mudo com aquela constatação.

– Eu sei que tem tudo isso acontecendo, as confusões do colégio, a Nadine que é sua melhor amiga, o fato de eu ter me envolvido com ela, mas tudo isso foi quando pensávamos que nunca mais nos veríamos, se eu conseguisse te mostrar o quanto gosto de você – Cebola tremeu a voz, um tanto extasiado. – Nada disso é impedimento para mim quando estamos juntos.

Monica tornou a beijá–lo com pequenos selinhos, unindo ainda mais seu corpo ao dele, totalmente muda. Seus cheiros, ora doce, ora amadeirado se fundiam, dando um aroma ainda mais envolvente para o momento.

– Eu sei...  Eu também sinto como se meu coração parasse alguns segundos, todas as vezes que te vejo, desde a primeira noite que nos conhecemos – Ela finalmente criou coragem pra falar tirando carinhosamente, com as duas mãos, os cabelos rebeldes dele que insistiam em cair sobre seus olhos – Mas eu juro que é muito mais complicado do que parece.

– Eu... Eu tento imaginar, nem sei como seria se fosse o Cascão apaixonado por você. Mas tenho certeza que qualquer um nos entenderá quando explicarmos isso que sentimos. – O menino argumentou imaginando o quão bom seria poderem finalmente ficar juntos.

– Cebola...

– Promete pelo menos que vai pensar um pouco sobre isso? – Ele pediu aproximando seus lábios novamente.

– Prometo! Eu realmente quero, só não consigo te explicar quanta coisa isso envolve – Ela sorriu, se entregando para mais um beijo.

Aproveitar a festa inteira para colocar a conversa e a saudade em dia, foi talvez umas das coisas mais leves e fáceis da semana de ambos. Entre risadas, danças e carinho, sequer notaram a madrugada passando e a hora de ir embora se aproximando.

Monica só se deu conta quando ouviu a voz grossa e autoritária do Sr. Menezes conversando com algum dos seus seguranças particulares surgindo atrás deles.

– Vamos filho, o Bryan vai levar você e sua amiga para o colégio – Ele comentou, sem ao menos olhar na cara da menina.

– Beleza, o nome dela é Monica, pode chama – lá assim – Cebola piscou em sua direção, a olhando.

– Que seja!!! – Seu pai revirou os olhos caindo a visão sobre ela – Ah! Veja se não é a menina que me respondeu lá no colégio.

– Boa noite para o Sr. também – Monica o cumprimentou com um aceno, prevendo receosamente uma possível discussão.

– Gosto de gente com atitude, mas acho que a sabedoria nos alerta sobre falarmos somente nas horas corretas – Ele a alfinetou, com um sorriso amarelado.

Monica abriu a boca para responder, mas Cebola tomou a voz, a fazendo fechar logo em seguida.

– Pai, não estraga a minha noite, por favor, ela está boa até demais para um evento como esse. Só peço mais respeito com ela, é uma pessoa especial para mim e não vou admitir nada menor que isso.

– Você sabe que está falando com o seu pai não é? Devia me agradecer por te trazer aqui, em um evento que preste. Seu irmão....

– Vamos, vamos, eles ainda tem que voltar para o colégio querido – Dona Cebola colocou–se entre os dois, direcionando a Monica e o filho para o carro preto do segurança que assistia a cena em silêncio.

– Você faz as coisas para me afrontar, tem tanta mulher naquele colégio, e vem me aparecer com a única que me confrontou!!! – Sr. Menezes sussurrou para o filho sem deixar com que a menina escutasse.

– As idéias dela batem perfeitamente com as minhas pai, ela não disse nada que eu não diria. E é melhor começar a aceitá–la, porque é sem dúvidas a mulher da minha vida – Cebola concluiu no mesmo tom, virando e entrando no carro para acompanhá–la.

Não demoraram a chegar no colégio, e menos ainda para caminharem para o jardim do lado oposto dos quartos. Monica de início não entendeu para onde estavam indo, mas assim que chegaram, teve certeza que era ali que queria ficar.

Não tinha notado a hora, e ao menos percebido que em pouco tempo amanheceria, somente quando Cebola a convidou para verem o nascer do Sol que pode notar o alaranjado fraco surgindo ao longe. Aconchegada sobre seu peito, sentindo–se plenamente feliz, acompanhou o dia raiar, sob milhares de beijinhos e carinhos.

––

Monica acordou leve, como se tivesse vivido um dos seus melhores sonhos, os vestígios da noite anterior perambulavam alegremente sobre sua cabeça recém despertada, a lembrança de tê–lo ainda em seus braços a atingia por inteiro. O grande blazer que a envolvia sob as cobertas ajudava a manter aquela sensação ainda mais viva, pois assim como o dono, permanecia impecavelmente cheiroso.

Não quis levantar de imediato, revirou–se incessantemente na cama, tentando pensar numa solução para sua vida amorosa. Contar para a Nadine depois da noite anterior não parecia tão ruim assim. Sentia–se um tanto culpada por ter curtido uma sexta feira, dias nos quais a amiga ficava ainda pior, ao lado da pessoa que ela gostava, mas seu sentimento por ele vinha tão intenso, que amenizava toda aquela aflição.

Estava tão envolvida em seus pensamentos que ao menos escutou a amiga que provavelmente já a chamava há um bom tempo, pigarrear ao seu lado.

– Monica? – Magali repetiu preocupada.

– Nossa! Desculpa Maga, eu to no mundo da Lua hoje – A morena respondeu sentando–se rapidamente na cama.

– Já ia chamar o SAMU, preocupada com sua distração – Ela sorriu curiosa – Me conta, como foi ontem?

– Ai Maga, foi incrível... Mas perai, o que está fazendo no colégio hoje? – Monica questionou confusa, dando–se conta que era sábado.

– Ah! Eu que te perguntou isso, não era sua noite fora da escola? Não estava exausta de ficar aqui? – A amiga provocou rindo.

– É uma longa história!!! – A morena riu dando de ombros.

– Eu fiquei pra estudar com o Quim – Ela contou fazendo Monica engasgar de repente.

– Que? Como assim? Já está o chamandoele de Quim? P–A–R–A T–U–D–O! – A menina animou–se sentando de perna de índio, apurando os ouvidos, para Entender melhor.

– É uma longa história – Magali a imitou – Conta você primeiro.

– Encontrei o Cebola na festa, os nossos pais são conhecidos, ficamos juntos até o amanhecer, ele quer contar para Nadine, o pai dele não gosta de mim e eu voltei para o colégio porque meus pais foram viajar a trabalho – Monica enumerou nos dedos, mal parando para respirar.

– UAL! Que noite hein! Nem seu o que dizer a respeito.

– Então vamos focar na sua história, me conta – Monica pediu tentando esquecer–se pelo menos por instantes dos seus problemas.

– Quer meu resumo compacto também? – A amiga riu, tentando amenizar a tensão do momento. – O Joaquim precisava de ajuda na matéria, comecei a ajudar ele, o Cascão resolveu me chamar para o baile, eu dei um baita fora nele, o Joaquim me chamou e eu aceitei, falei umas verdades para o Cas e provavelmente nessa hora ele não quer ver minha cara nem pintada de ouro.

– Caraca, que disputa acirrada a nossa. Queria a Denise aqui pra tirar umas piadas dessas situações, ela nos faria chorar de rir de algo nessas histórias, tenho certeza – Monica se jogou de costas da cama, olhando para o teto novamente.

– Seria realmente ótimo! Mas me conta, o que fará com isso? – Magali perguntou, se jogando ao lado dela.

– Com o Cebola? – A morena perguntou tornando a mirá–la.

– Sim, vai contar pra Nadine?

– Eu juro que quero, muito mesmo! Quando estou com o Cebola, parece que tudo isso fica mais fácil. Só que ai eu ouço a Nadine falando que o ama... Amiga, só consigo lembrar de tudo que ela passou, de como sofreu como o Jordan se foi e do quanto desejo vê–la feliz novamente. Como vou ficar feliz ao lado do cara que ela ama? – Monica suspirou fundo, um tanto choramingona.

– Olha vou te contar, isso daria uma história de cinema, livro, ficção sabe? Eu imagino o quanto complicado seja... – Magali comentou com pena. – Mas se você o ama...

– É eu tento pensar nisso as vezes, mas eu sei que não é bem assim. Quem dera se todo casal que realmente se amasse, ficasse junto – A morena pensou alto.

– Nem me fala... – Magali concluiu, dando um forte suspiro.

––

O final de semana não demorou a passar, Monica tentou evitar o máximo que conseguiu se encontrar com o Cebola pelos corredores, mas todas suas investidas na distancia foram em vão. Aproveitando a colégio totalmente vazio, passaram quase todos os momentos juntos, com a Magali ao lado. Arriscava dizer que foram os melhores dois dias que tiveram naquele lugar.

Denise, como esperavam, voltou no domingo a noite com tiradas prontas para ambas situações, fez Magali rir tanto a ponto de quase engasgar com a água que havia acabado de beber. Só realmente pararam quando o relógio marcou meia noite, indicando  que acordariam dali seis horas.

––

– Vem cá, mas ela falou tudo isso assim? Na lata? – Cebola questionou na segunda de manhã, enquanto se arrumavam para a aula, depois de ouvir totalmente sem reação o que a Magali havia falado para o melhor amigo.

– Sim, simplesmente assim, e ainda jogou na minha cara que tem com quem ir, que já a convidaram – Cascão respondeu, tentando desamassar a camisa com alguns tapinhas pelo tecido – Será que é verdade? Tipo todo mundo do terceiro sabe do meu esquema com a Maga, ninguém furaria meu olho.

– Ah meu caro amigo, quanta ingenuidade! Com certeza foi o Joaquim, só um bocó não enxerga ele babando ovo pra ela – O menino constatou imediatamente – E sinto te informar que foi você que deixou isso acontecer.

– Obrigado pela força careca, estou muito melhor agora – Cascão revirou os olhos.

– Eu to é assustado com o colégio esse ano, muita coisa acontecendo, se eu soubesse que seria essa agitação, não teria ficado tão chateado quando não consegui sair – Cebola deu de ombros penteando os cabelos.

– Você está muito animado pra quem foi a um evento chato, to começando a achar que está curtindo os negócios da família.

– Digamos que, foi tudo muito melhor do que eu esperava – Ele concluiu disposto a contar os últimos acontecimentos para o amigo...

––

Monica terminou de arrumar seu arquinho vermelho em cima dos longos cabelos castanhos, ajustou a barra da sua saia com alguns botons da mesma cor, vestiu seu blazer estilizado com tachinhas e se olhou no espelho totalmente satisfeita.

Virou o rosto para sua cama onde encontrava–se o blazer do Cebola delicadamente posicionado sobre a cabeceira, e sorriu, sentindo seu estomago revirar de ansiedade.

Não demorou muito para as duas amigas estarem igualmente prontas para então finalmente saírem rumo ao refeitório. Teria feito o caminho tranquilamente, como todos os dias daquele ano, se ao virar o primeiro corredor do lado feminino, não desse de cara com uma foto pendurada cuidadosamente na parede. De longe não identificou tão bem ao que se referia, mas ao se aproximarem, conseguiu ver seu conteúdo. Duas sombras, totalmente destacadas sobre o fundo por efeito de imagem, se beijavam diante daquele flash escondido. Não foi preciso muito mais do que um minuto para a Monica entender de quem se tratava, e ainda que não se reconhecesse sob aqueles efeitos, os dizerem delicadamente colocados abaixo do retrato deixava tudo bem claro.

“Tsc Tsc Tsc... Que coisa feia, não contar para a melhor amiga o quanto sua sexta-feira foi especial, torna o dia que ela menos gosta da semana, ainda pior ”